Quinto Capítulo

Asgardianos

Disseram-me já varias vezes que sou uma pessoa impaciente, principalmente quando estou nervosa e isso é algo que não consigo esconder. 

Andava por entre os corredores da instalação em busca de alguma coisa que ajudasse a me distrair um pouco, já que nem mesmo os livros fizeram efeito, só me deixaram com a sensação de estar confinada naquele quarto. 

Já fazia um tempo desde que o Capitão Rogers e a Agente Romanoff foram atrás de Loki, e soube que além deles Tony Stark também estava a caminho da Alemanha. Então logo eles estariam de volta, trazendo com eles o cara do outro mundo e era isso que estava me deixando nervosa. Nada conseguia tirar da minha cabeça de que este homem estivesse ligado com a minha visão da invasão alienígena. 

Eu não estava nem um pouca a fim de descobrir se isso era verdade. 

Depois de ter explorado cada parte da instalação que podia, não tive muito o que fazer então decidi por ficar na sala de controle mesmo, onde não me sentiria tão sozinha. 

Dessa vez estava acompanhada pelo meu caderno de desenho que me ajudava a relaxar na maior parte das vezes. Gosto de desenhar o que vejo em minhas visões, assim fica mais fácil de decifrar o que está por vir.

O que me irrita é que diversas folhas possuíam o mesmo desenho, às mesmas imagens que me atormentam constantemente. Aquelas malditas cobras gigantes de metal estampas ali pareciam tão reais. 

Só de olhar para as imagens no papel um arrepio se espalhava por minha espinha, lembrando-me do estrago que elas causariam. 

— Eles chegaram. - avisou Fury quando eu estava quase terminando, pela milionésima vez, mais um desenho daquela cena de destruição. Percebi que ele tentava entender a imagem e fechei rapidamente o caderno, pois sentia que talvez ainda não fosse à hora de saberem sobre isso, ao menos até eu ter certeza - Fique aqui mesmo que logo os outros virão para cá. Preciso ir a outro lugar. 

Em menos de cinco minutos depois dele sair, a ruiva e o Dr. Banner se juntaram a mim na enorme mesa. Logo em seguida chegaram o Capitão e o deus do trovão.

Um deus conosco e outro deve estar sendo preso neste momento.

Nunca sonhei em estar no mesmo lugar que dois deuses nórdicos.

Voltei a dar os últimos detalhes no meu desenho enquanto a Agente Romanoff seguia até um dos computadores que estava ali. 

— Caso não esteja claro, se tentar fugir, até se arranhar o vidro, é uma queda de dez mil metros numa armadilha de aço. - a voz do tapa-olho soou e antes que eu me aproximasse um pouco da ruiva para ver o que estava acontecendo, uma tela apareceu a minha frente na mesa - Entendeu como funciona?

Fury estava em uma câmara que eu não havia visto em meu pequeno tour pelo local, ali tinha uma espécie de jaula e dentro da mesma, estava Loki. Não entendo como conseguiram capturá-lo tão facilmente. 

— Verme. - falou ele apontando para o enjaulado após fechar uma escotilha que estava aberta ao redor da jaula, e depois apontando para o painel de controle - Bota. 

— É uma jaula impressionante. - comentou rindo o asgardiano - Creio eu que não havia sido feita para mim. 

— Foi feita para uma coisa bem mais forte que você. - Fury disse. 

— Ouvi falar. - Loki se virou e olhou diretamente para a câmera - Uma fera irracional, que finge ainda ser homem. 

Senti que Romanoff, que estava mais perto de mim, havia ficado meio tensa com o que o homem disse e segui seu olhar até o Doutor a nossa frente. 

Foi aí que me toquei de que ele era o verdão. Bruce Banner era o Hulk. 

— A que ponto chega seu desespero  que precisa chamar criaturas perdidas para defende-lo? - perguntou Loki. 

— A que ponto chega meu desespero? - repetiu Fury - Você ameaça meu mundo com uma guerra. Você rouba uma força que não tem como controlar. Você fala em paz, e mata porque acha graça. Você me deixou muito desesperado. Você talvez se arrependa disso. 

— Mas como doe em você ter chegado tão perto. Ter o Tesseract, ter poder, ilimitado poder. E para quê? - indagou Loki - Uma para toda a humanidade compartilhar. E depois ser lembrado do que é o verdadeiro poder. 

— Me avise se o 'verdadeiro poder' quiser uma revista ou outra coisa. - comentou ironicamente Fury, saindo em seguida. 

— Ele é cativante, não é? - falou sarcástico o Doutor. 

— O Loki vai prolongar isso. - começou a dizer o Capitão - Então, Thor, o que ele pretende? 

— Ele tem um exército, os Chitauri. Não são de Asgard, nem de nenhum mundo conhecido. Quer lidera-los contra o seu povo. Eles lhe darão a terra, creio que em troca pelo Tesseract. - respondeu Thor. 

— Um exército... Do espaço. - comentou Steve, sem querer acreditar nisso. 

— Não é só um exército espacial. - resmunguei do meu canto após ter a confirmação do que não queria, chamando a atenção deles para mim - É um exército com cobras gigantes de metal que saíram de um portal no céu. 

