Here without you escrita por Luna Lovegood


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Hey! Sim sou eu de novo, com mais uma one :)

Essa daqui é para atender ao pedido de algumas leitoras do twitter a Bea, a Cynthia, a Patty e a Natália (desculpe se esqueci alguém) que queriam uma oneshot que passasse após o 5x23. Essa one é para vocês!

Bem, eu dei a minha visão de como eu gostaria que a história seguisse depois do último episódio (certeza absoluta que não vai ser assim) mas eu espero que gostem!

Ahh eu me inspirei na música Here without you do 3 Doors Down, então vale muito a pena ler escutando.

ps.: Tem spoilers da série ;)
ps.(2) Me atrevi a escrever algo fora do universo alternativo:O ! Eu também não acredito nisso!



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A hundred days have made me older

Since the last time that I saw your pretty face

A thousand lies have made me colder

And I don't think I can look at this the same

But all the miles that separate

They disappear now when I'm dreaming of your face

 

I'm here without you, baby

But you're still on my lonely mind

I think about you, baby

And I dream about you all the time

I'm here without you, baby

But you're still with me in my dreams

And tonight, it's only you and me

(Here without you - 3 Doors Down)

 

Oliver Queen

“Ela é tão linda.

Eu a observo feliz pela chance de vê-la novamente.

Eu sinto tanta falta de ver seu rosto durante todo o meu dia, mesmo quando estávamos separados eu ao menos tinha a certeza de que poderia vê-la no bunker, olhar para ela quando ela não estivesse notado, ou mesmo que estivesse, eu nunca fui bom em não olhar para ela. Como eu sentia falta dos nossos pequenos momentos, de perder-me nos olhos dela, de nossos toques que não tinham nada de acidentais. Parecia pouco na época, mas agora eu percebo que eu daria tudo para ter esse pouco de volta. E agora tudo o que me resta são sonhos. Quando estou sonhando com ela eu desejo ser capaz de parar o tempo, eu quero observá-la com calma e perceber todos os seus detalhes, gravá-los em uma memória permanente, e revisitá-la sempre que a saudade for demais.

Ela caminha para mais perto de mim, mas para a minha tristeza não perto o suficiente.

Nunca perto o suficiente.

Controlo a vontade de sinto de diminuir a distância, de envolvê-la em meus braços e acabar com a falta que sinto dela. De tocá-la, beijá-la e amá-la porque sei que no instante em que eu estiver perto demais a ilusão do meu sonho irá se desfazer.

Mas eu aceito isso, porque ainda assim é melhor do que o nada.

— Eu sinto sua falta, Felicity. - eu confesso, e ela me dá um sorriso triste como se dissesse que lamenta a distância entre nós - Já faz tanto tempo desde que você se foi, as pessoas querem que eu desista. Que eu apenas me lembre do que compartilhamos juntos, do que você mudou em mim, das coisas boas que você me deu e siga em frente com a minha vida... - eu digo, temendo que a Felicity do meu sonho concorde com eles. - Mas eu não sou capaz. Como posso seguir em frente com a minha vida, se você, Felicity, é a minha vida?

Ela suspira parecendo emocionada com o que eu digo e se move para mim, como se quisesse me envolver em seus braços e me acalentar também, mas ela para, triste por causa daquela barreira invisível que nos impede de nos tocarmos.

— Me desculpe por desaparecer. - ela diz por fim - Mas eu estou tão perto agora. Pode me sentir, Oliver? Pode sentir no seu coração que eu estou voltando para você? - ela pergunta, seu rosto iluminado por uma emoção que há muito tempo eu não sinto, pelo menos não tão forte, tão cheia de certezas.

É esperança.

Eu a deixo tomar conta de mim também, eu permito que ela me toque e me mude, me fazendo mais feliz com a mera ideia de ter a mulher que eu amo de volta aos meus braços.

— Eu sinto. - eu respondo, meu coração está disparando dentro do peito se sentindo ansioso para a dor ir embora, para que Felicity volte e o preencha com nada menos do que amor.

