Destiny Interativa escrita por Ann Wolf


Capítulo 2
Kaori e Liev


Notas iniciais do capítulo

Já temos uma noiva para o nosso Ken, a Liev. Obrigada Filha de Hecate por comentares no último capitulo e decidires participar heheh. Espero que mais pessoas façam o mesmo que aproveitem a leitura. Haverá aspetos que talvez altere nos rapazes, ou então na história, mas vou me basear um pouco nos arcos dos nossos queridos vampiros.

Rapariga = moça, garota (eu sei que no Brasil é considerado uma ofensa por isso coloquei isto logo)
Ore-sama = maneira formal de dizer "eu" mesmo
Telemóvel = celular



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Kaori Pov

Estava a dormir muito bem até as luzes do sol começarem a trespassar pelos cortinados de seda no meu quarto. A minha cama de dócil, com a seda azul, permanece que eu ainda fique um pouco na escuridão mas não é o suficiente para proteger-me dos raios solares.

Ainda resmungando com o meu azar, levanto-me da cama e agarro nas primeiras jeans e na primeira blusa fresca que aparece-me à frente e caminho para a casa de banho privada, onde tomo um banho relaxante e permaneço um pouco na água.

Hmmm será que hoje vai aparecer alguém?

Os meus pensamentos são interrompidos quando a voz um tanto aguda de um dos meus irmãos ecoa do outro lado de fora.

— Kaori-chan. – Ele canta o meu nome com tanta animação que acabo por revirar os olhos e mergulhar o rosto na água, até esta ficar perto do meu nariz.

— Que queres Dake?

O meu irmão mais velho ri do modo impaciente com que lhe falei. Dizer que ele adora irritar-me é pouco para descrever o quanto ele me coloca os nervos em franja. E o pior é que não é só ele e é todo o santo dia.

— Vim ver se já tinhas acordado. – O tom de voz dele altera-se para deceção. – Mas não cheguei a tempo de te ver só com a roupa de pijama.

Volto a revirar os olhos. Ainda não percebo o que devo ter feito de tão mal para receber tais “dádivas” na família. A minha cabeça desliza pela fibra, pintada com tinta esmalte, da banheira vitoriana e respiro fundo antes de a mergulhar completamente.

A água bloqueia o barulho e as vozes vindas do outro lado da porta, que acabo por sentir-me mais relaxada e, sobretudo mais calma. Eu gosto quando estou com os auscultadores nos ouvidos a ouvir as minhas músicas favoritas mas adoro ainda mais o silêncio do jardim ou então do lago, onde raramente sei que os meus irmãos vão. O Ken, que detesta que eu o chame por esse nome, tem episódios traumatizantes de lá, um dos quais eu fui responsável e assisti, e o Kanato só costuma ir lá algumas raras vezes á noite.

Quando percebo que já estou há tempo suficiente dentro da água, levanto-me, lavo os dentes e a cara e, por fim, penteio o meu cabelo preto, comprido e liso num rabo-de-cavalo.

O espelho reflete o meu rosto. A minha pele pálida, os lábios finos e delicados um pouco rosados e os meus olhos de um tom azul claro, facilmente confundido com a cor do céu. Mas, de resto, a expressão que possuo é demasiado séria e dura para uma rapariga com aparência de 17 anos.

— Tsk, de que vale pensar se pareço uma adulta mal-humorada? – Viro as costas ao reflexo e saio da casa de banho, já vestida, e fechando a porta atrás de mim com um estrondo enorme.

Do canto oposto aonde estou, sinto alguém abandando a cabeça vagarosamente e a levar uma das mãos à testa. Não posso acreditar que hoje os meus irmãos decidiram invadir a minha privacidade e o meu espaço logo pela manhã. Deve ser mesmo para que o meu humor não melhore.

— Nathaniel, para de reprovares as minhas ações quando acabaste de entrar no meu quarto sem autorização. Não estou com paciência.

— Eu bati à porta. Não me respondeste e eu decidi entrar. Há assuntos a tratar. – Ele não está com os habituais óculos de leitura e encontra-se perfeitamente vestido, como se fossemos a algum lugar especial.

Cruzo os braços ao peito e inclino a cabeça um pouco para o lado enquanto solto um suspiro aborrecido.

— Despacha-te lá. – Reclamo, revirando os olhos e olhando para o teto do meu quarto, que consegue ser mais interessante que o meu segundo irmão mais velho. – Tenho muitos nada para fazer e um dia pela frente.

— Temos uma visita que chegará em breve. – Quase que me engasgo ao ouvi-lo e fixo-o surpreendida, tentando encontrar palavras para falar o que me ocorre. – Sabes o que isso significa.

A minha boca fica seca do nada, como se já nem saliva possuísse e tivessem andando a esfregar alumínio na minha garganta. Na minha cabeça, só ecoa uma frase, e bem alto.

Porque alguém iria querer cometer tal suicídio!?

