Superstition escrita por PW, VinnieCamargo, Jamie PineTree


Capítulo 6
Capítulo 05: Randy, Randy, Randy


Notas iniciais do capítulo

Escrito por 483ViniKaulitz



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Cisco bebericou a vodka, encarando a decoração do bar Redneck America. Uma espécie de palco improvisado, construído na parede oposta da entrada do estabelecimento, com uma plataforma se estendendo até as mesinhas no centro. Num dos cantos havia um piano novo e algumas cifras espalhadas cuidadosamentes sobre a cauda. Um arcade, uma jukebox e um cacto verde de borracha. Diversos cartazes e pôsteres espalhados pela parede, com temas countrys, rock and roll e metal. Referências patriotas e estrangeiras, como se o dono quisesse agradar todo mundo. Nada parecia estar combinando, porém ainda dava uma vibe legal.

“When You’re Gone” do The Cranberries tocava ao fundo e Cisco tentava não relacionar a letra com os últimos meses de sua vida. Falhava miseravelmente. Se perguntava que se Cameron ou Tony estivessem presentes ali, notariam que as caretas que ele fazia de acordo com a música seriam indiretas pra ambos. Então Cisco virou o resto da vodka e evitou o pensamento: aquilo não era ele.

Ele gostava de pensar que era um homem crescido, não precisava de indiretas quando na teoria, tinha controle completo de sua vida. Na teoria, poderia dizer tudo o que estava preso em sua garganta quando quisesse, mas sabia que pela milésima vez em sua vida, aquele não seria o caso. Ele não iria se abrir.

 

And in the night, I could be helpless,

I could be lonely, sleeping without you.

And in the day, everything's complex,

There's nothing simple, when I'm not around you.

 

Virou-se de repente para o balcão evitando as sensações mistas, triste, irônico e ciente de que sim, estava naquela fase de sua vida. Pousou o copo na tampa de granito, tirou os óculos quadrados e deslizou ambas as palmas de suas mãos sobre o próprio rosto, num gesto para que acordasse. Tomar tenência na vida, ele teria muito tempo.

Talvez nem todo o tempo. Não se não deixasse aquele aeroporto.

— Tá nervoso, cowboy? — Com um chapéu country, Astrid brincava com alguns drinks por trás do balcão. A lutadora havia dito que não beberia, mas que aquilo não a impediria de preparar para seus novos amigos alguns drinks que havia aprendido ao longo da vida. Cisco era grato por aquilo tudo.

— Muitos feelings. — Cisco riu, desconcertado. — A música combina com algumas coisas dos últimos meses e eu...

Astrid levou o dedo indicador contra os próprios lábios, sussurrou algo em russo e Cisco calou-se.

— Shhh. — Astrid suspirou. — Eu sei quando um homem não quer falar. Beba seu drink e aproveite. Um homem calado é um homem esperto.

A mulher desapareceu por trás do balcão e Cisco virou-se para o bar novamente, observando Lucky, Laura e Tami numa das mesinhas do fundo, trocando risadas tímidas, pela primeira vez naqueles dois dias. Jane dançava sozinha com as batidas da música num canto do bar, claramente afetada pelo álcool, rindo e observando sua sombra na parede, enquanto Nate tentava furiosamente trocar a música na jukebox. O bar era um dos únicos locais com geradores que ainda funcionavam no aeroporto inteiro, e embora aquilo não estivesse fadado a durar muito tempo, ninguém parecia se importar. Era bom esquecer de tudo um pouco.

 

Hold onto my hands, I feel I'm sinking, sinking without you.

And to my mind, everything's stinking, stinking without you.

And in the night, I could be helpless,

I could be lonely, sleeping without you.

 

A música parou de repente e o pessoal na mesa vaiou alto. Nate pareceu não se importar, lidando para fazer outra música tocar logo. Astrid voltou no mesmo instante e balançou a cabeça, desaprovando Nate e suspirando. A russa posicionou uma bandeja com uma batida rosinha em várias taças e chamou o grupo.

— Esse se chama “Ticket pra Neverland”. — Astrid não deu muita atenção ao título. — Aprendi com uma amiga do judô.

— Acho que todo mundo aqui se beneficiaria de um rolê em Neverland. — Cisco sorriu.

Astrid ergueu um drink no ar e piscou pra Cisco.

— Pra qualquer lugar exceto aqui.

Cisco concordou e ambos bateram as taças no ar.

 

XXXXX

 

O dia amanhecia lá fora, e uma espécie de geada cobria as vidraças do aeroporto que se erguiam até o teto, grossas e empoeiradas. Randy observava atento, procurando algum sinal ou movimento estranho no lado de fora, a mão no coldre como se estivesse em serviço.

Aquele seria um dos gestos que Randy jamais perderia o costume. Em casa, no shopping, viajando, no aniversário das crianças, consecutivas vezes Randy iria alcançar seu coldre na cintura, inclusive quando o mesmo não estava lá. O revólver tinha se tornado uma parte de Randy, uma extensão de seu corpo, porém no fim das contas aquilo não fazia tanto sentido. Embora desde criança tivesse mantido as esperanças que seria um dos policiais ou agentes que correm de um lado pro outro, pegando os caras maus e combatendo o crime, sabia que estava longe daquilo.

