A Valsa de Vênus escrita por Sarah


Capítulo 9
Capítulo 09




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Dezessete anos.

— O que acha dele? — Eliza questionou ao passar por ela no salão, recebendo um olhar gelado.

— O que espera que eu diga?

Diante da pergunta, Eliza se encolheu, comprimindo os lábios. Rozênia esperou que ela dissesse mais alguma coisa, mas em vez disso a garota desviou-se de sua cadeira, seguindo seu caminho de volta para o estrado e deixando-a sozinha com seu copo de vinho. Tinham dormido juntas apenas algumas horas antes, e Eliza obviamente estivera esperando algumas palavras de conforto, mas Rozênia não se sentia muito complacente naquele instante.

Quando uma serva passou, pediu que ela deixasse ali a bandeja de batatas apimentadas que carregava e serviu-se de mais vinho. Era uma boa bebida: uma das melhores safras do Vinhedo, trazida como presente para a prometida e para sua família. Rozênia entornou a taça de uma vez, tomando outra logo em seguida.

A comitiva de Lorde Cassius tinha chegado há dois dias, transformando os assovios da Cruva do Vento na balburdia habitual de quando recebiam visitantes. Era óbvio que Lady Lorena tinha se esforçado para impressionar no banquete oferecido, embora o anúncio do compromisso só fosse ocorrer na semana seguinte. De qualquer forma, aquilo era apenas uma formalidade desde que o próprio rei havia solicitado a únião.

Se fosse responder com sinceridade à pergunta de Eliza, teria que admitir que Lorde Cassius não parecia tão mal. Ele havia sido educado e humilde ao se apresentar, todo o contrário da prepotência que Rozênia esperava de alguém que portava uma carta de recomendação real. Pelo que Eliza contara, Lorde Cassius fora amável e respeitoso ao falar com ela, e, nas poucas vezes em que Rozênia esbarrara com ele nos corredores e no salão, o Senhor também se mostrara gentil. Ele devia ter por volta dos trinta anos e estava deixando a juventude, mas não se podia dizer que era velho; seus traços simples tampouco eram desagradáveis.

Se Eliza fosse diferente, aquela união provavelmente não seria uma perspectiva tão ruim.

Quando se levantou, Rozênia sentiu o mundo girar. O vinho que bebera tinha tornado suas pernas instáveis, mas sua mente parecia muito clara a despeito disso. Deslizou entre as mesas e entre as pessoas que riam e comiam, que, daquele lado do salão, eram em sua maioria cavaleiros menores e damas de companhia.

Rozênia sorriu para uma das moças, que tinha bebido ainda mais do que ela. Ao notar sua presença, a garota empertigou-se e deixou a taça que segurava na mesa, obviamente temendo uma reprimenda. Rozênia não era muito superior a ela em hierarquia, mas usava o adereço de cabelo feito de gemas vermelhas que Eliza lhe dera há anos, e que nunca aceitara de volta; o tecido do seu vestido também era muito fino, estrelas bordadas em prata no decote. Era natural que a garota a confundisse com uma Lady. Os olhos dela se arregalaram quando Rozênia lhe fez uma mesura.

— Sou Rozênia, dama de companhia da prometida do seu Senhor.

 A moça pareceu relaxar diante da declaração.

— Luzia, a seu dispor — ela se apresentou, devolvendo o cumprimento.

Em seguida, Rozênia levantou o copo, incitando que a moça voltasse a tomar sua taça.

— É um bom vinho. Vocês do Vinhedo tem sorte se podem bebê-lo sempre que quiserem.

— Só em grandes banquetes. É um presente muito nobre esse que foi dado a sua Senhora.

Rozênia assentiu como era apropriado a alguém agradecido.

— Minha Senhora também quer agradar seu prometido — falou com um sorriso, que Luzia logo retribuiu. Casamentos, romances e especular sobre qual Castelo estava armando-se contra outro eram os temas de conversa mais populares. Rozênia não se decepcionou quando a outra se mostrou interessada. — Ouvi dizer que você é a dama de confiança de Lorde Cassius... Poderia me dizer qual a cor preferida do Senhor, para que Lady Eliza possa se vestir de forma adequada amanhã?

