O Passado Sempre Volta escrita por yElisapl


Capítulo 30
Capítulo 29: Quebrada.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



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Mal sabe você
Que estou tentando me reerguer
Pedaço por pedaço
Mal sabe você que eu
Preciso de um pouco mais de tempo

Seis anos atrás:  

Eu estou no banheiro, em baixo do chuveiro, deixando a água cair juntamente com minhas lágrimas. Esfrego meu corpo, mas nada parece ser o suficiente para retirar a sujeira que sinto que há nele. Devo estar agindo deste jeito porque não é meu corpo que está imundo, e sim minha inocência. Blue a destruiu. 

Não me lembro de tudo o que aconteceu, mas as marcas que estão em meu corpo comprovam a realidade que não quis presenciar. No momento em que Blue invadiu o meu corpo, eu simplesmente me desliguei. Não sentia nada, podia até mesmo assistir, mas não parecia que era eu a pessoa.  

Também não me lembro quando acabou e quando fui levada para o meu quarto. A única coisa que tenho certeza é que ao acordar (com o som da sirene) corri direto para o banheiro e me tranquei em uma das cabines.  

Estou há cerca de quinze minutos me banhando. Minha pele já enrugou por causa d’água, entretanto, não quero sair daqui, pois sei o que me espera ao sair. Por mim, este banheiro poderia encher de água e com isso eu me afogasse nela. Aposto que a dor de morrer é pouca comparada da que sinto agora. 

—Babydoll - ouço a voz de alguém me chamando e isso faz com que eu me encolha no meu próprio corpo. E se for Blue? Se ele querer tocar em mim novamente? - Sei que é você nesta cabine – continua dizendo e começo a tremer, não de frio e sim de pavor. Nunca pensei que sentiria tanto medo quanto sinto agora. O que Blue fará comigo é pior que qualquer tortura ou morte. - Babydoll!  

A porta da cabine se abre e eu fecho meus olhos. Coloco minhas mãos em minha cabeça e começo a balançá-la freneticamente.  

—Não, não, não! - Choramingo, enquanto sinto as mãos de alguém tentar me segurar. - Não toque em mim! - Levanto minhas pálpebras e encontro os olhos castanhos de Sweet Pea.  

—O que houve, Babydoll? - Ela inquira, preocupada com o meu estado.  

—Eu quero ficar aqui! Não, posso sair, não quero sair... - abraço meu corpo e sento-me no chão, ainda sentindo a água cair em meu corpo.  

De repente, o chuveiro é desligado. Sweet envolve uma toalha em volta do meu corpo e começa a me puxar para levantar e sair da cabine. Tento lutar para me manter no mesmo lugar, mas canso rapidamente e ela ganha.  

Ao sair da cabine, não consigo andar mais que dois passos, pois minhas pernas param simplesmente fraquejam e me derrubam no chão. Elas não aguentam mais forçar lutar, estão se sentindo exatamente como eu: cansada e farta.  

Com isso, começo a chorar desesperadamente. Implorando internamente que essa dor parasse. Que alguém acabasse com ela. Até mesmo Blondie não suporta, pois não a ouço falar desde que acordei.  

—Baydoll, você quer falar o que aconteceu? - Sweet Pea pergunta, se sentando ao meu lado e, surpreendentemente, me abraça. - Às vezes é melhor colocar para fora do que guarda para si mesma. Afinal, desabafar é bom porque você está, mesmo que seja um pouco, libertando do que te atormenta.  

Eu sabia que as palavras dela eram sinceras. Mas não conseguia formular uma frase, apenas chorar.  

—Ou você não me conta. Mas eu ficarei com você até que pare de chorar – seu comentário me faz rir amargamente.  

—Se for assim, você ficará comigo para sempre, pois não nunca irei parar de chorar – comento e percebo que estas palavras foram as primeiras que disse desde que acordei. 

—Então é melhor se acostumar, porque você me terá para sempre – ela pisca e beija o topo da minha cabeça. Meus olhos se arregalam e fico atordoada, afinal, Sweet Pea sempre fora tão durona, sem carinho ou palavras afetivas. Nas poucas vezes que a vi agir desta forma tinha sido com sua irmã, é estranho vê-la fazendo o mesmo comigo, mas de certa forma, também é bom. É o preciso. 

Eu simplesmente deito minha cabeça em seu ombro e começo a chorar. Suas mãos acariciam meus cabelos. Surpreendentemente, ela começa a cantar uma música, da maneira suave e calma. 

Tem sido um longo dia sem você, meu amigo 

E eu te contarei tudo quando eu te vir de novo 

Fizemos um longo caminho desde onde começamos 

Oh, eu te contarei tudo quando eu te vir de novo 

Quando eu te vir de novo 

Aos poucos, sinto as lágrimas cessarem.  

Como podemos não falar sobre família 

Quando a família é tudo que nós temos? 

Tudo o que passei 

Você estava lá, ao meu lado 

E agora você vai continuar comigo para o último passeio 

Nunca havia ouvido essa música e com isso minha cabeça apenas foca na canção. 

Primeiro, vocês dois fazem seus caminhos 

E a vibração se fortalece 

E o que é pequeno se transforma em uma amizade 

Uma amizade se transforma em um laço 

E esse laço nunca será desatado 

O amor nunca será perdido 

Sweet Pea para de cantar e sorri para mim. Um sorriso cheio de ternura. Quem é esta mulher e o que fizeram com a Sweet Pea?  

—Desde quando você canta? - Inquiro, com os olhos arregalados.  

—Desde que ouvi uma música e acompanhei – ela dá de ombros. Eu sorrio, mas em seguida ele se torna um sorriso cheio de tristeza. - Sabe, quando sairmos daqui, acho que irei para um bar e cantarei. Sempre quis cantar para um público, mas tinha vergonha – sei que o que ela está tentando fazer, quer me entreter para não pensar no que aconteceu e fico feliz por estar conseguindo um resultado positivo.  

—E eles gritariam: Mais, por favor, Sweet Pea! - Entro no mundo fantasioso dela.  

—Não. Eles iriam gritar: Bis, Selina, Bis! - Eu arqueio a sobrancelha.  

—Selina? - E depois de todo esse tempo eu percebo que nunca soube qual era o real nome de Sweet. - Esse é o seu verdadeiro nome? - Indago, totalmente aturdida.  

—Sim – ela ri. - Não é a minha cara? 

—Na realidade, esperava mais um Maria Madalena ou Izabel. Nomes fortes que deixavam explicito o quão forte você é! - Exclamo, toda boba.  

—Mas eu não sou 100% forte, não tem como ser – ela pisca.  

—Selina... - olho para seu rosto e observo cada detalhe. - Pensando bem, este nome é perfeito para você. É delicado e ao mesmo tempo impactante. Igual a você. 

—Obrigada – ela abre outro sorriso acolhedor. Vejo seus olhos me fitando, preocupados, mas ela não insiste em pergunta e muito menos força a entrarmos no assunto. - Sabia que eu... 

—Blue abusou de mim! - A interrompo, simplesmente não aguentei segurar por mais tempo. Isto havia surgido na minha mente e estava cansada de empurrá-lo para longe, exigia muito de mim. Ela não disse nada e muito menos mudou seu olhar. Com isso, continuei a falar: - Eu era virgem, Sweet Pea e ele tirou esta inocência de mim. Por toda minha vida eu pensava que quando fosse perder isso, seria com alguém que amava tanto que meu coração iria explodir. E na realidade, meu coração explodiu e meu corpo também, agora estou em pedaços, Sweet. Estou destruída. Blue destruiu a única coisa boa que havia em mim.  

—Sinto muito – ela diz, realmente transparecendo verdade em sua voz.  

—Eu não estou suportando. Estou cansada. Meu corpo e minha mente ardem de dor. Eu quero morrer, Sweet Pea, porque é assim que sinto que estou: morta. Você pode me ajudar. Pode fazer com que esse sentimento vá embora. Pegue a faca da cozinha e a traga para mim, o restante eu termino. Por favor, Selina. Me ajude.  

— Eu vou te ajudar. Mas não para se matar, pois você não quer morrer, Felicity. Eu irei te ajudar a superar isso. 

—Não! Não me venha com esse papo de auto piedade, de que essa dor irá passar e blabla! - Eu me levanto do chão e retiro a toalha. - Olha o que ele fez em mim! - Aponto as marcas de roxo dos meus braços, do pescoço e nas costas. - Ele batia em mim quando eu tentava escapar, tentava lutar ou até mesmo fazer algo que não havia mandado. Acha que ao sair deste banheiro, ele não irá tentar novamente? E que não será pior?!  