— Espere por mim. - ela pede e estica a mão, sinto o calor dos dedos dela quase tocando o meu rosto, mas então cedo demais, tudo desaparece, ela se vai, e aqui estou eu, ainda sem ela.”

Eu acordo me sentindo leve e esperançoso como eu nunca me atrevi a sentir antes, encaro o vazio ao lado da cama, e dessa vez ele não machuca tanto, eu sei que logo ela estará aqui para preenchê-lo. O pensamento me distrai e permito um sorriso se espalhar em meu rosto, enquanto eu imagino os lençóis amassados, o corpo quente e pequeno dela envolto dentro dos meus braços, seguros e protegidos de onde eu jamais a deixaria sair outra vez.

Meus sonhos com Felicity eram regulares, quase todas as noites eu a vejo, igualmente linda, sorrindo e dizendo que me ama, para eu não esquecê-la porque eu estou em cada pensamento dela, e ela nunca irá me esquecer. Eu tento tocá-la nos meus sonhos, eu tento desesperadamente encontrar uma forma de senti-la. Mas eu sempre acordo com aquela sensação de vazio dentro de mim, como se ela estivesse tão perto que eu apenas precisasse esticar a mão enlaça-la pela cintura puxando-a para mim, mas sempre que eu tento alcança-la, ela simplesmente escapa entre meus dedos.

Dessa vez é diferente. Eu acordo e me sinto preenchido. De esperanças. De amor. Da felicidade que apenas ela é capaz de me proporcionar.

Ela está voltado para mim, eu sinto isso.

***

Esperança é algo perigoso, porque você se permite acreditar, você cria expectativas, e quando nada acontece do modo que você espera, quando elas são esmagadas bem diante de você, o resultado pode ser desastroso. Esperança demais pode destruir você.

Ela me destruiu.

Sinto muito pela sua perda, senhor Queen.

A frase se repete na minha mente mesmo depois da ligação ter sido cortada, a voz era impessoal, quase mecânica. Ainda que a pessoa desconhecida dissesse que sentia muito, ela não sentia realmente nada. Como poderia, se nem ao menos a conhecia? Se não foi tocado pela luz que ela irradiava, se não riu todas as vezes em que ela se enrolava de um jeito adorável, ou teve o coração modificado pelo mais puro amor que somente ela era capaz de dar? Se não fazia ideia do vazio que havia na minha vida sem ela?

E como ele poderia falar sobre a minha perda? Eu não a havia perdido, nós perdemos coisas que esquecemos onde guardamos, ou quando não tomamos o devido cuidado e isso se perde no meio do caminho. Eu não a havia perdido, eu sempre cuidei dela, me preocupei com ela, eu jamais me esqueci do quanto ela era importante para mim.

Eu não a tinha perdido, ela havia sido arrancada de mim.

Havia uma grande diferença.

Eu passei os últimos seis meses me negando a sentir algo, porque sentir o luto seria aceitar que ela se foi e nunca mais voltaria.

Eu me agarrei a ideia de que ela estava bem, que havia sobrevivido. Todos os outros estavam bem, vivos, porque não ela? Eu fiquei tão aliviado ao descobrir que todos estavam bem, mas quando eu procurei por seu rosto entre eles, para que eu a pegasse no colo e a beijasse novamente, dessa vez um beijo descente, para comemorar que havíamos vencido mais essa batalha.

Mas ela não estava entre eles.

John apenas balançou a cabeça dizendo que lamentava.

Eu mandei equipes de buscas. Inferno! Eu mesmo revirei cada destroço do que restou daquela maldita ilha. Mas não havia encontrado nada. E mesmo assim eu mantive as esperanças durante todo esse tempo, porque eu sabia que ela faria exatamente assim, ela não desistiria de mim, não importa o quão improvável fosse.

Mas eu não consigo mais trancar meus sentimentos, a dor de não tê-la ao meu lado é demais para suportar e eu não posso mais fingir que não está lá. Então eu paro de lutar, eu me permito sentir tudo o que venho guardado e simplesmente desabo sob os meus pés.