É tão irresponsável que alguém queira viver connosco, uma família esquisita e fora do normal, embora eu saiba que deve haver o dedo do nosso pai nesta história. Ninguém viria para cá assim, do nada, para ser a noiva de sacrifício de um dos meus “queridos” meio-irmãos sabendo a nossa natureza e o que possivelmente pode acontecer aqui.

Respiro fundo, antes de por fim conseguir falar com o Nathaniel.

— Quando?

— Disseram-me em breve, mas suponho que poderá ser hoje. – O rosto dele tem uma pequena transformação quando um sorriso divertido o invade. – Está com medo de algo, Kaori?

Os meus punhos cerram-se com toda a força possível e caminho na direção dele, sem medo do que ela possa fazer-me. Assim que fico o suficiente próxima dele, que continua com o mesmo sorriso no rosto, silvo irritada.

— Eu já não tenho medo de nada vindo de vocês. – Dou-lhe um empurrão com o ombro enquanto saio do meu quarto. Atrás de mim, ainda o ouço a soltar algumas reclamações da minha recente atitude mas ignoro-as ao ponto de apenas me conter para não o mandar passear.

Desço a enorme escadaria e encontro alguém a dormir mesmo ao lado desta.

— Lysandre, estás a pedir que alguém tropece em ti. – Ele não me responde. Em vez disso solta um suspiro preguiçoso e mantém-se de olhos fechados e com os fones nos ouvidos.

É o habitual, de que vale chama-lo à atenção se ele tem sempre a mesma atitude? Nada. Por isso é um dos meus irmãos favoritos.

Caminho para fora da mansão, para o exterior e encontro o Armin mesmo à entrada da casa. Um calafrio percorre-me o corpo todo ao vê-lo com o sorriso psicopata enquanto joga na psp dele, completamente concentrado no jogo e com as olheiras semi-circulares debaixo dos olhos a tornarem-no estranho.

Ele já foi bem alegre e simpático quando criança…mas a estúpida da mãe dele não passava de uma cobra venenosa que o transformou nisto. Embora ele não tenha sido a única vitima dela, devo admitir. O Armin distrai-se um pouco para trocar um olhar comigo e eu ponho os meus pés a mexer num abrir e piscar de olhos. É, acho que ele é a única pessoa cá da casa com quem eu não me atrevo a ser sarcástica.

O ar do exterior é mais leve e acolhedor que o do interior da nossa casa, se é que lhe posso chamar isso. Há um mês fui chamada de volta pelo meu pai, devido a um assunto importante que ele disse requerer a minha presença e qual haveria ele de ser? O casamento dos meus irmãos. Ainda estou a tentar decifrar o por quê de eu ter que permanecer aqui mas, se o vou fazer, então a minha estadia terá de servir para alguma coisa. Irei ajudar as raparigas que aqui tiverem que permanecer. Sei que não as poderei proteger de tudo e nem sempre poderei ser a mais simpática das pessoas…mas irei evitar mortes pelo menos assim espero…

Há um movimento atrás de mim e viro-me bruscamente para trás, encontrando um olhos escuros a observarem-me das sombras. Sérios e duros, tais como os meus.

— Castiel… - Murmuro ao vê-lo. Ele sai das sombras e aproxima-se de mim.

— A pensar? Ou só a quereres estar sozinha?

Reviro os olhos com um sorriso torto no rosto.

— Ambos. Sabes que não gosto de ficar dentro da mansão. – Volto a olhar para a frente, onde se distingue os portões da mansão. Grandes portões de ferro que se erguem para o alto. – Fui influenciada por ti, no que toca a isso.

O Castiel faz um murmuro inaudível e olha na mesma direção que eu. Todos dizem que, de algum modo, nós somos os mais parecidos dos irmãos mas, o que não entendem, é que na verdade nós apenas sabemos como compreender o que cada um sente pois tivemos situações similares.

— Não fiques aqui muito tempo. – Aceno com a cabeça ao ouvi-lo enquanto este vira as costas e começa a sair do meu lado. – Mesmo que sejas uma vampira, ainda és uma humana também. – Ele volta a desaparecer nas sombras e eu fico a pensar no que ele disse.

Mesmo que eu seja uma vampira, ainda tenho uma parte humana.

Suponho que seja isso que me faz ser a ovelha negra da família. Uma bastarda sem utilidade nenhuma e que não consegue encaixar-se em lugar nenhum.

Que seja, não me importo. Não tem diferença nenhuma. Mais vale sozinha do que mal acompanhada.

A floresta chama-se e eu sigo na direção dela mas, antes mesmo de lá entrar, ouço o ruído de alguém atrás de mim e suspiro de novo.

— Ken, é melhor que treines a discrição porque dessa maneira não vais a lado nenhum. – Utilizo o apelido do qual ele não gosta tanto e o meu terceiro irmão aparece á minha frente numa fração de segundos. A face dele está um pouco colérica mas não tenho medo, em vez disso sorrio.

— Eu. Não. Gosto. Do. Nome. Ken! – Rio em voz alta. – Idiota.

