Into You escrita por Shiroyuki


Capítulo 2
2. Come over and start


Notas iniciais do capítulo

Levi já estava lá dentro.
Achar uma saída era difícil.

E aquele garoto sorria demais para o seu gosto.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/731363/chapter/2

Capítulo 2.

Come over and start



 

Hanji estacionou em uma vaga estreita, que Levi julgou matematicamente impossível de encaixar o carro dela à primeira vista. Não que isso o impressionasse - ele já estava acostumado com o fato de que ela dirigia da mesma forma que se portava, ou seja, como uma louca.

Ele também não era o melhor exemplo a se seguir, mas, em sua defesa, podia afirmar que sabia dirigir perfeitamente bem, e sua única falta, se é que poderia ser chamada assim, era a velocidade. Mas ele não tinha culpa se os limites de velocidade ridículos dentro do perímetro urbano eram calculados com base nos idosos praticamente cegos que insistiam em sempre colocar seus carros na frente do dele, justamente quando ele estava com pressa - ou seja, quase sempre.

De qualquer forma, e mesmo com a direção no mínimo perigosa, para não dizer completamente desvairada, de Hanji, eles chegaram ao seu destino. Levi abriu a porta do carona com relutância, imaginando se conseguiria se livrar daquele martírio caso tivesse se envolvido em um acidente e quebrado alguns ossos. Não… Hanji provavelmente o colocaria todo engessado, e sustentado por cordas, para dançar como uma marionete no meio do salão de festas.

Então, ele se colocou para fora do carro, evitando cruzar olhares com a sua animada acompanhante, que tratou de segurá-lo pelo braço, garantindo que ele não fosse escapar, apesar de já ter chegado até ali. Sem outra opção em vista, o homem encarou de frente o palco da sua tortura. O prédio de tijolos a vista vermelhos se erguia rente à calçada de concreto de uma esquina, em três andares, com janelas amplas, pontuadas simetricamente, e ornamentos em suas esquadrias, de um estilo antigo que destoava ligeiramente da arquitetura urbana ao redor. Escadarias levavam até o subsolo da construção, onde ficavam as entradas, e, ao nível dos olhos, um letreiro em relevo indicava que aquele era o Estúdio de Dança Arlert.

Levi estalou a língua, e, ainda que não fosse da sua vontade, acompanhou Hanji pelo resto do caminho até a entrada. Logo ao adentrarem, Levi já soube que sentiria-se desconfortável durante todo e qualquer período de tempo que passasse naquele local. O hall de entrada era relativamente amplo, com as suas paredes todas pintadas de branco, e havia pessoas andando de um lado para o outro. Garotinhas de cor-de-rosa com coques na cabeça e risadas estridentes, acompanhadas das suas mães, que carregavam uma dezena de bolsas e casacos nas costas. Alguns jovens, um moreno alto de olhos claros, outro loiro com uma risada estranha, e uma garota baixa e loira com cara de poucos amigos, o três com calças de moletom que caíam desleixadamente no quadril, e camisetas com o logotipo da escola de dança estampado nelas, conversavam em um dos cantos, distraidamente. Um grupo de adolescentes, de colans pretos, seguia uma mulher ligeiramente mais velha do que eles, com feições asiáticas rígidas, na direção da escadaria que ficava logo adiante, do lado oposto da sala.

Ignorando todo o resto, e arrastando Levi consigo, Hanji foi direto ao balcão de atendimento, que se localizava logo ao lado da escadaria principal, parcialmente oculto por ela. Havia um sofá grande e azul, e algumas poltronas, formando uma espécie de sala de espera, mas era evidente que aquele prédio não havia sido projetado como um estabelecimento comercial, então, ele ainda parecia somente uma grande casa que cumpria a função errada.