— Nós precisamos de você, Felicity - ela diz, pegando a toalha do chão e envolvendo novamente em meu corpo. - Mas antes, você precisa de alguém e eu serei esta pessoa - subitamente, ela começa a se despir. Ao ficar completamente nua, percebo marcas em seu corpo, marcas que as roupas escondiam. - No primeiro dia que entrei para os "negócios" eu e minha irmã não aceitamos fazer o que era pedido. Com isso, Blue decidiu nos punir. Eu fui torturada primeiro. Homens me prenderam em uma cama, tocaram em mim e me abusaram. Não fora um ou dois, havia sido quatro. Quando terminaram comigo, Blue simplesmente disse que eu não era especial e que podia facilmente ser descartada. Aquilo havia sido horrível, mas eu não podia permitir que Rocket sofresse o mesmo que eu. Com isso, implorei para que Blue aplicasse em mim o castigo de minha irmã e que nós duas iríamos colaborar no final. E novamente fui abusada por quatro homens nojentos.  

— Eu sinto muito! - Exclamei, assustada por sua história. Lembro-me de Rocket dizer que Sweet havia impedido dela sofrer uma punição, que havia se oferecido no lugar, só não achava que era algo tão terrível assim. 

— Foi exatamente o que havia dito para você. Eu sinto muito. Porque é verdade. Nós duas sentimos muito. Sentimos pelo que aconteceu com a gente. Mas você terá duas opções iguais a que tive: deixar essa dor te dominar ou você domina-la. Eu escolhi a primeira opção, usei a dor como um escudo, como algo para me salvar. Além do mais, sentir dor não quer dizer que estamos realmente vivas? Você não está morta e nem eu. Estamos vivas, mas apenas sofrendo.  

— Não quero ter que suportar isso, Selina. Não sei se vou aguentar como você aguenta. Na realidade, não sei como você aguenta.  

— Porque eu quero viver. Porque transformei a dor em inspiração. Porque quando eu sair daqui, irei me dedicar às mulheres que sofreram ou sofrem o mesmo que eu. Porque não nasci para morrer em vão. Nasci para fazer algo, para ser alguém. E isso também se aplica a você. 

— Você está dizendo mentiras, baboseiras. Você quer que eu continue viva para ajudar no plano. Para que possa escapar daqui. 

—Não. Eu quero você viva para que escape conosco. Felicity... – ela pega nas minhas duas mãos. - Eu quero que você continue lutando para poder experimentar as coisas boas da vida. E tem mais, se você realmente quisesse morrer, teria feito de qualquer maneira. Mas há uma pequena, provavelmente minúscula esperança dentro de você que acredita que tudo poderá melhorar. Sempre haverá. Então agarre-se a ela, Felicity, porque nunca podemos deixar de ter esperança. 

E então, ela me gira, como se estivéssemos dançando.  

—Imagine, em breve, nós sairemos, você, eu, Rocket e Blondie, as quatros livres. Iriamos para um lugar onde está tocando uma bela melodia, eu e você decidimos dançar juntas e eu te giro assim – ela me roda outra vez e pega minha mão, estica nossos braços e nos balança para frente e para trás. - Quando a música acaba, eu e você estamos eufóricas, Rocket e Blondie também dançaram. Depois, nós vamos para algum lugar, onde haja uma ponte e que tenhamos que atravessar o riacho, já está escuro, as estrelas brilham em cima de nossas cabeças. A lua está a mais linda de todas as noites que já vimos até agora. Eu pego uma flor que achei caída no chão e coloco em sua orelha – Sweet passa a mão em meu cabelo e coloca algumas mechas atrás da orelha. - Você me dá um sorriso tímido e nós ficamos alguns segundos admirando a beleza da noite. Da vida.  

—Isso parece tão bom... - sussurro e vejo um sorriso enorme surgir nos lábios dela. 

—E é! - Ela garante. - Você apenas precisa confiar em mim. Dê uma chance a mim e para as coisas boas que a vida pode oferecer. Prometo não a decepcionar.  

Seus olhos castanhos me fitam. Selina quer uma resposta. Eu pondero: Já me sinto morta. O que custa dar uma chance à vida? E eu também prometi a mim mesma que tiraria as mulheres daqui. Pelo menos posso ser útil em relação a isso. 

—Está bem – anuo. - Eu confiarei em você.  

—Obrigada – e ela começa a se vestir. - Falarei com Rocket e depois do almoço, vá a cozinha, pois é nesse horário em que ela estará. Desta forma, nós conseguiremos pegar a faca – novamente, concordo. - E no final da noite, se Blue tentar algo com você, será neste momento em que conseguirá obter a chave. Depois disso, você irá para o seu quarto e no meio da noite, nós fugiremos, e ao amanhecer, policiais estarão aqui e nós conseguimos vencer Blue. Todas as mulheres ficarão livres.  

—Farei o meu melhor. E não se preocupe, irei as tirar daqui. 

—Eu não me preocupo - é a única coisa que diz. E ela sai do banheiro.  

Olho para o meu reflexo no espelho. Pareço destruída, exatamente como estou por dentro. Balanço a cabeça. Não posso ser egoísta, não posso pensar em mim. Por algumas horas, esqueci que pessoas dependiam de mim, quase as abandonei. Eu não posso mais deixá-las sofrendo igual sofro na mão de Blue.  

Eu preciso me agarrar a esperança.  

Com esta certeza, começo a realmente me secar. Visto as peças de roupa que provavelmente foram Sweet Pea que trouxera para mim. 

Antes de sair do banheiro, respiro diversas vezes. Eu sou forte, eu consigo, eu posso. Repito as frases em minha cabeça.  

Em seguida, saio do banheiro e vou ao camarim, onde encontro a Madame. Seu olhar é de pura raiva. Ela sabe o que Blue fez. E ela me odeia por isso, afinal, sempre fora apaixonada por ele.  

No entanto, não faz nada. Apenas me manda lavar os chãos. Pego uma vassoura, um balde de água, sabão e rodo. 

Começo com o chão do corredor dos quartos em que dormimos. Depois de várias horas, chego no chão da cozinha e ao passar pela porta, avisto Rocket que apenas acena com a cabeça para mim. Ainda não é o momento.  

Mais duas horas e o horário de almoço inicia, com isso, vejo de longe Sweet Pea trazendo consigo um rádio. Ela entra na cozinha, onde se encontra apenas Rocket e um homem gordo e nojento. 

Faço o mesmo e observo, Selina conectar o cabo do rádio na tomada e uma música começar a se reproduzir. Rocket puxa uma cadeira e faz o homem se sentar nela, no mesmo segundo, senta em seu colo. De soslaio, noto que há duas grandes facas na cintura dele. Só precisamos de uma. 

—Aproveite – digo, fazendo-o me encarar. Começo devagar, com os olhos abertos e fixados nele. Para meu alivio, ele está concentrado em mim.  

Movo meu quadril para os lados, me agacho no chão e ao subir, passo minhas mãos por meu corpo. Nesse momento, fecho meus olhos e me encontro em outro lugar. Especificamente na cama em que Blue usará para abusar de mim, desta vez, eu não o permito. Eu começo a enforcá-lo e vejo a cada segundo sua vida se esvaindo, estou usando tanta força que é impossível ele se desvencilhar de mim. 

 No entanto, abro meus olhos abruptamente quando percebo que a música parou. Olho para o rádio e percebo que parou de funcionar. Com isso, o homem simplesmente se desencantou, seus olhos que estavam em mim, passam para Sweet Pea, que ainda estava tentando pegar a faca de sua cintura sem ser percebida, quando ela percebe que ele a notou, rapidamente pega a faca. 

O homem se agita, ele empurra Rocket para o lado e sem hesitar, puxa sua outra faca da cintura e avança para acertar Selina.  

Eu vou para cima dele e consigo tirá-lo de perto de Selina. Acerto um soco no saco dele e viro-me para conferir como Sweet Pea está.  

Não.  

Isso não é possível.  

O homem havia tentado esfaqueá-la, no entanto, Rocket entrou no meio e a faca acertou o estômago dela. 

—Rocket? - Selina pergunta, com os olhos já lacrimejados. - Você vai ficar bem – ela coloca a mão no sangramento que iniciou com o ferimento.  

—D... Des.... Desta vez fui eu quem te protegeu, mana – Rocket brinca e abre um sorriso cheio de dor.  

—Shiiu, não se esforce. Eu irei levá-la para a ala médica e em seguida, você ficará novinha em folha – Sweet tenta manter-se positiva.  

—Não... Você precisa sair daqui – ela levanta seu braço e acaricia o rosto da irmã. - Se me levar ao médico, Blue saberá do que estamos fazendo.  

Eu olho para trás e vejo que o homem gordo não está mais aqui. Ele correu. Ele foi contar para Blue. Então, a única coisa que realmente importa é salvar Rocket.  

—Eu não ligo. Se salvar a sua vida significa que não poderemos fugir, eu escolho você do que qualquer liberdade – Selina afirma, pegando na mão dela e a beijando. 