Boa parte das chamadas que respondia eram para coisas relativamente pequenas: um vizinho que roubou o jornal do outro sem querer, o irmão bêbado que volta pra casa querendo vender os móveis, a tia que bebeu demais e resolveu jogar as verdades na cara da família, e acaba apanhando de sopapos da irmã. Embora precisasse da arma para entrar em alguns locais e botar ordem de vez em quando, poucas eram as vezes que tinha disparado tiros de verdade.

Ainda, era o gesto que o diferenciava dos outros. Saber que tinha sempre a seu alcance um instrumento de poder, e embora jamais fosse dizer para alguém, tinha a noção completa de que era capaz de matar qualquer pessoa que entrasse em sua frente dependendo do humor e do motivo certo, o gesto o lembrava de quem ele era e quem deveria ser. Tinha que ser um homem certo.

— Eu já disse. — Louis parecia não saber mais o que fazer. — A única situação padrão que faz sentido considerando o que está acontecendo conosco, é uma de quarentena. Estão nos mantendo em quarentena.

Randy não desviou o olhar do vidro. Arrumou a própria postura e soltou um sorriso de lado.

— Eu não me sinto doente. — Randy respondeu calmamente. — Você tá se sentindo doente?

Louis não respondeu. Não precisava, estava ótimo. Riu, balançando a cabeça desapontado.

— Que foi piloto?

— Não conseguimos contato com o lado de fora. — Louis falava, embora estava descrente de suas palavras. — Sem sinais de vida. Parece que o mundo acabou lá fora. Já fazem dois dias! Corpos espalhados aqui dentro e ninguém tá fazendo nada!

— Por favor. — Randy deu de ombros, fazendo o máximo para demonstrar que não tinha partes da mesma sensação do piloto. — O mundo não tá acabando. Eles... eles... eu sei que eles estão lá fora. Só não entendo o porquê de não nos contatar. Com certeza eles viram o nosso movimento aqui dentro—

BLAM!

Randy pulou de susto, rapidamente se recuperando. Quase tirou a arma do coldre, embora percebeu que não seria necessário.

Louis havia arremessado um pedaço de concreto contra o vidro, que balançou contra as extremidades da parede e ecoou pelo saguão. Sequer rachou.

— CADÊ VOCÊS?! — Louis berrou para o vidro. Abaixou-se e juntou outro pedaço de concreto nas mãos. — TEM GENTE AQUI DENTRO! TEM...

— Piloto, o mundo não acabou lá fora. — Randy disse com um tom sério, se afastando devagar do vidro.

Louis virou-se para Randy, e encontrou o policial com ambas as mãos no ar, no gesto universal de rendição.

— Como? — Louis começou.

Randy apontou para a região baixa de Louis, que agora recuou lentamente e observou o próprio peito.

Uma luzinha verde. Um laser. Diante do vidro, estava na mira de alguém, porém era impossível ver além da névoa. Ele sabia que haviam outros prédios lá fora, centros e depósitos de cargas dos aviões, mas não sabia de onde vinha o laser.

— Ok. — Louis respirou fundo. Observou outro laser no peito de Randy. — Ok. Tem gente lá fora. Acha que o tiro atravessaria o vidro?

— Você quer arriscar? — Randy perguntou sério.

Louis recuou, lentamente. Então, o laser em seu peito apagou, e o de Randy também.

— Que porra está acontecendo... — Louis afastou-se ao máximo do vidro. — Porque estamos trancados aqui?

— Eles não querem que a gente saia daqui. — Randy pensou em voz alta. — Considerando os lasers de longo alcance, provavelmente são militares. Se não é uma quarentena, eles não querem que outra coisa escape daqui.

— Se você disser que é algum monstro ou algo do tipo, eu vou rir da sua cara.

— Nada de monstros. — Randy deu de ombros. — Um monstro eles podem matar. Considerando o local, acho que eles estão com medo de algo pior.

Louis pensou rápido.

— Militares... governo. Segredos de estado?

— Bingo.

XXXXX

 

— Eu tinha 12 anos e ele era fofinho. — Tami comentava, a timidez parecia ter desaparecido depois de uns drinks. — Foi na parte de trás da escola, o meu primeiro namoradinho. A gente dava uns dois selinhos e cada um ia pra um lado.

O grupo riu.

— Você não sabia que era gay na época? — Lucky perguntou. — Assim, eu pergunto pois eu sempre soube que era.

— Ah, eu sabia que eu não era como as outras meninas, mas não prestava muita atenção. — Tami deu de ombros. — Então alguma garota começou a falar que eu era lésbica mesmo sem eu ter pensado nisso, então eu fiquei paranóica, depois acabei me descobrindo. Uns anos depois, quando eu finalmente comecei a ficar com meninas, esse meu primeiro namoradinho me perguntou se era verdade que eu era gay, e eu neguei de todo jeito. “Não, como você ousa duvidar do amor que tivemos...” — Tami caiu na risada. — Gay demais.

