Bem Me Quer escrita por Maitê Miasi


Capítulo 4
Já Não Consigo Conter Meus Desejos


Notas iniciais do capítulo

A pedido da minha senhora. hj, oficialmente, declaro o não parentesco de Diana e Chico. Eles não são primos minha gnt!!!

Apreciem *-*



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[... “Não sei você,

Mas eu não deixo de pensar

Não consigo me desligar nem um minuto

De seus beijos, seus abraços

Do bom momento que passamos da outra vez...”]

****

Depois de pisar em Chico, e cuspir as palavras mais sórdidas e mentirosas, Diana foi para casa, com ar de vencedora, como quem acabara de ganhar um prêmio, disputado entre ela, e um grande inimigo, era dessa forma que ela se sentia.

Quando ela entrou pelas portas da cozinha, encontrou sua mãe sentada, descascando alguns alhos que serviriam para a preparação do jantar, uma cena um tanto incomum, que fez Diana rir discretamente. Ela foi até a geladeira, e pegou um copo d'água, e sua mãe ainda não tinha dito nada.

— Mãe – ela foi até a mesa e se sentou frente a sua mãe – posso fazer uma pergunta?

— Você vai fazer de qualquer forma. – Ela continuou atenta no que fazia.

— É verdade essa história de que a tia Valquíria é adotada?

Ana deixou a faca e os dentes de alho sobre a mesa, repousando seus braços na mesma, e a olhou.

— Quem te disse isso? – Sua voz era calma.

— Ah mãe, ninguém, eu ouvi alguma coisa sobre isso quando criança, e me lembrei disso agora, por quê? Tem algum problema nisso?

— Não, não tem, e sim, Valquíria é adotada. Minha tia, irmã da minha mãe, sua avó, queria muito ter uma filha, e depois de tentar cinco vezes, e só vir meninos, ela resolveu adotar uma menina, e a escolhida foi sua tia Valquíria.

— Ah...

— Mas isso nunca a diferenciou dos demais, todos nós sempre tivemos o mesmo carinho por ela, toda a família fez questão de que ela se sentisse bem, se sentisse parte de nós. – Explicou.

— Claro, não poderia ser diferente né. – Bebeu um pouco de sua água.

— Espero que você não aja diferente agora que sabe da verdade Diana, sua tia ficaria decepcionada com isso. – Advertiu-a.

— Claro que não né mãe, eu hein! Eu gosto da tia Valquíria, e isso não vai mudar nada não. – Ela se calou um instante, olhando seu copo quase vazio, e logo voltou ao assunto. – Então, nem ela nem o Chico tem o mesmo sangue que o nosso, né?

— Bom, não, mas às vezes isso é um pequeno detalhe insignificante.

— É... – Respondeu com o pensamento longe.

Após alguns segundos caladas, com Ana observando a filha, que estava aérea, ela colocou para fora algo que estava deixando-a inquieta.

— Diana, o que você e o Chico estavam fazendo na porta do banheiro mais cedo? – Sua pergunta sem rodeios fez Diana voltar às pressas a conversa.

— Ora mãe, eu disse, eu estava esperando ele sair pra eu usar o banheiro – ela ficou nervosa – o que mais nós dois poderíamos estar fazendo?

— Se beijando é uma opção! – A encarou.

— A senhora tá ficando caduca já – ela se levantou e colocou o copo na pia – até parece que nós dois ficaríamos de beijinhos por aí – riu sarcasticamente – que ideia.

— Diana, eu não nasci ontem, eu vi como vocês dois estavam. Você e ele com cabelos desarrumados, roupas fora do lugar, e seus lábios estavam rosados Diana! – Ela olhava sua mãe com atenção. – Você vai tentar mentir pra mim? – Ela aguardou alguma reação da filha, não tendo nada, ela continuou. – Só vou te avisar uma coisa, o Chico não é como os homens que você se envolveu na cidade, pode não parecer, mas ele é um rapaz sensível, e tem sentimentos, olha lá o que você anda fazendo, hein.

— O Chico sensível? Tá aí uma coisa que eu vivi pra ouvir. – Riu. – E do jeito que a senhora tá falando, parece que eu sou uma destruidora de corações, mas caso não se lembre, eu disse que não me envolvo mais com homem nenhum, e ele não será uma exceção, ok? – Ela deu um sorriso cínico, virou as costas e saiu.

