Mermaid escrita por Pietrah


Capítulo 3
Calming Down




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Senti duas mãos quentes ao redor do meu rosto e uma pressão leve ao redor de minha cabeça. As mãos se afastavam conforme meus olhos se abriam e ouvi uma cadeira sendo arrastada para trás, como quando alguém se levanta bruscamente.

Passos ficavam mais e mais distantes e a porta se abriu. Ao mesmo tempo, e do outro lado de minha cama, a imagem enevoada de meu pai se formou ao meu lado, segurando minha mão com um suspiro aliviado.

— Querida! - Sua voz tinha um tom de desespero e preocupação.

— Pai... - Sentei-me devagar, sentindo pontadas nas minhas costelas, sem dúvidas de que estava com hematomas. Pousei a mão em minha cabeça, sentindo a atadura.

— Você bateu com a cabeça. Mas disseram que pode ganhar alta hoje dependendo dos resultados dos seus exames...

Pela porta, uma mulher loura que vestia um jaleco entrava apressadamente, apoiando a prancheta na mesa.

— Você teve bastante sorte de acordar ainda hoje. - Ela pegava alguns instrumentos e sorri, simpática. - Estávamos preocupados com você. Sou a doutora Forbes. 

O dedo dela apertou uma pequena lanterna, e a direcionou para meus olhos. Segui a luz obedientemente, um pouco tonta. Mediu minha pressão e fez mais alguns testes.

— Seus exames de sangue foram encaminhados e o resultado sai no fim da tarde. Até lá, preciso que fique por aqui. - Ela falou.

Um garoto alto de cabelos pretos e olhos verdes um pouco mais claros que os meus esperava pela médica do lado de fora da porta, escorado na parede do corredor. Enquanto ela falava, minha atenção variava entre suas palavras, o quarto de cores claras e o garoto na parede. Assenti em resposta aos seus avisos e ela sorriu, saindo em direção ao garoto.

— Você não precisa ficar comigo, pai. Precisa trabalhar. - O olhei, lançando meu olhar mais despreocupado.

— Está tudo bem, Charlie cuida disso pra mim hoje. Eu só estou preocupado. Você sempre teve uma saúde de ferro, Claire. Acha que está com anemia ou algo assim? Eu sabia que não poderia te deixar almoçando em lanchonetes e...

— Pai! - ri, achando graça da situação. - Eu vou ficar bem, tá? Já estou me sentindo melhor. E posso chamar Heather para ficar comigo. Você pesca e eu ouço sobre como ela acha química orgânica difícil. - brinco.

Ele olha o relógio e me encara, franzindo o cenho.

— Eu vou trazer um almoço para você não precisar comer a comida do hospital. E, se você ganhar alta, vai para o barco de pesca comigo. Vai ter tempo de sobra para ficar com suas amigas depois. Principalmente amanhã, na escola.

Ele beijou minha testa e saiu. Procurei meu celular, mas não tinha sido uma preocupação para meu pai trazê-lo, aparentemente. Bufei, passando os dedos pela camisola azul, e ri quando o pensamento do garoto voltou à minha mente. Uma cauda cresceu em mim - até onde eu lembrava, estava completamente desestabilizada, mas minha preocupação era um garoto que sequer sei o nome. É ótimo como nossa cabeça nos prega peças. 

De repente, minha ficha caiu. Me lembrei de cada cena de antes do desmaio. Passei as mãos pelas pernas, agoniada. Talvez eu estivesse tendo algum surto psicológico. Vendo coisas. Mas algo me dizia que tudo tinha sido real. Não sabia como controlar aquilo, mas não me parece o tipo de coisa que acontece uma só vez. De qualquer forma, não poderia falar sobre isso com meu pai. Ele é cético demais e, apesar de me amar - ou por causa disso, me botaria em uma camisa de força. 

Engoli em seco com a ideia e pensei em todas as informações que adquirira sobre mitos e a vida marinha. Minhas mãos tremeram, acompanhando meu nervosismo, e as apertei no tecido para que parassem. Prometi esquecer isso até que saísse do hospital, ou provavelmente enlouqueceria de vez, mas, enquanto esperava meu pai, me peguei vez ou outra encarando meus dedos, conferindo se não estavam com a pele fina entre eles. 

Meu pai chegou com uma bandeja preta em mãos. O cheiro de strogonoff provocou um ronco em meu estômago e eu ri, comendo. Enquanto comia, ele me comentava sobre os camarões que havia pescado. Disse que estávamos em uma boa época, os peixes estavam migrando, mas alguns tubarões estavam abrindo as redes e soltando os peixes. Muitas redes voltavam rasgadas. 

Conversamos durante a tarde, com visitas esporádicas da doutora Forbes, e quando meus exames chegaram, no fim da tarde, tudo parecia estabilizado. Meu pai me trouxera uma muda de roupas, e segurei o riso quando vi sua combinação de peças, agradecendo-o. Vesti as roupas me sentindo uma pré-adolescente e agradeci a doutora, assinando umas papeladas. Quando passava pelos corredores do hospital para ir embora, vi o garoto. Ele estava sentado em uma das cadeiras laterais, mexendo no celular, e percebeu meu olhar, retribuindo. Quando seus olhos encontraram o meu, ouvi um barulho alto como uma sirene tamborilando dentro da minha cabeça. Não doía, mas tive a certeza de que ninguém mais o ouvia. Passei por ele, apenas desviando meu olhar do dele quando já estava mais a frente, e o som parou abruptamente. 

Entramos no carro e fui para casa, repetindo para mim mesma o que fazer quando for trocar as ataduras. Sabia que logo poderia ir para o mar, mas teria que fazer isso sozinha. Explicar sobre isso para Heather também seria um inconveniente. Durante o restante do dia, pude me sentir normal novamente.


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