Take me to church escrita por Ella Poetry


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

A parte 2 é um pouquinho mais pesada, por isso peguem os lencinhos!



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Ao passar pelo Centro, ele ouve a maior algazarra. A última vez que isso aconteceu, duas semanas atrás, foi quando uma mulher foi pega traindo o marido. ⁠⁠⁠Gabriel ouve aquilo e pretende ignorar, porém acaba indo ver o que estava acontecendo, se espremendo entre as pessoas ali, chegando a uma clareira na floresta a poucos metros do centro. Uma fogueira grande foi armada e arde. Dois jovens estão acorrentados de lados opostos da fogueira, sendo obrigados a verem suas coisas serem reviradas e tudo que era "impuro" sendo jogado ao fogo. O reverendo está parado de braços cruzados observando a gangue com bandanas no rosto e capuz, fazer o serviço. Então o líder da gangue se vira para o povo:

⁠⁠⁠⁠_Acham que temos provas o suficiente? – ele grita com o punho erguido

—Sim! Queime-os! Aberrações! Imundos! – é o que a multidão irracional grita de volta

⁠⁠⁠⁠_Vocês querem um show, não querem? – Fernando, o líder pergunta encarando a multidão e manda dois capangas trazerem os dois para perto um do outro – se despeçam!

Os dois jovens se abraçam desesperados. Chorando muito. Não sabem se seus pais estão ali ou não, porém apenas se agarram um ao outro sussurrando eu te amo no ouvido um do outro enquanto a multidão os condena com palavras. Os dois se beijam e levam um chute na cara que pega em ambos e a multidão ri. Gabriel encara aquilo com a pior expressão possível, aquilo sempre passava dos limites quando o povo botava fogo e anda até o pai.

—Pai! O que eles pensam que estão fazendo?!

O reverendo finalmente vê o filho e o puxa para perto, com uma mão em cada ombro.

⁠⁠⁠⁠_Observe filho. A justiça de Deus sendo feita. Seres abomináveis assim não deviam existir. E agora será um a menos!

⁠⁠⁠⁠_Como as bichinhas já sabem, só matamos um dos doentes e deixamos o outro vivo como testemunha. – Fernando diz e encara os dois – Então, quem vai ser?

—E-eu... Mate-me... Mas o deixe vivo. Por favor! – um dos jovens de cabelos ruivos diz com lágrimas nos olhos

⁠⁠⁠⁠_Não! Já conversamos sobre isso, não vou deixar você morrer! – o outro, com cabelos louros diz para o ruivo, as lágrimas descendo sem dó.

—Eu disse primeiro. Eu vou. Eu te amo! – o ruivo diz querendo tocar, beijar, fugir dali com seu amado.

—Pai, o que o senhor pensa que está fazendo?! Esses dois não fizeram nada de errado! Pai... Eles podem... Se converter... Para tudo existe salvação não é mesmo? A... A glória de Deus pode cair sobre eles e verem que estavam errados... Mas... Não precisam matar eles!

⁠⁠⁠⁠_Está certo, meu filho. Mas eles precisam de um choque de realidade. Eu tenho certeza que depois disso o outro vai se converter!

Fernando pega o outro e joga para a multidão que começa a dar chutes no jovem até que Fernando pega o outro pelo pescoço e os capangas o erguem e a multidão urra quando, mesmo de longe, um grito pode ser ouvido. Até Alec ouve o grito e se levanta com um único pensamento: Não... De novo não... Ele começa a correr pra cidade vendo a multidão e entrando no meio delas e tentando empurrar as pessoas. Dois gritos saem da fogueira. Um do que foi jogado e o outro veio do jovem que ficou e é impedido de salvar o amado. O reverendo ignora as tentativas do filho de se soltar enquanto os gritos do que está na fogueira se misturam com o que está fora.

Alec sente o cheiro antes de ver. Ouve os gritos antes de ver. E quando passa pela multidão conseguindo ficar de frente a fogueira, ainda assim se choca. Fizeram. De novo. O reverendo aperta a mão nos ombros do filho, o prendendo.

⁠⁠⁠⁠_Assista. Com atenção. É isso que acontece quando coisas assim vem a terra. Por isso me orgulho tanto de você: Meu primogênito! Vai dar bons exemplos a sua irmã, que é nova demais para assistir!

⁠⁠⁠⁠Gabriel quase solta um grito quando o garoto é jogado ao fogo, colocando a mão na boca e assistindo o pobre garoto ali, ele dá um tapa na mão do pai, se afastando dele com a expressão que sempre faz quando parece estar enojado. Os caras da gangue cercam a fogueira e então o líder tira uma arma e da um tiro no meio da cabeça já queimada do jovem na fogueira. Os outros homens jogam baldes de água na fogueira e o "show" se encerra. O outro garoto corre até o cadáver e chora sobre ele enquanto a multidão se espalha e o próprio reverendo sai andando para casa. 