—Você sempre fora tão protetora. Nunca poderia ter tido uma irmã melhor... - A voz de Rocket está ficando ainda mais fraca. - Só queria que você pudesse dizer o mesmo de mim - lágrimas descem de ambas e eu só consigo ficar parada, assistindo e me sentindo inútil, afinal, o que poderia fazer? Se tentássemos tirá-la daqui o esforço iria matá-la. Se eu tentasse ir à ala médica, nunca sairia de lá, pois tentariam me manter presa. Estou sem alternativa.  

—Não diga idiotices – Selina responde, com a voz aguda e embargada por causa do choro. - Você sempre fora a melhor irmã. Nunca haverá alguém como você.  

—É bom ouvir isso... - Rocket sorri – Eu não vou me esquecer nun... - ela simplesmente para de falar e sua mão que até então acariciava o rosto da irmã, cai no chão e seus olhos se fecham. 

Abruptamente, sons de passos ecoam pela cozinha e viro-me para olhar. A Madame está aqui. Ela está segurando uma arma. E apontando para mim. 

—Vocês foram tão estúpidas - ela diz, com seu sotaque russo. - E você, Babydoll, eu lhe dei tudo e a sua resposta é traição? Como pôde ser tão ingrata? - Ela balança a cabeça em negação. - Não importa, você está exatamente onde deve estar. 

Quando ela tenta apertar o gatilho, eu simplesmente chuto sua mão, fazendo a arma voar para cima. Em seguida, pulo para cima dela e, quando estava prestes a depositar socos seguidos, homens entram na cozinha. Três deles me puxam para cima, para longe da Madame.   

—Segurem-nas - a voz de Blue me faz paralisar. - E as levem para o camarim!  

—Não! - Selina grita e tenta se desvencilhar das mãos que tentam a puxá-la dali. - Fiquem longe de mim! Não toquem nela! - Sua voz sai ainda mais berrante quando tentam pegar sua irmã. Sweet arranha quem chega perto e até mesmo morde. 

Percebo que não há como escapar, então, me desvencilho das mãos dos homens que me seguram e me jogo no chão, perto da faca que Selina derrubou no chão quando havia percebido que Rocket tinha sido esfaqueada. Guardo o objeto dentro de minha cintura, não me importando se cortará ou não. Infelizmente, não consigo pegar a arma, pois ela caiu longe demais.  

Quando sou puxada para cima, outros homens pegaram o corpo de Rocket e Sweet Pea tentava lutar para não se separar de sua irmã. No entanto, a luta é em vão. O corpo dela é levado para algum lugar e eu e ela somos arrastadas para o camarim.  

Sou arrastada na frente e esforço-me a olhar para trás e ver o rosto de Selina. Seus olhos estão vermelhos de tanto chorar e sua expressão é de pura tristeza. Fiquei da mesma maneira quando perdi Diana.  

Ao chegarmos no camarim, os homens nos soltam e dão uma distância considerável para que outra pessoa passe. Blondie. Ela é arrastada até nós e meus olhos arregalam. O plano acabou.  

— O que você pensou que estava fazendo? - Blue grita para a Madame, que eu não havia notado que também fora trazida para nós até aqui.  

—Estava tentando impedi-las de fugir – ela mente.  

—Não é verdade! - Berro, sem me importar. - Nós estávamos fazendo o serviço que ela havia mandado! E simplesmente ela apareceu, armada e atirou em Rocket. Tive sorte em conseguir pará-la!  

—Ela matou minha irmã! - Sweet Pea se pronuncia, furiosamente. Não tenho ideia de como conseguiu raciocinar a ideia que surgiu do nada em minha mente. - E tentou matar a mim e Babydoll! Ela disse que tinha planejado isso porque Babydoll a traiu. 

—Isso é verdade? - O olhar dele volta para a Madame.  

—É claro que não, Blue! - Sua voz sai desesperada.  

—Se você não tivesse chegado, ela teria me matado! - Insisto, sabendo que isso afetará o modo como Blue enxergará as coisas. Ele não aceitaria o fato de que alguém tentou tirar a bonequinha dele.  

De repente, ele vai até um homem e pega a arma que estava na cintura deste.  

—Eu não acredito que tentou fazer isso – diz, exasperado. - Está tentando tirar de mim... Minha preciosa garota? - Ele se aproxima dela.  

—Blue, olhe para mim – a Madame pede, colocando sua mão no rosto dele e o fazendo olhar para ela. - Eu nunca faria algo deste tipo. Elas estão mentindo. Elas são amigas e é por isso que estão concordando com ela. 

Ele mal deixa a Madame terminar de fala e simplesmente bate com a arma em sua cabeça.  

—Não, não, não. Ninguém está inventando mentiras. Não para mim – fala veementemente. - Principalmente ela. - ele aponta em minha direção. - Mas, não quero que haja joguinhos e infelizmente, esse lugar já não serve mais para duas pessoas especificas – seu olhar vai para Blondie. - Seus serviços já não são mais necessários - é a única coisa que diz e rapidamente, acerta um tiro no peito de Blondie. - E nem os seus – a arma vai para a cabeça da Madame, que até então estava caída no chão.  

—Blue, nós somos parceiros! - Ela responde, desesperada.  

—Apenas na sua cabeça isso existia – ele ri. - E agora, existirá apenas uma bala nela – e o gatilho é apertado pela segunda vez. O corpo dela cai perto de Blondie. - Levem Sweet Pea para a sala de punição. E o restante de vocês, peguem os corpos das duas e coloquem fogo. Quero ficar a sós com Babydoll.  

Com as ordens dadas, todos se retiram. Eu e Selina trocamos um breve olhar. Os seus olhos refletem o que estamos sentindo: Medo.  

Ao ficarmos sozinhos, Blue guardar a arma na sua cintura.  

—O que vai fazer comigo? - Pergunto, apenas para enrolar e conseguir pensar em alguma coisa.  

—Estava com saudades. Não tem ideia do quão difícil foi ficar longe por todas essas horas. E eu apenas quero cuidar de você - ele se aproxima de mim e então, vejo a chave presa no cordão e pendurada no pescoço dele. Estamos a sós, ninguém irá tentar invadir aqui, porque Blue ordenou.  

Quando ele coloca sua mão em meu rosto, eu não penso em mais nada, apenas faço. Pego a faca da minha cintura e não miro, enfio na barriga dele e em seguida, o vejo cair, com os olhos arregalados de dor.  

Deixo a faca enfiada em sua barriga, arranco o cordão de seu pescoço e pego a arma que ele deixou em sua cintura. Sem pensar duas vezes, saio do camarim.  

Caminho pelos corredores com o coração batendo rapidamente. Algumas mulheres passam por mim, mas nenhuma delas notam minha presença. Não me encontro com nenhum homem de Blue e isso já me deixa aliviada.  

Vou para o meu quarto e ergo o colchão da minha cama. Um sentimento de tristeza me invade quando vejo que o isqueiro que Blondie havia pegado ontem está aqui. Ela provavelmente o deixou, quando eu sai para tomar banho. Nunca irei saber quando ou se fora realmente ela.  

Balanço a cabeça. Não tenho tempo. Pego o isqueiro e o mapa que estavam em baixos do meu colchão. Analiso rapidamente o mapa e relembro como chegar à sala de punição e como sair daqui. Depois disso, coloco fogo no papel e jogo em cima da minha cama, o papel queimando juntamente com o isqueiro acionado. Não demora para o fogo queimar os panos da cama. 

Saio do quarto, sei que em breve as chamas começarão. Ando rapidamente, com a arma guardada em minha cintura para que caso alguém me veja, não me interrompa para questionar qualquer coisa.  

Demoro dois minutos para chegar na sala de punição. Para minha felicidade, a chave de Blue também abre a porta que está fechada.  

Quando empurro a porta, vejo Selina sentada no chão e abraçando seu corpo. Só consigo enxergá-la graças à luz de fora, pois do lado de dentro, está tudo escuro.  

—Selina – a chamo e seus olhos param de encarar o nada para olhar para mim.  

—Felicity? - Seus olhos se arregalam e ela se levanta. - O que está acontecendo?  

—Vamos ir embora! - Eu me aproximo dela e a puxo para fora. - Não sei quanto tempo temos, então é melhor corrermos.  

—Mas como vamos sair? - Ela indaga, acompanhando meus passos. De repente, um som estridente começa.  - Algo está pegando fogo – pelo visto é o alarme indicando que que está havendo um incêndio. - Você colocou o fogo – raciocina. - Nós vamos usar o plano! - Um sorriso surge nos seus lábios.  

—Sim. Eu consegui a chave. Vou tirar você daqui e em breve, as outras mulheres! - Afirmo e pela primeira vez no que se parece ser muito tempo, sinto uma alegria.  

Nós duas continuamos a correr, passamos por vários corredores, avistamos alguns homens vindo em nossa direção, mas nenhum deles nos para, pois não é a nós que eles se preocupam e sim com o incêndio.  