— Palerma. – Respondo e ele faz uma cara ofendida.

— Ore-sama não é palerma. Tens que ter respeito. – Dizer que quando ele usa “ore-sama” eu fico com vontade de lhe chamar criança é pouco para dizer o que realmente me apetece dizer. Mas, no fundo, eu até gosto dele. – Não tens educação nenhuma.

Aceno com a cabeça e murmuro um “uhum”, mostrando que esses comentários não me afetam. O Kentin já sabe o quanto eu me ralo para o que quer que pensem de mim. Nem com o nosso pai ou a corte vampira eu me importo, quanto mais com os irmãos com os quais eu cresci.

— Está bem, Kentin. Mas como já disse. Treina a discrição. – Sugiro, dando pequenas palmadas no ombro dele. – Senão não consegues nenhum bom pescoço para morder.

Ele faz beicinho e despenteia-me o rabo-de-cavalo.

— Não preciso de sugestões tuas.

Tal como o Dake e o Castiel, o Kentin desparece rapidamente e eu suspiro enquanto caminho pela floresta para o lago e lá fico, aguardando pacientemente que o dia acabe depressa.

 

Narradora Pov

Enquanto Kaori permanecia pensativa a olhar para o lago, longe da mansão Sakamaki, uma outra rapariga acabava de arrumar as malas com todos os seus pertences e com um sorriso no rosto. Finalmente iria sair daquela casa, daquele clima que a isolava e que era cruel com a mesma. O pai tinha-a a avisado recentemente que ela sairia para uma mansão, longe dele e da família do seu segundo casamento.

Liev já andava farta de viver naquela casa onde era a ovelha negra, onde o pai já não sabia como lhe dar amor paterno e onde a madrasta e os irmãos só queriam saber de si mesmos. Os únicos amigos que possuía eram a música e os seus bichinhos de peluche. Ao menos eles não a abandonavam.

— Liev, queres despachar-te? – Grita-lhe o pai da sala.

A rapariga suspira e dá uma última vista de olhos na sua aparência. O seu cabelo azul-escuro está perfeitamente penteado e as duas mechas, que se encontram á frente, estão atadas numa fita prateada, cada uma, o que evita que lhe caiam os fios de cabelo nos olhos castanhos profundos e que sempre se revelavam um poço fundo. No entanto, a cor do cabelo mostrava o quanto ela conseguia ser calma e o quanto as bochechas e os lábios eram avermelhados.

Ela não se achava bonita. Era magra e sem grandes curvas, para além do busto que a favorecia um pouco, e a sua estatura delgada não atraia muitos olhares das outras pessoas. Na escola era sempre chamada de miúda quieta e antissocial por não falar com muitas pessoas e estar sempre a ouvir música ou com a cabeça enfiada nalgum livro. No entanto, as pessoas que a conheciam melhor, ou com quem ela já tinha tido mais proximidade, sabiam que no fundo a Liev é apenas alguém que tem medo de ser magoada e que, por isso, guarda as coisa para si mesma e mantém-se afastada mas, caso tenha algo a dizer, não tem medo de o fazer.

Era essa coragem que a mantinha de cabeça erguida durante o tempo todo e que, agora, tinha sido recompensada com a saída da casa do pai.

Liev agarra em todas as suas malas, numa mochila que coloca às costas, e depois pega um livro e o telemóvel com os fones ligados. Ela sai do quarto e, ao chegar à sala, depara-se com uma paisagem que não a surpreende nem um pouco. O pai encontra-se de braços cruzados e a madrasta está no meio dos seus irmãos que a observam. Liev não consegue conter a língua antes de falar o que realmente sente.

— Não se preocupem, vou já embora. – Diz, ao mesmo tempo que caminha para a porta. Ao abri-la, vê que já estava um táxi à espera de a levar embora.

Ela morde o lábio inferior, não sabendo se deve estar alegre por o pai não a levar para a mansão e ela não ter de conviver com ele nem mais um minuto ou triste por saber que o pai tem tão pouca consideração por ela. A sua coragem e a sua frieza levam a melhor e Liev acaba por levantar a cabeça e sair de casa sem desviar o olhar uma única vez para dizer adeus à família, se é que ela podia chamar-lhes mesmo isso.

O taxista ajuda-a a arrumar as malas na mala do carro e o pai de Liev aproxima-se, pela última vez, para lhe dar o dinheiro necessário para a viagem.

Depois de tudo pronto, o táxi parte com rumo para a mansão que Liev nem sabe qual é nem onde fica. Só que, a partir de agora, será a sua casa e o seu refúgio.

Espero que agora seja melhor, pensa enquanto observa os caminhos, as ruas, e as paisagens pelas quais vai passando.

Ela não sabe o quanto a sua vida vai mudar.

 


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Notas finais do capítulo

Agora precisamos esperar para o resto das noivas aparecerem. Eu ainda não sei se consigo narrar as coisas do ponto de vista das outras noivas por isso não fiquem admiradas de verem mais a Narradora a falar que as próprias meninas