Eles me encararam como se eu estivesse com um parafuso a menos e se eu não tivesse visto isso nas minhas visões, possivelmente também acharia que havia enlouquecido. Apenas abri meu caderno e estendi para que eles tivessem uma clara visão do desenho que estava ali. 

— Se eu estiver certa, isso faz parte do exército de Loki. - expliquei. 

— E como você sabe disso? - Thor perguntou desconfiado. 

— Porque eu vi. - respondi como se fosse óbvio, o que era para mim e provavelmente para os outros três também já que nada disseram. 

— Então está construindo outro portal. - concluiu Banner - É por isso que precisa de Erik Selvig. 

— Selvig? - indagou Thor surpreso. 

— É um astrofísico. - esclareceu Banner. 

— É um amigo. - afirmou o asgardiano. 

— Loki o enfeitiçou de alguma maneira, e também um dos nossos. - falou a ruiva. 

— Por que ele se deixou ser capturado? Não vai liderar as tropas daqui. - disse o Capitão e não pude deixar de concordar com ele. 

— Não devemos nos concentrar no Loki. - interpôs o Doutor - O cérebro dele é como um saco de gatos. Aquele cara é maluco. 

— Cuidado como fala! - exclamou Thor - Loki está além da compreensão, mas é de Asgard. E ele é meu irmão. 

— Ele matou oitenta pessoas em dois dias. - rosnou a ruiva. 
— Ele é adotado. 

— Dr. Banner tem certa razão, Loki é maluco. Mas é um maluco inteligente, o que o torna um perigo. Se ele se deixou ser capturado, é porque tem um plano. - dei a minha opinião. 

— Acho que tem a ver com a mecânica. - o Doutor falou - Irídio...  Pra que eles precisam de irídio? 

— É um agente estabilizador. - virei-me para trás para saber quem havia respondido e me deparei com o Agente Coulson e o Sr Stark entrando - Só estou te sugerindo. Escolhe um dia que te leva a Portland. Manter a chama acessa. - comentou Stark para o agente e depois se voltou para nós - Assim o portal não vai se desfazer como na S.H.I.E.L.D. Não fica chateado comigo não. Você bate bem. - falou ele com o grandalhão do outro mundo e começou a andar pelo lugar enquanto falava - Continuando, o portal pode abri bem e ficar aberto o tempo que Loki quiser. Ergam o mastro e icem às velas. - brincou ele recebendo olhares tortos dos que estavam trabalhando ali e apontou para um em especial - Aquele está jogando Galaga. Achou que não notaríamos, mas notamos. 

Acho que Loki não é o único maluco por aqui, pensei enquanto voltava a prestar atenção em meus desenhos, tentando achar algo neles que pudessem ajudar. 

— Como é que Fury consegue ver isso? - ouvi-o perguntar.

— Ele se vira. - respondeu Maria Hill. 

— Que canseira. - zombou ele - O resto dos materiais brutos o agente Barton pode conseguir facilmente. O único componente principal que ele ainda precisa é uma energia de alta densidade. Alguma coisa pra dar partida no cubo. 

— Quando foi que virou perito em astrofísica termonuclear? - perguntou Hill

— Ontem. - Stark respondeu - O pacote, às anotações de Selvig, a teoria de extração. Mas só eu que li aquilo? E alguém pode me dizer por que tem uma criança aqui? 

Levantei minha cabeça já adivinhando que ele se referia a mim porque, infelizmente, meu tamanho me fazia parecer bem mais nova do que era, principalmente estando encolhida na cadeira como agora. 

— Quem esta chamando de criança? – perguntei mesmo já sabendo a resposta.

— Que você acha que é? – retrucou.

— Me chame de criança outra vez e juro que quando o senhor estiver vestido com sua armadura, irei transformá-lo em uma lata de sardinha amassada. - respondi azeda o encarando. 

Quando você cresce cercada por crianças, não gosta que te comparem a uma. É irritante. 

— Loki precisa de algum tipo de energia especial específica? - Capitão Rogers perguntou antes que Stark pudesse rebater o que eu disse. 

— Ele teria que aquecer o cubo a cento e vinte milhões Kelvin, só para superar a Barreira de Coulomb. - falou o Doutor meio descrente. 

— A não ser que Selvig tenha descoberto como estabilizar o efeito de túnel quântico. – disse Stark.

Devo confessar que por mais que eles falassem, eu não entendia quase nada. Para mim o cubo por si só já tem o que é necessário para criar um portal, só precisa ser manipulado do jeito certo. 

Gostaria de ter prestado mais atenção, pois poderia ter aprendido alguma coisa. Mas mesmo que quisesse, não poderia. 

Uma sensação de frio muito conhecida por mim começou a subir por minha espinha e a névoa branca a aparecer sobre meus olhos.

— Agora não. - murmurei o mais baixo que pude, mas tinha certeza de que alguém ouviu, pois senti que me encaravam. 

Pisquei diversas vezes tentando evitar o que estava por vir, mas não adiantava. 

— Com licença. - levantei-me e sai dali o mais rápido que consegui, mas não fui muito longe quando cai de joelhos em um corredor qualquer e tudo ao meu redor desapareceu, sendo engolido pelo branco.