Do Outro Lado do Véu escrita por Miahwe


Capítulo 5
Rosa


Notas iniciais do capítulo

Oe ^^ Obrigada a todas que favoritaram, que comentaram e que estão acompanhando essa nova aventura SZ.
A história está no spirit também.
E antes que eu me esqueça, desculpem pelo atraso.
^^
Boa leitura.



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            Estavam todos na casa da vovó Zeniba.

            Tinham ido para tomar chá e comer bolinhos doces, queijos, biscoitos crocantes e macios. Haku a tinha levado voando e fora tudo muito divertido, o vendo batendo forte no rosto de Chihiro que mal se arriscava a abrir os olhos, o sentimento de estar flutuando como os pássaros. Era incrível.

           Quando pousaram em frente à casa da bruxa, Haku se materializando a forma humana, caminharam até a porta onde o Kaonashi* os esperavam.

            Entraram juntos depois de cumprimentarem sutilmente o deus sem personalidade. Zeniba estava no tear enticando os fios para um novo tecido, aparentemente de cor vinho e azul marinho.

            —Sejam bem-vindos — ela falou levantando-se e ajeitando o vestido azul. — Chihiro, quanto tempo, que bom que veio. Dragão, vejo que está bem melhor livre da minha irmã — Zeniba comentou.

            —Oe vovó! Como vai? — Chihiro falou a abraçando forte.

            —Estou bem, menina, obrigada. Vamos, vamos sentar, o chá já deve estar pronto.

                                                           ***

Acordar logo pela manhã era trabalhoso e, logo aquela manhã de terça-feira estava sendo mais complicado. Abria os olhos, olhava o horário na tela do telefone e então os fechava.

            Mais dez minutos.

            Mais cinco minutos.

            Havia ido dormir demasiadamente tarde pesquisando sobre a mitologia do país, não que tivesse achado muita coisa da qual não ouvira falar. Era difícil acreditar que tinha passado parte da noite conversando com um Ayakashi. Riu, apenas pela loucura que havia passado. Se voltasse a ver o rapaz iria pedir para que o mesmo, pelo menos, provasse o que realmente dizia que era.

            Suspirou sonolenta e pegou o telefone, desbloqueando a tela. Arregalou os olhos e pulou da cama, tinha apenas vinte minutos para chegar na escola. Não devia ter adicionado tantos minutos a mais de soneca. Bateu a porta do banheiro e banhou-se o mais rápido possível, lavando os cabelos castanhos.

            Minha franja está tão comprida..., pensou enquanto media a mesma de frente para o espelho, estava acima das pálpebras. Mordeu a bochecha, depois pensaria naquilo. Arrumou-se às pressas, pegou o sanduíche em cima da mesa e saiu de casa.

                                               ***

            — Haku? O que está fazendo aqui? — O Kamaji perguntou quando o rapaz saiu da casa de caldeiras.

            - Vim conversar, Kamaji.

            O velho o encarou de cima do balcão e soltou uma risada. — Você? Conversar?

            —Não vejo a graça.

            Depois de se recompor o escravo das caldeiras indagou: — Sobre qual assunto?

            — Chihiro.

            — Ah, quanto tempo que não escuto este nome, chega a ser estranho em meus ouvidos — comentou enquanto moía algumas ervas no pilão. —Mas conte-me, o que aconteceu?

            —Lembra que um tempo depois que ela se foi, a Rin disse: “Que pena, ela gostava tanto de você. Amor é um sentimento bem bonito, não é Haku?”, foi algo assim que ela disse, e foi estranho.

            — O que?

            — Amor, eu acho que senti isso, e... – ele engoliu em seco sem saber porque estava desabafando logo com aquele velho mal humorado. – Bem, eu voltei a falar com ela, Kamaji, pessoalmente.

            —Como?

            —Um amuleto que peguei com a Yubaba, mas depois te conto essa parte da história.

            —Eu tenho que trabalhar rapaz, seja direto – o Kamaji falou batendo o martelo na lateral em um ferro que tinha no balcão. – Bora, bora, seus nanicos! Querem virar fuligem de novo? Acelerem! Vamos, adiantem.

            —Ela estava sendo perseguida por um youkai e eu a salvei, quando ela acordou, ela mal olhava-me nos olhos e aquilo foi tão ruim, sabe? Doeu, era pior o fato dela nem se lembrar de mim, como se quisesse me afastar e aquilo doeu por algum motivo. Mas ai quando ela olhou para mim, senti vontade de sorrir...

