O Estranho e Improvável Teorema de Nós Dois escrita por Siaht


Capítulo 3
Desajustados


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!! ;D
Tudo bem com vocês?
Bom, não tenho muito para falar aqui. Nos vemos nas notas finais!
Espero que gostem! ♥



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Uma semana. Uma semana exata foi o tempo que Louis William Weasley precisou para perder a cabeça com o repentino desaparecimento de Sagitta Malfoy. Ele tentou veementemente expulsá-la de sua mente e engolir aquele estranho e latente desconforto na boca do estômago. Tentou concentra-se em qualquer outra questão banal e ignorar o nervosismo que parecia correr por suas veias e infectar seu corpo. Não compreendia aquela reação fisiológica e entendia menos ainda aqueles sentimentos. Estaria a química de seu organismo funcionando de modo equivocado? Ou estaria ele preocupado?

A segunda hipótese parecia absurda, visto que mal conhecia a garota. Não tinha motivos para se preocupar. Mais do que isso, não tinha esse direito. Sagitta era apenas mais uma entre os muitos colegas de classe. Era menos que isso. A Malfoy não passava de um vulto em meio à multidão. Uma sombra anônima e sem qualquer importância. Exceto, é claro, pelo fato que ele sabia seu nome e que seria impossível não reconhecer seus cabelos arroxeados mesmo em meio a milhares de outros rostos.

E, bom, pensando em retrospecto, Louis sabia que ela era uma amante de fantasia medieval e excelente em basquetebol. Tinha consciência também de que a menina parecia satisfeita em dia de bolo de carne, mas nunca tocava nas almôndegas, e tinha o hábito nada saudável de beber refrigerante de uva – sempre de uva – e mascar chiclete de melancia. Ela passava maquiagem demais nos olhos, usava uma gargantilha com o símbolo do feminismo no pescoço – o que certamente indicava que era uma feminista – e tinha um chaveiro em forma de moeda – na qual se lia valar morghulis— com o qual estava sempre brincando entre os dedos. Louis sabia que a frase era de uma série de TV, mas não era exatamente do tipo que se rendia às febres da cultura POP. Na verdade, sentia alergia a qualquer produção que fedesse a cultura de massas.

De qualquer modo, aquilo não era sobre ele e sim sobre a garota Malfoy. E talvez – apenas talvez – o rapaz devesse parar de referir-se a ela desse modo. No momento, no entanto, o Weasley tinha outras questões em mente. A primeira delas era desvendar o misterioso desaparecimento da menina (Malfoy).

Uma parte do garoto ainda julgava que não tinha qualquer direito de envolver-se nessa questão, a outra, por sua vez, o movia a tirar o celular do bolso para começar uma minuciosa investigação pelas redes sociais da moça. Em outras palavras, para stalkear descaradamente uma pessoa com a qual nunca trocara duas palavras, indicando que talvez – e apenas talvez –  houvesse algum vestígio de alma adolescente habitando seu corpo.

Se Louis Weasley tivesse algum amigo, teria sido alertado de que aquele era um dos primeiros indícios de que algo não ia bem, afinal “stalkear” envolvia interesse. E se o rapaz houvesse sido alertado, provavelmente todo o desastre que se seguiu poderia ter sido evitado. Todavia, a alma solitária do jovem o deixou por conta própria e quando percebeu já estava buscando o nome Sagitta no Instagram. Não foi difícil encontra-la, porque, bom, quantas pessoas no mundo se chamavam Sagitta? Ainda assim, se surpreendeu ao perceber que a conta era intitulada Sagitta Greengrass e não Malfoy.  A foto – e especialmente os cabelos roxos –, entretanto, não deixavam dúvida de que aquele era realmente o perfil da colega de classe.

A surpresa seguinte veio ao constatar que quase não havia selfies ou fotos pessoais ali. Louis havia esperado algo diferente. Algo mais autocentrado. Algo como fotos em todos os ângulos possíveis apenas para evidenciar como a moça era bonita. Não que o Weasley houvesse realmente reparada na beleza da garota. Bom, talvez um pouco. Porque, bem, ela era bonita e, refletindo sobre isso, não havia motivos para negar os fatos. De qualquer forma, o perfil da Malfoy estava recheado de fotos de paisagens, gatos e imagens um tanto artísticas, abusando de conceitos abstratos e experimentais, talvez com um leve toque de surrealismo. Ao menos, essa fora a conclusão à qual Louis chegara após horas e horas de atenta investigação. Fotografia não era um assunto que dominava.

O Instagram, no fim das contas, mostrara-se completamente inútil, comprovando apenas que o desdém do rapaz por aquela rede social especifica – e talvez por todas as outras – era mais do que justificável. Não havia nenhuma atualização recente ou qualquer sinal de onde diabos a garota estaria.

Tentou, então, o Facebook. Mais uma vez se deparou com Sagitta Greengrass – e não Malfoy – e quase nenhuma foto pessoal. Além disso, o post mais recente era de dois dias atrás, o link para uma música. Ele nunca havia ouvido falar sobre a cantora, mas tomado por um ímpeto de curiosidade – algo que estava o motivando de modo irritante naquele dia – resolveu escutar seu trabalho. Era uma canção triste sobre um homem solitário e incapaz de escapar de uma casa vazia. Um homem que irá se afogar em suas próprias lágrimas no instante que visse novamente sua amada. Ou outra pessoa qualquer.

