The Long Road escrita por Bella P


Capítulo 1
Prólogo




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ESCÓCIA – 10 anos antes

 

As risadas ecoaram pelo corredor chegando aos seus ouvidos em um tom cruel e humilhante, os ferindo como ferro quente perfurando os seus tímpanos. Os olhos verde oliva possuíam tons vermelhos e refletiam intensamente as luzes néon por causa das lágrimas não derramadas. Suor frio escorria por seu rosto, descendo pelo pescoço pálido e indo aninhar-se no colarinho da camisa social que usava. Suas mãos tremiam enquanto apertavam com força os livros contra o peito, os fazendo de escudo. O sorriso zombeteiro de Christopher Hail parecia machucar os seus olhos, assim como o fato dele abraçar a cobiçada Pam Johnson pelos ombros.

- Você realmente acreditou que Chris iria se interessar por você? - a risada cristalina de Pam sobrepôs-se as outras, fazendo a jovem alvo da humilhação sentir-se menor ainda e extremamente tola.

Lily Graham apertou ainda mais os livros contra o peito, cerrando as pálpebras com força como que para bloquear aquela cena horrenda e impedir que a mesma ficasse gravada em sua memória. Tentou resgatar em suas lembranças o minuto em que se deixou convencer, deixou-se acreditar que Chris, um rapaz um ano acima do seu e extremamente cobiçado pelas meninas da escola, realmente estava interessado em sua pessoa. Apenas para descobrir com desgosto que todo o flerte, os encontros e, finalmente, o beijo não passaram de uma brincadeira de mau gosto. Uma aposta que Pam fizera com o namorado e as amigas para simplesmente acabar com a pouca auto-estima que a garota mais anti-social da escola possuía.

Ainda com as risadas reverberando pelas paredes frias do colégio, Lily deu automaticamente um passo para trás, procurando se afastar daquelas pessoas que presenciaram a sua desgraça. Sua mente tentava processar, entender como os adolescentes poderiam ser tão cruéis com alguém que simplesmente não se encaixava nos padrões hierárquicos estipulados pelos jovens pertencentes ao ginásio e colegial. Só porque Lily era tímida, não tinha muitos amigos e uma grande fobia em relação a locais populosos isso não dava aos seus colegas o direito de fazê-la alvo de zombarias.

Mas quem se importava? Com certeza não eram as mesmas pessoas que agora riam as suas custas, que faziam todo o seu corpo tremer de vergonha e pavor e para quem ela deu as costas e o mais depressa que as suas pernas bambas permitiram saiu correndo para longe daquele grupo cruel, indo se refugiar no armário escuro e apertado onde o zelador costumava guardar o seu material de limpeza.

Quando se sentiu segura o suficiente entre os esfregões, baldes e garrafas de desinfetantes, permitiu-se chorar. Lágrimas cristalinas rolaram por suas bochechas pálidas, traçando um caminho de dor enquanto seu corpo todo sacudia em soluços. Os dedos redondos fecharam-se em torno do nó da gravata que fazia parte de seu uniforme e com um puxão a afrouxou, como se a mesma a estivesse impedindo de respirar melhor. Não soube por quanto tempo ficou refugiada naquele pequeno armário. Se foram minutos, horas. Não sabia se era dia ou noite e se as aulas já tinham se encerrado ou não, mas assustou-se quando a porta abriu bruscamente e a luz fraca que vinha do corredor emoldurou a pessoa que estava parada sob o batente, causando um jogo de sombras que impediam Lily de reconhecer o seu visitante.

No primeiro minuto pensou ser o zelador, mas a forma sob o portal era menor, esguia e mais graciosa, diferente do homem sisudo e atarracado que fazia a manutenção da escola. Quando ela deu um passo para trás, possibilitando assim que Lily tivesse uma melhor visão dela, percebeu que a mesma não passava de uma menina de quatorze anos, a mesma idade que tinha, com olhos que transmitiam um estranho brilho sábio e pareciam ser bem mais velhos do que a garota aparentava. Os cabelos longos e negros estavam presos e no alto da cabeça havia uma bela tiara.

A desconhecida mirou Lily seriamente, percorrendo os seus olhos de cima a baixo pela forma da garota ainda encolhida dentro do armário, a avaliando silenciosamente. A adolescente se sentiu mais diminuída diante do aparente olhar de desprezo que recebia e assustou-se quando a estranha simplesmente lhe estendeu a mão em um convite mudo. Lily ficou longos segundos mirando a mão estendida. Algo lhe dizia que tal gesto possuía um significado maior do que aparentava e que aceitá-lo causaria grandes reviravoltas em sua vida.

No entanto, quando a jovem de cabelos longos lhe deu um meio sorriso fraternal, um sorriso que indicava que ela compreendia a sua dor, Lily resolveu deixar todas as suas apreensões de lado e envolveu sua mão na da garota, deixando-se erguer do chão em um puxão e em seguida levada embora para longe daquela escola. Para longe daquela vida.

 


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