            — Eu escutei isso mesmo? — Era a voz de Rin atrás de si, Kohakunushi sobressaltou-se com o susto e quase pisou nos susuwatari que levavam as pedras de carvão para o fogo.  Quis se jogar na fornalha ao notar que a garota tinha escutado o que tinha dito e soube imediatamente o porquê de estar desabafando com o Kamaji. Ele, diferente dela, não se importava, ele iria escutar e esquecer ou ignorá-lo, e no fim não iria contar a ninguém. No entanto, Rin... Haku não sabia como lidar com ela. —Eu sempre soube que faziam um bom casal, ah sim, ela era totalmente apaixonada por você. Sempre te defendia quando eu falava mal de você, aquela bobinha... Chihiro... faz muito tempo que não escuto falar dela.

            —Você falava mal de mim?

            —Claro, você era um porre quando trabalhava aqui. Mas aí, me conte, você falou com ela mesmo? Porque?

            —Já escutou que o Véu está caindo?

            Rin assentiu, sentando-se no chão e atirando a comida colorida para os susuwatari.

            —Eu estou em busca da joia, e a Chihiro por possuir essência mágica é a única que pode me ajudar a selar o Véu novamente... E tem alguém a perseguindo.

            — Sério?

            — Sim, Zeniba acha que a querem tirar do caminho, pois sabem que ela é uma das únicas pessoas no Mundo Mundano que podem me ajudar.

            —Nossa, está bem complicado – Rin comentou. – Ela realmente não lembra de nada?

            Kohaku assentiu.

            —Rin, cadê meu almoço? – o Kamaji falou interrompendo a conversa deles.

            — Ah, está aqui – Rin falou caminhando até o homem de vários braços. —Falando na Chihiro, lembra do dia que ela pensou ter perdido o elástico de cabelo que Zeniba tinha dado a ela? E passou a tarde toda se culpando e fuçando em todo o lugar? Quando na verdade ela havia lhe dado porque ia entrar naquele lago e não queria molhar? Foi tão desesperador na hora, mas depois quando você chegou dizendo: “está comigo”, como se fosse simples e óbvio, ela pulou para te abraçar e pegar o elástico...

            —Lembro que ela chegou reclamando que você deu um cocão na cabeça dela e que estava doendo – o Kamaji falou com o bigode sujo de arroz.

            —Ela bem que mereceu, me fez passar a tarde toda em busca daquele elástico!

            —Você sempre foi um pouco dura com ela – o Kamaji comentou.

            —Eu não.

            Kohakunushi lembrava-se bem daquele dia, fora na época que ele conseguia trazê-la para o Mundo Espiritual por meio dos sonhos antes dela o bloquear completamente.

            —Lembrei do dia que ela estava te ajudando a colher umas flores, Rin, e você disse que ela era meio lerda, porque não conseguia diferenciar as peónias – Haku comentou com os braços cruzados.

            —Desse dia eu não lembro – a moça falou sentando-se apoiada na estante de gavetas do Kamaji.

            — Rin sempre foi muito grossa, não é nenhuma novidade – o velho falou.

            —Oras! Limpa essa moita que você chama de bigode antes de me criticar.

            —Nem pra se defender você fica gentil — Kamaji falou limpando o bigode.

            Kohakunushi riu e os dois olharam para ele, curiosos pela reação não muito típica.

                                                           ***

            O sinal tocou indicando o intervalo e Chihiro se espreguiçou. Mugi ao seu lado pegava o lanche na bolsa enquanto a maioria dos estudantes saia da sala. Logo, logo Misaki aparecia ali para falar com eles, como fazia todo dia e não demorou para que os cabelos longos e negros aparecessem pela porta junto a um sorriso rápido.

            —Pensei que ia morrer na aula de física – comentou puxando uma cadeira e sentando-se ao lado os amigos.

            — Vocês querem um pouco? – Mugi falou oferecendo os onigiris.

            —Pensei que não ia oferecer – Misaki falou e pegou um deles. Chihiro também, tinha esquecido o lanche quando saiu de casa. – Alguém tem novidades?

            —Nada a comentar – Mugi falou mastigando os onigiris.

            Chihiro perguntou-se se contava o que aconteceu ou não. Notou que os dois à estavam encarando e desviou o olhar sem saber o que fazer, como iria explicar o que tinha visto? Ou tudo que acontecera?

            —Eu... – começou incerta, pensando em mudar de ideia, mas ao mesmo tempo se sentindo culpada por esconder a verdade a eles. – Eu desmaiei ontem enquanto passeava pelo Grande Parque — Bem, era mais verdade do que mentira.

            —Que? Sério? – Mugi falou passando a costa da mão na boca para limpá-la.

            —Sim, adivinha quem me ajudou?