— Bom... comigo foi mais natural, digamos? — Cisco riu.

— Nunca é natural. — Lucky riu.

— Eu dei o primeiro beijo nessa minha namoradinha quando tinha 15, mas as vezes via um ou outro menino e concluia que não me importaria em beijá-lo também... ou fazer outras coisas, embora não admitia. Acho que no fundo você sempre sabe.

— Eu tinha 16 anos e estava bêbada numa festa. — Laura riu. — Sequer lembro o nome do garoto. — Laura pausou por alguns segundos. — Não é uma história especial sabe?

— Não precisa ser. — Lucky deu de ombros. — A minha é terrível.

Astrid estava agora sentada na mesinha ao lado do grupo, absorta nos próprios pensamentos, mas Tami havia notado que segundos antes ela estava interagindo com o grupo.

— E você Astrid? — Tami cutucou a lutadora. — Está quieta. Como foi?

Astrid parecia não querer responder, mas seguiu em frente.

— Bom. Meu primeiro beijo foi com o cara que eu me casaria anos depois, e... destruiria algumas coisas...

Um silêncio passou pelo grupo e alguns olhares solidários foram trocados.

— Tá tudo bem galera. — Astrid riu. — A melhor história nem sempre precisa ser com o primeiro. E sim com o primeiro especial.

Drinks foram erguidos.

— Bom, como vocês sabem eu sou professora e faço dinâmicas com meus alunos. — Tami ria. — A gente tem um palco aqui no bar. Que tal vocês mostrarem os seus talentos?

Todo mundo suspirou, tarefa difícil.

— Talento tipo cantar e dançar? — Lucky franziu e olhou ao redor. Algum voluntário?

— Qualquer talento. — Tami deu de ombros. — Eu só não começo, pois eu mesma sugeri.

— Bom, eu sei meter porrada mas não acho que temos algum voluntário aqui, temos? — Astrid ainda parecia ter esperanças.

O grupo riu.

— A Jane deve ter algum escondido... — Cisco começou.

— Só porque eu sou sem teto eu preciso ter um truque pra tirar da manga? — Jane retrucou.

O grupo se encarou um pouco constrangido.

— Bom... eu... você pareceu lembrar de algumas coisas ontem e não compartilhou com ninguém. E você parece ter uma carta nas mangas.

Jane riu, quebrando o clima tenso.

— Eu vou esconder minha carta por enquanto. E você Cisco?

Cisco franziu, considerando se falaria ou não.

— Bom... teve uma época da faculdade que eu precisei de dinheiro...

— Isso sempre rende as melhores histórias. — Lucky se adiantou. — E eu digo isso por experiência própria. Continue.

Cisco pensou por alguns instantes.

— Acho que sou tímido demais pra isso hoje em dia...

— Você, tímido, Cisco? — Tami riu. — Faça-me o favor. Continua.

— Eu trabalhava num bar. — Cisco escondeu o olhar. — E eu dançava. Fazia strip.

Risadas ecoaram no bar dessa vez.

— Claro que tinha que ser o Cisco. — Lucky revirou os olhos.

— Você precisa fazer agora. — Tami parecia determinada. — Sério. Por mim. Agora.

— Agora! — Astrid riu. — Se falou, agora tem que provar.

Cisco levantou-se da mesa.

— De jeito nenhum. — Riu, evitando. — Eu vou no banheiro agora e...

— Cisco, vem cá! — Laura chamou. — Agora.

Cisco aproximou-se do assento de Laura, um pouco confuso. A garota tirou vinte dólares da bolsinha de mão e enfiou entre a calça e a cueca do engenheiro.

O grupo urrou.

Cisco estava vermelho agora, tentando acalmar o grupo.

— De qualquer jeito nem música tem. — Cisco deu de ombros. — A jukebox só tem The Cranberries, Livin On a Prayer e Fleetwood Mac...

 

All you ladies pop yo pussy like this

Shake your body don't stop, don't miss.

 

O grupo se virou e Jane segurava um celular na mão, a música vindo dos auto falantes.

— Agora tem. — Jane encarou com um olhar penetrante. — Dance.

 

Just do it, do it, do it, do it, do it now

Lick it good, suck this pussy just like you should

 

Cisco subiu no palco, respirando fundo e entrando no ritmo da música. As garotas gritaram enquanto Lucky balançava a cabeça, rindo do rapaz e se mostrando desinteressado no strip.

Cisco lentamente desabotoou a camiseta de flanela que havia pegado das vitrines de uma outra loja do aeroporto. Tirou-a e arremessou para Tami, que agora também em partes acompanhava o strip, e em partes dançava na ponta do palco.

Tami agarrou a camiseta e sorriu, os olhos brilhando. Murmurou um “obrigado” para Cisco, porém o rapaz sabia que ela não estava agradecendo pela camiseta.

A garota estava grata por esquecer um pouco do inferno que estava em sua mente.