—  Posso ajudá-los em alguma coisa? - Atrás do balcão, um garoto - era um garoto, certo? Pelo menos, sua voz parecia, mas era suave demais, ao mesmo tempo. Ele tinha cabelos loiros, em um corte de cabelo na altura do queixo, que se tornava dúbio no seu rosto praticamente andrógeno. Enfim, o garoto, ou o que quer que ele preferisse ser, sorria simpaticamente, no seu suéter azul-celeste alinhado.

Hanji logo atropelou-se em explicações, sobre as aulas que já havia reservado, enquanto o garoto imprimia uma grade de horários e explicava tudo a ela. Levi não estava com vontade de ouvir aquelas instruções, então apenas distraiu-se. Ouvia uma música ambiente baixa, vindo de auto-falantes em algum lugar da recepção. E passos uniformes, nos andares superiores, abafados pelas camadas de construção acima da sua cabeça. Esperava que uma escola de dança fosse ser terrivelmente agitada e barulhenta, com músicas diversas saindo de todos os cantos e pessoas se movendo sem parar, mas até que o local era organizado, já que a maior parte das pessoas em trânsito se dispersava no momento. As salas de aula deveriam ser revestidas acusticamente também, agora que ele parava para pensar sobre isso.

—  Está tudo pronto, Levi! - Hanji pulou na sua frente, com o papel que o atendente havia entregado a ela em mãos. - Você já pode começar agora!

—  Como? - Ele retorquiu. - Não, você disse que nós só íamos dar uma olhada na escola e ir embora.

—  Mas a sua aula começa em alguns minutos, você pode aproveitar e assistir a primeira hoje mesmo, o que acha?

—  Acho que isso não vai acontecer. - Ele sentiu o peso de Hanji, apoiada em seu ombro, e ignorou. O trio que antes conversava ainda estava ali, e mais o atendente, então, a última coisa que ele precisava era começar a discutir com Hanji, e ela fazer um escândalo. - Não trouxe roupas. Só vamos logo para casa e eu volto outro dia.

— Você pode apenas assistir a primeira aula, não precisa participar. - Informou o garoto atrás do balcão, tentando ser solícito. Levi o lançou um olhar tão ameaçador que o fez engolir em seco, voltando aos seus afazeres rapidamente, apesar de não parecer ter tantos assim no momento.

— Viu? Eu sei o que essa cabecinha maligna aqui está pensando… - Ela girou até estar de frente para ele, cutucando sua testa, e Levi lutou contra o repentino instinto assassino que o tomou, mas respirou fundo e manteve-se impassível. - Você pretende arrumar desculpas atrás de desculpas até conseguir escapar disso no final.

—  Eu já dei minha palavra, então…

— Então não custa nada começar agora! - Hanji exclamou, com lógica infalível, já puxando Levi pelo braço, e começando a empurrá-lo pelas costas na direção da escadaria. Ela só parou quando eles fizeram a volta e chegaram ao andar superior, frente a um amplo corredor, iluminado diretamente pela janela que parecia bem maior agora do que do lado externo.

De ambos os lados haviam portas. Duas das salas possuíam janelas internas, por onde era possível ver uma das turmas de ballet, com garotinhas pequenas e risonhas movendo-se como um pequeno exército rosa e desajeitado, e outra do que parecia ser dança de rua, hip hop ou qualquer coisa assim, com jovens em roupas largas sentados no chão, parecendo aguardar por algo.

Das salas do outro lado apenas uma tinha a porta aberta, e foi para aquela que Hanji se direcionou, depois de checar no papel que tinha em mãos, e verificar mais de uma vez a sinalização presente na porta. Levi leu com cuidado o que dizia a placa.

—  “Dança de Salão”? - Ele repetiu. - Pensei que você quisesse que eu fizesse aquela coreografia ridícula. Aquilo não me parece dança de salão.

—  Este é só o nome da sala, acho, eu matriculei você na turma de Dança Básica I. Para os iniciantes e inexperientes, sabe? Quero que você dance comigo, também, Levi, então é bom que aprenda um pouco de tudo, por via das dúvidas.