— Sei, eu conheço muito bem esse tipo de história. – Ela disse para si, retomando o que estava fazendo.

...

O restante do dia transcorreu tranquilamente, e logo já era noite.

Depois de um jantar cheio de risos, e algumas alfinetadas entre os primos, cada um se dirigiu ao seu aposento. No quarto, Diana lia um livro concentrada, quando Chico entrou, dessa vez, se anunciando.

— Tô entrando! – Ele abriu a porta, e entrou.

— Já melhorou uns dois por cento, pelo menos dessa vez avisou que ia entrar. – Manteve a concentração no livro.

— Rá rá rá, muito engraçadinha.

Chico se calou enquanto procurava umas peças de roupa, e Diana mantinha o foco no livro. O silêncio estava instalado no quarto, algo difícil, pois sempre que eles estavam juntos, surgia algum tipo de bate boca.

Após pegar tudo o que precisava, Chico parou para olhar o porquê daquele silêncio diferente da parte dela.

— A última carta de amor – leu o título do livro – não sabia que gostava de romances.

— E eu não sabia que você sabia ler. – Disse ainda sem olha-lo.

— Eu tô tentando selar a paz entre nós, dá pra colaborar?

Ela soltou um largo suspiro, e abaixou o livro, finalmente olhando-o.

— E eu tô fingindo que acredito. Mas sendo educada contigo Francisco, eu gosto sim de romances, na verdade, prefiro ler as histórias dos livros, do que acreditar nessa palhaçada que é o amor, que só serve pra dar lucros pra qualquer tipo de vendedor. Já caí nesse jogo uma vez, e não vou me permitir cair outra vez, então, vou ficar nos livros, o único lugar que o “felizes para sempre” existe de verdade.

— Nossa, depois dessa aula a favor do não amor, até eu pensei em aderir essa ideia. – Riu. – Mas vem cá, desde quando você me chama de Francisco? Você nunca me chamou assim.

— Desde quando eu quero abrir uma certa distância entre nós, e apelidos sugerem que temos algum tipo de intimidade, e a última coisa que quero ter contigo é intimidade, nós só seremos primos, nada mais que isso.

Chico não havia gostado do Diana acabara de dizer.

— Eu também não quero nada com você não Diana! De você só quero distância!

— Ótimo! Pelo menos concordamos em alguma coisa. Agora, será que dá pra você sair e me deixar com meu romance?

— Claro, claro que eu saio do meu quarto – enfatizou – e te deixo a vontade.

Ele olhou seus pertences em suas mãos, checando se não faltava nada, e pôs-se a caminhar em direção a porta, Diana, que o olhava, o fez parar com seu chamado.

— Chic... Digo – coçou a garganta – Francisco.

— Quê? – A olhou um pouco sem paciência.

— Minha mãe desconfia da gente, digo, que a gente, a gente não, que você me beijou mais cedo.

— E o que tem isso?

— Você não tá preocupado não? Ah, mas claro, você faz as besteiras, e fica aí, tranquilo.

— Se ela disser mais alguma coisa, você só confirma, e diz que não se arrepende, muito pelo contrário, diz que gostou muito. – Piscou. – Boa noite prima. – Bateu a porta atrás de si.

— Idiota. – Deu um sorriso bobo, e voltou ao livro. – “Amo você de qualquer jeito – mesmo que não exista nenhum eu ou nenhum amor ou mesmo nenhuma vida; amo você.” – Ela leu um trecho do livro em voz alta, abaixou o objeto, e ficou a pensar em algumas coisas.

~ Flashback on~

— Ah, não acredito que você nunca notou que a Rosa e caidinha por você? Na verdade, acho que ela seria a única mulher a se interessar por você, porque todas, ao olharem pra essa sua cara, correriam de medo, pavor e nojo, e fugiriam mais ainda, ao saber que você não sabe nem beijar. Vem cá, essa foi a primeira vez que você beijou uma mulher, não é mesmo? Porque se não for, eu sinto pena das que me antecederam. Bom, eu já vou indo, tchau Juliana – deixou um beijo na face da égua – vou escovar os dentes mais uma vez, e tirar todos os vestígios desse aí de mim. – Ela deu alguns passos, mas parou ao ouvir a voz de Chico, e o escutou de costas.

