Celeste escrita por MCDS Cristal


Capítulo 2
A Vidente




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Primeiro Capítulo

A Vidente

Atrasada. 

De novo.

Foi à primeira coisa que pensei assim que abri meus olhos pela manhã. Levantei-me correndo e colocando a primeira muda de roupa que estava no guarda roupa e sai apressada tentando colocar meu tênis. 

Não sei como o Prof. Xavier ainda tem paciência comigo. 

Aos vinte e dois anos, o tempo ainda é um grande problema pra mim. 

Corro por entre o mar de estudantes apinhados pelo corredor, tomando cuidado para não machucar algum deles. Tropeçando constantemente sob meus pés. Só temos essa aula uma vez por semana e eu ainda tenho a proeza de me atrasar. 

Seguro firmemente minha mochila nas costas para não cair e me atrasar ainda mais. 

— Ei, Cel! Qual a presa? - chamou-me alguém que, sem que eu tivesse percebido, já corria junto de mim. 

— Oi, Bob. Desculpa,  mas estou meio atrasada agora. Preciso me encontrar com o Professor. - respondi assim que reparei no garoto de cabelos castanhos e olhos claros ao meu lado. 

— Isso não é nenhuma novidade. Você está sempre atrasada. - comentou ele divertido, logo acenando com a mão - Nos vemos depois então. A Vampira me pediu pra avisar que ela quer falar com você. 

— Tudo bem. - gritei em confirmação já virando o corredor em direção ao escritório do Professor X. 

Abri a porta com tudo sem ao menos bater, e encontrei o homem de cadeira de rodas já em frente ao sofá que costumamos usar para as aulas.

Nunca conseguirei agradecer o suficiente por tudo que esse homem vem fazendo por mim nesses doze anos. Sou capaz de me controlar graças a ele. Acho que por termos poderes parecidos fez com que nos tornássemos próximos. Ele é quase que um pai pra mim, já que eu nunca conheci o meu. 

Em uma poltrona a seu lado estava a ruiva que vinha fazendo parte das aulas há algumas semanas. Jean Grey me ajudava a fortalecer meu escudo mental sempre que podia, para evitar que eu enlouquecesse. 

E, infelizmente, isso já havia acontecido uma vez. 

E as consequências foram irreparáveis. 

Sacudi a cabeça para não me lembrar dos piores momentos da minha vida e fitei um espelho que se encontrava atrás do sofá. Sufoquei um grito em minha garganta ao olhar meu reflexo. Cabelos em pé, cara amassada de sono e olheiras roxas em torno dos meus olhos. Estava digna de um filme de terror. 

— São os mesmos sonhos de antes? - perguntou o professor sem nem ao menos precisar ler minha mente. 

Meus sonhos é um tema que quase sempre está presente nesses tempos em que me encontro com o professor. 

E às vezes por muitos outros membros da mansão também. 

Desde que entrei para o Instituto Xavier, descobri que a única coisa que ninguém tem por aqui é privacidade. Todos sabem de tudo que acontece aqui e, por causa disso, todos já sabiam dos meus constantes pesadelos. 

É por causa deles que me chamam de Vidente. 

Porque não são pesadelos comuns, eles acontecem de verdade. 

— Não, esse foi diferente. - falei cansada enquanto me sentava no sofá. Desde que eles começaram quando eu tinha dezessete anos, dormir tem sido algo difícil. Tenho medo de fechar os olhos e ver algo que não queira. Mesmo que eles não apareçam com muita frequência, saber sobre o que vai acontecer não é legal - Me desculpe pelo o atraso, Professor X. - pedi envergonhada. 

— Não tem problema, Celeste. Só precisa melhorar seu senso de horário. - disse ele com um sorriso brincalhão. 

— Pode nos contar o que foi? - Jean perguntou calmamente. Ela poderia muito bem entrar em minha mente e ver o que sonhei, mas ela sabia que se eu não falasse significava que não era algo bem para se saber. 

— Eu não sei ao certo o que foi. Estava muito confuso e embaçado, só consigo lembrar de alguns detalhes. - expliquei ainda mais confusa com as imagens que invadiam novamente minha mente - É como borrões indo de um lado para o outro, uma torre e algo que se parecia com um cubo azul. Nada faz sentido. 

— Não consegue se lembrar de mais nada? - insistiu a Grey - Você sabe que qualquer detalhe pode ajudar a saber se é passado ou futuro. 

— Eu sei disso. - afirmei - Talvez nem tenha sido nada, só um sonho qualquer. 

— E você acha que foi algo qualquer? - a ruiva arqueou a sobrancelha em dúvida. E meu silêncio confirmou que realmente não era - Não deixe passar nada, pode ser importante. Não de chamam de a Vidente atoa. 

— Se lembra de mais alguma coisa e precisar de ajuda é só falar. - comentou Professor X depois de uns minutos em - Agora me diga como está o escudo? 

— Está ainda mais forte. Não se dissipou em momento algum desde a última vez há três meses. - fiquei feliz por mudar de assunto e falar de algo que eu realmente queria. 

O escudo mental era uma tarefa difícil pra mim. Não conseguia manter ele no lugar por muito tempo, ou ele sumia ou rachava.

Precisei cria-lo quando as informações estavam sendo de mais para mim. Em tudo que pensava gerava mais e mais pensamentos e não conseguia parar. Tive de sair de uma escola normal por conta das crises que tinha por acúmulo de informações.

Foi o que me levou a loucura. 

Estou a seis anos tentando barrar o excesso de conhecimento que meus poderes geram, e quando os pesadelos começaram só fizeram piorar a situação. Foi um trabalho que está finalmente surtindo efeito. 

—Isso é muito bom. - comemorou a ruiva - Acho então que podemos forçar um pouco mais agora. 

— Sim, tem razão. - concordou o homem - A partir de hoje Jean e eu usaremos juntos a telepatia para testar seu escudo mental. 

Nas duas horas seguintes, os dois forçavam meu escudo com suas mentes e, para minha felicidade, consegui o manter firme e estável. Poderia até chorar de alegria por ter obtido sucesso. 

Agora a ansiedade e a esperança começavam a tomar conta de mim. Olhava nervosamente para o professor, pensando se pedia nesse momento ou esperava mais um tempo. Mordiscava meu lábio inferior imaginando como faria o pedido. 

Não sabia se estava pronta para isso. 

Já faz alguns meses que venho pensando em voltar com meus estudos, mais precisamente em uma faculdade de artes. Desenhar faz parte da minha vide e aprender um pouco mais sobre isso. 

— Hum... Professor X? - comecei meio hesitante - Eu estive pensando e...  Bem...  Será que eu poderia, agora que consigo manter o escudo mental, começar a faculdade de artes? 

Uma vez havia comentado isso com ele, mas as circunstâncias não eram propícias e não poderia levar esse meu sonho a diante. 

— Tem certeza de que é isso que quer? - perguntou seriamente, e sem demora assenti com a cabeça freneticamente - Então acho que posso preparar todos os seus documentos. 

Quando sai da sala minutos depois, carregava em meu rosto um sorriso maior do que achei que seria possível ter. Estava feliz como há muito tempo não me sentia. Minha mãe ficaria orgulhosa se estivesse aqui. 

Mas toda a felicidade se foi quando, assim que entrei em meu quarto para me arrumar melhor, uma sensação de frio subiu pela minha coluna e uma névoa branca pairou pelos meus olhos, me levando mais uma vez há um tempo em que não me pertencia. 


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