Alec ainda está no mesmo lugar olhando o garoto com o cadáver no colo. A gangue já sumiu, como sempre. Ele engole em seco ainda meio estupefato e encara o rapaz com pena. Sabe o que viria agora. Os olhares, as piadas. Seria expulso de casa, será que tinha amigos? Lugar ora ficar? Seria assim até ser forçado a casar com alguém da igreja. Ai tudo voltaria ao normal, menos ele.

Gabriel fica sem reação, porém vê Alec e o menino com o cadáver, não consegue falar nada ali, se sente péssimo, pois sabe que aquilo é tudo culpa do próprio pai, passando a mão na cabeça.  Ele passa por Alec e puxa o braço dele de lado, não era bom ficar ali olhando.

—Vai pra casa. – Gabriel pede sério enquanto o olha

⁠⁠⁠⁠_Mas o garoto... Ele está sozinho agora. – Alec tenta argumentar – Literalmente, ninguém mais vai aceita-lo.

⁠⁠⁠⁠_Vai pra casa, por favor. – ele diz novamente mordendo o lábio inferior e ainda o olhando sério – Você sabe bem...

—Tá. Eu sei... Não é o primeiro. Não será o último... Mas você vai dar um jeito de ir lá em casa hoje. Eu preciso muito falar com você!

— ⁠⁠Eu... Eu vou tentar hoje a noite, só vai pra casa agora!

—Aperto de mão é hétero o suficiente para fazermos em público? – Alec diz de forma agressiva. Mesmo sabendo que não é culpa dele, está mal depois daquela cena.

Gabriel o olha e o abraça de lado e rápido, o soltando e se afastando.

—Desculpe... A gente... Se vê mais tarde. – ele sai andando com as mãos nos bolsos

Alec sai andando pelo lado oposto. Indo pra casa e se trancando no quarto sem nem jantar. Ele pensa em tudo que viveu com Gabriel. Tudo valera a pena. E ele não mudaria nada, nem se pudesse.  ⁠⁠⁠

Mais tarde, Gabriel consegue se livrar dos pais, indo até a casa de Alec e jogando uma pedrinha na janela do mesmo. Alec abre a janela e vê o namorado com uma expressão que conhecia bem: você não vai gostar.

—Meu pai não tá em casa, pode vir pela porta! – Alec grita e fecha a janela, indo para a porta.

Gabriel assente com a cabeça e vai pela porta, parando na mesma. Alec a abre e o puxa pra dentro, fechando a mesma. Guia ele pela casa, então passam pela sala de estar. A mãe dele está sentada com uma xícara em uma mão e segurando um livro na outra. Nenhuma palavra é dita e a mãe de Alec, mesmo tendo visto os dois, se arruma no sofá e bebe um pouco.  Gabriel entra no quarto do mesmo, Alec entra em seguida e beija o namorado. O mesmo retribui colocando as duas mãos em sua cintura, enquanto o menor puxa seu pescoço de encontro com os próprios lábios.

—Me diz uma coisa... – ele fala quando os lábios se afastam – Porque a sua mãe não perguntou o que eu vim fazer aqui?

—Bem... Ela... Sabe... – Alec diz meio sem jeito

— Ela... O... Que? – Gabriel pergunta incrédulo

—Ela não liga...  Eu sou filho único. Acho que pra ela é melhor do que me ver morto

—Ah... Certo... Er... O que você queria me falar mais cedo? – Gabriel diz passando a mão na nuca e mordendo o lábio inferior com força

—Nós... Temos que conversar sobre a gangue!

—O que quer falar sobre eles?

— Se... Se... Se um dia nós fomos pegos... - ele morde o lábio com medo

—Alec...

—Não Gabriel. Se esse dia chegar...

—Eu quero terminar! – Ele diz sério o cortando

—O que? – Alec não acredita no que ouviu

—Eu quero terminar o que não devíamos ter começado. – ele diz olhando para o chão

Alexander o encara sentindo seu mundo desabar. De tudo o que poderia ter acontecido, aquilo foi de longe o pior. Mas não podia obrigar Gabriel a ficar com ele. Sabia o que o outro estava sentindo. Estava com medo também e a cena de hoje havia sido bem perturbadora

—C-Claro... É um direito seu! – Alec diz olhando o piso extremamente interessante, porém quando ele vira os olhos para ele, só demonstra que é uma mentira mal contada, nunca foi bom com isso – Acho melhor você ir!

—Certo. Eu te vejo na igreja então... – Gabriel começa, mas é cortado.

—Melhor não nos falarmos mais também! – Alec diz não o olhando e cruzando os braços.

—Tchau, Alexander... – ele diz e espera que Alec diga mais alguma coisa, mas o mesmo não diz e nem olha para ele, então ele se vira, desce as escadas e abre a porta.

—Gabriel! – ele grita do nada e corre para a porta – Só... Mais uma coisa... Quer dizer... Agora nem faz mais sentido...

⁠⁠⁠⁠ _O que? – Ele pergunta o olhando

—Eu te amo! – Alec diz encarando ele e depois desvia os olhos quando é puxado para um abraço, lutando contra as lágrimas.