Eu ainda permaneço com o celular na minha orelha me negando a aceitar o que eu escutei. Demora alguns minutos até que consigo sair da posição estática que estou, agarro o celular em torno minhas mãos sentindo a frustração me dominar, quando jogo o aparelho na parede a minha frente como se fosse uma bola de beisebol e o vejo com prazer cair ao chão e se espatifar.

Mas isso não é o suficiente.

Eu vou até a minha mesa eu jogo tudo o que há em cima dela no chão. Eu quebro as coisas, eu chuto e arruíno cada parte da minha sala na prefeitura, eu não me importo com o que as pessoas pensem, eu apenas preciso que tudo ao meu redor reflita a destruição que eu estou por dentro.

Por fim, quando não há mais nada a ser quebrado, eu me encosto contra a parede e deixo o meu corpo escorrer por ela caindo ao chão. Eu sinto as lágrimas quentes descendo, eu sinto o meu coração se quebrando em tantas partes que eu não sei se algum dia ele ficará inteiro outra vez. E eu fico ali, sentado, olhando para a parede oposta apenas pensando no quanto a vida era injusta.

Nós quase conseguimos.

Ela e eu.

Nós estávamos tão perto de ter tudo, eu conseguia sentir a sensação se aflorar no meu coração no dia em que ficamos presos no bunker. Depois daquele dia tudo mudou, ambos abaixamos a guarda, ambos paramos de esconder como nos sentimos, e no dia do meu aniversário ela simplesmente me dera o melhor presente: esperança.

Eu acreditei que poderíamos ter tudo.

Que eu faria tudo certo dessa vez, sem mais mentiras, sem segredos, apenas nós dois e todo o futuro que nos esperava. O futuro que eu queria estava logo ali, na minha frente, ao alcance da mão.

Mas a vida é traiçoeira, assim como Chase tinha sido.

Me tiraram ela.

E sem ela, sem o amor dela, como eu poderia ser o homem que ela sempre acreditou que eu era capaz de ser? Ela sempre teve fé em mim, via além, mas a diferença é que sem ela, qual era o propósito de ser alguém melhor?

— Ollie? Você está... - Minha irmã abriu a porta parando estática observando a bagunça na sala e a bagunça que eu sou, sentado ao chão, com lágrimas quentes escorrendo pela face. Ela sabia que não deveria me perguntar se eu estava bem, nada nunca mais ficaria bem depois daquele dia. -... O que aconteceu aqui?

— Seis meses, Thea. - consegui dizer com a voz embargada, ela suspirou dando-me um olhar solidário de entendimento, ela veio até mim sentando-se ao meu lado - Eles disseram que não irão mais procurar, que é impossível ela ter sobrevivido. Me deram a porra de um sinto muito. - falei amargo - Um sinto muito, não vai trazer a mulher que eu amo de volta para a minha vida, um sinto muito não vai preencher o vazio que a ausência dela deixou na minha vida, no meu coração.

— Não faça isso a si mesmo, Ollie. -  Thea pediu - Felicity não... - apenas ouvir o nome dela machucava.

— Não se atreva a dizer que ela não iria gostar de me ver assim - revidei irritado afastando-me do seu toque, eu venho evitando conversar sobre ela porque eu sabia que esse discurso viria mais cedo ou mais tarde. Mas eu imaginei que seria Diggle e não Thea a usá-lo. - Ela não está aqui, e ela não vai estar, ela nunca vai estar. - gritei, sentindo o quanto amargava aquelas palavras.

— Eu sei. - ela é compreensiva - Mas você sabe que é verdade, ela nunca se perdoaria se soubesse que a... a morte dela fez isso com você. - um silêncio mortal se instaura assim que Thea fala a última frase.

Morte.

Finalmente alguém teve a coragem de dizer a palavra na minha cara. E ela me atinge com um tiro certeiro no coração, é difícil respirar, eu puxo o ar, mas ele não encontra o caminho até os pulmões. Eu quase a perdi tantas outras vezes... Quando Vertigo a sequestrou, e depois Slade e Damian, o último quase conseguindo tirá-la de mim para sempre, mas de alguma forma eu sempre consegui chegar a tempo.

