Underwater escrita por JuremaDoMar


Capítulo 8
A Carta




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“Dia 26 de janeiro de 2010. Praia de Dovii

   

 

  Olá, minha pequenina Clara

    

  Hoje é seu aniversário, sete aninhos. Fico triste em saber que não poderei presenciar essa época tão importante …………………….. sei que você é poderosa e vai passar por isso mas sua .mãe não quer que você saiba…………. ela tentou se afastar de mim e esconder isso de você, mas a verdade sempre vem a tona.

  Tome cuidado minha pequena …….. perigos estão por todos os lados, talvez……….. por agora, mas ele sentirão sua presença e irão atrás de você. Os sirenas são perigosos e farão de tudo para encontrar………….. ….. você é forte não importa o que digam, eu e seu irmão estamos cuidando de você. Como não posso estar com você te dou essa caixinha de músicas e esse colar, cuide deles com sua vida, eles serão seu conforto,serão o lembrete que o mar é a cura para todas as dores.  Nós te amamos minha pequena preciosa.

                          De seu……… com amor.

                             ~Roberto”

   

Terminei de ler com a maior cara de tacho, o que demônios essa carta era? Amaldiçoei todas as traças existententes por terem corroído grande parte da carta me deixando sem entender várias coisas. Mas quem era esse tal Roberto? Ele parecia ser bem íntimo de minha mãe e como assim meu irmão, como ele sabia de Lucas se nem mesmo ele era nascido? Tudo que estava ali não parecia ter sentido algum. A caixinha parou de tocar, um barulho parecido com correntes parecia atrapalhar o percurso da música, abri um pequeno compartimento que havia, nele  um belíssimo colar de pedra se amarrotava  entre as engrenagens da caixinha, a corrente era de prata e a pedra azulada era sustentada por uma lua. A pedra era peculiar como eu nunca tinha visto antes, era azulada com detalhes brancos, igual a uma noite estrelada. Toquei o colar tirando-o da caixinha, uma onda diferente invadiu meu corpo, uma onda de paz e tranquilidade pairou a minha volta. Coloquei a carta dentro da caixinha e fechei-a, eu iria tirar satisfações com minha mãe, não agora, mas iria. O colar estava enrolado por entre meus dedos, eu sentia a necessidade de permanecer com ele.

    Coloquei a caixinha sobre a penteadeira do meu quarto e o colar sobre meu pescoço. No momento em que o metal frio tocou a minha pele quente senti uma sensação de mágica. Naquele momento eu percebi, aquele colar não era normal, tinha algo nele, um toque de magia.

     Desci as escadas aos pulos, eu tinha tirado meu .pijama e vestido uma jardineira rosa, coloquei um arquinho da mesma cor e pus uma rasteirinha, não me dei o trabalho de fazer coisas matinas, somente tinha escovado os dentes sem água, o que foi estranho. Eu estava prestes a chamar Tereza para ir dar uma volta pela rua comigo quando fui interrompida pela minha mãe que colocou o dedo indicador na frente dos lábios pedindo silêncio. Assim o fiz, olhei para Tereza que sorria falando olhando para o nada, enquanto falava no telefone enrolando o dedo no cabelo e completamente  corada. Sorri de canto me encostando na mesa, eu sabia com quem ela falava e não era sua mãe, nem pai, era Adrian. Ela desligou o telefone e instantaneamente coloquei a mão nos ouvidos para a explosão que viria,conhecendo Tereza como conheço só dou três segundos.

   1…

    2…

    3…

  Seu grito exagerado seguido por pulinhos e palminhas vieram pontuais, como sempre. Suspirei sabendo que me arrependeria, mas eu tinha que perguntar, era meu papel como melhor amiga.

  -O que ele disse?- perguntei tirando lentamente a mão dos ouvidos, mas sempre a alerta caso ela explodisse de novo.

   -Ele me chamou pra ir naquele parque que sempre vem nas férias.- Pronto, mamãe e Tereza deram as lindas mãozinhas e começaram a dar gritinhos e pulinhos juntas. Eu acho, não, tenho toda certeza que elas estão aproveitando minha repentina cura para gritar tudo que não gritaram durante a vida.