— Não acho que foi tão ruim assim, senti você estremecer nos meus braços, não adianta mentir Diana, sei que esse foi o melhor beijo que você recebeu...

~ Flashback off~

— Eu não deveria ficar pensando em você Chico, isso não é certo – suspirou ajeitando seu cabelo – eu não posso ser tão tola de cair nessa de novo, não mesmo. Mas eu vou dar um jeito nisso, ah se vou.

Ela colocou seu livro na mesa de cabeceira, levantou, apagou a luz, e foi para cama, pensar numa maneira de afastar Chico de seus pensamentos.

...

No dia seguinte, Diana acordou com um sorriso diferente no rosto, ela havia encontrado uma maneira de afastar definitivamente Chico de si. Depois de, praticamente engolir a refeição matinal em dois tempos, ela saiu de casa, sem dar satisfação a ninguém, e obviamente, estranharam a atitude da moça, mas Diana não ligava para o pensavam a seu respeito.

Decidida em colocar em prática seu plano, Diana saiu a passos largos, matutando em sua mente cada passo, e assim, se veria livre de Chico, pois era o que ela mais queria, ou pelo menos ela pensava assim.

— Flor! Flor! – Ela batia na porta, chamando por Rosa. – Flor! Flor!

— Diana? – Abriu a porta levando um susto com a presença de Diana. – O que você tá fazendo aqui? E por que essa gritaria?

— Não vai me convidar pra entrar? – Sorriu.

— Ah, claro, entra. – Ela deu passagem para que ela entrasse, e fechou a porta. Ela estendeu a mão, para que Diana se sentasse no sofá. – Como você ficou sabendo onde eu moro?

— Uma das vantagens de morar no interior é que você chega pra qualquer um e pergunta “onde mora aquela moça que usa vestido de quadrilha?” e eles respondem “ah, ela mora lago ali na frente”.

— Meus vestidos não parecem de quadrilha. – Olhou para seu vestido estampado.

— Parece sim Flor.

— Tá, mas você não me disse o que veio fazer aqui. – Mudou o assunto.

— Vim ajudar uma amiga a conquistar o grande amor da sua vida!

— Oi? – Rosa arregalou os olhos. – Você tá falando de quem?

— De você Flor. – Revirou os olhos. – Hoje vamos dar a largada para a conquista do coração de pedra do Chico.

— Você tá ficando doida Diana? Que papo é esse? E meu nome não é Flor, é Rosa!

— Ah, deixa de ser chata! Escuta, você disse que gosta do Chico, mas ele não te nota, mas é normal, homens são lentos, então hoje ele vai começar a ver seu outro lado, e logo logo, ele estará caidinho por você.

— Como vai ser isso? Eu vou chegar pra ele e dizer “oi Chico, eu sou apaixonada por você, me nota, por favor,”?

— Não, homens não gostam de mulheres diretas demais, eles gostam de mistério, me entende?

— Não muito.

Diana deu um suspiro acompanhado de um revirar de olhos.

— Tudo bem, não se preocupe, eu vou te ajudar. Olha, você vai dar um jeito de convidar o dito cujo pra jantar com você hoje, pode ser aqui mesmo.

— Eu?

— Não Flor, eu! Quem mais poderia ser? – Ela disse quase perdendo a paciência.

— Meu nome não é Flor!

Ela revirou os olhos de novo.

— Tá, eu faço o convite – Rosa continuou – e se ele não aceitar?

— Ele não vai ser tão estúpido de negar um convite seu. Mas enfim, você vai convidar, e ele vai aceitar, e então você prepara o prato preferido dele, alguns homens se conquistam pelo estômago, ele não deve ser diferente, espera, você sabe qual o prato preferido dele, né? – Perguntou preocupada.

— Claro, eu sei tudo sobre ele!

Essas palavras incomodaram um pouco Diana.

— Isso é ótimo. – Disse sem nenhum entusiasmo. – Agora só falta você dá um jeito de tirar sua mãe de casa.

— Acho que ela deve ir à missa hoje, ela não perde uma.

— Creio que está tudo colaborando a seu favor, minha querida! Agora a parte mais importante de tudo isso.