Quando ela se juntou a minha cruzada há cinco anos, eu disse que a protegeria, dia após dia eu venho honrando a minha palavra.

Não dessa vez.

Dessa vez eu falhara.

Eu balanço a minha cabeça e me ergo do chão sob o olhar preocupado da minha irmã. Seco os meus olhos, respiro fundo e puxo toda aquela dor para dentro de mim outra vez. Ela não está morta, me nego a aceitar aquilo como verdade.

— Felicity não está morta. - eu falo em alto e bom tom e meu coração concorda efusivamente, como se ele soubesse que ainda havia uma esperança. Thea me lança um olhar condescendente, eu sei o que ela pensa. Que eu estou fugindo, evitando a verdade e que em breve eu vou surtar novamente, e talvez ela esteja certa. Talvez eu seja uma bomba relógio prestes a explodir, talvez eu esteja protelando a porra toda, e no próximo eu sinto muito pela sua perda, eu surte e destrua tudo outra vez.

— Você não pode ter certeza disso, já se passaram seis meses. - Porque está fazendo isso comigo, Thea? Porque quer me foçar a aceitar?

Thea estava certa, eu não podia ter certeza que ela estava viva.

Mas havia os sonhos.

Como eu poderia explicar a Thea e fazê-la entender? Todas as noites eu a via, naqueles sonhos vívidos. Quando eu sonhava com ela, eu sentia o amor dela, puro e vivo chamando por mim. Eu sentia que ela estava viva, em algum lugar, tentando voltar para mim ao mesmo tempo em esperava que eu a encontrasse.

Eu não podia deixá-la apenas.

— Eu apenas odeio ver você assim. - ela se ergue do chão também e me olha, seus olhos claros mostrando-me o quanto me ver com dor a machucava. - Não é saudável continuar assim, Ollie. Você deveria conversar com alguém... - nego com a cabeça, conversar não alivia a dor, e honestamente eu nem sei se quero alivia-la, a dor me lembra dela, é tudo o que me restou dela.

— Eu não quero falar sobre isso, Speedy. - tento ser suave, mas minha irmã, teimosa como sempre, ainda insiste.

— Lembra-se de quando eu disse que você precisava deixar alguém entrar? - ela coloca a mão sobre o meu coração me fazendo relembrar de algo que aconteceu há mais de cinco anos. - Não pode continuar a guardar esse peso para si. Você precisa deixar alguém entrar, Ollie.

— Eu deixei alguém entrar, Thea, deixei que ela fizesse daqui o lugar dela. E ela ainda está aqui. - respondo com urgência colocando a minha mão por cima da dela - Eu estou lutando para que ela não se vá. Não consegue me entender? - seu olhar para mim é de pena, por isso o evito - Eu vou promover uma nova busca, procurar em outros lugares - eu desconverso enquanto me afasto e Thea suspira, sabendo que eu sou um caso perdido - Ela está viva, ela tem que estar viva. E talvez ela esteja em algum lugar, precisando da nossa ajuda.

— Tudo bem. - Thea desiste, e eu forço um sorriso para ela. Sorrir parece tão estranho, os músculos do meu rosto demoram ao realizar o ato, quase como se tivessem se esquecido de como era.

Eu não posso culpá-los, não há muitos motivos para sorrir desde que ela desaparecera.

— Eu sinto muito, eu não posso ir para o bunker hoje, preciso resolver isso. Diga ao John e aos outros para cuidarem de tudo. - eu sei que eu tenho ido bem menos do que eu deveria, mas a cidade está tranquila e sei que eles conseguem lidar. Sou eu que não consigo, é estranho escutar a voz de Curtis no comunicador, as vezes na adrenalina do momento eu esqueço de tudo e apenas digo o nome dela, chamo por ela, como se ela ainda estivesse lá atrás do teclado do computador pronta para salvar a cidade. E quando escuto um silêncio constrangedor, seguido da voz de Curtis eu me lembro de que ela não está mais ali. É uma merda. - Quando Felicity estiver de volta tudo voltará ao normal. - eu digo forçando o nome dela na minha garganta, ignorando a pontada de dor que ele traz. Tento sorrir para Thea novamente, antes de lhe dar as costas e sair.

