Não conseguimos dormir direito a noite, pensando na minha proposta. Conversamos a noite toda, imaginando como seria termos um bebê com os nossos genes. Rimos, choramos, e decidimos que iríamos ser pais. Mesmo que não fosse biológico. Adotaríamos um se o plano A não funcionasse.

De manhã, fiquei feliz de Edward não ter ido junto. Estava difícil segurar meus pensamentos, até para não deixar transparecer. Ainda bem que o casamento é um belo pretexto para ficar eufórica e emocionada.

—Eu ainda nem acredito que a tia Alice reservou a semana toda com Delphine Manivet!

—Eu ainda nem acredito que estamos em Paris. – ri de Nessie, chegando ao aeroporto internacional Charles de Gaulle. Eu tinha receio até de tentar pronunciar esse nome. Era tudo muito chique, muito grandioso, eu sentia meus olhos brilhando a cada coisa que passava por nós.

—Lavine...

Fiquei assustada com a voz de Alice, e as reações das meninas. Até que segui o olhar delas.

—Jackson? – falei sem querer, confusa.

Ele estava perto das escadas rolantes de onde estávamos descendo. Em um canto, quase invisível. Ele sabia se camuflar. Quase ninguém reparava no desconhecido parado ali.

O canto de sua boca se elevou ao ver que eu o notei, e fiquei e dúvida se queria conversar comigo ou só estava em alguma viagem de exploração ao redor do mundo. E outra; eu torcia para que estivesse sob controle perto de tantos humanos.

—Me deem cinco minutos. – pedi a elas.

Enfim saímos das escadas, e eu segui para perto dele, enquanto elas iam mais para frente, sem se distanciar demais.

—Está me seguindo? – tentei manter o tom descontraído, mas estava mesmo receosa. Se Seth soubesse do meu stalker, as coisas não terminariam bem.

—Não. – riu, sem se deixar enganar. – Só vim ver se minha mala já chegou. Ela foi para outro voo por engano.

—Ah, entendi.

—Senti seu cheiro e fiquei curioso.

—Curioso?

—Surpreso. – se corrigiu. – Não esperava você aqui.

—Acredite, nem eu.

Suas madeixas loiras, sempre com um caimento de ondas de lado, agora formavam um topete alto. Não sei se algum dia iria me acostumar com o fato de virar um vampiro tirou o azul turquesa dos seus olhos, que agora estavam num – tranquilizante – castanho dourado.

—Eu não pude deixar de ouvir sobre casamento...

—É, ganhei um vestido francês da minha irmã. Vamos passar a semana escolhendo. – dei de ombros, não querendo esfregar minha felicidade na cara dele.

—É, aquele lobo tem muita sorte mesmo. – sorriu, e não chegava aos seus olhos. – Devo esperar o meu convite?

Pigarreei, desconfortável. Eu conseguia sentir a tensão das vampiras com isso.

—Bom, devido a tudo o que rolou entre nós dois, e para todos os efeitos você é meu ex, não é muito elegante te convidar para o meu casamento. – tentei soar simpática, entretanto tem como ser simpática desconvidando alguém de uma festa?

Não é elegante nem sadio que meu futuro marido se transforme em lobo na frente de tanta gente que não sabe do nosso segredo, e cometa um assassinato.

—É claro. – sorriu, e eu podia ver algum vestígio de desapontamento em suas feições pálidas. – Ele tem muita sorte. Espero que ele consiga te fazer feliz o que eu não consegui.

—Jackson. – o repreendi de leve. – Não foi sua culpa. Nada iria mudar. Não fiquei com você por paixão. Você poderia ter tentado me fazer a pessoa mais feliz do mundo; ali não era o meu lugar. Meu coração pertence a Seth desde a primeira vez que o vi. Eu sinto muito por ter te enganado, mas eu não poderia arriscar a vida de ninguém que eu amo.

—Eu fico triste em saber disso. – deu um passo em minha direção, arriscando sair da zona de amigos. – Espero que você seja feliz, Lavine. E que aquele Clearwater nunca te magoe. Ele não sabe a joia rara que achou.

Sabe aquela sensação de vergonha? Quando tem medo de estar vermelha?

—Adeus, Lavine.

Se despediu com um beijo na minha bochecha, e sumiu na multidão.

