A turma, despreparada, pulou do ônibus assim que ele parou. A pobre professora corria atrás dos alunos, tentando inutilmente juntá-los e prendê-los de volta ao conhecido discurso de segurança.

 - Muito bem! – gritou a voz desconhecida – Quem se mexer vai ser comido pelo grande mamute!

As crianças de cinco a seis anos, sem capacidade de distinguir a mentira por trás da afirmação pararam. Ou melhor, congelaram.

A professora inspirou fundo e sorriu. Mais uma vez, ela era salva pelo curador.

 - Obrigada. – sussurrou quando parou ao lado do homem – Eu sinceramente não sei o que aconteceria comigo sem você...

 - Provavelmente conseguiria controlar a turma com uma de suas maravilhosas histórias. Eu só sou mais... violento.

Ela riu.

 - Como se ameaçar crianças com um animal que foi extinto há mais de... muitos anos... fosse violência!

Foi a vez de ele rir. Os dois esqueceram-se por um momento da pequena turma ainda sem se mexer, alguns se aventurando a não respirar com medo do esqueleto do animal exposto na entrada do museu.

Mas quando uma das crianças se desequilibrou e caiu, a comoção foi geral, trazendo os dois de volta para a realidade.

 - Muito bem, turma! Quem quer conhecer o mais conhecido dinossauro da história? Vocês sabiam que ele não o maior e nem o melhor? – o curador se fez ouvir entre os alunos – E quem quer conhecer nossos antepassados? Vocês sabiam que há uma sala inteira sobre eles? E vocês já viram animais da África de perto?

 - Peça para eles se organizarem em uma fila, por favor.

 - Peça você! Você consegue!

Ela grunhiu algumas palavras, mas no final concordou. Tinha de fazer isso sozinha. Mas antes que pudesse tomar coragem, sentiu sua mão aquecer entre outra.

 - Relaxe, você consegue. Conheço bem a ansiedade com crianças, mas é só respirar fundo e usar seus vinte segundos de coragem!

Vinte segundos de coragem, ela pensou. E tomou a coragem que precisava.

Puxou a mão do curador para mais perto e, com os corpos quase unidos, colou seus lábios nos dele.

Reações de nojo entre as crianças ecoaram no grande salão de entrada, mas nenhuma ousou interromper o momento, como se finalmente entendessem que era um momento importante.

Ela puxou-se para longe quando seus vinte segundos de coragem, e de fôlego, haviam acabado.

 - O que você achou?

Mas ele não respondeu.

 - Olha, meus vinte segundos de coragem já acabaram, – ela começou – então eu acho que eu vou indo com as crianças e por favor, não conte para ninguém o que aconteceu.

 - Não. Eu quero espalhar para o mundo inteiro.

Ela não conseguia mais respirar. O que raios ele quis dizer com isso?

 - Quer... quer sair comigo? – ele pediu, ainda um pouco surpreso.

Antes que ela pudesse responder algo, uma das crianças gritou “queremos ver animais, não novela!”

Ela sorriu para a turma.

 - Sim! – a professora falou, e, virando-se para os alunos, completou – E sim! Nós já vamos!

Pelo resto do passeio, ela não conseguiu parar de sorrir.