 

XXXXX

 

Após encontrar o grupo outra vez e repassar as coisas que tinha presenciado com Louis, após traçar rotas que desviassem dos caminhos do aeroporto que ainda possuíam alguns cadáveres, Randy se sentia esquisito. Além de receber uma enxurrada de reações negativas do grupo sobre suas teorias com os militares (ele podia lidar com aquilo), sabia que a maior parte da sensação vinha do fato de que todos estavam trancados numa espécie de purgatório, e ele não tinha muito o que fazer. A parte relativamente menor, que Randy tinha se esforçado em manter afastada, agora estava desabrochando no topo de seu cérebro.

Seus remédios. Ele precisava de seus remédios, já tinha revirado a única farmácia do aeroporto, sem sucesso. E ele precisava evitar a ansiedade, para que os ataques de epilepsia ficassem longe. E pensar nos ataques era a última coisa que o policial precisava.

Preso no Amelia, Randy se sentia um pouco fora do radar, pois sabia que deveria estar preocupado com sua família, mas não estava, não do jeito que achava correto. Sabia que Mary tomaria conta de Brian e Andrea, ela já tinha feito aquilo antes. Seria ele um homem terrível por não se preocupar tanto ao jogar toda aquela responsabilidade sobre Mary?

Mas ainda, não era algo que naquele momento poderia ser mudado, ele estava preso ali. E se tinha uma coisa que sua terapeuta havia dito, era que ele precisava parar de se preocupar com as coisas fora de seu alcance. E elas estavam, certo?

— Certo. — Randy sussurrou para si mesmo.

— Algum problema, policial? — Era Tami, com um sorriso fácil no rosto. Conversas fáceis com os outros membros do grupo tinham deixado a garota com um semblante feliz. — Tá falando sozinho?

Randy deu de ombros, sem responder. Estava acompanhado de Nate, Tami, Astrid e Laura. O grupo havia se dividido, Randy e as garotas procurariam uma saída nos outros cantos do aeroporto enquanto Cisco e o resto do grupo trataria de encontrar a rede de comunicações e consertar o que fosse possível. Eles precisavam transmitir para alguém que estavam lá dentro. Talvez alguém que não fosse os militares.

Um arrepio percorreu sua espinha.

— Hm... se considerarmos que o governo não quer que deixamos o local, também é possível que tenhamos sido dados como mortos, não é?

Um silêncio.

— Na verdade, eu já pensei nisso. — Tami suspirou. — E eu acredito que sim, visto que não ouvimos som algum do lado de fora.

— Minha família... — Randy não conseguiu evitar. — Minha família...

— Parece que vamos ter que nos virar por conta própria, pra desmentir os boatos. — Laura estava um pouco descabelada e amassada. Randy se lembrou do engenheiro se esfregando nela quando pegou o grupo acompanhando o strip tease e segurou uma risada, então ficou triste novamente.

— O governo provavelmente tá usando a carta da quarentena. — Nate comentou. — E isolou a área, senão teríamos familiares desse monte de cadáveres se acotovelando nas janelas do aeroporto.

— Só eu que as vezes paro e me pergunto se isso tudo é real? — Tami admitiu, um pouco envergonhada. — É absurdo.

— Eu faço isso o tempo todo. — Astrid a encarou. — Me pergunto se na verdade, a gente não morreu naquele acidente e estamos numa espécie de Mulholland Drive.

— Vocês deviam perguntar isso pro amigo de vocês. — Nate encarou. — Quem começou tudo com isso de sonhos e visões foi ele.

— Vai lá e pergunta então. — Tami respondeu seca, sem deixar espaço pra tréplica. Estava tão estressada com o comportamento de Nate nos últimos dias que mal podia ouvir a voz dele e já sentia os nervos atacando. — Babaca.

 

XXXXX

 

A sala de comunicações do aeroporto era um cômodo grande e bem iluminado por luz natural, instalado no topo do departamento dos funcionários. Máquinas, computadores, telefones e dispositivos forravam as quatro paredes, exceto por uma janela grande de vidro que dava visão ao grande saguão do aeroporto lá embaixo. Louis já tinha estado ali uma vez, porém quando as coisas ainda funcionavam direito. Era estranho estar ali com tudo desligado e gelado.

— Alguma sorte? — Louis encarava Cisco do outro lado da sala de comunicações, o microfone de um rádio chiando na mão. — Aqui é o piloto 0483 da Volée Airlines Flight, requisitando comunicações com torre, câmbio.

Louis lembrou-se repentinamente de Tina dizendo que ele devia usar menos sotaque. Lembrou-se da irmã. Sentiu saudades.

— Sem sorte. — Cisco estava enfiado embaixo de uma das mesas, ferramentas na mão. — Todo o equipamento é alimentado pela energia elétrica, que não temos. Pelo menos é o que eu posso entender considerando minha leiguice nesse tipo de coisa.

— Eu nunca vim aqui antes. — Jane observava a vista da janela. — E é familiar.

— Talvez você fosse uma comandante de voo. — Louis sugeriu. — Já experimentou essa cadeira aí? Vai que...

Jane jogou-se na cadeira e espreguiçou-se despreocupada. Girou e deu uma voltinha.