Dessa vez não consigo nem mesmo fingir.

***

Eu jogo meu paletó sobre o sofá de couro preto, e observo com pesar o ambiente familiar. Eu tenho passado os últimos meses no apartamento dela.

Eu tenho dormido na cama dela também. Sim, eu sou patético, mas é onde o cheiro dela está mais forte, eu abraço o travesseiro dela e as vezes finjo que é ela. Eu não deveria estar aqui, isso é quase masoquista, mas é onde eu tenho tantas lembranças dela, de nós, do que fomos e do que queríamos ser juntos.

Do que seremos.

Forço aquele pensamento.

Viver aqui era um modo de sentir a presença de Felicity, me rodear com as coisas dela, sentir o cheiro dela todas as noites antes de dormir.  E também era um bom lugar para ficar com meu filho, que passava todos os finais de semana comigo. Eu não poderia passar o tempo todo com William no bunker, por mais que ele gostasse de ir lá. A lembrança dele ansioso e curioso com todas as coisas do Arqueiro, querendo aprender a usar o arco e flecha, era uma das poucas coisas que ainda me fazia sorrir, mas até mesmo essa felicidade vinha com um gosto agridoce. Eu queria dividir isso com ela, eu podia fechar meus olhos e imaginar Felicity o ensinando como hackear as câmeras de segurança de qualquer lugar, e logo em seguida dando à ele um discurso de que aquilo era ilegal e que ela só fazia para ajudar a salvar a cidade.

Eu tinha certeza que ele iria adorá-la.

Mas Felicity não estava aqui.

William nem teve a chance de conhecê-la.

Por isso eu o trazia para o loft que parecia um lugar melhor, me passava uma sensação mais normal e familiar. Talvez fosse porque estivesse cheio de Felicity e ela fosse a mulher com quem eu pretendia construir uma família.

Jogo o meu corpo cansado no sofá e revivo um pouco daquele dia. Eu consegui uma nova equipe de busca, e eles começariam na segunda. Para meu desespero ainda era sexta feira, mas eu precisava me manter calmo. Amanhã William viria ficar comigo e eu não ia querer que meu filho me visse num estado miserável.

Penso no que devo fazer essa noite. Beber um pouco? Talvez me enrolar naquele cobertor verde cheio de tantas lembranças e tentar adormecer? Parece promissor. Eu quero dormir, quero sonhar com ela outra vez e perguntar onde ela está e porque ainda não voltou.

Fecho meus olhos e respiro pausadamente tentando relaxar, deixar a tensão ir embora e ser envolvido pelos sonhos, onde é o único lugar que a vejo e me sinto menos quebrado. Escuto um clique na porta e abro meus olhos, mas não me mexo, sequer me viro para saber quem é.

Thea tentara mais cedo. Dessa vez seria John, ele era mais incisivo, traria uma bebida e tentaria me fazer aceitar. Nós conversaríamos a noite toda sobre ela, nos lembraríamos de momentos únicos com ela, e com a ajuda da bebida anestesiando, não iria doer tanto falar ou ouvir o nome dela. E então ele iria falar daquele dia, de como ela foi uma heroína salvando a todos no último segundo, como ele se culpava e lamentava não ter conseguido alcançá-la quando o avião caiu no mar e as ondas a puxaram.

Ela salvara todo mundo, mas ninguém tinha sido capaz de salvá-la.

Nós faríamos um brinde à ela e diríamos que jamais a esqueceríamos. O que não era uma mentira. Como esquecer a pessoa que mudou tanto dentro de você? Que te resgatou das trevas e te trouxe para luz? Como esquecer uma vez que ela ainda estava no meu coração  e ali permaneceria até meu último suspiro?

No final, toda a conversa com John seria sem propósito, porque não mudaria a forma que eu me sinto.

— Melhor não conversarmos hoje, John. - dispenso ainda sem olhá-lo, estava me sentindo cansado demais para lidar com isso hoje.