— Qual?

— A aparência! Vem – se levantou, e puxou a mão dela – me leva ao seu quarto, e vamos ver se encontramos alguma coisa que dê pra aproveitar.

Rosa estava começando a se animar com a ideia de Diana, era a chance que ela precisava para alcançar de vez o coração do seu amado. No quarto, Diana esperava encontrar alguma roupa que pudesse realçar a beleza escondida de Rosa, mas se assustou quando deu de cara com seu guarda roupa aberto.

— Eu não acredito Flor! Você só tem vestido de quadrilha?

— Ué, eu gosto Diana, e para de me chamar de Flor!

Diana se jogou na cama de Rosa, desapontada por não encontrar nada que pudesse aproveitar em seu guarda roupa. Ela ficou largada na cama de Rosa, como se já se conhecessem há séculos, pensando em alguma solução para aquele horrível problema, Rosa não se importou, mas daria tudo para saber o que se passava na cabeça pensante dela.

— Já sei! – Se sentou cruzando as pernas. – Eu posso te emprestar alguma roupa minha, já que temos o mesmo corpo, acho que não vai ficar nada mal.

— Sua roupa Diana? Nosso estilo não se parece em nada.

— Desde quando roupa de quadrilha é estilo fofa? Está decido! Eu venho aqui, e arrumo você, vou cuidar do cabelo, maquiagem, e escolhemos uma roupa que você fique a vontade, você não vai querer outra vida.

— Se você tá dizendo. – Ela aceitou, sabia que não tinha outra escolha.

— Se anima Flor, depois de hoje, você terá Chico em suas mãos. – Piscou.

Rosa sorriu, mas não disse nada. Diante do silêncio da moça, ela continuou.

— Bom – se levantou – eu já vou indo, faça a sua parte, e tudo vai dar certo.

— Seja o que Deus quiser né.

Rosa acompanhou Diana até a porta, e se despediram, animadas com o que estava por acontecer.

...

Mais tarde, Diana ficou a pensar na ideia louca que tivera, e na possibilidade de dar certo. E se realmente desse certo, qual seria sua reação? As perguntas pousavam em sua cabeça, e às vezes a atormentava, pois, por mais que as perguntas fossem más, pior ainda era não saber responder nenhuma delas.

Nesse ínterim, Chico entrou na sala, e a encontrou longe, e não perdeu a oportunidade de provoca-la, se jogando ao seu lado no sofá, pregando-lhe um susto.

— Bu!

— Você tá louco? – Se afastou, indo pra outra ponta no sofá.

— Não, só não me contive ao te ver dormindo de olhos abertos, e além do mais, foi uma vingança, você adorava me assustar quando éramos crianças.

— Mas não somos mais crianças tá. – Ela pegou uma almofada com raiva, e colocou em seu colo.

— Você tá azeda hein, é o que isso? TPM?

— Você ainda não me viu de TPM!

— Isso é uma ameaça?

— Interprete como quiser. – Deu de ombros. – Mas enquanto eu estou azeda, você é só sorrisos, o que houve?

— Nada de mais. Na verdade, aconteceu uma coisa engraçada, acredita que a Rosa me chamou pra jantar com ela hoje, eu não esperava isso.

— E você vai?

— Claro! Ela cozinha muito bem, e não é só isso, eu adoro a presença dela.

— Ah, que bom... Então faça bom proveito do seu jantar. – Ela se levantou pronta para sair, mas a voz dele a fez recuar.

— Ei, onde você tá indo? Vai me deixar falando sozinho?

— Por mim que fique, eu vou para o quarto continuar meu livro. – Ela saiu com o olhar dele a acompanhando até ela sumir no fim do corredor.

...

Quando o sol sumiu, dando lugar à noite estrelada de lua cheia, Diana partiu para a casa de Rosa, para deixá-la pronta para sua noite de contos de fadas. Chegando lá, Rosa era só sorrisos, Diana acabou sendo contagiada por seu entusiasmo, se deixando ser levada pelo clima, e tratou de se esquecer do porquê de tudo aquilo.

Sentada em frente ao espelho, com Diana a pentear seus cabelos, elas conversavam amigavelmente.