            Misaki soltou um gritinho de aflição e colocou as mãos nos ombros de Chihiro a chocalhando para frente e para trás. —Não me diga que... Sério? Sério? Really? É quem eu estou pensando?

            Enquanto isso Mugi as encarava sem entender a loucura da namorada. —Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

            —Para, Misaki, - Chihiro falou – e sim, foi ele mesmo.

            — Ele quem? – Mugi perguntou impaciente.

            — Kohakunushi, seu idiota, não é óbvio? – Misaki falou e virou-se pra Chihiro. – Pronunciei o nome certo?

            —Pronunciou. Então como eu estava dizendo...

            —Como é possível ele ter te encontrado e que horas aconteceu isso? – Mugi perguntou a interrompendo.

            —Estava de noite quando eu acordei – respondeu.

            —Que perigoso – Misaki falou com um tom malicioso.

            —Ele me deixou em casa depois.

            —Que fofo! – Misaki falou dando um grito e balançando Chihiro como uma boneca de pano. – Meu Deus!

            — Você precisa ter mais cuidado, Chihiro – Mugi falou e olhou para a namorada com um olhar assustado pelas ações da mesma.

            —Certeza que você não conhecia ele? – a amiga perguntou se acalmando, mas mantendo o sorriso no rosto.

            — Antes eu tinha, mas agora não tenho mais certeza de nada.

            — Como assim? – o garoto perguntou.

            —Nem eu sei, Mugi. Mas depois que ele me deixou em casa, minha mãe veio ralhar comigo e eu disse que tinha ido estudar química com um amigo e tinha perdido o horário.

            —Não acredito – Misaki falou e riu junto a Mugi. —Ela engoliu?

            —Acho que não, porque quando ela fechou a porta eu vi que estava toda suja e com os joelhos ralados de quando eu desmaiei. Foi a mentira mais mal contada de todas.

            Os dois amigos continuaram rindo e Chihiro não demorou em cair na gargalhada também.

            No fim das aulas, Chihiro saia da escola após ter trocado de sapatos junto de Misaki e Mugi. Comentavam sobre o professor substituto de artes e música que era muito engraçado quando Misaki cutucou o braço de Chihiro e inclinou-se para sussurrar no ouvido da mesma: —Não olhe agora, mas acho que seu admirador secreto está lhe esperando.

            Chihiro sentiu a garganta ficar seca, e procurou com os olhos os cabelos escuros do rapaz.

            Sentia-se em pânico, por algum motivo sentimental não queria ser visto com ele próximo da escola. Tinha medo de começarem boatos sobre ela ou algo do tipo, quando ele disse que a veria hoje, não imaginou que seria logo na escola. Que droga...

            Quando o encontrou, viu que ele estava encostado nos portões da escola, em uma posição relaxada como se esperasse alguma coisa — ou alguém —, os braços cruzados em cima do peitoral e a cabeça baixa observando algo no chão.    

            Chihiro, claramente, não tinha outra opção senão falar com ele. Ao seu lado via Misaki sorrindo de forma estranha e Mugi pedindo para que ela fosse mais discreta. Eram um casal divertido de se ver.

            Kohakunushi levantou a cabeça e a encarou, sorriu e a garota mordeu os lábios para não erubescer, não exatamente pelo sorriso, mas por saber e ter plena consciência de que tinha pessoas a observando e o fato de estar sendo observava por aquele rapaz – que ninguém podia negar ser lindo – a deixava sem graça.

            —Oi — falou ao se aproximar.

            —Oi. Tudo bem?

            —Uhum... sim.

            —Prazer, sou Misaki Hisaishi —a amiga falou cumprimentando-o com a cabeça e Mugi a imitou: — Mugi Takashi.

            Chihiro observou os amigos, nada surpresa. —Prazer, Kohakunushi Nigihayami, são amigos da Chihiro?

            —Isso mesmo – Misaki falou.  — E você também, pelo visto.

            Mugi deu uma cotovelada em Misaki que o encarou como se não tivesse dito nada de errado.

            Então Chihiro lembrou-se de que tinha algumas perguntas para fazer para o suposto Ayakashi. Respirou fundo e disse: —Podem ir na frente, gente, eu vou conversar um pouco com ele.

            —Tudo bem – Mugi falou rapidamente e colocando um braço ao redor dos ombros da namorada a arrastou dali e Chihiro fez uma anotação mental de que tinha que agradece-lo depois, nem queria imaginar o que Misaki teria dito se tivessem ficado ali. Sorriu ao imaginar os possíveis comentários sem tato da amiga.

            —Vamos? – perguntou encarando o rapaz à sua frente. Ele assentiu começaram a caminhar para fora da escola, Chihiro reparou que algumas meninas cochichavam algo quando passaram e ela tinha um pequeno palpite sobre o que elas falavam, não gostou nem um pouco.