—Por Deus Alec... Não faz isso! Não piore tudo... – Gabriel diz com a voz embargada, provavelmente prendendo as lágrimas também.

—Espero que seja feliz...

—Só quero que saiba que você é o único ser nesse maldito mundo que eu vou amar até morrer.  – ele diz no ouvido do mesmo, baixo e o apertando.

—⁠⁠⁠Posso te pedir uma coisa? Uma última coisa?

—O que? – ele separa só para o olhar

—⁠⁠⁠Me encontra nos fundos! – ele diz entrando e fechando a porta

Alec sobe rápido e pega a caixa com o diário. Depois desce, pega uma pá na garagem e vai para os fundos. Gabriel não entende bem, porém vai. Era pra ter acabado com aquilo... Nem pra isso servia, caminhando igual um doido e olhando para os lados⁠⁠⁠⁠ com a terrível sensação de que estava sendo observado. Alec começa a cavar um buraco.

—O... Que está fazendo?

⁠⁠_Nada mais justo do que... Enterrar nossa relação. – ele coloca a caixa dentro – Assim será um segredo nosso!

—Me dá... Eu termino isso. – Gabriel diz pegando a pá da mão dele e enterrado, terminando de alisar a terra e fincando a pá no chão.

—Nem parece que tem seis meses nossos aí! – Alec diz e força um sorriso para ele – Engraçado como é fácil enterrar o passado.

⁠⁠⁠⁠_Alec... – Gabriel toca o rosto dele e falha, umedecendo os lábios – Eu tenho medo... De descobrirem tudo... Eu... Me desculpa ter te beijado aquele dia...

—⁠⁠⁠Ei! ⁠⁠⁠Para! Eu até aceito você não querer mais nada... Mas não joga fora tudo o que passamos Foram os melhores meses da minha vida!

—Eu odeio isso... Odeio ter que terminar algo que eu não quero... – Gabriel começa e Alec põe a mão em seu peito

—Você prometeu... ⁠⁠⁠Prometeu que não ia desistir de nós! ⁠⁠⁠Prometeu que ficaríamos juntos!

—Eu sei que prometi! Eu só não quero que você morra! – Gabriel diz e coloca a mão sobre a dele.

—Eu não me importo. Eu nunca me importei... – Alec estava quase chorando – É melhor você ir!

Gabriel puxa o menor e o beija. Alec até tentou resistir, antes de cair nos braços do outro. O beijo iniciou-se calmo e foi aumentando de intensidade a cada momento, como se fosse o último do casal, talvez o fosse, de fato e ao separarem-se ambos abriram os olhos, encarando um ao outro. Havia cumplicidade naquele momento, havia paixão, amor e entrega, tudo de uma só vez, para marcar e deixar saudade e era exatamente esse sentimento que se tornaria recíproco para ambos e lágrimas surgiram no canto dos olhos de cada um, que sentiam seus corações separarem-se, assim como suas almas.

⁠⁠⁠⁠_É melhor eu ir... – Gabriel diz assim que se afastam e abaixa a cabeça – Adeus Alec...

—Adeus Gabriel...

Gabriel enfia a mão e coloca algo no bolso da calça de Alec, o abraçando uma ultima vez e finalmente sai andando e colocando o capuz. Assim que se separam, Alec olha para os lados com a uma sensação estranha de estar sendo observado. Depois olha na direção que Gabriel saiu. Ele que agora é só um pequeno vulto ao longe. Ao menos moravam longe e não teriam que se ver tanto. Alec finalmente entra com a pá e vai pro quarto. Lá, ele tira o que Gabriel pôs em seu bolso. É um envelope meio amassado estava fechado e com um dos desenhos ridículos de Gabriel, um unicórnio que havia rabiscado ali. Alec sorri bobo por um minuto e abre o envelope, encontrando um papel dobrado e um anel de compromisso que o mesmo havia dado ao outro no começo do namoro, porém está em um cordão preto.

Alec

Foi muito difícil para eu escrever isso. Sabes o quanto eu sou ligado aos livros e as palavras, sabe que gosto de escolhê-las bem. E também tem o fato de que talvez estar escrevendo torne real. Alexander, eu te amo! Muito! Mais do que eu jamais pensei que pudesse... Eu juro que não fiz por mal... Mas eu não quero que você morra. Senão, de que valeria meu amor? Por favor, me perdoa. Eu sempre vou amar você.

Gabriel

⁠⁠Ele sorri mais ainda e coloca o cordão, derramando lágrimas em um trágico paradoxo. Ele aperta o cordão sobre o peito e se deita na cama abraçado ao travesseiro, lendo e relendo o bilhete dele. Já Gabriel, vai para casa se sentindo um verdadeiro idiota, andando até a porta e a abrindo, largando o casaco em qualquer lugar e indo para o quarto, onde bate a porta, chuta uma cadeira e se joga na cama, não querendo chorar.


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