The Long Road escrita por Bella P


Capítulo 2
Capítulo 1




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EUA - Presente

 

Os raios do sol passaram por entre as copas das árvores, iluminando fracamente o solo molhado pela chuva da noite anterior e proporcionando a camuflagem perfeita para a jovem. O vento frio soprou, revirando algumas das folhas caídas por causa do início do outono e fazendo os cabelos escuros balançarem com a brisa e entrarem na linha de visão dos olhos verde oliva, porém em nada abalando a sua dona.

- Vai disparar ou não? - a voz ao seu lado, impaciente como sempre, quebrou a sua concentração. Soltou um suspiro, virando o rosto levemente para mirar a jovem equilibrada no galho junto com ela. Thalia, a filha de Zeus, a mesma que há três anos juntara-se as Caçadoras e assumira o lugar de Zöe como tenente quando esta pereceu na mão de Atlas, tudo para livrar-se da profecia que dizia que a prole de um dos Três Grandes seria a vitória ou a ruína do Olimpo. O que, no fim, quando a guerra contra Cronos estourou mostrou-se que nem sempre as predições eram cem por cento corretas.

- Espera. - murmurou a garota, o arco e flecha ainda armados na altura dos olhos e apontado para o cervo que pastava a uma boa distância delas dentro de uma clareira.

- Laurel... Eu quero jantar ainda hoje. - Thalia resmungou e a eterna adolescente de quatorze anos chamada Laurel rolou os olhos. Não tinha nada contra a nova tenente, na verdade em um bom dia as duas até que se entendiam, mas o gênio estourado da meio-sangue sempre entrava em contraste com o temperamento passivo da escocesa, o que fazia a senhora Ártemis juntá-las nas caçadas pois afirmava que o fato de serem opostas causava um bom equilíbrio durante o trabalho. E quem era Lily para contestar a sua senhora?

O cervo na clareira mexeu-se, erguendo a cabeça e parando de pastar, rodando os grandes globos negros pelo ambiente ao seu redor como se procurasse algo por entre as árvores. Thalia ficou imóvel, pois agora era o momento perfeito para atacar e se Laurel não fizesse nada, ela faria. Por seu lado, Lily não mexeu um músculo e quando o animal balançou as orelhas como se tivesse escutado algo e seu pelo arrepiou em aviso de que estava em perigo, Laurel soltou a flecha que cortou o ar com um zumbido e enterrou-se com força no peito do cervo, o derrubando com o impacto.

- Finalmente! - Thalia desceu do galho em que estava empoleirada em um pulo, esticando-se toda para estalar algumas juntas depois de tanto tempo de tocaia. - Pensei que iria se apiedar dele na última hora e deixá-lo fugir. - Laurel pousou ao lado da meio-sangue e armou mais uma vez o arco, indo até o cervo que debatia-se sobre a relva, ferido e agonizando. Parou perto do animal, apontando a flecha na direção do coração do mesmo, o qual ela podia ouvir diminuir o compasso a cada segundo.

Os grandes olhos escuros e lacrimosos a miraram como se implorassem por piedade e a jovem franziu as sobrancelhas, apertando com mais força o arco entre os dedos.

- Sinto muito, mas é preciso amigo. - falou para o animal e disparou, fazendo a flecha atravessar o coração dele e encerrando de vez com a sua vida.

- Por que você sempre pede desculpas para as nossas caças? - Thalia aproximou-se, puxando uma corda de sua mochila e a usando para amarrar as patas do cervo, depois as prendendo em um longo tronco que encontrara no chão da floresta.

- Temos que ter respeito com a natureza. Três anos servindo a senhora Ártemis não lhe ensinaram nada? - a repreendeu, levantando uma extremidade do tronco onde agora estava amarrado o cervo morto e o apoiando sobre o ombro esquerdo. Thalia fez o mesmo com o outro extremo, dando as costas para Laurel e assim a jovem não viu a mais velha rolando os olhos.

- Eu respeito a natureza... Mas não vou ficar pedindo perdão ao meu jantar cada vez que for caçá-lo. Isto é ridículo. - riu. Não conhecia a história de Lily. Na verdade, a jovem escocesa era um mistério tanto para ela como para as outras Caçadoras. Pelo pouco que sabia a garota havia sido recrutada pela própria Zöe há dez anos e parecia ter segredos que ela própria desconhecia, mas que a deusa Ártemis parecia saber, pois cada vez que Laurel agia de maneira pouco usual a deusa a mirava como se esperasse isto dela.