—  Não foi pra isso que eu aceitei vir até aqui. - Ele resmungou, cruzando os braços. Nem havia entrado na sala de aula ainda, e já se arrependia. Por que ele ainda parava para ouvir o que Hanji tinha a dizer? Ele deveria ter dado o fora quando teve a chance, horas antes, naquele Café.

— Eu sei, você aceitou vir até aqui porque me ama. - Ela balançou a mão, fazendo pouco caso daquela teimosia, e, puxando Levi pelo pulso, obrigou-o a entrar na sala.

Ele foi acomodando-se sem pestanejar em um dos bancos longos que havia na lateral da sala, próximo à parede, que já estava tomado por mochilas, bolsas, casacos, e outros pertences dos alunos. A sala estava parcialmente cheia, com grupos de duas ou três pessoas espalhadas pelo local, algumas conversando, outras apenas esperando. De alguma forma, todas as almas ali presentes pareceram sentir ao mesmo tempo a entrada de Levi, e pararam o que quer que estivessem fazendo para encará-lo, em um efeito de manada.

Só então ele percebeu que, curiosamente, a turma era formada exclusivamente por mulheres. Algumas ainda jovens, outras de meia-idade, mas todas possuíam algo em comum em suas expressões, que Levi não tinha o menor interesse em decifrar. E, no mesmo segundo em que Levi percebeu a presença delas, um burburinho começou a se formar, enquanto elas se juntavam em pequenos grupos e começavam a falar entre si, lançando a ele alguns olhares nada discretos. Ele repentinamente sentiu-se em um documentário do Discovery Channel. O grupo de gazelas observava o intruso em seu bando, em dúvida sobre correr ou fazer contato direto.

Levi virou-se para Hanji, pronto para perguntar o que ela pretendia que ele fizesse naquele lugar, só para perceber que ela havia evaporado sem deixar rastros. Apenas o papel amassado com as anotações sobre as suas aulas jazia ao seu lado no banco, no local onde deveria estar a mentora daquele plano. Era isso. Ela havia jogado-o no meio da savana africana e então, sumido sem nem se despedir. Bem típico dela.

Ele poderia aproveitar o momento para escapar, mas sentia que isso não valeria o risco de uma retaliação, posteriormente. E, mesmo que ele estivesse disposto a enfrentar a ira vingativa resultante pela sua liberdade, não teve tempo para formar um plano. Primeiro, notou a mudança de atmosfera quando o bando de gazelas ergueu a cabeça ao mesmo tempo para o outro lado, em um movimento sincronizado. Ele também olhou para a porta, a tempo de ver um homem adentrando por ela.

Não era bem um homem. Estava mais para um garoto. Era o moreno de olhos claros, com calça de moletom cinza-chumbo e camiseta branca um tanto justa demais no corpo bem desenvolvido, que ele havia visto anteriormente conversando com outros dois. Ele chegou e se colocou na frente da sala, falando algo e batendo palmas uma única vez, como se precisasse realmente disso para chamar a atenção de toda a manada, que já parecia completamente absorta pela sua presença. Ele sorriu amplamente, olhando para cada uma delas. Seu olhar repousou em Levi por um breve segundo, e não demorou muito, mas ele podia jurar ter visto o sorriso dele aumentar um pouco mais naquele instante.

—  Boa tarde! Como estão todas? Muito bem, acho que já estamos todos aqui? Janice, você cortou o cabelo, ficou ótimo. E você, Marcelle, pronta para testar aqueles movimentos que falei? Perfeito. - O tom de voz era animado. Cativante.

Levi já havia entendido a dinâmica inteira, com somente aquela interação. Ele era como um animador de festas, ou um líder de excursão. Alegre. Mantendo o tom ensaiado, mas próximo na medida certa, para que elas se sentissem compelidas a não desistir. Com seu enorme sorriso e palavras amigáveis, pronto para motivar pessoas e fazê-las se mover. Levi não sabia lidar com pessoas assim. Bem, Levi não sabia lidar com pessoas, ponto. Sabia manipulá-las. Forçá-las a confessar algo, ou conduzir um júri inteiro na direção que ele desejava. Mas, definitivamente, não sabia lidar com pessoas como aquela.