— Nhá, nada. — Jane deu de ombros. — Porém é confortável. Eu devia fazer o meu quarto aqui.

O grupo trocou uma risada constrangedora.

— Por mim a gente procura o centro de energia elétrica do aeroporto. — Cisco sentou-se no chão. — Pelas normas americanas, deve estar instalado aqui dentro.

— Não temos escolha. — Louis deu de ombros, olhando ao redor da sala. O piloto notou Lucky sentado numa cadeira pequena no fundo do cômodo, em silêncio desde que haviam entrado. Apontou-o para Cisco e ergueu a voz. — O que acha, Lucky?

Lucky pareceu ser puxado de outra realidade. Virou-se repentinamente para o grupo e sorriu desconcertado.

— Desculpa galera. Tô pensando em outras coisas.

Cisco trocou um olhar com Jane e Louis e andou até Lucky. O jornalista tinha um bloquinho de anotações parcialmente rabiscado em suas mãos, e escondeu quando Cisco se aproximou. O engenheiro não se importou, já acostumado com segredos. Sentou-se na cadeira ao lado de Lucky e suspirou.

— Teve mais alguma visão, Donnie Darko?

— Bom... — Um sorriso brotou no canto dos lábios de Lucky. —Considerando o lugar e tudo que tem acontecido nos últimos dias, vou deixar essa passar.

Cisco riu e arrumou os cabelos.

— E quanto a aquela teoria que você disse que estava trabalhando? Após a Jane... você sabe.

— É difícil de explicar. — Lucky admitiu. — E não se encaixa diretamente com as coisas que eu sabia, ou tinha estudado antes de vir pra cá, então não tenho muito o que trabalhar. É coisa estranha mesmo.

— Tente. — Cisco deu de ombros. — Sou todo ouvidos.

— É por isso mesmo que não sei se devo falar. — Lucky escolhia suas palavras com calma. — Essas pessoas... não precisam disso.

— Se você acha que algo do aeroporto pode estar ameaçando a nossa segurança, bom, eu gostaria MUITO de saber. — Cisco encarou fundo nos olhos castanhos de Lucky e cruzou os braços. — E cara, eu sou macaco velho nesses negócios. Reddit, fóruns de discussão, teorias conspiratórias, acredite, eu sou um produto do sci-fi. Não vai me assustar, e eu não vou achar que você está ficando doido. Você salvou a minha vida, e no mínimo eu te devo um enorme benefício da dúvida.

Lucky encarou Cisco de volta, suspirando. Ele deu de ombros e abriu o bloquinho de notas, procurando alguma coisa, e o engenheiro notou que as mãos do jornalista tremiam. Não era de frio, Cisco sabia. Lucky estava nervoso em se abrir sobre aquilo, evidentemente era sério. Naquele instante, observando a figura cansada de Lucky, Cisco queria abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem, mas primeiro: ele mesmo não tinha certeza daquilo, e também não achava que Lucky era exatamente um cara de muitos abraços. Pelo menos não naquela situação toda.

— Moças... — Era Jane. A mulher esticou um pôster grande na frente dos dois, que contemplaram uma espécie de mapa do departamento dos funcionários do aeroporto. Ela revirou os olhos. — Jackpot... ou seja lá o que dizem em cassinos.

Jackpot. — Cisco e Lucky deixaram escapar em uníssono. Os três trocaram um breve sorriso.

 

XXXXX

 

— Que diabos é esse lugar? — Era Tami. — Deveria ter isso num aeroporto?

— Nesse aqui não é surpresa. — Randy suspirou. — Jesus.

A mão no coldre, Randy encarava o cômodo que mais parecia um grande laboratório de um hospital abandonado. Era iluminado apenas por uma luz natural, vindo das pequenas janelinhas circulares no topo das paredes. Tinham chegado no local por uma daquelas paredes que haviam desabado, porém o lugar poderia ter outro modo de acesso pois parecia ter sido usado recentemente, considerando a limpeza. Tinha o tamanho de um galpão, e o pé direito do local se erguia no mínimo a seis metros de altura.

Diversas macas espalhadas pelo perímetro, armários de remédios e arquivos de metal que se estendiam até o teto - a parte superior de armários era acessada via uma escada, que levava a uma plataforma que fazia o contorno do grande galpão, com outras portas que podiam levar a outros locais. Inúmeras chapas de diversos materiais: aço, ferro, borracha, espalhados pelo chão como se o lugar tivesse sido abandonado as pressas. Instrumentos médicos ensanguentados e jogados pelo chão pareciam levar a dois tanques gigantes de água na parede oposta a entrada, e Randy sentiu um arrepio descer a própria espinha.

— Tecnicamente nada disso é estranho. — Nate riu. — Não é a coisa mais estranha que estamos vendo nos últimos dias.

Tami revirou os olhos, explorando o local.

— Isso tem a ver com o que Lucky está investigando. — Tami concluiu. — O Lucky também não dá uma dentro quando é sobre estar no lugar certo.

— Bom, ele te salvou. — Nate retrucou. — Se ele não estivesse no lugar certo aquele dia, você seria um dos cadáveres lá fora.