Aquilo fez Louis sentir-se estranhamente melancólico. Não era o tipo de pessoa que se importava em estar sozinho, na verdade, na maior parte do tempo preferia sua própria companhia a de outro ser humano. Naquela noite, entretanto, as paredes de seu dormitório pareceram aprisiona-lo, havia uma ausência que ele não conseguia justificar e a solidão de seu espírito tornou-se sufocante. Sentiu um desejo estranho de estar em casa, ouvindo os barulhos da praia, as discussões intermináveis das irmãs, as gargalhadas fáceis do pai, o sotaque francês da mãe... Não gostou do sentimento. Perguntou-se se Sagitta sentira-se do mesmo modo, há dois dias, quando postara a música. Perguntou-se onde ela estaria. Mais uma vez, não conseguiu encontrar resposta para essa indagação.

Apesar de tudo isso, por algum motivo frustrante que não conseguiria explicar, se pôs a ouvir outras músicas da cantora – Sóley – e se deixar preencher pela tristeza de suas canções, enquanto terminava a lição de casa.

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Talvez os deuses houvessem se apiedado dele. Talvez fosse uma enorme coincidência ou uma simples serendipidade. Não importava. O fato era que no dia seguinte, Louis Weasley descobrira o paradeiro da menina Malfoy. Estava na aula de história, tentando se concentrar nos fatos da Revolução Russa, enquanto ignorava o burburinho dos colegas – idiotas que nunca calavam a maldita boca! – quando o sobrenome Malfoy chegou aos seus ouvidos.

O rapaz sentiu o corpo enrijecer, mas esforçou-se para escutar com mais atenção o que era dito. Aparentemente uma das garotas havia ido até a enfermaria durante a manhã e encontrara Sagitta ali, adormecida em uma das camas. Madame Mayfield se recusara a dizer o que estava errado com a moça e agora o possível diagnóstico tornara-se alvo de especulação da turma inteira. Nenhum deles parecia minimamente preocupado com a saúde da menina e não tinham qualquer constrangimento em tecer teorias terríveis sobre o que haveria lhe ocorrido. Louis sentiu o ódio consumi-lo. Desejou gritar, desejou socar alguém, mas limitou-se a permanecer impassível e voltar a copiar as anotações traçadas na lousa. O incômodo crescia em seu estômago.

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O som da água gotejando contra o chão era irritante. Se continuasse a chover daquele modo, a Shoreline certamente iria acabar derretendo, sendo lavada da face da Terra juntamente com toda sua mediocridade. Louis não achava que se importaria. Seria certamente um favor para a humanidade. Mexeu na sopa que fumegava em seu prato, sentindo-se grato por haver ao menos algo comestível naquele a almoço. Olhou para a cadeira vaga, na mesa que finalmente voltara a ser apenas sua, e sentiu sensação estranha da noite anterior se aprofundar em seu peito.

Havia coisas com as quais se acostumara há muito tempo. A chuva constante naquela parte do país, a comida pavorosa servida em seu colégio, a distância existente entre ele e as outras pessoas. Uma distância importa pelo próprio rapaz, é válido mencionar, mas que naquela tarde estava começando a soar infeliz e asfixiante.

O garoto observou o refeitório melancolicamente. Os outros adolescentes conversavam, trocavam gracejos, riam... Pareciam existir dentro de uma lógica própria, ignorando as paredes cinzas, as goteiras a poucos metros de distância, o fato daquele colégio ser a essência da decadência e deles próprios serem abortos insignificantes que nunca conseguiriam nada na vida. Sentiu-se desajustado em meio aos desajustados. Nenhum sentimento poderia ser mais desolador.

.

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Louis Weasley era uma pessoa de fortes convicções, certezas imutáveis e opiniões pouco flexíveis. Enquanto caminhava pelo corredor de pedra negra, escuro e úmido que dava acesso a enfermaria, o rapaz, por exemplo, tinha a certeza de que estava perdendo a cabeça. Não havia nenhuma explicação racional para aquilo. E, ainda assim, lá estava ele.

Era pouco mais de seis da tarde, mas a noite já caía escura, envolvendo o castelo em trevas. O vento frio cortava o ar como uma adaga e a chuva caía impiedosa, chocando-se contra as janelas antigas, abrindo seu caminho à força e encharcando o colégio. A Shoreline era um lugar de puro desalento, o rapaz constatou – não pela primeira vez –, após pular uma poça de água turva.

Respirou fundo, encarando a porta da enfermaria durante um minuto inteiro, reunindo coragem para entrar. Hesitou após os primeiros passos. Não fazia ideia do que estava fazendo. Cogitou desistir, ir embora e esquecer toda aquela insanidade. Voltou meio passo para atrás e se achou patético, então, caminhou adiante. Hesitou novamente.