Ao chegarmos na entrada, onde disfarça o fato de que isso é uma prostituição, observamos que não há ninguém, pois ainda não é o horário. Sorte a nossa.  

Com a chave, abro a porta, mas paro de me movimentar assim que vejo o que está do lado de fora.  

Há muitos homens. Todos armados. Pego a arma da minha cintura e vejo que é uma glock G25, possuindo apenas quatorze balas. Felizmente, é o suficiente para derrubar cada um.  

Continuo a olhar e avisto em uma distância curta, um automóvel. 

—Selina, você sabe fazer ligação direita em um carro? - Indago e ela assente. - A situação vai ser a seguinte: Eu irei sair atirando e chamando total atenção para mim. Nisso, você correrá até aquele carro – aponto para ela ver. - E irá ligá-lo. Quando estiver pronto, você me chamará e eu irei correndo para entrar nele. Está bem? 

—É melhor não errar nenhum tiro – pede séria. Eu apenas sorrio.  

—Eu disse que ia tirá-la daqui, não disse?  - Indago e ao abrir totalmente a porta, acerto a bala em um.  

O som do tiro ressoa em todo o lugar e os homens conseguem identificar que é na porta. Eu corro para um lado, enquanto Sweet vai para outro. Os atiradores focam em mim, por ser perigo iminente.  

Novamente, acerto mais outro e me escondo atrás de uma árvore. Olho cautelosamente para trás e algumas balas passam raspando, mas tenho um escudo. Para minha sorte, as armas que os homens estão usando são apenas pistolas semelhantes à minha. 

Saio rapidamente de trás da árvore e consigo acertar dois. Já se foram quatro. Continuo nessa sequência de se esconder atrás de algo e atirar em pelo menos dois antes de proteger. Nenhuma bala me acertar e eu também não perdi nenhuma. Estou tendo total sorte.  

Ao faltar apenas quatro, vou em um corpo caído e o levanto, fazendo-o minha proteção. Tiros acertam o corpo, mas não em mim. Com isso, consigo derrubar facilmente os outros que faltavam. 

Eufórica, solto o corpo que havia pegado no chão e percebo o quão eficiente fora os treinos de Bruce Wayne. Eu não conseguiria sem as suas aulas. Talvez eu devesse agradecê-lo, pois pela segunda vez, ele conseguiu me dar outra chance para escapar. Mesmo que indiretamente.  

—Babydoll! - Grita Sweet Pea. - O carro está ligado! - Com esta informação, eu corro o mais rápido possível.  

No entanto, o som de uma arma sendo disparada faz com que eu pare e me vire parar ver quem estava disparando.  

Se arrependimento matasse, nesse momento eu cairia morta. 

Nunca senti tamanho arrependimento quanto estou sentindo agora. Eu devia ter cortado a garganta de Blue para garantir que morresse. Eu simplesmente devia ter garantido que ele realmente havia morrido. Como pude ser estúpida em achar que uma facada em sua barriga seria o suficiente? É como o ditado diz: Vaso ruim nunca quebra. 

—Achou que seria fácil se livrar de mim? - Blue vocifera. Sua pele está pálida e há uma faixa em volta de sua barriga, na onde acertei a faca. Ele está distante, mas logo atrás dele, estão vindo homens.  

—Felicity, entre no carro! - Selina berra, desesperada. Não preciso pensar nenhum segundo para saber que não há chances das duas fugirem. 

—Vá sem mim, Selina! - Grito de volta, caminhando em sua direção.  

—Não! Você disse que nós duas sairíamos daqui.  

—Não. Eu havia dito que iria tirá-la daqui. Nunca garanti que iria junto – respondo sincera. - Se você não for agora, ambas seremos pegas. Por favor, Selina, você precisa ir. Precisa me deixar aqui.  

—Isso não é justo... Você mentiu para mim. Você disse que ia dar mais uma oportunidade à vida e para mim. - Eu não estava olhando para ela, não havia chances de desviar o olhar de Blue. Mas sei que lágrimas devem estar surgindo em seus olhos.  

—Selina, você pediu para mim se agarrar a pequena esperança que sinto, pois bem, eu me agarro a você. Porque você é a minha única esperança. Agora fuja e vá para Gotham City, encontre Bruce Wayne e diga a ele que Felicity Smoak precisa de ajuda – Paro em frente aonde sei que o automóvel se encontra parado e desta vez me viro para olhá-la. - Você disse que não iria me decepcionar.  

—E eu não irei - é a única coisa que diz e em seguida, vejo seu carro em movimento. Eu a acompanho, como um escudo, pois se Blue tentar atirar em algum pneu, eu estarei na frente, para impedir que a bala passe. Não me importo em tomar um tiro. Nenhuma dor física chega perto da dor mental que ele fizera em mim.  

Entretanto, Blue não faz nada. Ele até mesmo para de andar e fica de longe observando os homens virem até mim e gritarem para eu abaixar a arma. Eu não hesito, afinal, não havia balas para usar. Os homens me seguram com força e nem se importam se estão machucando.  

Sou arrastada para dentro do local, mas não sinto a mesma coisa que senti quando meu pai havia me trazido para cá, antes eu havia sentido pura solidão e tristeza. No entanto, neste momento, sei que não estou só e muito menos triste. 

Nós estamos com você. As vozes das meninas ressoam em minha mente. Não só Amber voltara como Rocket e Blondie se juntaram a ela.  

Eu não estou sozinha. Eu as tenho.  

Atualmente:  

Sinto uma mão me tocar e no mesmo instante, abro meus olhos e eles se encontram com o azul intenso de Oliver. 

—O que você quer? - Pergunto, grossa e irritada. Assim que percebo a maldade que fiz, desvio o olhar, sentindo-me envergonhada por ter agido assim.  

—Seu celular está vibrando sem parar. É a noiva de Bruce que está ligando – ele estica o aparelho para mim. - Não ia te acordar, mas pode ser urgente.  

—Obrigada - é a única coisa que respondo e pego o celular de sua mão. No mesmo instante, atendendo e o coloco na orelha. - Selina?  

—Felicity! - Ela exclama alto. - Que demora para atender esse telefone!  

—Eu estava dormindo! - Me defendo. - O que houve?  

—Nada. Só queria te informar que eu, você e Bruce vamos para Gotham City! - Suas palavras saem animadas.  

—O quê? Mas por quê? Está louca? - Minhas perguntas fazem com que Oliver fique curioso e ao mesmo tempo preocupado.  

—Eu e você temos que provar nossos vestidos – ela responde, ignorando minhas indignações. - E porque Bruce irá trazer alguns policiais de Gotham para cá, pois estamos precisando de mais ajuda. Aliás, vá no canal 9 e veja o jornal e, por favor, não fique brava com Bruce, ele fez isso porque quer proteger a todos.  

Ao ouvi-la terminar de explicar, salto da cama e sento-me na cadeira de rodas que está ao lado.  

—Você quer ajuda? - Oliver indaga, vindo para me ajudar. 

—Não - nego rapidamente e coloco o celular em meu colo. - Pode deixar, eu aguento - começo a girar as rodas e saio do meu pequeno quarto.  

Ligo a TV quando chego no cômodo principal e coloco no canal que Sweet Pea havia pedido. O que passa é uma reportagem e nela está Blue sendo entrevistado. Contenho-me para não jogar o controle na televisão, não suporto ver seu rosto e se um dia chegar a suportar, será porque estarei o observando se contorcer de dor.  

 Os segundos passam e eu consigo entender perfeitamente tudo o que está acontecendo. Blue está anunciando ser o novo dono da empresa Queen. 

A empresa que Oliver deu para me proteger. Desvio o olhar da TV para Oliver, ele está assistindo a reportagem também e vejo seu maxilar rígido. Por que será que está com este semblante? Quero perguntar como se sente, mas não faço. Para que serviria saber como ele está? Eu iria tentar consolá-lo com mais mentiras? Ou com o meu afeto que não quer? E nunca irá querer quando souber quem sou.  

—Estou vendo a reportagem – pego o celular e falo com Sweet que estava aguardando na chamada.  

—Blue está dominando a cidade Babydoll, a situação não é igual a antes, porque antigamente ele se escondia, fazia fachada e nem sequer aparecia desta forma.  

—Sim, eu sei que agora as coisas estão diferentes – mais perigosas, mais vidas em jogo. - E entendo o porquê de termos que ir. 

—Apenas continue assistindo a TV – ela pede e eu friso o cenho não entendendo. 