—  Poderíamos dar início à aula, mas eu percebi, nós temos um rosto novo presente aqui hoje?

Oh, merda. Ele havia sido mesmo notado. Todas as cabeças voltaram-se para a lateral, curiosas, ao comando do seu líder. Se antes, Levi era um observador da vida selvagem, agora ele havia passado a ser a presa. E se havia uma coisa que Levi Ackerman odiava mais do que manhãs frias, café fraco ou pessoas no geral, era ficar encurralado.

—  Só estou observando. - Ele pronunciou, quando percebeu que todos os que o encaravam esperavam por uma resposta. O sorriso do garoto nunca esvaecia.

—  Bem, fico feliz que você seja integrante da nossa turma, senhor…?

— Ackerman. - Ele respondeu, monótono, e, lembrando a si mesmo de que não estava no ambiente de trabalho, onde as pessoas o reconheceriam com somente essa informação, acrescentou. - Levi Ackerman. - O garoto arqueou uma das sobrancelhas à menção do sobrenome, curioso.

— Certo, Levi. - Ele repetiu, pronunciando cuidadosamente cada sílaba, como se estivesse fazendo um esforço extra para decorar aquele nome. - Como é sua primeira aula, não tem problema assistir apenas, mas eu espero que você se junte a nós em breve.

Aquele sorriso mais uma vez. Levi somente acenou com a cabeça em confirmação, pensando consigo mesmo que não havia como ele estar mais errado. Levi não pretendia se juntar àquele grupo, e, quanto antes encontrasse uma estratégia para escapar deste martírio sem “arruinar” o casamento de Hanji, melhor seria.

Sem demora, o professor deu início à sua aula. Depois de uma rápida explicação, a qual Levi não se incomodou em prestar atenção, o garoto ligou a música, uma espécie de música latina, lenta e envolvente, mas ainda enérgica e com uma batida constante. Não era ruim de ouvir, ao menos.

Assim como todas na sala, Levi também direcionou seu olhar para o ponto principal. Aquela pessoa não precisava de um holofote ou de um palco elevado para se destacar facilmente, foi a primeira coisa que passou pela mente de Levi - pois mesmo ele, que não tinha o menor interesse naquela aula, não pôde deixar de observar.

O garoto se movimentava, e, ao mesmo tempo, ia explicando o que seus passos significavam, mas era complicado prestar atenção em palavras com aquela demonstração. Porque os quadris dele se moviam junto com a música, em um ritmo arrastado e vagaroso, mas cheio de vigor, exatamente como na melodia. Levi não imaginava que seria possível traduzir música em movimentos, mas aparentemente, para aquele garoto, era muito simples.

Seus passos variavam, para a frente e para trás, de um lado ao outro. Os braços se moviam cadenciadamente ao lado do corpo. E seus quadris... Bem, seus quadris eram os personagens principais daquela dança, sem dúvidas. Mexiam-se com uma facilidade inacreditável, quase como se tivessem vida própria, e Levi jamais imaginaria que um corpo indubitavelmente masculino poderia produzir movimentos tão graciosos.

Percebeu o olhar do dançarino na sua direção, e a maneira como o sorriso dele parecia desafiá-lo. Era como se dissesse "você terá que fazer isso também". Levi virou o rosto no mesmo instante, disfarçando e olhando para o resto da turma, que tentava, parcamente, imitar seu professor. Era um tanto lamentável de se observar, depois de ter assistido o profissional realizando os mesmos movimentos. Levi não tinha a intenção de desviar o olhar, como se estivesse cometendo um erro, mas não havia percebido até aquele momento que o encarava com tanto afinco, a ponto de sentir suas sobrancelhas vincarem e seus olhos franzirem.