— Você vai entrar ou não? — a voz soava fraca e infantil, mas o rapaz pode perceber um certo tédio em seu tom. Sua cabeça seguiu o som, apenas para encontrar os intensos olhos cinzentos de Sagitta Malfoy o encarando com um misto de deboche e fadiga.

A voz dela não era o que ele imaginava, embora ele nem se desse conta de que algum dia pensara sobre aquilo. Ainda assim, apenas não parecia certo. A moça exalava mistério e altivez, esperava, portanto, que sua voz fosse mais intensa, ácida e – por Deus, ele não acreditava que ia dizer isso – sensual.  Entretanto, o somo que chegou aos seus ouvidos era agudo e tinha uma doçura irritante, como os miados de um gato carente. Era como estar em frente a materialização de uma antítese.

— Então, Weasley, o que vai ser? — a garota desafiou, sentando-se na cama e cruzando os braços sobre o peito.

O rapaz suspirou, se aproximando. A enfermaria era decadente e insossa. Possuía paredes cinzas, um cheiro irritante de desinfetante e sete camas cobertas com lençóis brancos que se estendiam lado a lado, separadas por biombos que, bom, um dia haviam sido brancos. Havia um balde no meio da sala, no lugar específico onde uma goteira gotejava insistentemente. Louis revirou os olhos ao passar por ele. Decadente era a única palavra que poderia ser utilizada.

Sagitta estava sozinha no cômodo, jazendo sobre a primeira cama à esquerda, próxima a uma janela antiga, pela qual era possível observar tempestade.

 — O que você está fazendo aqui? — tinha voz de criança, mas as palavras ainda saíam de um modo cortante. Os olhos se estreitando perigosamente.

— Vim trazer as tarefas de casa que você perdeu na última semana. — o rapaz respondeu, sentindo o estômago se embrulhar, enquanto estendia os cadernos que trazia em mãos. Não era uma mentira,  mas também não era uma verdade. Aquela era apenas a tola justificativa que inventara para estar ali.

 — Uau, lição de casa é realmente tudo o que eu queria nesse momento. Você é mesmo um gênio, não é Weasley? — o sarcasmo escorria pelo comentário.

O rapaz não soube o que dizer, mas sentiu um calor se espalhar por seu rosto. Após um longo minuto de silêncio, a garota bufou.

— Apenas deixe isso naquela cadeira. — disse, apontando para a cadeira ao lado direito de sua cama.

O garoto obedeceu.

— Então, o que aconteceu com você? — Louis perguntou, incapaz de se refrear. Era um homem da ciência, afinal, e quando tinha uma dúvida corria atrás de uma resposta.

A menina arqueou uma das sobrancelhas tingidas.

— Fui atacada por gramequins e snarks.  

— O que? — o Weasley perguntou confuso. Não fazia ideia do que ela estava falando.

Uma gargalhada maldosa escapou dos lábios da moça, fazendo o rapaz entender que ela estava zombando dele. Ótimo, pensou irritado.

— O que você acha, Weasley? Fiquei doente. — falou ácida, revirando os olhos, mas sem adicionar mais detalhes.

— Ok. Melhoras. Não vou mais te incomodar. — o garoto disse, lhe virando as costas. Não precisava daquilo.

Ouviu um suspiro pesado.

— Não. Fique. — a resposta veio em um sussurro. Não foi o pedido que o fez estancar, impedindo o próximo passo, foi a vulnerabilidade na voz da garota. Então, Louis Weasley se voltou para a Sagitta Malfoy e pareceu enxerga-la pela primeira vez.

Lá estava ela, em uma cama da enfermaria, cercada por lençóis brancos, paredes desbotadas e nada mais. Pálida como um fantasma. Os cabelos roxos, presos melancolicamente em uma trança malfeita, a única coisa que a impedia de se fundir completamente aos travesseiros sem cor. Sagitta era magra e não podia ter mais que 1,65m de altura. Sem as joias, as botas de cano alto e toda a maquiagem escura que costumava cobrir seu rosto não se parecia nada com a mulher imponente, ameaçadora e insolente que todos pintavam. Havia olheiras negras abaixo de seus olhos. Os olhos gelo que fitavam o rapaz intensamente, mas já não havia chama ali, apenas um abismo de cinzas e desespero.

E foi nesse instante que Louis Weasley percebeu que Sagitta Malfoy não era um mistério, não era um enigma, não era nem mesmo uma mulher. Sagitta era uma menina. Nada mais que uma menina. E sua solidão era dolorosa e palpável.


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Notas finais do capítulo

Ok, eu estava morrendo de saudades dessa história e espero realmente que vocês tenham gostado. Quero abraçar meus meninos, sim! HAHAHAHHA
Bom, prometo que vou tentar não demorar a postar o próximo capítulo.
Ah, para quem possa interessar: criei um Twitter para falar especificamente sobre minhas fanfics (@fics_thais) e interagir com as pessoas por lá. Se quiserem também podem me seguir em @ThaBMedeiros, onde eu passo os dias falando de fanfic, nerdice e reclamando da vida. Vou adorar conversar com vocês! ♥
Beijinhos...
Thaís



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