            —Por que estava me esperando?

            —Ia acompanha-la até em casa – ele falou de forma simples, como se fosse normal.

            —Para que? Eu posso ir sozinha...

            —Para você não ser atacada de novo, eu lhe falei, eu vou te proteger.

            —Eles podem aparece pelo dia?

            —Sim.

            Suspirou. Aquilo queria dizer que ela tinha um guarda-costas? Realmente parecia filme.

            —Posso fazer um pedido, Kohakunushi?

            —Pode.

            —Queria que me provasse que é um Ayakashi.

            Ele a encarou enquanto caminhavam, pensativo enquanto a analisava. – Nessa forma mundana meus poderes são diminuídos – ele falou e mexeu a mão em um movimento sutil como se tocasse nas cordas de uma arpa. No início a menina não entendeu muito bem o que ele tinha feito, mas quando o movimento se repetiu mais duas vezes e continuou de forma constante ela reparou que uma flor tinha desprendido da roseira que tinha ali na rua e vinha flutuando em direção deles. Arregalou os olhos sem acreditar que a rosa estava mesmo sendo controlada por ele. Algumas pessoa que passavam por ali se assustavam, tentavam pegar e apontavam para a flor. Haku saiu de perto de si e caminhou até a mesma, pegando-a e voltando para Chihiro que ainda não tinha decidido como reagir.

            —Para você — ele falou e a garota segurou a flor que emanava um cheiro adocicado e suave.

            —Obrigada —falou arrastado.

            —Vamos indo?

                                               ***

            Aquela semana passou bem rápido na opinião de Kohaku, as vezes sentia que ele era que estava comendo o próprio tempo fazendo tantas coisas ao mesmo tempo.

            Além de cuidar de Chihiro – não que achasse ruim – ele também estava investigando o paradeiro das joias.

            Chihiro tinha crescido tanto, na altura, mas principalmente na personalidade, estava ainda mais decidida do que quando tinha dez anos, a teimosia e insistência continuavam e Haku adorava isso. Como explicar? Ela estava tão diferente quanto igual. E o sorriso? Era tão bonito, ele se mesclava com o brilho mimoso dos olhos castanhos e faziam o coração do rapaz pulsar mais forte. Aquilo era amor, Rin tinha falado incessantemente para ele, mas Kohaku ainda não entendia muito bem como lidar com aquilo, antes ele simplesmente ignorava aquela sensação estranha de querer estar sempre perto de Chihiro, mas agora sentia-se tão bem e feliz por conseguir conversar com ela que parecia que o amor que tanto Rin tinha falado havia aumentado um tanto que as vezes chegava a doer e trazer a Haku imaginações junto da garota. Era estranho.

            —Fale baixo, senhor – escutou e endireitou-se no galho da árvore onde estava escondido, já na forma de ayakashi.  Depois de quase dois meses procurando por pistas, será mesmo? Tinha conseguido?

            —Quem poderia me escutar?

            —Outros youkais.

            —Besteira.

            Haku inclinou-se mais um pouco afim de ver quem estava falando e franziu o cenho ao ver um homem mundano conversando com, o que era de certeza, um youkai que possuía características mundanas apesar do rabo, das orelhas e dos bigodes de uma raposa. Ficou confuso com a cena.

            —Então descobriu se é mesmo verdade que tem uma garota no meu mundo que possua magia? – o mudando perguntou.

            O youkai assentiu e olhou para em direção a árvore onde Kohaku estava escondido, este que afastou-se da ponta do galho e se concentrou para esconder sua presença.

            —Sim, ela está sendo vigiada por um ayakashi, vai ser difícil captura-la.

            Haku arregalou os olhos e tentou se recuperar da descoberta.

            —Ele não deve estar sempre com ela.

            —Tem razão, darei o meu melhor na próxima vez.

            —Acho bom, se não queimarei seu nome e você estará preso comigo para sempre.

            Nome? Queimar? Preso?

            A situação e as palavras começaram a se encaixar na mente de Haku e ele não soube como reagir.

            —Essa não! Estamos sendo vigiados – escutou o youkai kitsune falar e notou que havia deixado de segurar a própria presença, o maldito youkai tinha-o sentido.

            —Onde? – falou o mundano.

            —Ali na árvore!

            Kohakunushi não pensou duas vezes, saltou da árvore usando a magia para flutuar e fugiu, mudando de forma durante o voou e sumindo dentro das nuvens do céu noturno.

            Consegui alguma uma pista. Finalmente.




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Notas finais do capítulo

*Kaonashi - sem rosto.
iai? Gostaram?



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