A voz animada do garoto, motivando o grupo que o seguia, era o único som que sobrepunha a música. Levi ousou mirá-lo novamente. Desta vez, ele havia girado de frente para o espelho que ocupava toda uma parede, e demonstrava outros passos, variantes daqueles iniciais, ainda no ritmo da mesma música. Como ele estava de costas, Levi permitiu-se um momento a mais de apreciação, embora suspeitasse que poderia ser facilmente notado pelo reflexo do espelho. Não podia negar, era um tanto hipnotizante a maneira como ele conseguia controlar seu corpo, movendo-se sem sair do lugar, fazendo com que aquilo parecesse fácil.

Era óbvio que não era fácil, a considerar pela dificuldade que as gazelas tinham em produzir os mesmos efeitos. Chegava a ser uma piada sequer cogitar que ele, então, pudesse fazer algo parecido. Ele tinha plena consciência das suas limitações, e o único empecilho na sua vida era convencer Hanji de que ela não teria a performance hollywoodiana que sua pequena cabecinha de solo fértil para criar besteiras sonhava. E ele se negava a abrir mão da sua dignidade e reputação para mover o quadril, seja da forma que fosse.

A música mudou, e os movimentos do garoto mudaram com ela. As alunas iam ficando mais cansadas, e dançavam com menos energia, a medida que o tempo ia passando, mas o entusiasmo do professor não se alterava, e ele continuava sorrindo e deslizando pelo chão de madeira com a destreza de quem se divertia, e já estava habituado a isso, todos os dias. Duas horas se passaram, e Levi mal as sentiu, dividido entre observar os movimentos impecáveis do garoto, e julgar o desempenho escasso do resto da manada. Elas também realizavam movimentos que ele acreditava serem humanamente impossíveis, mas não era de uma maneira positiva.

Com o fim da aula, a música encerrou-se, e o professor deu as últimas instruções, despedindo-se animadamente, enquanto a turma se movia em uma exaustiva e lenta sincronia. Levi se levantou, percebendo que essa era sua deixa para sair dali, e, possivelmente, não mais retornar. Teria que atravessar o fluxo vagaroso de mulheres, que vinham na direção do banco onde ele estava para pegar seus pertences e outras que insistiam em parar para conversar no meio do seu caminho. Ele estava procurando pelo melhor circuito a percorrer pelo labirinto feminino que se erguia à sua frente, quando notou outra movimentação no sentido contrário. O professor vinha ao seu encontro, desviando habilmente e chegando até ele muito mais rápido do que ele foi capaz de fugir.

— O que achou da aula, Levi? - Ele indagou, entusiasmado, com uma familiaridade que indignou o homem. Ele falava como se ambos já fossem velhos conhecidos, e Levi não sabia nem mesmo o nome dele.

— Não tenho uma opinião formada sobre isso. - Levi disse, somente, porque "você não foi nada mal, mas nem morto eu irei participar dessa insanidade" não parecia uma boa forma de iniciar a conversa. Não que Levi se importasse se seria rude ou não, normalmente, mas era sempre bom sondar o terreno antes de ser tão sincero.

Agora, olhando de perto, era quase impossível imaginar que esse garoto fosse o mesmo que antes se movimentava tão bem-disposto. Ele ainda recuperava o fôlego, mas seu sorriso continuava lá, e, agora de perto, parecia ainda maior e mais aberto. Ele era mais alto que Levi, devia ter quase 1,75m. Muitas pessoas eram mais altas que Levi, na verdade, mas ele não gostava de observar esse ponto em questão. E os olhos dele, agora que ele conseguia ver melhor, não eram nem azuis, nem verdes, mas alguma cor no limiar entre os dois, que não se definia em nenhum deles. Levi não ligava muito para cores, ainda mais se fossem nos olhos de pessoas. Mas não negaria, aquela era uma bela cor.