Por exemplo: uma vez, durante a guerra, estavam caçando um monstro nas florestas no norte dos EUA e perdera a pista do mesmo. Ártemis separara as Caçadoras em três grupos para preparar uma emboscada, pois sabia que a criatura estava nas redondezas e queria evitar que ela chegasse aos limites da cidade mais próxima onde poderia causar problemas com os mortais. Entretanto, antes mesmo que a deusa terminasse de dar as ordens, Laurel virara sobre os saltos e soltara em alto e bom som:

- Vamos para o leste! - e começara a seguir na direção indicada. Ártemis nem mesmo reagira diante desta interrupção da Caçadora, apenas sorrira e seguira a jovem sem dizer nada. E surpresa foi quando quilômetros a frente elas encontraram o monstro procurado a beira de uma nascente tratando das feridas que as próprias Caçadoras haviam lhe infligido mais cedo em batalha.

Depois de destruído e tudo acalmado, Thalia havia puxado Laurel para um canto, a noite no acampamento, para sanar a sua dúvida do que acontecera naquela manhã.

- Como você sabia que direção seguir? - e a única resposta que obteve foi mais enigmática do que a atitude dela.

- O vento me disse. - e a menina lhe dera as costas e fora se refugiar em sua barraca.

Laurel apenas sacudiu a cabeça em negativa ao ouvir o resmungo de Thalia, soltando um sorriso. A meio-sangue a divertia às vezes com as suas tiradas e humor sarcástico. O que era uma contradição. Normalmente quando uma garota se tornava Caçadora, adquiria uma paz de espírito e calma interior que eram necessárias para ajudá-la a se manter concentrada durante a caça. A filha de Zeus possuía isso, se fosse compará-la a época em que era apenas uma simples semi-deusa estourada e impulsiva, hoje ela costumava pensar mais antes de agir, mas isto não a impedia de soltar a sua língua ferina sobre os outros.

O som do vento passando entre as folhas das árvores chegou aos ouvidos das duas adolescentes, assim como o barulho de galhos quebrando. Thalia e Laurel pararam de pronto, com a primeira olhando por cima do ombro para a adolescente atrás de si com uma sobrancelha negra erguida. Calmamente as duas abaixaram o tronco que carregavam até o chão, depositando o cervo morto sobre a terra úmida e puxaram os seus arcos, os armando. Aproximaram-se uma da outra, ficando costa a costa e percorrendo o olhar floresta adentro.

O vento ficou mais forte, causando um reboliço de folhas balançando e galhos estalando. Os fracos raios de sol que passavam entre as copas das árvores ficaram ainda mais escassos e as duas posicionaram-se em alerta. Fazia um ano que a guerra contra Cronos havia terminado e embora o titã tenha sido derrotado, boa parte de seu exército ainda estava perdido pelo mundo, foragido e sendo caçado por Ártemis e outros heróis e não seria a primeira nem a última vez que elas topavam com um monstro fugido por acidente.

Um trovão ressoou no horizonte e a floresta escureceu completamente, ficando fria e assustadora. Thalia sentiu um arrepio de mau presságio percorrer a sua espinha e seus orbes azuis elétricos correram por entre os troncos das árvores tentando divisar algo mais que fosse além das silhuetas das plantas. Remexeu-se inquieta ao notar um vulto mover-se a distância e soltou um sibilo de desagrado.

- Atividade suspeita às duas horas. - avisou a Laurel as suas costas.

- Atividade suspeita às dez horas. - a escocesa respondeu e Thalia resmungou. Ótimo, não estavam lidando apenas com uma, mas duas ameaças.

- Podem ser lobos da montanha que sentiram o cheiro da nossa caça. - arriscou a meio-sangue e pôde sentir os ombros de Lily retesarem contra os seus.

- Não são. - disse em tom firme, puxando a corda de seu arco e disparando a flecha entre as árvores, onde a mesma sumiu no breu. Segundos depois um rugido ecoou na floresta e um brilho dourado surgiu por entre os troncos, dois orbes grandes e ameaçadores foram brotando da escuridão e aos poucos ganhando forma e corpo até ficar frente a frente com a Caçadora.

- Eu tenho dois cães infernais do meu lado. E você? - Thalia falou quando dois cães do reino de Hades surgiram de entre as árvores.

- A Quimera. - Laurel respondeu e ouviu a garota atrás de si dar uma longa tragada de ar. - Ordens tenente? - perguntou séria e a semi-deusa amaldiçoou-se.

Eram nessas horas que não lhe agradava muito o cargo que ocupava e sentia mais e mais orgulho de Zöe e se arrependia de não ter se entendido melhor com a jovem há mais tempo, antes dela morrer. Ser a comandante, responsável por todas aquelas meninas, que mesmo que fossem imortais e muitas fossem vários anos mais velhas do que ela, mas ainda sim tinham a aparência de meninas, era algo complicado. Era suas irmãs, sua família, e não gostava de colocá-las em risco. Mas também tinha aprendido com o tempo, como Ártemis lhe ensinara, que precisava confiar nelas assim como elas confiavam em si.