— Eu não sei se fico feliz ou ofendida por achar que eu sou John, eu quero dizer ele é pelo menos meio metro mais alto que eu. - eu pisco ainda incrédulo de que o que estou ouvindo é real. É a voz dela. Clara e perfeita exatamente como eu me lembrava.

Eu devo ter enlouquecido.

Me ergo do sofá e olho para ela.

Sou atingido pela visão dela, meu coração bate desesperadamente dentro do peito em reconhecimento da dona dele, sinto a umidade se acumular nos meus olhos enquanto a emoção me domina. Estou estático, incapaz de falar ou me mover, tenho medo que se eu fizer isso e ela vá simplesmente desaparecer.

— Eu estou sonhando? - pergunto a mim mesmo balançando a cabeça e apertado os olhos, eu devo ter adormecido no sofá. - É isso, eu vou acordar a qualquer momento, e você não vai estar aqui. - eu reclamo - Apenas a dor.

— Eu estou aqui, Oliver. - ela me diz com um sorriso triste, eu olho em seus olhos tão azuis e emocionados. Há uma urgência nela também, seus seios sobem e dessem como se respirar fosse difícil para ela, eu quase posso ouvir o coração dela batendo num ritmo desesperado e intenso, quase como se ela estivesse correndo para chegar até mim. E quando as lágrimas começam a cair pelo rosto dela, eu vejo a dor nele, eu vejo o quanto isso foi difícil para ela, o quanto ela também sofreu porque estivemos separados, e eu sei que é ela, é a minha garota. Ela encontrou seu caminho de volta para mim.

Eu sinto que é ela.

Que é real.

— Como? - pergunto ainda estou incrédulo, coisas boas normalmente não acontecem na minha vida. E por mais que meu coração esteja no mais puro estado de êxtase, eu tenho medo de me aproximar, de tentar envolvê-la em meus braços e ela simplesmente desaparecer mais uma vez.

— Quer mesmo saber como? É uma longa história e vou levar horas para contar. - Eu sei que ela irá me contar um dia, só não agora, esse é o jeito dela dizer que temos outras prioridades.

— Não, tem razão isso pode esperar. - dou passos desesperados até ela rompendo a distância entre nós, eu paro na frente dela observando seus detalhes que eu temi que o tempo me fizesse esquecer. Eu me intoxico com o seu cheiro, com o calor que emana do corpo dela tão próximo ao meu, com o gosto da respiração dela. E é apenas demais, depois de seis meses sem ela eu sou como um viciado prestes a sofrer uma overdose de Felicity Smoak. - Eu só quero... - eu não termino de dizer, porque eu não sei como completar a frase sem assustá-la, porque diferente do que eu disse antes, eu não quero ir devagar, porque dela eu quero simplesmente tudo.

— Eu sei. Eu também. - ela dá mais um passo diminuindo completamente a distância entre nós, ergue o seu rosto para mim e vejo que seus olhos estão cheios de amor, amor que esse que tem esperado por tempo demais.

Eu coloco ambas as mãos ao redor da cintura dela, puxando-a para mim, acomodando seu corpo junto ao meu que se regozija por poder sentir aquele contato novamente.  Abaixo meu rosto para o dela, eu fecho os meus olhos e ela os dela, numa sincronia perfeita. Eu consigo sentir o quanto nós dois estamos ansiando por esse beijo, mas eu quero fazer direito, eu quero aproveitar, eu quero me fartar dela, mas eu quero apreciar cada pequeno momento. Deslizo a ponta do meu nariz sobre o dela e a escuto emitir um pequeno suspiro, mas quando estou pronto para provar de seus lábios que tanto me fizeram falta, ela se afasta colocando uma mão entre nós, sobre o meu peito onde meu coração bate apenas por ela.

— Oliver, espere! - ela pede num suspiro frustrado, Felicity não percebe o quanto eu já esperei? O quanto nós dois esperamos?

— O que há de errado? - pergunto, tentando entender o porquê daquela súbita distância.