Logo ao término da reportagem de Blue, o rosto de Bruce surge na tela, acompanhado de dois policiais. Ele está vestindo um terno, mas seu rosto está machucado graças ao ‘’recado’’ que tentaram dar nele. Bruce começa falando cordialmente e sem mais ou menos, solta este alerta:  

Pessoas de Starling City, venho juntamente com o departamento policial para alertar vocês sobre algo terrível que irá acontecer nesta cidade. Um ataque terrorista. É necessário que todos evacuem de suas casas e mudem-se à cidade mais longe, pois as coisas ficarão ruins. Ninguém está seguro e este ataque acontecerá em breve. Quando conseguirmos normalizar as coisas e as deixarmos seguras, nós notificaremos vocês. Mas por hora, salvem suas vidas e se mantenham seguros. Fujam.  

—Por que fizeram isso sem me consultar? - Inquiro, furiosa. Este ato deveria ter sido conversado entre nós três. Ontem, quando a avisei que estava segura e contei tudo sobre o ataque na arque e a quase chance de ser presa novamente, nem Bruce e Sweet Pea me disseram que iriam fazer algo tão estúpido assim. 

—Venha até minha casa e eu te contarei – Afirma, séria. Eu apenas suspiro. 

—Eu chego aí em alguns minutos - é a única resposta que dou antes de desligar.  

Jogo o aparelho de celular em cima da mesa e passo minhas mãos por meu rosto. Isso tudo é culpa minha. 

—Felicity, me conte o que está acontecendo – A voz de Oliver me faz parar de lamentar e me força a olhá-lo.  

—Eu terei que ir para Gotham City – respondo, mantendo controle na voz para que não perceba o quão perturbada estou.  

—Sendo assim, eu irei junto com você - declara, como se fosse algo normal. 

—O quê? Por quê? - Pergunto, com os olhos arregalados.  

—Porque será perigoso, Felicity! E eu não posso deixá-la desprotegida. Se eu estiver com você, irei garantir que esteja segura.  

—Sério, Oliver? Você acha que é o que meu? - Minha indagação sai afiada. - Meu namorado? Meu segurança? Que eu saiba, não é nenhuma dessas coisas, então, não tem direito nenhum de tentar opinar na minha vida.  

—Felicity! - Ele exclama, fazendo uma expressão de ofendido. - Não estou querendo mandar em você e nem dizer o que fazer. Eu só quero garantir sua segurança! Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com você porque não estava lá para te proteger. 

—Adivinha? Você estava na empresa comigo e mesmo assim não conseguiu me proteger! - Eu falo berrando e quando percebo que acabara de falar, coloco minhas mãos em minha boca. Os olhos de Oliver se enchem de dor. E meu coração de culpa. - O.. Oliver, m... me desculpe, não foi isso que eu quis dizer.  

—Não, você está certa. Eu não consegui. Eu falhei com você, Felicity e eu sinto muito por isto – suas palavras saem doloridas. - Mas isso não quer dizer que não posso tentar te proteger.  

—Oliver, escute-me – eu solto um suspiro antes de continuar. - Eu estarei escoltada com os seguranças de Bruce. Nada de ruim me acontecerá.  

Abruptamente, seu semblante muda.  

—É, você tem razão! - Ele se mostra ansioso – Irei fazer sua mala.  

—Fazer minha mala? Do que está falando? - Questiono, levantando a sobrancelha.  

—Você estará segura se estiver em outra cidade! - Afirma, abrindo um sorriso. - Fique por lá, Felicity. E só volte para cá quando eu e o time conseguimos resolver as coisas. Quando conseguirmos entregar a vigilante Babydoll para Blue – sua última frase me machuca, mas transformo a dor em raiva.  

—Vou ficar por lá coisa alguma! - Digo, exasperada. - Eu e Selina iremos ver os nossos vestidos e Bruce irá trazer policiais de Gotham City para nossa cidade! Depois disso, estarei de volta e ajudarei o time a salvar a cidade.  

—Quando alguma vez na sua vida, Felicity, irá fazer algo que peço? -  Ele indaga, frustrado. 

—Talvez quando algum de nós dois estivermos morrendo – dou de ombros. - Agora tenho que arrumar minhas coisas e não, não preciso de ajuda.  

Começo a girar minhas rodas da cadeira e volto para o meu quarto – no qual é ao lado do quarto de Sara (aparentemente, todos ganharam um quarto) e o meu possui apenas uma confortável cama, uma comada branca que em cima dela está um abajur e um vaso cheio de lírios brancos. E este tipo de flor significa inocência e pureza. Eu dou uma risada silenciosa. Deixei de ser as duas coisas há muito tempo.   

Pego algumas peças de roupas (as quais Sara comprou a pedido de Oliver, pois ele sempre pensou que algum dia precisaríamos no caso de urgência) e as visto, deixando de lado a camisola que tinha usado para dormir.  

Retorno para o cômodo central, onde é praticamente o meu lugar, pois é aqui que os computadores predominam. Ao lado tem uma sala para o resto do time treinar golpes e lutas. E em seguida, uma cozinha. Vou até ela e encontro com Oliver ligando o fogão.  

—Quer comer algo antes de sair? - Ele indaga, sem olhar para mim.  

—Não precisa, Bruce fará algo para mim – me limito nas palavras para diminuir as mentiras. - Só queria avisá-lo sobre Sammy e Thea, não sei se te contaram...  

—Me falaram sim – Oliver vira-se para mim e abre um sorriso falso. - Algo a mais? 

—Eu não perguntei ontem, mas desde quando construiu este esconderijo? - Levanto a sobrancelha. Ele havia me mostrado o lugar antes de eu deitar e também disse que qual era o meu quarto, mas não me contou a história, provavelmente porque fiquei quieta o tempo todo enquanto estava em sua companhia.  

—Sabia que nosso esconderijo poderia ser descoberto, então, há dois meses decidi construir um outro apenas por garantia. A construção desse acabou há uma semana – seu pensamento é esperto. E é claro que seria, afinal, ele sempre fora um homem inteligente. 

— Eu gostei desse esconderijo. E felizmente, estou gostando mais do que o outro, porque nesse tenho o meu próprio espaço - sorrio, sem falsidade ou atuação. Apenas um sorriso sincero. - E também do meu quarto!  

—Adotei a ideia de um quarto para cada um graças a você - seu comentário me faz olhá-lo com curiosidade - Você insistia para mim comprar um colchão para dormir no outro esconderijo e quando nós dois dormíamos lá, não havia uma cama descente - ele coça seu queixo, onde a barba está crescendo.  

—Agora tem – abro ainda mais o meu sorriso. - Obrigada!  

—Não há de quê - e depois disso, um silêncio se instala. Nós continuamos a nos olharmos e eu só percebo agora o quão estranho estão as coisas entre nós e tudo isso é culpa minha.  

—Bem, eu já vou indo – digo, para sair daqui e aliviar minha culpa. 

—Felicity, você gostou do vaso de flores? - Indaga, repentinamente.  

—Sim. Os lírios estão lindos – respondo, frisando o cenho. - Por quê?  

—Você sabe o significado deles? - Eu acabo inclinando minha cabeça e fazendo um semblante ainda mais confuso. O que está acontecendo aqui? 

—Sim. Pureza e inocência - ele assente. 

—Tem esse significado, mas não é o único - diz, se aproximando de mim.  

—E qual seria o outro significado?  - Sinto meu coração palpitar por causa da aproximação. Quero abraçá-lo e acariciar o seu rosto, mas tenho que manter distância, tenho que saber ficar longe dele, pois será isso que acontecerá quando ele descobrir quem sou.  

—Te desafio a me amar – suas palavras fazem eu sentir borboletas no estômago. - Achei que esta frase combina com você. Porque é assim que me sinto quando estou com você. Sempre desafiado – ele aproxima seu rosto do meu. 

—Oliver, eu preciso ir - é a única coisa que consigo dizer e praticamente giro minha cadeira de rodas com pressa.  

De soslaio, vejo seu semblante triste. O magoei novamente. E sempre o magoarei não importa se eu fizer o certo ou errado. Isso sempre acabara com alguém ferido. Seja ele ou eu. Talvez estejamos destinados a nos fazer sofrer.  

Saio do esconderijo e após andar duas ruas para frente, ligo para Sweet Pea e a peço que me busque. Em questão de minutos, um carro preto para na minha frente e a janela se abaixa. Bruce está dirigindo e usando um óculos escuro.  

—Precisa de carona, senhorita?  - Indaga, brincando.  

—Cala boca e seja um cavalheiro para guarda minha cadeira no porta-malas! - Levanto e dou um tapa no braço dele.  

—Cadê a educação, Felicity? - Sweet pergunta, quando entro no carro.  

—Deixei na arque e ela foi queimada – mostro a língua para ela.  

—Tudo pronto – Bruce afirma, se sentando na parte do motorista novamente. - E Felicity, por que está tão malcriada assim? 

—Porque um certo alguém gravou uma reportagem sobre um possível ataque terrorista! - Retruco, de mal-humorada. 