    Talvez em algum dia eu me juntaria a farra mas hoje não.

    -Então… É hoje? Sabe que vocês vão?

    -Sim daqui a pouco ele vem me buscar. - Ela se virou para minha mãe e puxou-a para meu quarto.- Me ajuda a escolher uma roupa tia Lu!

   -E eu?- Perguntei incrédula, pensei que a melhor amiga era eu.

  -Desculpe amiga, mas teu senso de moda é horrível, você consegue cometer os sete pecados capitais da moda em um look só.

   Coloquei a mão sobre o peito ofendida, tá legal, talvez eu saísse de casa parecendo uma beata ou uma personagem de RBD, mas aquele era meu jeitinho de se vestir, segui elas até meu quarto, minha mãe e Tereza juntas era pior que todas as crianças do planeta em frente a uma fábrica de doces. Sentei-me na cama brincando com o colar e ignorando as duas que corriam pra lá e pra cá procurando boas roupas. Tereza correu para o banheiro para tomar banho, mamãe foi procurar alguma coisa em minha penteadeira, talvez um brinco ou colar, que eram coisas  raramente usadas por mim. Minha mãe cravou os olhos na caixinha, fiquei alerta quando ela a pegou em mãos e perguntou:

    - Quem te deu isso?

    Abri a boca para respondê-la e ao mesmo tempo lhe questionar, quem era Roberto.   

    -Tia Lu! To pronta!- Fui interrompida por Tereza, mamãe estava prestes a sair do quarto com a caixinha em mãos, algo dentro de mim berrou para que eu guardasse a caixinha comigo. Pulei da cama e com brutalidade peguei a caixinha para mim, escondendo ela em um abraço como se fosse a pedra mais preciosa já vista e de fato pra mim ela era.

    -Ela é minha.- Eu disse como uma criança egoísta, que se recusava a emprestar sua boneca à colega.

    Ela simplesmente suspirou e disse entre dentes para que só eu escutasse.

    -Conversamos depois.- Em uma situação normal eu estaria com o coração na mão, mas conversar era o que eu queria.

    Tereza estava radiante e rodopiava ela casa esperando seu príncipe de cavalo branco chegar, ela estava vestida com um suéter rosa bebê fino e um shorts preto, além dela usar uma meia preta que ia até metade das pernas, seus cabelos cacheados estavam presos em flores rosa e lilás. Me perguntei porque diabos ela andava com tantos apetrechos na bolsa.

   A campainha tocou e a mandato de minha mãe tive de levar Tereza até o portão. Andrian era loiro com cachinhos, na primeira vez que o vimos juramos que ele era um anjo, sua aura era sempre alegre e iluminada, nós viramos amigos, mas sempre foi mais próximo de Tereza e agora eles estavam lá, quase em um namoro, se já não estiverem em um.

    -Yo! - Comprimentou-me com um toca aqui.

  -Eae! Suave?- Perguntei.

  -É, vou indo.- deu de ombros.

  Peguei a mão de Tereza e coloquei sobre a dele. Fiz um falso olhar bravo como de um pai que entrega a filha para um encontro pela primeira vez.

   -Quero ela de volta as onze.

   -Sim senhor!- Ele fez formação.- Digo senhora!

    Eu e Tereza rimos.

     -Tchau Clara até.- Tereza se despediu saindo com Adrian.

     Fechei o portão me preparando psicologicamente para a conversa que viria, respirei fundo e caminhei até a porta de casa. Quando entrei minha mãe estava sentada olhando para a caixinha, que estava em cima da mesa. Ela indicou com a mão para que eu sentasse na cadeira a sua frente. Cruzei os braços e a olhei incentivando a começar.

  -Quem te deu isso?- ela perguntou.

 -Não finja que não sabe.- Eu disse brava, eu estava odiando a onda de mentiras que estava a rondar minha casa. - Quem é Roberto? Por que no meu aniversário de sete anos ele não pode estar aqui? Por que ele deveria ficar longe de mim? E como ele sabia sobre Lucas sendo que ele nem tinha sido adotado ainda?