— Você deveria me testar. - franzo o cenho sem entender o que ela quer dizer com isso - Eu poderia ser uma doppelganger do mal de sabe se lá qual terra, ou um meta com poderes de metamorfose ou ainda... - um amplo sorriso se espalha por meu rosto sem que eu consiga evitar. Eu senti falta de vê-la balbuciar bobagens, é tão adorável, é tão Felicity. Mas as preocupações dela são tão sem propósito que eu apenas a interrompo colando meus lábios nos dela.

Ela exala um suspiro de satisfação contra a minha boca, e eu tomo tempo apreciando apenas a sensação boa que era ter os lábios dela perfeitamente moldados ao meu. Eu a aperto mais firme, garantindo que seu corpo não vai a nenhum lugar longe do meu, enquanto a minha outra mão se acomoda ao redor de seu rosto, o polegar afagando a bochecha enquanto os outros dedos se afundam em seus cabelos macios. Felicity suspira outra vez derretendo-se em meus braços, e eu aproveito para aprofundar o beijo.

Então aquele beijo doce, marcado pela saudade, aos poucos vai tomando outra forma. Felicity pressiona seu corpo contra o meu, e eu correspondo com mais ferocidade, movendo a língua sobre a dela sentindo o seu gosto que tanto me fez falta, sugando o lábio inferior, raspando os dentes sobre a carne macia. Eu simplesmente tomo tudo dela naquele único beijo.

Há tantas coisas que dizemos nesse beijo.

Tantos sentimentos que por tanto tempo negamos, e quando finalmente os aceitamos, quando estávamos prontos para vivê-los, tivemos que guardá-los novamente e esperar por uma nova chance.

É por isso que ainda há aquela parte pessimista de mim, que teme que a qualquer momento algo dê errado. É só quando eu sinto a palma da mão dela sobre o meu coração, seu toque singelo acalmando um pouco da fúria, me lembrando de que ela está aqui, que o pensamento vai embora. É sempre assim. É ela a minha luz no meio das trevas, quem sempre me faz acredita que eu mereço coisas boas.

Eu termino o beijo, me afastando lentamente de seus lábios, mas sem romper o abraço. Eu termino porque sei que haverá outros, infinitos beijos, quantos nós dois quisermos, nós temos tempo para isso. E agora eu quero apenas matar a saudade de olhar para o rosto da mulher que eu amo e não vi por longos seis meses.

Felicity abre os olhos que se perdem nos meus, eles parecem felizes por voltarem para casa.

— Eu sei que é você. - eu digo, acariciando o rosto dela com carinho e respondendo a dúvida que ela tinha, e que eu interrompi quando a beijei.

— Como pode ter tanta certeza? - ela pergunta e eu sorrio docemente para ela porque sei qual é a resposta perfeita.

— Porque nós encontramos a nós mesmos um no outro. - ela sorri assentindo, uma lágrima escorre pelo rosto dela e eu a seco com a ponta do dedo. Eu sei que é uma lágrima emocionada, porque eu me sinto exatamente como ela. Imensamente emocionado, absurdamente feliz. - Eu só me sinto assim com você, ainda que houvesse outro rosto igual ao seu, ele não poderia me enganar, porque eu me apaixonei pelo seu coração, e ele é único - explico - meu único medo é de que isto seja apenas um sonho.

Felicity me dá um sorriso compreensivo, como se entendesse o meu medo.

— Se fosse um sonho eu não poderia fazer isso. - ela enlaça meu pescoço com suas mãos pequenas puxando-me para ela e me beija novamente.

Não é um sonho.

Eu sei que não é porque quando eu a beijo eu sinto as partes quebradas de mim se juntando, eu sinto que o meu coração está inteiro outra vez, a dor vai embora dando lugar a apenas bons sentimentos.

Tudo voltará ao seu devido lugar.

Assim como Felicity voltou ao dela.

Que é aqui, comigo.


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Notas finais do capítulo

E aí gostaram?

Please, deixem um comentário falando com essa autora aqui o que acharam da one, e eu também gostaria de saber o que vocês esperam da série depois daquele final literalmente bombástico! beijos e até a próxima!



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