— Olha Flor, vou te dar um conselho – a olhava pelo espelho – você tem que se mostrar interessada, mas não jogue todas as cartas de uma vez, você tem que trazer ele para o seu jogo.

— Isso não parece fácil Diana.

— Se deixe levar, no final, tudo é instinto.

— Você parece saber muito sobre isso, você tinha quem você queria quando morava na cidade, né?

— Não, na verdade não era bem assim, quer dizer, nunca fui de namorar, acho que meu ex marido foi o único cara que me apaixonei de verdade.

— Ah, mas você é jovem, daqui a pouco se apaixona de novo, se casa e forma uma bela família.

— Bate na madeira! – Ela foi até o móvel a sua frente, deu três batidas, e voltou à atenção ao cabelo de Rosa. – Não quero isso pra mim nunca mais, casamentos são lindos no começo, mas quando acaba, só quem passou por isso, sabe o quanto dói, quer dizer, não doeu tanto no Pedro quando doeu, e ainda dói em mim, mas isso faz parte do passado, e nenhum homem vai conseguir reverter isso dentro de mim.

— Eu sinto muito Diana.

— Não sinta. Agora chega de papo furado. Olha teu cabelo – ajeitava seu cabelo nos ombros – ficou lindo! Você deveria usar mais ele assim.

— Ual!

Rosa não acreditou no que viu no espelho, um ser totalmente diferente do dia a dia, mais mulher. Diana não havia feito nada de mais, apenas soltado suas madeixas que viviam presas num rabo de cavalo, e deixou cair sobre seu ombro.

— Você ficou linda, não sei por que sempre deixa esse cabelo preso.

— Ah, costume.

— Você não deveria se acomodar, acaba não vendo o quanto é bonita. Bom, agora vou passar uma maquiagem bem básica, batom, um rímel, e talvez um blush.

Diana estava concentrada na sua obra de arte, e não demorou para que finalizasse a maquiagem, e mais uma vez, ela se encantou com o que viu no espelho. Na hora da vestimenta, ela optou por um vestido preto, não muito justo, pois sabia que Rosa não era acostumada a certos tipos de roupa, e no pé, uma sapatilha discreta, já que a mesma também não andava de salto.

— Caramba, Flor, você está fabulosa! – A olhou de cima a baixo. – Se o Chico não perceber o mulherão que você é, ele é muito burro mesmo.

— Eu tô bonita mesmo?

— Não, você está linda! Agora – ela foi a sua bolsa, e pegou um frasco – o último, mas o mais importante dos quesitos, o perfume. Você pode estar linda, mas se não tiver um perfume, essa arrumação não valeu de nada. – Ela foi até seu pescoço, e espirrou gotículas do perfume. – Não vou passar muito, porque esse aqui foi muito caro, comprei numa viagem a Paris, e sabe se lá Deus quando vou voltar a Paris né, então é melhor economizar.

— É muito cheiroso.

— Os franceses sabem fazer bons perfumes. Acho que já terminei por aqui né, já fiz a minha parte, agora, você faça a sua. – Ela começou juntar suas coisas, e colocar de volta na bolsa.

— Tô nervosa.

— Fica tranquila – segurou sua mão gelada – vai dar tudo certo, e amanhã quero saber todos os detalhes. Agora acho melhor ir logo, antes que o ogro chegue e me encontre aqui. Boa sorte tá. – Ela tocou seu rosto com carinho.

— Diana? – Sua voz a alcançou antes que ela se retirasse.

— Oi.

— Obrigada, você é uma amiga maravilhosa.

Diana sorriu com a declaração, e logo saiu do quarto, e da casa. Agora, mais que nunca, sabia que tinha que seguir adiante com esse plano, pois não teria coragem de magoar Rosa, deixando seus sentimentos falarem mais alto.

...

Com tudo pronto, e em seu devido lugar, Rosa foi para a sala esperar pela chegada de Chico. Suas mãos tremiam e suavam, mas ela resolveu seguir o conselho de Diana, e tentar deixar as coisas fluírem naturalmente.

Após um curto momento de espera, ela ouviu batidas na porta, sabia que era ele. Ela se levantou do sofá, e à medida que se aproximava da porta, seu coração batia mais forte, como se o que estivera fazendo fosse algo proibido, algo de outro mundo.