Tami cerrou os punhos, bufou e encarou Laura com uma expressão de que estava pleníssima e empenhada em sua missão de continuar ignorando o rapaz.

— O estranho é que o local tem uma aparência de um hospital de décadas atrás. — Laura observou. — Mais uma pra lista do aeroporto estranho demais pra ser real.

— Vocês acham que alguma coisa escapou daqui? — Randy apontou para os rastros de sangue no chão. Aproximou-se e pegou um pedaço qualquer de metal e tocou no sangue, porém estava seco. Deu de ombros. — Nope, sangue velho.

— Não dá pra ler quase nada nesses documentos. — Astrid fuçava um dos armários. — Os poucos legíveis parecem fichas de admissão de um hospital.

— Um hospital antigo. — Randy disse para si mesmo. — Como se não pudesse ficar pior.

 

XXXXX

 

— Eu me pergunto se eles não encontraram uma saída e já estão longe daqui. — Louis riu um pouco triste, e Cisco teve a impressão de que seria exatamente aquilo que Louis faria. A sala de energia elétrica era gélida como qualquer outro canto do aeroporto, e eles não estavam tendo muita sorte com a energia que vinha do fornecedor.

— Eu não acho que estamos perdendo muita coisa. — Lucky comentou. — Já reviramos boa parte do aeroporto de trás pra frente.

— E ainda não tínhamos achado a central de energia elétrica. — Cisco comentou. — Acredito que mal riscamos a superfície...

— Rápido. — Louis parou de repente, um sorriso brotando no canto da boca. — Qual será a primeira coisa que vocês vão fazer quando saírem daqui?

Lucky, Cisco e Jane se entreolharam.

— Eu... — Louis começou. — Vou encher a cara. E muito.

— Seria estranho demais eu dizer que gostaria de checar meu e-mail? — Cisco comentou entre dentes. — Eu deixei tudo... num barco... na porra da Austrália...

— Pior que eu estava pensando em algo assim. — Lucky riu também. — Depois talvez, viajar pra longe. E de carro.

— Workaholics do caralho. — Louis balbuciou, andando em direção a uma das portas no fundo da sala. — E você Jane?

Jane parou pra pensar, e então soltou um sorriso.

— Na verdade, eu estou em casa.

Os três rapazes se encararam um pouco constrangidos, pela primeira vez considerando a ideia de que estavam no mundo de Jane.

— Bom... Geradores. — Cisco apontou para a porta com a placa minúscula. — Tcharam.

Os quatro atravessaram para o menor cômodo. Dezenas de geradores se espalhavam pelas quatro paredes, sem identificação.

— Pois é moças. — Cisco ligou o primeiro. — Um por um, e que haja luz.

 

XXXXX

 

Um estalo ecoou pelo cômodo hospitalar, e os cinco deram um pulo. Viraram-se para a origem do som e observaram que as pequenas salinhas no fundo tinham se acendido.

O coração de Randy acelerou, em partes pois que diabos estava acontecendo, e também pois sabia que devido a sua posição, ele seria o escolhido para checar. Ele sentia os olhares das garotas sobre ele.

Não estava se sentindo bem desde que entrara no cômodo. Talvez aquele seria o momento em que iriam encontrar algo que faria sentido. Que tudo de errado que estava acontecendo nos últimos dias ia voltar a ficar certo.

— Foda-se. — Randy respirou fundo. — Eu vou.

Randy correu em direção as escadas, e retirou a arma do coldre. Empunhou o revólver e lentamente fez seu caminho pela plataforma superior, sob o olhar atento das garotas. Os cômodos ficavam no fundo do galpão, e Randy sentia o coração batendo cada vez mais forte. Sentiu a vontade de ir no banheiro apertar. Sentiu tudo retorcendo em seu interior. Droga, poderia ter bebido um dos drinks mais cedo.

Seja forte, homem. Você já fez isso outras vezes.

Porém, daquela vez era diferente. Tudo era diferente, e tudo estava fora do alcance de Randy.

Mil sensações desembocavam sobre o coração do policial. O medo de por algum motivo ser expulso da corporação, como havia sido expulso do FBI. O medo de sua ansiedade superar outra vez a sua capacidade de controlar as coisas. O medo de ter um ataque epiléptico no momento errado, de perder sua esposa e seus filhos, o medo de morrer.

Fique bem, homem. Olha o seu tamanho. Você dá conta.

Aproximou-se da sala, se agarrando mais a aquelas frases do que gostaria de admitir. Os passos pesados e a respiração pesada, embora ciente de que precisava levar tudo da maneira mais calma, senão teria um ataque. Riu com a possibilidade de ter um ataque do coração.

Riu com a possibilidade de ter a morte mais tosca possível.

A risada o fez continuar os últimos metros. A porta estava entreaberta, e da sala vinha um cheiro terrível de putrefação. Randy aproximou-se tapando o nariz e entrou.