    -Como assim?- Ela perguntou.

    Sem paciência puxei a caixinha para perto de mim e peguei a carta entregando-lhe.

    -Quem escreveu isso, me deu a caixinha. Ele aparentemente se chama Roberto.

     -Roberto…- Ela murmurou baixinho, colocando a mão na cabeça como se doesse. - Roberto…

      Ela levantou o olhar e amassou a carta.

       -Não!- Gritei. Para mim tinha algo importante lá, mesmo que eu não tivesse entendido nada, e sabia que tinha algo importante escrito ali.

      -Essa caixinha ficará comigo.- Ela se levantou, antes que ela pudesse pegar a caixa agarrei a com força e trouxe para junto do meu corpo.

      -Eu te respondi, me responda.- Falei entre dentes.

      -Olha como você fala comigo.- Ela apontou o dedo na minha cara.

      -Com a boca!- Gritei sem temer a morte.

      - Já chega! - Assim como eu ela tinha perdido a razão, ela arrancou a caixinha da minha mão e jogou-a no chão espatifando-a.

      Arregalei os olhos e permaneci olhando para as peças espalhadas pelo chão. Então eu gritei, gritei como uma criança fazendo birra e choro, o grito não era só pela caixinha, mas por tudo, exatamente tudo estava me tirando de órbita, me deixando louca. A geladeira tremeu e a torneira fez um barulho estranho, permaneci gritando até um estalo me fazer ficar quieta, meu rosto virou para o lado por conta da força em que o tapa foi desferido, ardia e com certeza deixaria marca. Era um dos métodos usados para me acordar para a realidade quando eu surtava. O que era comum quando eu era menor.

    -Por que?- Perguntei entre soluços.

    -Tudo pioraria.

    -Por que? Por que uma droga de uma caixinha de música vai piorar tudo?

    - Vai ser um peso maior.

    -Um peso? Então sou um peso?

    -Não! Não foi isso que eu quis dizer.

     -Mas foi o que disse.- Bati o pé no chão.- Se eu sou um peso pra você, me perdoe. Não te darei mais trabalho.

     Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa eu corri pra fora, todos da rua me olhavam correr, mas não me importei. Cheguei a praia sem me importar com quem estava lá, larguei minhas sapatilhas na areia e mergulhei na água.

     A água estava fria, minha roupa molhada grudava em meu corpo. O brilho me envolveu, logo o frio se foi e minhas roupas também, o colar  permaneceu, mas esse detalhe foi ignorado por mim. No momento em que a cauda substituiu minhas pernas eu nadei em uma velocidade absurda. Tudo a minha volta eram somente borrões coloridos e meu olhar se focou somente em o que eu via na minha frente.

    Parei quando tudo se fez escuro, então percebi que eu não sabia onde eu estava e qual era a profundidade do lugar. Eu não avistava mais peixes coloridos como antes, os peixes a minha volta nadavam em cardumes cheios, eram acinzentados ou escuros. Se mesclavam ao azul escuro do mar.

     Eu era uma sereia e faria bom proveito disso, parei bem no meio do nada afundando lentamente, minha mãe, meu pai, os homens pássaros, as tentativas de Marcos e minhas recentes ameaças Miriam & cia, tudo parecia sumir a medida que eu afundava, deitei na areia gelada me aconchegando, lembrei-me de uma parte da carta, “o mar é a cura para todas as dores”, posso afirmar com clareza, isso é a mais pura verdade. Naquele tempo que fui envolvida pelo azul do mar e pinicada pela areia, eu senti paz, senti que aquele era meu lugar, eu estava em casa.

 


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Notas finais do capítulo

Pobre menina Clara, estou lascando a vida dela :v desculpe menina Clara.
Espero que vocês tenham gostado desse cap, o próximo já está sendo escrito.
Comentem please :3 adoro responder vocês.
Até o próximo capítulo.



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