—Ele é mesmo apaixonado por você. – Renesmee comentou enquanto eu me aproximava. Cutucou minha bochecha, e eu sabia que meu medo de estar corada era real.

—Sanguessuga atrevido. – Rose resmungou. – Espero que essa pequena interrupção dele não interfira no meu humor dessa viagem.

—Não deixe isso acontecer. – pedi, me sentindo culpada. – Vai ser uma semana mágica.

—A magia vai acabar assim que Seth souber. – Bella comentou, dando uma nota que eu não conhecia para um funcionário dali, não consegui identificar sua função. E falou algo em francês, logo em seguida o homem desapareceu.

—Não vai. – tentei passar confiança. – Não aconteceu nada demais, ele apenas conversou comigo.

—E disse que te ama praticamente. – Alice completou.

Não tive tempo de rebater, pois um SUV preto maravilhoso, deslumbrante, estacionou na nossa frente.

—Merci. – Bella disse, pegando a chave da mão do mesmo homem que ela deu o dinheiro.

—É tão perfeito. – gemi, entrando e apreciando o conforto extremo daquele carro.

—É belo, mas ainda prefiro os baixinhos. – Ness falou, sentando ao meu lado e colocando o cinto.

—Sem dúvidas.

Fomos para o nosso hotel - que nem ouso dizer o nome - e nos acomodamos. Eram dois quartos, porém compartilhados. Eu e Nessie ficaríamos em um, justamente por sermos as únicas que dormem, Bella, Alice, Rose e Esme no do lado. Somente o que nos separava era uma porta.

Alice disse que hoje seria dia de um breve turismo, então nos jogamos na cama para descansar. Mandei mensagem para Seth e Camila, afim de saber da minha menina. Os dois me responderam que estava tudo ok. Engoli em seco ao imaginar a reação de Seth quando eu contasse sobre Jack.

—Descansem que iremos sair em poucas horas, estou com saudades de Paris e pretendo ver algumas lojas.

Fiz continência para a vampira baixinha, assim ela fechou a porta para nós duas.

E dormimos.

Acordei já escuro lá fora, e vi Bella acordando minha amiga aos beijos.

—Vamos, dorminhoca. Estamos prontas.

—Esse voo acabou comigo. - resmunguei, me espreguiçando. - Sinto que deveria estar bem mais animada.

—É normal se sentir esgotada após muito tempo no avião. - Bella riu de mim, ajudando uma Renesmee trôpega a se levantar.

—Eu lembro, quando fui para Forks com Charlie foi de classe econômica. - fingi estremecer, as fazendo rir.

Fomos a alguns lugares maravilhosos. Sinceramente eu estava encantada, tirava foto de tudo e mandava para Seth e Emma.

—Porra. - xinguei baixinho ao ler a mensagem do meu noivo. Levantei o olhar para checar e sim, Jackson havia saído na foto. Uma loja que ficava perto de uma linda praça, e ele estava sentado no banco.

Como se lesse meus pensamentos, ele me ouviu e virou-se em minha direção. Me olhou com expectativa.

Você não tem sorte, falou Nessie ao tocar minha mão, me puxando para dentro da loja.

—Não, não tenho. - suspirei, colocando o celular no modo silencioso e o enfiando no bolso. No hotel eu lidaria com Seth.

Respirei fundo para tentar tirar a tensão de minha mente, e fui ver as bolsas. Eram infinitas opções, cada uma mais linda – e cara – que a outra. A cidade toda parecia uma inspiração para a alma, e eu não fiquei surpresa ao que Alice acertou em cheio em nos trazer justo para cá antes do casamento. Eu voltaria nas nuvens e realizaria mais outro sonho de casar com o amor da minha vida.

—Decidiu o que quer? – minha amiga perguntou, e eu rapidamente tirei a atenção da magnífica bolsa transversal a minha frente.

—Ah, tudo e nada. – ri nervosa. – Essa loja é simplesmente absurda de cara. Estou acompanhando os ricos, entretanto não sou uma.

Ela revirou os olhos, rindo, e analisou as bolsas a minha frente.

—Essa é muito linda. – ela pegou uma e experimentou.

—Realmente. – concordei, lamentando ser tão cara.

—Decidiram o que querem? – Esme veio até nós com duas bolsas magníficas em suas mãos.

Olhei para Nessie, esperando-a responder.

—Sim, Esme. – ela sorriu, indo de encontro a sua mãe.