A luz era forte porém instável, piscando de cinco em cinco segundos e causando uma sensação estranha no interior do homem. Seu coração batia forte e ecoava em seus tímpanos. Nas paredes amareladas, fotos de cadáveres, e corpos mutilados. Em outras fotos mais próximas dos armários e das sombras, como se um dia algum preguiçoso quisesse esconder, tinham corpos com pedaços metálicos enfiados precariamente, quase como se fossem peças de substituição. Sobre as mesas, mais instrumentos médicos e restos de kits de emergência. Uma maca parcialmente desmontada no centro da sala, e no chão uma espécie de alçapão para o subterrâneo, com uma portinhola de madeira avariada pelo tempo e pela umidade. Na sala inteira, diversas manchas de sangue vermelho e sem vida, já solidificadas pelo tempo.

Randy arqueou-se de súbito e vomitou no chão, sem sequer ter pensado na sensação. Ele já sabia que caminho seu cérebro estava tomando. Ele tinha feito aquele maldito caminho um milhão de vezes.

Então o zumbido em seus ouvidos. Tão de repente, o som agudo e crescendo em seu interior. Quase como uma parte de si mesmo tivesse morrido de repente. Tentou gritar e não conseguiu.

Forçou-se a olhar no teto, o corpo tomando uma reação automática. O zumbido foi aumentando, e então pareceu dissipar. Sentindo o coração batendo firme em sua garganta, sentindo a urina descendo por suas pernas e calças, a própria língua recuando de volta para a garganta, Randy sentiu-se sufocar.

Então a luz no teto do cômodo começou a piscar rápido. Flashes e flashes, acendendo e apagando em sua cara, confundindo e danificando sua percepção já tumultuada. Aí a luz finalmente explodiu, faíscas caíram em Randy e então o silêncio absoluto em sua mente.

O policial não estava mais ali. Ainda olhando pra cima, olhos arregalados, vermelhos e lacrimejando, suor escorrendo por suas têmporas, o corpo pendeu de um lado para o outro, quase como se sua alma tivesse sido sugada para algum lugar de maneira misteriosa.

Então a perna de Randy sofreu um espasmo e o corpo perdeu o equilíbrio. O homem finalmente despencou para trás, caindo com um baque na portinhola de madeira do alçapão. A madeira deteriorada rompeu com o impacto e o corpo de Randy desapareceu no chão da sala.

XXXX

 

O som repentino de um splash fez as garotas gritarem outra vez. Tami tinha acompanhado do andar inferior o policial entrar na sala, então pareceu ter ouvido um grito. Aí o splash a trouxe de volta para o local, e a visão aterrorizou seu coração.

Seguida pelas garotas e Nate, a professora correu em direção aos tanques de água no fundo do cômodo, o desespero crescendo enquanto via mais e mais o corpo do policial se debatendo inutilmente enquanto afundava.

— NÃO! — Tami berrou em prantos. — AJUDEM ELE!

Tami afastou-se do vidro sem saber o que fazer, vendo Randy sofrendo espasmos violentos, porém amaciados pela densidade da água. Os olhos do policial estavam parados, fixos olhando para o mesmo ponto, e a professora duvidou que ele estava consciente. Mesmo se debatendo, bolhas saíam de sua boca, nariz e ouvidos, deixando claro que ele estava aspirando água.

Então ela se lembrou.

— Ele tá tendo um ataque epiléptico! — Tami berrou. — Eu ouvi ele sussurrando algo enquanto dormia!

Laura, Astrid e Nate jogavam cadeiras e golpeavam com barras contra o vidro, porém parecia ser inútil. Mal conseguiam riscar a superfície.

— MERDA! MERDA!

 

XXXXX

 

— Ora ora ora, quem está aqui novamente.

A voz era familiar e Randy abriu os olhos. Encharcado dos pés até a cabeça, cuspiu água e olhou ao redor. Estava como o Randy policial, vestindo a própria farda. Rapidamente reconheceu o seu quarto de infância, as pequenas miniaturas das viaturas de polícia empilhadas sobre uma escrivaninha organizada as pressas.

Então entendeu o motivo da voz ser familiar. Era a sua própria voz. No canto do quarto, outra versão dele mesmo o encarava de volta, porém vestia roupas sociais e tinha um tom culto. O fundo de sua mente dizia que aquilo deveria ser estranho, mas nada ali soava estranho para Randy.

— Eu já estive aqui antes? — Randy sussurrou. — Eu não me lembro...

— Você não deveria se lembrar mesmo. Mas sim, já esteve aqui um monte de vezes. Toda vez você deixa uma versão de você aqui.

Foi outro tom de voz que respondeu dessa vez, mas ainda era o seu. Randy virou-se para a cama e enxergou outra versão de si mesmo, porém vestia um pijama e fumando um cigarro de maconha.

Randy analisou a situação.

— Esse é mais pensativo que os outros. — O Randy maconheiro caiu numa risada sem motivos. — Deve ser por isso que anda voltando menos pra cá.

Um baque e Randy virou-se para a porta. Um terceiro Randy, um de cabelo avermelhado porém indo pro tom de rosa mais as bermudas e chinelo o encarava dos pés a cabeça com um balde de pipocas na mão e uma expressão de raiva. Randy lembrou-se de sua fase punk e sentiu-se envergonhado.