—Mas isso não é mentira, Babydoll! - Selina afirma. - Ontem de madruga, Pinguim enviou um alerta para Batman. Haverá uma guerra. Ele e Blue irão dominar a cidade através do medo. É como eu disse, as coisas estão diferentes. Antes, um lugar era suficiente para os negócios de Blue, mas agora ele quer a cidade inteira e não se esconderá mais.  

—Pinguim mandou este alerta apenas para nos assustar e mostrar o quão grande está seu poder nesta cidade – Bruce diz, sem tirar os olhos da rua. - E como não sabemos o que acontecerá de fato e nem quando, temos que estar preparados.  

Eu apenas assinto e recosto no banco de volta. No caminho para Gotham, ficamos todos em silêncio, cada um pensando.  

Meus pensamentos estavam confusos, ora focava na possível ‘’guerra’’ que Pinguim ameaçou fazer, ora para os sentimentos em relação a Oliver.  

Ao menos, em um deles eu sei o que fazer. No caso de algo grande acontecer na cidade, manteremos os cidadãos salvos e lutaremos contra os capangas de Blue. Não irei permitir que tenha a cidade como teve a empresa de Oliver. E como pensam que o Arqueiro está morto, acham que estão em vantagem e podem acabar se autodestruindo. De qualquer forma, já tenho noção de como agir.  

Em compensação a Oliver.... Não há nada que me vem à mente que me ajude. Penso em contar a ele sobre minha identidade, mas se eu fizer isso, me odiara pela mentira e por ser Babydoll. Se eu não contar, se eu simplesmente colocar fim a tudo sem ser descoberta e tentar viver com Oliver, a culpa me consumiria. Guardei este segredo durante um ano, pois a única coisa que havia em relação a mim e Oliver era o fato de que queríamos salvar pessoas. Mas agora, tudo mudou. Há amor.  

Não sei se Oliver me ama, porém eu sei que o amo. E mesmo se Oliver me amar, ele estará amando alguém incompleta, apenas uma ilusão e isso nunca seria o suficiente para mim. Isso me torturaria a cada dia.  

—Nós então nos encontramos daqui a uma hora – Bruce afirma, quando para o carro em frente a uma loja de vestidos de novas.  

—Tenha cuidado – Selina lhe dá um leve beijo nos lábios e se afasta. - Vamos, Felicity? - Eu anuo e começo a sair do carro.  

—Até, Bruce – me despeço e nós duas andamos para dentro do comércio.  

Antes mesmo de entrar, havia vários vestidos expostos e era cada um mais lindo que o outro. Agora, no lado de dentro, há mais vestidos e várias mulheres observando. Eu faço o mesmo e não acho nenhum vestido bonito, no qual me faria ficar obcecada em usar no meu casamento.  

Meu casamento. Essa palavra é surreal. Não me imagino entrando em uma igreja ou qualquer lugar para me casar com alguém.  

—Nós somos vip, Felicity – Sweet sussurra em meu ouvido. - Temos uma própria sala com os melhores vestidos.  

—Você não escolheu o seu vestido? - Inquiro, surpresa.  

—Não! - Ela ri. - Eu sei, era para ter sido a primeira coisa a se fazer, mas não podia fazer isso sem a minha melhor amiga.   

—Ah, você é a melhor! - Eu abraço ela. E tento não sentir culpa por ter ficado um ano longe dela, sem manter contato.  

—Eu sei – um sorriso debochado surge em seus lábios. Nós duas andamos em frente e entramos em uma sala que uma mulher indicou (não havia notado que ela tinha nos recebido e é nossa atendente).  

Quando entramos na sala, meus olhos se arregalaram. De fato, os melhores vestidos estão aqui. Eu sinto uma nostalgia quando vejo alguns vestidos na cor preto. Me lembro do dia em que Sweet Pea me falou do seu casamento e que adoraria se casar de preto, afinal, Bruce e ela eram criaturas da noite.  

—Me ajuda escolher? - Ela pergunta e pega na minha mão. - Por favor?  

—Como madrinha, faço tudo o que pedir – aperto sua mão e nos guio para olhar todos os vestidos.  

Olhamos um por um, algumas vezes ela comentava sobre algum vestido, mas eu não achava que era suficiente para Selina. Para a mulher que significa muito em minha vida. Para alguém que amo muito.  

No entanto, quando eu me virei de frente para olhar Sweet, para dizê-la que nenhum deles me agradaram, atrás dela, havia um vestido. Um que não havíamos visto porque estava escondido atrás de quatro.  

Eu puxo Selina comigo para nós duas olharmos e no mesmo segundo, eu sabia que era aquele que ela devia se casar.  

—É este! - Afirmo, quase gritando. Paro de encarar o vestido e foco no rosto dela. - Você gostou deste? 

—Eu amei! - Ela responde, entusiasmada. - Senhorita Ângela, poderia separar este vestido para mim experimentar? - Inquira, para a nossa atendente.  

A moça assente e começa a retirar o vestido do manequim. Em seguida, pede para nós duas a seguirmos e todas vamos para uma outra parte da loja. A parte onde a noiva experimenta seu vestido em cima de um mini palco e confirma se é realmente este que irá entrar no seu casamento.  

Nossa atendente pede para Sweet Pea tirar suas roupas para que possa colocar o vestido. Ela não demora a se despir e se enfiar no vestido que nós duas amamos.  

Enquanto Selina colocava o vestido, ela estava de costas para mim e então, ao se virar para mim, meus olhos se arregalam de surpresa.  

—Você está perfeita! - Comento, simplesmente orgulhosa.  

—Não querendo me gabar, mas também achei que ficou perfeito! - Ela declara e nós duas rimos. - Imagine, daqui a alguns anos pode ser você! Ou seria meses? Aliás, você não me disse como estão as coisas com ele e como foi vê-lo vivo e incrivelmente belo! - Ela diz, me cutucando na barriga e fazendo cócegas. Uma tática que usamos uma na outra para conseguirmos informações boas.  

Mas neste caso, as informações não são boas.  

—Estão ruins – minha cara de felicidade se fecha e um semblante entristecido surge em mim e não consigo evitar, tão pouco quero. Acredito que seja necessário dividir isto com Sweet Pea. Ela é a única que pode entender minha situação.  

—Senhorita Ângela, poderia deixar nós duas sozinhas, por favor? - Selina pede e atendente assente e sai. - Quer falar sobre isso? Aproveita que temos tempo e que estou usando um vestido no qual não quero estragá-lo, caso o contrário, iria sair daqui e daria uma surra em Oliver, pois tenho certeza que aprontou para tê-la deixado tão pra baixo desta forma.  

—Coitado, Sweet! - Exclamo, abrindo um sorriso pequeno. - Oliver acabou de voltar à vida e você pensa em devolvê-lo ao coma? 

—Se for necessário, sim – ela pega minhas duas mãos e as aperta. - Ninguém machuca minha melhor amiga. Minha Felicity.   

—Obrigada por sempre cuidar de mim - agradeço e abraço-a.  

—Você faz o mesmo por mim – eu acabo descansando minha cabeça em seu ombro. - Agora diga-me o que está acontecendo.  

—Oliver odeia Babydoll. Ele culpa ela por Blue ter vindo a cidade, pelas mortes que aconteceram e por tudo de ruim que está havendo. Ele a acha uma pessoa egoísta e má. E pior de tudo é que ele não tem ideia de que ela e eu somos as mesmas pessoas. Vê-lo falar desta forma, com tanta raiva e desejo de vingança me faz sangrar pode dentro, Sweet. Porque... Porque eu percebi que o amo, Selina. Eu o amo como nunca amei alguém desta forma. Eu ia contá-lo sobre meus sentimentos, mas recuei, pois, se dissesse e ele falasse que sentia o mesmo, seria mentira. É impossível Oliver me amar e odiar Babydoll. E isto é culpa minha, afinal, fui eu quem escondeu o meu outro lado. O meu passado.  

—Não é ruim tentar deixar algo para trás, Felicity. Principalmente um passado tão ruim quanto o nosso. Sei que escondeu uma parte de quem é e também mentiu sobre si mesma, mas foi uma forma de tentar superar as coisas que aconteceram. Que culpa tem de tentar melhorar? De tentar viver sem uma sombra a lembrando de tudo de ruim que lhe aconteceu? Nenhuma, entendeu? - Selina acaricia meus cabelos, fazendo-me relaxar. - Se Blue não tivesse saído da prisão, se eu não tivesse aparecido aqui, você nunca teria que mentir e esconder segredos. Tudo o que acontece é culpa de Blue e nós vamos fazê-lo pagar. Desta vez, para sempre. 

—Sei que vamos – afirmo, com certeza. Não cometerei o erro de deixá-lo escapar como nas outras vezes.  

—E Felicity, por favor, não se culpe por estar mentindo para Oliver. Sei que quer contar a verdade, mas se falar na situação que estamos, isso resultara em desconfianças e precisamos que ele confie como sempre confiou em você. Precisamos de todos unidos para enfrentar Blue, e quando acabarmos com ele, aí será melhor para contá-lo, pois poderá explicar tudo. Não esconder nada.  