- Dividir e conquistar! - respondeu e Laurel assentiu com a cabeça, armando o arco com duas flechas e as disparando na direção da Quimera. A primeira flecha passou zumbindo perto da orelha do monstro, mas a segunda acertou o chão, liberando uma fumaça colorida e fedorenta. Laurel guardou o seu arco, retirando das botas as sai gêmeas que usava como armas e correu na direção da Quimera, aproveitando a confusão dela diante da fumaça e transpassando a mesma, tomando impulso com o pé e pulando acima do monstro, usando a ponta da lâmina feita de bronze celestial para abrir um corte no couro do animal que urrou.

Pousou suavemente sobre a terra às costas da Quimera e essa virou a enorme cabeça de leão para mirar a garota e rugiu, soltando um bafo de fogo sobre a garota que em outro salto saiu da linha de ataque. Através da serpente que se retorcia e sibilava e servia como cauda do monstro, Laurel pôde ver Thalia usar Aegis para proteger-se do ataque dos cães infernais enquanto investia contra eles com a sua lança. Mesmo tornando-se uma Caçadora, a jovem mantivera as mesmas armas de quando era uma heroína, pois a deusa Ártemis achava que elas eram muito úteis e adequadas para a nova tenente.

A Quimera rugiu mais uma vez, soltando o seu hálito de fogo e veneno sobre a adolescente e a garota deu mais um salto para sair do caminho, torcendo o nariz ao sentir o cheiro azedo que o monstro emitia. A serpente da cauda silvou e remexeu-se, contorcendo-se e avançando sobre ela para dar o bote e a jovem rebateu o ataque com uma de suas sai, causando um talho na pele escamosa do bicho. Outro trovão soou ao longe e um clarão iluminou as árvores. Um raio acabara de descer dos céus e atingir a lança de Thalia, sendo direcionado a um dos cães que foi arremessado contra o tronco de uma árvore, atordoado.

A Quimera avançou, fazendo Lily recuar a cada investida da enorme cabeça felina e das presas que trincavam e queriam a todo custo experimentar um pedaço da carne da Caçadora que defendia-se como podia diante das investidas do monstro, visto que a cabeça revezava com a cauda nos ataques. Quando mais um jorro de fogo disparou na sua direção, ela viu nisto a oportunidade de contra atacar e com outro salto pulou acima do monstro, o montando como um touro bravo e agarrando-se a juba untada com sangue. O animal prontamente sacudiu-se violentamente ao sentir a criatura intrusa no seu dorso e começou a correr por entre as árvores, chocando-se contra as mesmas na tentativa de deslocar a jovem.

Laurel sentiu seu ombro protestar com os trancos visto que usava a mão esquerda para segurar-se firmemente à juba enquanto com a direita erguia a sai acima da cabeça e golpeava várias vezes o couro da Quimera. O sangue do monstro começou a escorrer pelas feridas, mas as mesmas não o impediam de continuar correndo e se debatendo pela floresta para livrar-se daquele incomodo nas suas costas. Os dedos de Lily já ficavam dormentes contra a juba a qual se agarrava e os nós estavam brancos diante da força empregada, até que um balanço mais forte foi o suficiente para arremessá-la longe.

Seu corpo deslizou e rolou pela terra molhada, chocando-se contra raízes e causando arranhões em seu rosto. Em um gesto rápido travou a ponta das botas no solo fofo para impedir-se de continuar a deslizar, o que foi em boa hora, pois a poucos metros adiante o chão terminava em um penhasco onde quilômetros abaixo havia um rio de corredeiras nada amigáveis. Ofegante, ergueu-se aos tropeços e mirou as árvores, percebendo que a mesma cena de mais cedo se repetia. Olhos brilhantes e sedentos por sangue surgiam de entre as plantas e a Quimera parecia mais irritada do que antes, com o sangue correndo do seu enorme corpo de bode e a boca espumando e salivando de maneira doentia.

Com o coração aos pulos, Lily colocou-se em posição ofensiva, mirando bem dentro dos olhos da criatura e girando as sai em suas mãos, esperando pelo próximo ataque dela. Com um rugido a Quimera avançou em um pulo e Laurel deixou o corpo ir ao chão, investindo as duas lâminas contra o torso do monstro, uma na barriga e outra na altura do coração. As armas enterraram na carne da Quimera até o punho e a mesma urrou de dor, seu salto continuando devido a força da gravidade e a Caçadora arregalou os olhos ao perceber em que direção o bicho estava indo: bem para o penhasco.

Tentou soltar as lâminas, não iria deixar para trás as armas que lhe foram presentes da senhora Ártemis, mas quando finalmente conseguiu libertá-las, não sentiu mais o chão sob si. Acima de dela a Quimera explodiu em luz dourada e ao seu redor o mundo passava rápido demais até desaparecer em um turbilhão de água e escuridão.

 


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