A Trilogia Malévola - Parte 1: O Espantalho escrita por Samuel Schiavoto


Capítulo 1
Twisted Mind


Notas iniciais do capítulo

Este é o primeiro capítulo. Coloquem esta música para tocar: https://www.youtube.com/watch?v=2cGbawCg4WU, e divirtam-se!



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From the cradle to the madhouse — a twisted mind.

There’s no way out of this hell for a twisted mind.

Do berço ao manicômio — uma mente deformada.

Não há saída deste inferno para uma mente deformada.

 

Tobias Sammet deixou cair uma lágrima. A lágrima de agonia que ele vinha guardando há tempos. Há anos, para ser mais exato. Mesmo quando a depressão começou a tomar forma, retorcendo sua alma das mais profundas maneiras, ele se recusou a deixá-la cair. Estava jogado na rua, a cara afundada na terra, o corpo ainda latejando de dor por causa das pisadas que levou.

Deveria ter sabido desde o início — sabido que sua vida não daria certo. Deveria ter se jogado dentro do primeiro poço que viu assim que sua mente começou a formar os desejos impossíveis — ele tinha certeza de que eram — de tornar-se um grande músico. De tornar-se famoso, rico, conhecido.

De ter Amanda Somerville para si.

Tobias fungou, frustrado. Levantou-se com dor, mas pôs-se de pé, cambaleando. O sobretudo estava sujo de poeira e a bengala quebrada ao meio. A cartola estava amassada e rasgada, jogada em algum canto. Ele fungou de novo. Fora uma apresentação, a última que ele tentara fazer. E fora pisoteado. Literalmente pisoteado pela própria audiência, que o vaiou desde o momento em que ele abriu a boca para cantar. E então, no meio de sua apresentação, enquanto ele ignorava as vaias e os projéteis que jogavam nele, alguém o agarrou e o jogou para fora do palco, para o meio da multidão. E ele fora pisoteado.

Sentia-se insano. Sentia sua mente se distorcendo, se deformando, sendo engolida por si própria e substituída por uma nova, doentia e insana. Não se reconhecia mais; se perdera na própria loucura. E o buraco que Amanda deixara em seu coração era tão grande que ele sentia que nem mesmo todo o ouro do mundo poderia tapá-lo. Mais e mais lágrimas escorriam pelo seu rosto arranhado; seus cabelos grudavam na face.

E Tobias caminhou, cambaleando mais ainda. Há muito tempo disseram a ele que fazer uma consulta com o psiquiatra Roi Khan seria a melhor coisa que ele poderia fazer.

Mas quando ele chegou lá, na organizada sala, assim que terminara de se recompor, mal se importando em se limpar, o psiquiatra o encarou com uma sobrancelha erguida. Perscrutou seu corpo, estudando seu lamentável estado.

“Tobias? Tobias Sammet?”

O músico assentiu.

“Preciso... de uma consulta.”

Roi suspirou e indicou para que ele se deitasse no divã, e assim Tobias o fez, mancando. Foi um alívio descansar a cabeça em algo macio; em algo que não fossem botas duras ou terra.

“Eu vi o que aconteceu,” disse Roi. Tobias estremeceu, fervilhando de ódio. Se ele vira, por que diabos não o tinha ajudado? Desgraçado, disparou ele em seus conturbados pensamentos.

“Eu não sei o que fazer,” choramingou Tobias. “Ela não me quer... a fama não me quer... o dinheiro... Não consigo fazer sucesso... não consigo viver... Amanda me rejeitou mais uma vez! A vida me rejeitou mais uma vez!” berrava ele, contorcendo-se de raiva no divã. Sua dor era quase visível, e Roi crispou os lábios.

Ele fez anotações em sua prancheta, fazendo que não com a cabeça. Para si mesmo ou para ele, Tobias não sabia.

“Devo dizer que nunca vi um tipo como você,” falou o psiquiatra. Tobias o estranhava. “Você é quase uma aberração, é o que eles dizem. Uma monstruosidade da natureza, uma doença virulenta. Mas eu prefiro acreditar que você só é perturbado mesmo.”

“Perturbado?” indagou o paciente.

“Você tem uma mente perturbada,” falou Roi com seriedade, embora estranhamente cínico, como se denegrir a imagem de Tobias o desse prazer. “Uma mente distorcida. E não há saída desse inferno chamado vida para mentes distorcidas.”

“Eu só queria saber como é fazer sucesso. Como é ser feliz, como é ter alguém que me ame de volta. Nem que, para isso, eu tivesse que ser outra pessoa.”

“Você nunca verá através dos olhos de outrem, Tobias,” disse Roi. “Você não é como ninguém. É diferente. Diferente para o lado ruim, eu diria.” O psiquiatra fez uma anotação final na prancheta e a deixou sobre a mesa de centro. “Não há nada que eu possa fazer. Vamos começar pelo fato de que você não pagou a consulta.”

“Eu não tenho dinheiro!” gritou Tobias. “ Não tenho nada!”

“Então sairá daqui com nada.” Roi levantou-se e abriu a porta. “Saia.”

Tobias se levantou, e saiu de lá xingando Roi com todo tipo de ofensa em que conseguia pensar. Correu para a sua casa — aquilo que ele chamava de casa — e chutou tudo em seu caminho. Até mesmo a porta. E ele entrou em seu quarto, chorando desesperadamente, xingando a si mesmo por existir.

E então uma grave voz rasgada quebrou o silêncio, despertando-o de seus lamentos depressivos.

“Olá, velho amigo.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Até a próxima ♥



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