—Eu sei, você tem razão - anuo, parando de abraçá-la. - Agora chega! Vamos focar no que é mais importante: Você vai levar esse vestido, não é?! - A olho de maneira ameaçadora, pois realmente a quero casando com esta preciosidade.  

—Acha mesmo que vou deixar alguém usá-lo no meu lugar? Eu irei comprá-lo, não permitirei que ninguém mais se case com o MEU vestido! - Com sua afirmação, eu praticamente começo a pular e bater palmas. 

—Você será a noiva mais linda da história! - Pego em sua mão e a giro, para mais uma vez me maravilhar com a beleza que está em minha frente.  

—E você será a madrinha mais linda da história - sua afirmação me faz frisar o cenho. - Enquanto olhava alguns vestidos para mim, acabei encontrando um perfeito para você - ela me puxa para perto de um vestido azul e o começa a tirar do manequim.  

—Isso não é trabalho da atendente? 

—Eu estou a pagando. Então, eu faço o que bem entender – sua resposta sai afiada e eu dou risada. - Agora tire suas roupas para confirmarmos que este será o seu vestido – ela manda e não há como escapar.  

Faço o que é mandado e em segundos, estou dentro de um vestido azul, que tampa minhas costas e a saia é longa. Tudo delicadamente encaixado. Selina me puxa para subir em cima do mini palco e coloca-me de frente do grande espelho.  

Acabo me olhando de vários lados e, sem querer me gabar, me sinto perfeita em todos os ângulos. Isso acontece raramente. E é por isto que tenho certeza de que este casamento será fantástico.  

—É este – afirmo, abrindo um sorriso sincero. - Eu tenho que usar esse vestido como sua madrinha! - Selina também sorri. Mas de repente, seu sorriso se torna melancólico. - O que foi? - Indago, saindo do mini palco e me aproximando até ela. 

—Nada. Eu apenas me lembrei da minha irmã e das meninas. Lembrei que um dia, apenas para fingirmos que não estávamos presas em uma casa de prostituição, Rocket começou a falar sobre casamento. O foco foi eu, por ser a mais velha. Ela perguntou às meninas se alguém conseguiria aguentar o meu mal humor constante e depois disse que quando me casasse, elas seriam as madrinhas mais lindas de todas – algumas lágrimas descem de seus olhos e eu as limpo com carinho. - O que você acha que elas pensariam quando me visse casando com Bruce?  

—’’Você encontrou alguém com o humor pior que o seu, mana’’, esse seria o comentário de Rocket. ‘’Vocês são perfeitos um para o outro’’ diria Amber. ‘’Sempre soube que você era alguém romântica’’ Blondie falaria com os olhos brilhando – tento imitar o som das vozes das meninas, mas acabo falhando.  

Nós duas nos olhamos e em seguida, começamos a gargalhar. E muito.  

—Eu realmente estava precisando disto – Selina declara, limpando seus olhos.  

—Eu também - mas infelizmente, nosso tempo de calmaria chega ao fim com o toque de celular dela. - É melhor atender.  

—Deu tudo certo, Bruce? - Ela inquira, assim que pega seu celular da sua calça e vê o nome da pessoa que está chamando.  

Ouço outro toque de celular e desta vez é o meu. Pego da minha saia e vejo que é uma mensagem de Oliver:  

‘’Espero esteja dando tudo certo aí e tenho certeza de que ficará linda em qualquer vestido de madrinha que usar. Só uma dúvida: Eu devo ser chamado de louco por dizer que estou com saudades sua? As coisas sem você parecem tão displicente. Pelo que percebi, eu devo gostar de ser contrariado, pois você é a única que faz isso. Mas acredito que é seu jeito, visto que, você é única em muitas coisas. Por favor, continue segura.’’ 

Não consigo evitar de abrir um grande sorriso. No mesmo segundo, trato de respondê-lo.  

‘’Se saudades o faz ser louco, então estamos nesta loucura juntos. E sim, você gosta de ser contrariado. E não, não se preocupe em relação a mim, estou em total segurança com Bruce e Selina ao meu lado.’’  

Minha resposta é curta e um tanto direta, mas a enviou desta maneira porque não posso colocar mais sentimentos. Por hora, irei me focar em resolver a situação com Blue e no mesmo instante que tudo estiver certo, irei contar a verdade para Oliver e, graças a conversa com Selina, tenho certeza de que ele irá entender e não me odiara pelas mentiras. No começo, poderá ser difícil, afinal, ficará desconfiado de tudo que digo, mas com o tempo conseguirei fazê-lo confiar novamente em mim. 

Eu apenas preciso ter esperanças e acreditar que tudo dará certo.  

—Precisamos ir, Felicity – Selina afirma, me fazendo sair dos meus devaneios e voltar à realidade. - Explicarei no caminho – ela já começa a retirar seu vestido. Não demoro para fazer o mesmo. Vê-la desta forma, apressada, só pode dizer que algo ruim aconteceu.  

Ao nos vestirmos com nossas roupas normais, ela chamou a atendente e garantiu a escolha dos vestidos. A mulher queria que ficássemos para fazer as medidas, mas Selina lhe deu uma rápida desculpa e apenas pediu que guardasse os vestidos, pois em outro dia retornaria para levá-los e fazer as medidas. 

Em questão de minutos, estávamos do lado de fora da loja e Bruce já estava com o carro estacionado, nos esperando. Assim que entramos no automóvel, pedi para que me explicassem o que estava havendo.  

O ataque será está noite. Fora as únicas palavras que Sweet Pea disse. E foram suficientes para me fazer ficar preocupada. O time precisa saber disso, eles precisam estar preparados para lutar. E precisamos fazer um plano, pois tenho certeza que o motivo de Blue e Pinguim fazerem uma coisa assim é porque há um objetivo além de mostrar poder e dominar a cidade. Provavelmente querem de uma vez por todas acabar com os vigilantes. Fazer com que nós saíamos do esconderijo e vá direto para armadilha de sermos mortos.  

Compartilho com Bruce e Selina minha linha de pensamento e eles concordam comigo. Com isso, me indicam a avisar Oliver, mas de maneira anomia, pois ele não pode saber que estou na cidade, porque o queremos focado em proteger as pessoas, não a mim.  

Quando chegamos à cidade, fomos direto à casa de Selina e Bruce (já havia avisado Oliver anonimamente sobre o ataque), vestimos nossos uniformes e pegamos nossas armas.  

Ao estarmos prontos, reafirmamos o nosso plano: A policia que Bruce trouxe de Gotham City ficara de guarda-costas dos vigilantes, impedindo que nós sejamos encurralados, enquanto a gente enfrenta o pessoal de Pinguim e ajuda os cidadãos que ainda estão na cidade a irem embora.  

É pouco provável que Blue e Pinguim aparecerão nas ruas, colocar suas peles em risco. Eles irão deixar este trabalho para seus capangas. E quando verem que seu plano de ataque deu errado, vão recuar e garantiremos mais dias para encontrar o covil deles. E para pôr fim a tudo.  

Com as coisas todas em ordens, Bruce fora para uma direção, Sweet Pea em outra. Enquanto a mim, fiquei escondida em um terraço, apenas observando qualquer movimentação estranha. Minha função é impedir que os homens de Blue cheguem de surpresa. Todos nós estamos usando um comunicador e se um precisar, o outro irá ajudar. É assim que conseguiremos impedir o ataque: agindo juntos.  

—Nada, Babydoll? - Ouço Sweet Pea perguntar.  

—Ninguém está passando na rua – respondo rapidamente. - Talvez devêssemos andar, pois pode estar acontecendo algo do outro lado da cidade.  

—Do outro lado está tudo calmo também - Bruce declara. - Os policiais alegaram que não há nenhuma movimentação. Deve ser porque chegamos cedo na festa. 

—Sério, Batman? Uma piada? Estou suspeitando que você está ficando louco – Sweet brinca e isso me faz rir.  

—Acho que ele está louco porque cansou do doce e está com saudades das garras de gato – provoco com os codinomes que Selina possui. Sweet Pea e Mulher-gato.  

—Continuo sendo uma gata na cama, Babydoll – Ela me incita e isso me faz ficar totalmente envergonhada.  

—E ela não está mentindo – as palavras de Bruce me causam ainda mais vergonha. Ainda bem que nenhum dos dois podem me ver.  

—Certo, vou entrar na frequência dos policiais no comunicador e volto depois – antes de sair da frequência, consigo ouvi-los rindo de mim. Reviro os olhos. 

Entro na linha da polícia, ouço eles conversarem entre si, mas todos continuam sem ver nenhuma movimentação fora do normal. Há algumas pessoas andando com malas e outras entrando em carro, prontas para sair da cidade e para nossos alívios, ninguém está as impendido de ir.  