— Oi Chico – um sorriso tímido apareceu em seus lábios quando ela abriu a porta, e deu de cara com ele – que bom te ver, entra! – Ela deu passagem a ele.

— Confesso que fiquei surpreso com o convite, mas não passou pela minha cabeça negar. – Ele entrou, e ela fechou a porta. – Hum – ele inalou o aroma da comida preparada por ela – o cheirinho está ótimo, como sempre Rosa.

— Preparei aquele peixe assado que eu sei que você gosta. – Disse sorrindo, mas ainda nervosa. – Vamos, já deve estar pronto, e você deve estar com fome. – Ela lhe deu as costas, indo em direção à cozinha.

— Espera Rosa! – Sua voz firme a fez parar, e o olhar novamente. – Você está muito bonita, você deveria se arrumar assim mais vezes.

— Ham... Obrigada. – Ela olhou para o chão.

— Ei – ele tocou seu queixo, levantando seu rosto – não precisa ficar envergonhada, você é uma mulher bonita, merece ser elogiada.

— Eu... Acho melhor irmos ver o peixe.

— Tudo bem.

Diante do pequeno constrangimento de Rosa, os dois foram para cozinha. Chico não mais elogiou ela, mas tinha que admitir que a velha amiga estava linda, como nunca vira antes. Enquanto ele a admirava discretamente, ela colocava a mesa, e não demorou muito para que tudo estivesse pronto, e eles pudessem comer.

— E sua mãe? – Ele perguntou.

— Hoje é dia de missa, esqueceu? – Ela deu um sorriso, e logo eles se assentaram.

— Ah é, por isso que minha mãe e a tia Ana não estavam em casa quando saí, me esqueci totalmente.

— E a Diana?

— O que tem ela?

— Não foi com as duas?

— Não, Diana não é do tipo religiosa, mas não estamos aqui pra falar dela, não é mesmo?

— Acho que não. – Sorriu.

Durante o jantar, os dois conversavam tranquilamente, sem mais nenhum tipo de constrangimento, Rosa estava mais solta, sorrindo, brincando, vendo um lado de Chico que ela não via há muito tempo, um Chico sorridente, brincalhão, e nem um pouco grosso.

Depois de comer o maná dos deuses, feito por Rosa, eles foram para a sala, ainda conversariam mais um pouco, antes que Chico tivesse que ir.

— Rosa, tava tudo muito bom, obrigado, e você faz um peixe assado como ninguém.

— Não precisa agradecer, fiz com carinho. Você já vai? Não quer sentar um pouco, assistir um filme?

— É melhor deixarmos pra outro dia, já tá um pouco tarde.

— Então eu te acompanho até a porta, pra você voltar mais vezes. – Ela passou a sua frente, indo em direção à porta.

— É só você fazer o convite, e nem penso duas vezes em aceitar. – Os dois riram.

Ela parou do lado da porta, com a mão na maçaneta, e ele em sua frente, a olha-la.

— Por que você tá me olhando assim?

— Você tá tão bonita Rosa, não me cansei de olhar essa noite.

— Chico...

— É melhor eu ir né? – Ela o olhou confirmando. – Posso pelo menos te dar um abraço? Acho que a gente nunca se abraçou antes.

— Pois é, acho que isso nunca aconteceu, mas tudo tem sua primeira vez.

Eles se aproximaram, e Rosa, meio sem jeito, envolveu seus braços no pescoço de Chico, que por sua vez, a trouxe mais para si, puxando-a pela cintura. Rosa sentiu suas pernas bambas com tamanha proximidade, e Chico ficou desnorteado quando sentiu o seu perfume, fazendo-o deseja-la naquele momento. Ou desejar a dona do perfume.

“Esse perfume... Eu conheço esse perfume.” – Pensou.

Ele tinha suas mãos passeando por suas costas, afagando-a, seu desejo era toma-la em um beijo avassalador, até que ficassem completamente sem ar. Depois de deixar um, ou dois beijos em seu ombro, despertando desejos na moça, ele finalmente a olhou, vendo o rosto de Diana em Rosa, e com a cabeça perdida, com seus pensamentos distantes da vida real, ele sorriu, prestes a beija-la.

— Como eu te quero Diana...

Continua.


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