— OUTRA VEZ? — Randy de cabelo rosa suspirou de maneira exagerada e entrou no quarto. — Rapaz, tu é um pedação de bosta mesmo viu.

Randy engoliu em seco, confuso. Podia ver outros Randys também, andando do lado de fora do quarto. Viu passar um Randy chorão vestindo um uniforme falso do FBI manchado de katchup e mostarda.

— Eu morri? — Foi o que Randy policial conseguiu falar.

— Morreu. — Randy maconheiro de pijama bufou. — Não morreu... importa mesmo? Viver é um negócio foda.

— Escuta. — Randy de cabelo rosa arremessou o balde de pipoca no Randy maconheiro e aproximou-se de Randy. — Você precisa voltar, e não temos muito tempo.

— Próxima vez que voltar... — Randy maconheiro na cama deu uma risada e engasgou com a fumaça. — Me traga um cigarro melhor. Não aguento mais fumar essa merda que tu achou na tua adolescência.

— Eu não sei se ele volta dessa vez. — Randy culto se aproximou. — Não foi só o nosso ataque que o trouxe dessa vez. Teve uma influência maior. Não consigo entender...

Randy de cabelo rosa encarou o Randy culto e revirou os olhos.

— Foda-se a influência. — Randy de cabelo rosa suspirou. — Esse aqui volta. Nem que eu seja expulso desse plano, esse aqui volta.

— Você sabe que não é assim que funciona. — Randy culto botou a mão no ombro do Randy de cabelo rosa. — Não quando tem a...

— Blá blá blá influência maior o caralho. — Randy de cabelo rosa deu de ombros. — Você volta. — Encarou o Randy policial e pegou da mão dele a arma respingando água. Destravou-a e posicionou de volta na mão do policial. — Randy, dispara no teto que você volta.

Randy encarou a arma em sua mão e virou-se de volta para Randy de cabelo rosa. Não sabia o que fazer.

— Randy, Randy, Randy. — Randy de cabelo rosa revirou os olhos suspirou. — Nem morrendo você aprende.

— O quê?

Randy de cabelo rosa alcançou a mão de Randy, enfiou o dedo no gatilho da arma e ergueu-a para o teto. Soltou um sorriso sacana e puxou o gatilho.

 

XXXX

 

Ainda em desespero, golpeando contra o vidro, Tami acompanhava Randy morrendo embaixo da água. O corpo parava de se debater agora, e o brilho no olhar do policial parecia ir embora.

Então notou os espasmos exagerados e súbitos em sua mão. Notou a arma ainda em seus dedos e recuou.

Um dos espasmos fez o dedo afundar o gatilho. A arma disparou contra o vidro que estilhaçou, e uma onda de água irrompeu do tanque, levando os quatro juntos, e Randy.

Recém encharcada, Tami recuperou-se rápido do caldo e correu em direção ao corpo de Randy. Passou a fazer massagem cardíaca enquanto sentia as lágrimas se misturando com a água.

— Você não vai morrer! — Tami berrou. — Não comigo!

 

XXXXX

 

Jane guiava o caminho de volta ao saguão do aeroporto, seguida pelos três rapazes, que com tristeza notavam que os geradores não tiveram muito efeito. Observaram a mulher virar de repente na entrada do Redneck America e entrou no bar.

Louis, Cisco e Lucky trocaram um olhar. Jane. Entraram no bar logo atrás e acompanharam a mulher sentar no assento do pianista.

A mulher começou a tocar uma melodia triste, porém perfeitamente executada, quase como se tivesse feito aquilo sua vida inteira. Os três rapazes sentaram numa mesinha e trocaram olhares, apreciando o momento. Ninguém disse nada.

Quando pareceu que as surpresas acabariam, Jane começou a cantar. Um timbre suave, porém firme.

Os três viajaram.

 

Why does the sun go on shining

Why does the sea rush to shore

Don't they know it's the end of the world

'Cause you don't love me any more

Why do the birds go on singing

Why do the stars glow above

Don't they know it's the end of the world

It ended when I lost your love

 

XXXXX

 

O policial percebeu-se deitado, encharcado, e sentiu-se cuspindo uma imensidão de água. Embora tinha o peito em dor e em chamas, notou um semblante preocupado diante de si mesmo. Ergueu os próprios braços e retirou o excesso de água da própria visão.

— É bonitão. — Tami soltou uma risada sincera, encharcada dos pés a cabeça. — Acho que vamos continuar salvando um ao outro.

Randy suspirou, e com dificuldades lembrou-se de sentir que teria um ataque epiléptico no cômodo superior. Não tinha ideia do que tinha acontecido, mas estava grato por estar bem.

— Por mim tudo bem.

 

I wake up in the morning and I wonder

Why everything's the same as it was

I can't understand, no, I can't understand

How life goes on the way it does

Why does my heart go on beating

Why do these eyes of mine cry

Don't they know it's the end of the world

It ended when you said goodbye


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Notas finais do capítulo

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