Esse mês foi horrível.

Deixar a casa limpa e fazer as refeições já era meus serviços. Contudo ir a costureira e junto com ela fazer um guarda roupa novo pras três, alugar um carro com motorista e reservar um hotel perto do palácio de Tâmaras isso já é demais.

 Não tem idéia como é difícil achar uma vaga perto do palácio. Principalmente agora com a festa de aniversário do príncipe.

Na província de Rosas sou invisível. Se andasse pelada na rua ninguém ia notar ou mandar-me colocar uma roupa. Sou considerada uma coisa, com só uma utilidade que é servir. E o pior que moramos no centro da província onde o preconceito e a descriminação são bastante pesados que na zona costeira.

Resumindo esse mês foi o mais cansativo da minha vida. Tanto mentalmente quanto fisicamente.

Porém a única coisa que me dava um sorriso é saber que vou conhecer um lugar novo e pessoas vão falar comigo.

Todo dia à noite eu consertava uma peça de roupa pra levar na viagem. Não dava pra fazer mágica, mas melhorou bastante.

Consegui consertar:

Um vestido que era da minha prima quando tinha 13 anos.

Uma calça jeans que estava muito larga em mim.

Umas regatas que tinha uns furos.

E meu all star que não tinha mais solução.

Concertava isso tudo me perguntando cadê minha Fada Madrinha.

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O dia finalmente chegou!

 Enquanto coloco meu jeans, all star e regata preta- no meu quartinho ao lado da cozinha- reparo que estou voltando pra casa.

Passei tanto tempo longe de Tâmaras que esqueci que não sou de Rosas. E agradeço aos céus por não ter nenhuma semelhança com os habitantes daqui.

Sou morena e tenho olhos verdes água.

Sou alta e tenho cabelos longos.

E o povo daqui são todos loiros e estrutura mediana.

Essa diferença me conforta e sei que em pouco tempo estou fora daqui.

Fui pra sala encontrando minha Tia sozinha.

— Senhora está tudo pronto e o motorista está na porta esperando.

— NATASHA... MAYARA... Vamos...

— Vou pegar minha mala.

— Mãe a Bella está pensando que vai – debocha Natasha.                                   

— E ela não vai?

— Você acha que vamos levar essa coisa conosco. Poupe-me Mayara.

— Bella não acredito que você pensou que ia conosco?- disse minha tia rindo.

Como fui tonta de acreditar?

Como pensei que ia ter minha liberdade?

Estava tudo programado. Ia aproveitar o horário da festa e fugir. Ninguém ia notar minha fuga, pois sou parecida com os habitantes.

Nunca vou conseguir sair dessa casa e nem conseguir ter um vislumbre da minha terra.

Fui entregue aqui e vou morrer aqui.

— Bella?- chamou-me irritada.

— Pensei que ia pra servi-las. - sussurrei, pois sei que vou chorar a qualquer momento.

— Não tem como dividir o carro com você sem ficar muito perto. E pior encostar-me em você?!- com cara de nojo- E quem sentaria do seu lado?!

— Eu sentaria... - disse Mayara.

— Você ouviu mãe? Ela quer sentar do lado da coisa— disse Natasha enquanto Tia Conceição olhava pra filha como se visse mais uma cabeça brotando nela.

— Posso terminar... Se ela tivesse em um saco bolha aí sentaria do seu lado- disse com um sorrisinho.

Todas começaram a ri e Mayara me olha se desculpando.

Sei que ela faz de tudo pra não ficar atrás da irmã e ter um pouco da atenção da mãe.

— Assim é melhor... Mas voltando o assunto da Bella- disse fazendo-me olhar pra ela- Não pense que você vai ficar aqui sem fazer nada. Aqui tem uma lista do que você tem que fazer antes da minha volta. Se quando voltar não estiver pronto reduzirei seu tempo livre para 30 minutos e cancelarei suas aulas. - disse me dando uma folha- Estamos entendidos?

 - Sim Senhora. - digo pegando a folha.

— Só isso mãe?- disse indignada Natasha.

— Só isso o quê?

—Essa folhinha é pouca - disse pegando a folha da minha mão.

Vou matar esse capeta bem devagar. Pelo que reparei a folhinha tinha umas 20 tarefas só na parte da frente e nem vi a parte de trás.

—Primeiro ela nem sabe ler e segundo tenho algo melhor pra Bella.

— O quê?- perguntou minha Tia interessada.

—Pensando na segurança dos nossos objetos de valor. Podíamos deixá-la no quartinho até quando voltarmos. - disse com uma cara de inocência que não engana ninguém, só a mãe mesmo.

Sério que ela deu a idéia de ficar no quartinho até a sua volta. Três dias naquele inferno.

Odeio essa garota.

— Eu pensei nisso... – olhei pra minha Tia como nascesse mais uma cabeça das dez que ela já tinha. –... Mas não tem como, preciso de alguém pra vigiar a casa. Não tenho alternativa.

— Contratamos alguém pra vigiar a casa e ela pode ficar no canto dela. Tenho medo das minhas jóias perto dela mãe.

— Não dá tempo minha filha.

— Mas...

— Mas nada – disse olhando sério pra Natasha – Dá próxima vez eu contrato alguém e ela fica lá. Ok?

— Senão tem alternativa- disse com um olhar de vitória direcionado pra mim.

— Bella se algo sumir ou tiver menos comida na geladeira. Você vai passar um mês naquele quartinho. -disse se aproximando de mim- E você não vai gostar de saber do que sou capaz. Estamos entendidas?

Ter Conceição cara a cara comigo não é nada prazeroso. Mesmo com as aulas de tiro, arco e flecha e defesa pessoal que faço até hoje nunca consegui ser forte perto dela. Desde os meus seis anos ela me tortura psicologicamente e só de olhar pra ela relembro todos os meus medos.

— Sim... Senhora!- engulo seco.

— Vamos meninas!

Cada uma saiu me olhando de um jeito. Natasha me olha de banda dos pés a cabeça e joga a folha no chão. Mayara me olha com pena e a seguiu junto com a mãe.

A porta bate.

O carro vai embora.

Só consigo ficar para no mesmo lugar. Pregada no chão e sem reação alguma. Lágrimas não existiam mais.

Só fico me perguntando se um dia conseguirei sair daquele inferno e ter o tão sonhado paraíso.