Elas pagaram e voltamos para a rua. Meu coração disparado com a mera possibilidade de ter Jackson à vista. Eu não sentia atração por ele já faziam muitos anos, desde que fui para o orfanato, principalmente desde que encontrei Seth. Meu nervosismo se devia ao fato de tudo o que ocorreu entre nós dois, e eu estar a muitas milhas de distância do meu futuro marido, que não gosta nem um pouco de Jack.

Já expliquei para Seth que Jackson me respeitava, inclusive nunca passou dos limites quando aconteceu a farsa do namoro. Nunca ultrapassou nenhum limite – apesar de já ter demonstrado que queria mais do que beijos – e sempre foi carinhoso. Meu noivo não gostou de admitir que não havia motivos para ciúme. Apesar do meu amigo ter desaparecido por um tempo, Seth pelo visto ainda o odeia. Pelo mero fato de ser amigo do vampiro estúpido que fez tudo de ruim acontecer entre nós dois, e não ter desconfiado de nada para impedir.

As trinte e sete mensagens representavam o que meu amor sentia. Medo, desespero, angústia por eu estar perto do meu amigo vampiro enquanto ele está tão longe.

Suspirei, lendo cada uma delas. Nenhuma era direcionada a mim. Clearwater só estava checando se eu estava bem, e se Jackson havia chegado perto de mim, ou tentado alguma coisa. E porque eu parei de responde-lo.

—Não gostei dessa. – Nessie esticou a bolsa transversal para mim, sorrindo amarelo. A segurei, hesitante.

—Você disse que é muito linda. – estreitei os olhos.

—Mudei de ideia. – dei de ombros e virou as costas para mim para mexer no resto das compras, me deixando desconfiada de sua atitude.

Respirando fundo, peguei meu celular e meus euros que Alice convertera para mim.

—Vou até a lanchonete. – avisei elas.

Balançaram a cabeça, entendendo o motivo.

No caminho até lá em baixo, eu não sabia o que dizer para Seth. Dei vácuo em suas mensagens duas vezes, e eu sentia o celular vibrar em meu bolso com a chegada de mais mensagens.

Sentei no mais afastado banco da lanchonete, e pedi o lanche mais barato – que não era realmente barato.

Disquei seu número e apertei no ícone verde. Mal terminou de tocar a primeira vez.

—Lavine!

Sua voz não era brava, ou irritada. E sim aliviada.

—Oi, amor, que saudades de você. – falei sincera. – Aqui é tudo muito lindo, e eu queria compartilhar cada momento contigo.

—Pelo visto está compartilhando com outra pessoa...

Deixei o ar sair dos meus pulmões com pesar.

—Sim, Seth. Estou compartilhando com Renesmee, Esme, Bella, Alice e Rosalie. Foi com elas que viajei.

—Sim, mas...

—Mas tive a extrema coincidência de Jackson estar em Paris justo quando estou acabando de chegar, sei disso.

—Acabando de chegar? Você o encontrou quando?

Ele soava urgente. Eu sabia que era sua superproteção comigo que estava falando, e não algo ciumento ou possessivo.

—O encontrei no aeroporto antes.

—E o que ele disse? – quase me atropelou.

—Nada demais. – respondi rápido demais. – Nada que importe. Olhe, não quero ter esse tipo de conversa por celular.

Nesse momento o garçom estava chegando com o meu lanche e suco, e eu agradeci.

—Só queria dizer que cheguei bem, e que queria você comigo. Me perdoa por ter te enviado uma foto de Jackson, sabe que eu jamais faria isso.

—Sei disso, amor. Só fiquei um pouco desesperado porque você demorou a me responder.

—Me desculpe. – pedi novamente, mais sincera que antes. – Estava numa loja com as meninas. Agora estou prestes a devorar um lanche que custa um almoço para cinco pessoas num restaurante normal.

Me deliciei com sua gargalhada.

—Que bom que está se divertindo. Mal posso esperar para te ter nos meus braços assim que possível.

—Também mal vejo a hora do nosso casamento. – suspirei, me sentindo novamente nas nuvens.

—Eu estava pensando em um pouco depois disso, na verdade.

Sentindo o lanche errar em minha garganta, engasguei levemente.

—Emma chegou, vou preparar nossa comida. Te amo.

E a linha caiu.

Junto dela, meu queixo.