— E quando vai ser a sua próxima aula? - Ele prosseguiu, sem perceber que impedia Levi de seguir seu caminho para fora dali. Ele continuou no mesmo lugar, e apenas consultou o papel deixado para trás por Hanji. Na grade de horários, era fácil perceber que ela havia marcado muitos horários, e todos eles depois do seu expediente. Não havia nem como tentar fugir.

— Segunda-feira. Às sete horas da noite. - Ele respondeu, e sem tirar os olhos do papel, podia sentir que o sorriso do garoto continuava lá.

— Perfeito. A turma da noite é menor do que essa, bem mais tranquilo. - Ele passou a mão pelos cabelos castanhos, deixando-os ainda mais revoltos ao redor da sua cabeça. Levi ergueu os olhos. Havia uma fina camada de suor na pele do garoto, que era ligeiramente bronzeada, o que só aumentava aquele ar de juventude que ele parecia emanar naturalmente.  Podia até passar por um adolescente, mas não havia como alguém jovem demais estar dando aulas daquela forma. Ele não devia ter mais do que 25 anos, se Levi estivesse correto.

Por que ele ainda estava ali, dando papo para um pirralho que mal devia ter saído da faculdade, ao invés de dar a volta e ir embora?

Havia algo mais a ser dito? Dificilmente. Então, ele já poderia ir embora, certo? Era o que estava esperando, esse tempo todo, afinal. Levi fez a volta, passando pelo garoto, e seguindo na direção da porta. Ele percebeu quando o outro virou-se na sua direção, quase ao mesmo tempo.

— Vejo você amanhã, Levi? - Ele soltou a pergunta no ar. Levi não tinha obrigação de responder, mas, mesmo assim, girou o rosto para trás, direcionando somente seus olhos para ele.

— Até, garoto.

Não foi uma resposta conclusiva, mas talvez fosse a resposta esperada, pois ele reagiu, movendo o corpo minimamente na sua direção.

—  Meu nome é Eren. - Sorriu com o canto dos lábios.

Foi diferente dos sorrisos anteriores, durante a aula, e quando ele saudava ou se despedia das suas alunas. Aqueles eram atos automáticos, especialmente educados e carismáticos, idealizados para recebê-las calorosamente. O mesmo sorriso padrão para cada uma delas. Dessa vez, Levi percebeu que a atitude de agora não era de forma alguma ensaiada. Soava natural, e inesperada. Ele não permaneceu no local para ver muito mais, mas, naquele breve instante, teve a impressão de que o garoto tinha a expressão de quem se via diante de um desafio.

E, pelo brilho que se acendeu naqueles olhos tão singulares, Levi podia apostar que aquele garoto adorava desafios.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, pessoas o/
Finalmente temos o nosso Eren no seu habitat natural ~ E que belo impacto ele já chegou causando
Não sei se o meu Eren nessa fic possa parecer um tanto OOC para alguns, mas isso tem uma explicação, e eventualmente vamos chegar lá, então eu peço paciência caso alguém não tenha gostado da personalidade que ele apresenta logo de início (além disso, não temos titãs nesse mundo, então boa parte da raiva reprimida do menino Eren se esvai naturalmente).
Além disso, caso alguém queira sentir a atmosfera da aula enquanto lê, agora e nos próximos capítulos, pode colocar músicas instrumentais latinas para ouvir junto, altamente recomendado ;) nessa primeira aula, eu imaginei alguma coisa mais próxima do cha-cha-cha, caso alguém se interesse. Falando nisso, gostaria de ressaltar que eu sei vários nadas sobre dança, e toda informação que estiver inserida no contexto da fanfic foi pesquisada previamente, então, se eu cometer algum erro e alguém perceber, sinta-se livre pra me corrigir sobre isso hehe

Bem, acho que por enquanto é isso o/ Espero MUITO que tenham gostado, de verdade ♥ e até a próxima ~