Subitamente, ouço um som estridente. Viro-me para olhar e então o vejo.  

Arqueiro-Verde.   

Seus olhos estão focados em mim com raiva e determinação. Seu arco está apontando em minha direção. Eu sou o seu alvo, seu objetivo. E ele sempre consegue acertar o que quer.  

—Babydoll – sua voz sai cheia de ódio. - Você falhou com essa cidade – e rapidamente, atira sua flecha em minha direção.  

Eu consigo desviar, mas logo em seguida, outra flecha é jogada e passa raspando em minha cintura. Gemo de dor ao sentir a ardência e vejo um sorriso maldoso surgir nos lábios de Oliver. 

—Você não é homem suficiente para me enfrentar sem seu brinquedo? - Atiço, sentindo-me irritada. Sinto vontade de gritar: Eu sou a Felicity Smoak! E ver sua expressão de raiva se transformar em surpresa. E decepção. 

—A culpa não é minha se você não é mulher suficiente para fazer o certo – ele joga seu arco para longe. - Mas irei ser justo, visto que depois disso, você sofrerá muito nas mãos de seu inimigo. Por que foge tanto de Blue? É facilmente perceptível que aquele homem a quer. O que fez de tão ruim a ele?  

—Porque acha que eu fiz algo de ruim? - Inquiro, me sentindo ofendida. Nós dois estamos andando um na direção do outro, ambos com determinação, mas totalmente opostas. A determinação de Oliver é em me derrubar e entregar para meu maior demônio. A minha é mostrá-lo que não sou a vilã da história.  

—Porque se não tivesse feito, não estaria fugindo dele e sim, o enfrentando. E também não o traria para minha cidade, para pessoas inocentes!  

Ao ficar próximo o suficiente de mim, ele tenta me acertar um soco, consigo me defender, pegando em seu braço e forçando seu corpo a girar, possibilitando acertá-lo uma cotovelada em suas costas.  

—Talvez eu nunca quisesse trazê-lo para cá, talvez a razão de eu fugir dele é porque não quero mais sofrer, pois é ele o vilão!  - Declaro, o acertando um soco em seu rosto. - Eu passei anos e anos sofrendo por culpa dele! É ele quem destrói tudo! - Deixo a raiva de Blue me atrapalhar e isso resultar em Oliver conseguir parar meu outro soco e me acertar um no estomago.  

—A única coisa que vejo em é uma mulher egoísta e mentirosa, que não liga para quem morrer. Diz que sofreu na mão dele, mas foi você quem o trouxe para uma cidade cheia de inocentes e é apenas você que permite que Blue faça outras pessoas sofrer. Se realmente fosse boa, se sacrificaria pelo bem da cidade. 

Uma vida por várias. Lembro-me das palavras dele.  

—Você é estúpido - é a única coisa que digo e no mesmo segundo o chuto no saco. Ele tenta recuar, mas não permito, vou para cima dele e pulo em seu ombro, envolvendo minhas pernas em sua cabeça e o sufocando. Oliver soca várias vezes minhas pernas, mas não surge efeito, com isso, se joga no chão, de costa, fazendo-me bater com tudo no chão. 

—Pare de tentar fugir – ele coloca seu corpo sobre o meu e com suas mãos, começa a me enforcar. - Acredite, eu não faria isto se fosse necessário, mas a sua existência é perigosa e afeta uma mulher que quero mantê-la segura. Se preciso fazer uma escolha entre deixá-la protegida e salvar sua vida. Felizmente, sua vida não significa nada para mim – as palavras de Oliver me machucam muito mais que seus socos.  

—Se você a conhecesse bem, duvido muito que salvaria a vida dela – respondo, dando o mais forte soco em sua barriga. Isso o faz perder a força de suas mãos e rolo no chão para escapar do sufocamento.  

—Você não tem ideia de quem estou me referindo – ele dá uma risada ríspida e sem humor. - Esta mulher é totalmente diferente de você.  

—Será mesmo? Ou ela apenas mente muito bem? - O vejo se levantar e tentar me agarrar com suas mãos, mas eu me abaixo e lhe dou uma rasteira. Quando cai no chão, subo em cima dele, prendo suas pernas com meu corpo e começo a depositar socos em seu rosto. - A mulher que se refere é uma falsa. Uma ilusão. Ninguém é bom o tempo todo. Ela com certeza esconde coisas de você. E como é um tolo, não enxerga o que está bem na sua frente.  

De repente, sinto uma dor aguda em meu braço. Paro de socá-lo e observo que há uma flecha pressionada no meu osso. Eu me levanto de cima de Oliver e começo a andar o mais rápido que consigo para longe dele.  

Antes de começar a descer as escadas do prédio, olho para trás e vejo Oliver pegar seu arco e flecha e tentar atirar em mim. Sou mais rápida e tranco a porta para impedi-lo de sair. 

Pressiono o sangue que sai do corte, mas não adianta muito, pois ele continua a vazar e deixar um rastro para saber o meu caminho. Sem muitas opções, eu entro em abro uma das portas do prédio e procuro por qualquer coisa que alguém tenha esquecido – para minha sorte, estou em um edifício que é domiciliar, sendo assim, pessoas moravam aqui.  

Não demoro para encontrar um pano e amarrá-lo para estancar o sangramento. Depois disso, saio rapidamente do prédio e tenho sorte de não me encontrar com Oliver no percurso inteiro.  

Vou à arque e observo para ver se há alguém nela, ao perceber que está vazia, entro e vou direto para a parte onde fica os curativos. Eu costuro de maneira desleixada o meu próprio corte e corro para dentro de meu quarto, para retirar o uniforme. Visto uma roupa qualquer e escondo as outras peças embaixo de minha cama apenas por garantia.  

Após ter certeza que não há nada que me incrimine como vigilante, vou aos computadores e ligo todas as câmeras da cidade. Não há nenhuma movimentação. Consigo ver os policiais parados em seus carros observando e também encontro o time nas ruas, escondidos e esperando qualquer coisa. Para o meu alivio, Batman e Sweet Pea ainda estão no mesmo local que os deixei. 

—Felicity? - Ouço a voz de Oliver me chamar e antes de olhá-lo, respiro profundamente para não chorar, porque ao ficar perto dele, é apenas isto que sinto: vontade de chorar e dizê-lo toda a verdade. 

—Meu Deus, Oliver! - Exclamo falsamente, quando avisto seu rosto bastante machucado. É exatamente como havia dito: Estamos propenso a nos machucar.  

—Felicity, por que está aqui? - Sua pergunta sai grossa e seus olhos me encaram inquisitivamente.  

—Bruce soube que o ataque seria hoje e então trouxe a polícia para ajudar. Eu pensei que o time precisaria da minha ajuda e é por isto que voltei com ele. Acabo de chegar de Gotham City – minto e tento esconder o fato de que é dolorido continuar dizendo mais mentiras para ele. 

—Não precisamos da sua ajuda, Felicity! - Vocifera e sai, simplesmente começa a andar em direção do arsenal. Eu não hesito em segui-lo.  

—Talvez você não precise, mas Sara, Diggle e Laurel sim! - Ele para de pegar mais flechas e olha para mim.  

—Você está andando – seus olhos me avaliam estranhamente. 

—E daí? - Friso o cenho, não entendendo.  

—Quando saiu daqui você estava na cadeira de rodas, Felicity – declara o óbvio. 

—Eu consigo andar, Oliver! Só estava usando as cadeiras de rodas para evitar que meus machucados se abrissem. Eu sinto dor ao andar. 

—Você não parece estar sentindo – suas insinuações me irritam.  

—É porque eu consigo esconder! Não quero que fique preocupado por mais uma coisa! - Respondo, não escondendo minha irritação. 

—Pelo que parece, você deve esconder muitas coisas para mim – afirma. Repentinamente, sinto uma dor esmagadora no peito e isso me faz fechar os olhos e colocar a mão no local que senti dor. - O que foi? Você está se sentindo mal? - Suas palavras desta vez saem cheias de preocupação.  

Eu abro minhas pálpebras e vejo que ele está perto de mim. Automaticamente, coloco uma distante entre nós. 

—Nada, eu estou bem – minto. Oliver solta um suspiro cansado. 

—Sabe que eu confio em você, não sabe? - Sua pergunta é repentinamente.  

—Sim. Eu sei – anuo sem duvidar. 

—Então por que você não confia em mim? - Meus olhos se arregalam de incredulidade. Não esperava isto dele, não neste momento onde temos tudo a perder. Mas novamente, isto é culpa minha. Se eu tivesse ficado de boca fechada enquanto lutava com ele, Oliver não se preocuparia se estou de fato escondendo algo. No entanto, não pude me conter.  

Para minha sorte, não tive que responder sua pergunta, pois um som alto começa a tocar pela arque inteira. Com o barulho, já consigo identificar o que acontecerá: 

Mais problemas.  

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada ♥



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