Dali em diante foi fácil descobrir que o Senhor do Vinhedo gostava de vermelho, que apreciava amoras batidas no creme de leite pela manhã, sempre montava no cavalo pelo lado direito, admirava moças loiras mais do que as outras, gostava de ler epopéias nas horas vagas e possuia um duvidoso apreço por ciroulas de seda roxa. Rozênia torceu o nariz para essa última informação, mas todo o resto parecia bastante confiável.

— Ele é um bom homem — Luzia completou. — Não ficou feliz quando o rei sugeriu o compromisso sem dar tempo para que ele cortejasse Lady Eliza de forma adequada, Lorde Cassius gosta de fazer as coisas corretamente. Nunca ouvi dizer que ele tenha desrespeitado uma mulher. Sua Senhora vai amá-lo.

Rozênia não sabia o que a assustava mais, a ideia de que Eliza fosse infeliz ou que pudesse realmente amar aquele homem.

Forçou-se a manter a postura amigável, mas assim que pôde arranjou uma desculpa para se afastar. Sabia que tinha provocado aquele desconforto para si mesma, mas de repente percebeu que havia tido o suficiente de elogios para Lorde Cassius.

O vinho ainda fluia e a música era animada, mas mesmo assim Rozênia vagueou para fora do salão, concentrando-se em não procurar Eliza com o olhar.

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Acordou no meio da noite, com a outra enlaçando sua cintura. Por um segundo pensou em afastá-la, mas, ao fim, apenas deu espaço para que ela subisse em sua cama e se aconchegase contra o seu corpo.

Normalmente as duas não se permitiam passar as noites na cama uma da outra, mas a noção de que Eliza iria se casar dera-lhes um senso de urgência e necessidade maior do que qualquer cautela. Embora fosse difícil que um dia inteiro transcorresse sem um momento de tensão entre ambas, à noite qualquer resquício de amargura se diluia, e, ou Eliza enfurnava-se em baixo dos seus lençóis, ou Rozênia procurava a cama dela.

Sabia que ainda devia estar cheirando a alcool, mas, por sua vez, Eliza tinha o cheiro doce e agradável de sempre quando Rozênia se virou, ficando de frente para ela e beijando-a.

— Você saiu cedo — Eliza murmurou, deslizando os dedos delicadamente por cada uma de suas costelas.

— Quando enjoei do vinho não havia muito mais para mim lá.

Afagou os cabelos loiros, tirando-os da face dela para que pudesse correr os dedos por sua bochecha e pescoço, sentindo a pele.

Eliza afrouxou os laços da sua camisola, de forma que pudesse alcançar seus seios pequenos e contorná-los, arrepiando-a. Rozênia retribuiu a carícia, cingindo a carne de Eliza e arranhando levemente sua barriga, apertando-lhe os mamilos em seguida. Roubou o suspiro dela com a boca, beijando, para, então, morder seus lábios.

— Eu amo você — ela declarou, a voz abafada contra o seu pescoço, e era uma frase agradável de ouvir mesmo que Rozênia já soubesse daquilo, como sabia que faria qualquer coisa por Eliza.

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— Separei o vestido vermelho — falou enquanto terminava de trançar o cabelo da outra.

Ela franziu o cenho para Rozênia através do espelho.

— É bonito demais. Não teremos nenhum banquete hoje — a menina contestou, mas Rozênia apenas sacudiu a cabeça.

— Não importa, é a cor favorita de Lorde Cassius.

Eliza pareceu querer replicar, mas calou-se. Obviamente aquilo não fazia sentido para ela, porém Eliza tampouco queria iniciar uma contenda tão cedo. Deixou-se vestir, e, logo após dar o último laço, Rozênia aproximou-se com o prendedor de cabelo rubro que estivera usando na noite anterior.

Ao perceber o que ela iria fazer, Eliza segurou seu pulso.

— É seu, quantas vezes preciso dizer?

Rozênia sorriu.

— Eu sei, mas estou te emprestando. Vai combinar com o vestido — disse, muito perto da outra, para então romper qualquer distância e beijá-la.

Lábios com lábios, foi fácil prender o ornamento à trança da outra sem que Eliza sequer percebesse. Quando se separaram, a boca dela também estava escarlate.

Considerando que aquele seria o último dia dele sobre a terra, podia ser generosa o bastante para deixar que Lorde Cassius visse Eliza completamente vestida de vermelho.


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