Autumn Leaves In a Snowstorm escrita por Miss Moonlight


Capítulo 17
The collector and their masterpiece


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente.

Eu sei, eu sei, como eu ainda tenho a cara de pau de aparecer aqui depois de meses sem dar as caras? Infelizmente os meus sonhos de ter mais tempo para trabalhar nesta história com a quarentena foram por água abaixo. Eu acabei trabalhando ainda mais em home office do que eu trabalhava no escritório.

Mas enfim, vocês não estão aqui para isso.

Antes de vocês iniciarem a leitura, eu gostaria de deixar o meu agradecimento especial a todos que comentaram no último capítulo, por todo o carinho, paciência, por ainda lerem e darem uma chance para essa história. Muito, mas muito obrigada e desculpe não ter visto antes. Quando entrei aqui e vi todos aqueles comentários não pude deixar de me sentir culpada, apesar de muito feliz e grata.

Tenham uma ótima leitura e espero que gostem do capítulo. Quem estava sedento para mais interação entre a Autumn e o Charles vai adorar esse aqui.

Vejo vocês lá embaixo!



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Houve um silêncio por um tempo, mas não saberia dizer por quanto especificamente. Estava ocupada demais, perdida em pensamentos, relembrando sem parar tudo o que havia acontecido algumas horas antes na casa dos Bakers.

— E o que você disse? – perguntou Charles, tirando-me de meu transe momentâneo.

O rapaz ao meu lado olhava para o piso de madeira de seu quarto e parecia impassível, mas se eu tivesse prestado mais atenção, teria notado que suas mãos pálidas apertavam firmemente o recipiente sobre seu colo.

— Nada – respondi simplesmente.

— Nada? – Olhou-me confuso, vendo-me assentir em seguida. – Como assim?

— Eu apenas fiquei lá, paralisada ao ouvir aquilo. Ao verem o meu estado, eles começaram a me tranquilizar, dizendo que eu não precisava dar a resposta naquela hora, que entendiam que era uma decisão importante e que eu precisaria de tempo.

Charles balançou a cabeça em concordância, antes de perguntar-me:

— E o que você pretende fazer?

Antes de responde-lo, olhei em seus olhos e assustei-me um pouco ao ver que os mesmos pareciam tristes. Depois de um tempo tentando decifrá-los sem sucesso, respondi-lhe com sinceridade, suspirando em seguida:

— Eu realmente não sei.

O jovem de cabelos negros como a noite balançou a cabeça outra vez, parecendo entender o conflito interno que eu estava passando e decidiu comer mais um pedaço de bolo, enquanto refletia sobre o assunto.

— Qualquer que seja sua decisão, Autumn, você precisa pensar bem. Estará ligada a essas pessoas pelo resto da sua vida e será quase impossível você não criar afeto por elas, e você sabe o que afeto pode trazer – disse com sua voz rouca em um tom baixo.

— Eu sei, tudo aquilo que eu busquei evitar todos esses anos – disse, deitando meu tronco sobre sua cama e deixando minhas pernas para fora da mesma.

— Exatamente – fez uma pausa, enquanto fechava o recipiente e colocava-o sobre sua escrivaninha. Ajeitou-se sobre o colchão ao meu lado e olhou-me sobre o ombro esquerdo. – Mas não é como se toda a experiência fosse horrível, há coisas boas, sabe? Se quer minha opinião sincera, no seu caso, acho que você deveria deixar que eles te adotem. Vocês claramente já possuem um vínculo muito forte, o que falta é só um documento oficial dizendo o que vocês já sabem. – Charles deitou-se ao meu lado e olhou fixamente para o teto, apesar de não parecer enxergar coisa alguma e, sim, estar perdido em memórias distantes.

Enquanto eu admirava o perfil de seu rosto e refletia sobre suas palavras, o rapaz virou-se em minha direção, lançando-me um leve sorriso que cada vez se tornava mais comum, mas que, ainda assim, fazia meu coração perder o compasso a cada vislumbre dele.

Algo nele o fazia ser simplesmente hipnotizante, tanto que foi preciso apenas um olhar seu e um pequeno sorriso para roubar minha atenção para si. Não demorou muito para que certas memórias de um tardar da noite em uma biblioteca fossem ativadas. Apenas lembrar de tal coisa e de seus atos inesperados, apesar de bem-vindos, era o suficiente para fazer com que meus batimentos cardíacos aumentassem.

— Mas é claro que a decisão é sua e só você sabe o que é melhor para você – continuou ele agora em um tom baixo, levando uma de suas mãos até uma mecha de cabelo minha e enrolando-a entre seus dedos compridos, brincando com os fios cobreados.

Eu podia sentir o frio que emanava de sua mão na lateral de meu rosto e foi quase impossível evitar inclinar-me em sua direção. Em vez disso, meus olhos fecharam-se e apenas permiti que continuasse, aproveitando ao máximo todas aquelas sensações novas que apenas Charles conseguia despertar em mim.

— Você tem razão – murmurei de volta, já sentindo-me um tanto sonolenta.

Sua risada leve bateu contra o meu rosto e o seu tom grave fez com que alguns pelos de meu braço se arrepiassem involuntariamente.

— É claro que eu tenho, achei que isso já era um fato confirmado, Pierce – seus dedos escorregaram até minha bochecha esquerda e continuaram contornando o formato de meu rosto com as pontas dos mesmos.

O roçar de seus dedos sobre a minha pele era tão sutil, quanto o de um colecionador que deseja encostar em uma obra de arte rara e tem medo que seu toque possa danificá-la de alguma forma, porém não consegue evitar fazê-lo mesmo assim.

Abri meus olhos só para encontra-lo exibindo seu sorriso sarcástico e logo pude sentir meus lábios reproduzindo-o.

— O único fato confirmado aqui é que você é um babaca, White – sussurrei de volta, não vendo motivo em falar em um tom mais alto devido a nossa aproximação.

Seus lábios avermelhados automaticamente formaram um “O”, demonstrando falsa indignação e fazendo-me rir.

— Se eu fosse você, tomaria cuidado com o que diz, cabeça de fósforo – encostou seu dedo indicador sobre minha testa, empurrando-a levemente. – Desse jeito já estou quase me arrependendo de ter te comprado um presente.

Meu cenho franziu-se imediatamente, enquanto eu ainda tentava processar o que havia escutado. Então, com medo de ter entendido algo errado e acabar passando vergonha, decidi permanecer parada, apenas o encarando, enquanto ele ria de minha reação.

Antes mesmo que eu pudesse tentar recuperar minha voz para questioná-lo, o rapaz levantou-se e agachou-se ao pé de sua cama. Ele esticou seus braços longos e retirou um embrulho razoavelmente grande debaixo da mesma. Além de grande, parecia pesado, pois Charles o segurava com duas mãos, enquanto colocava-se novamente em pé.

Sentei-me sobre a cama, ainda sem acreditar na imagem a minha frente. A vontade era de pegar a câmera do rapaz e registrar aquele momento único em minha vida, que nunca se quer havia imaginado acontecer. Porém eu mal conseguia mexer-me, quem dera realizar todas as ações necessárias para isso.

— Apenas ignore toda essa parte exterior. Eu tentei pedir ajuda ao Sr. Martin, mas acho que ele também não sabe como faz isso direito – disse ele, olhando para o presente, com o cenho franzido. Estava embrulhado de um jeito desajeitado em um papel vermelho e havia fita adesiva para todo lado. Eu não tinha a mínima ideia do que era, pois o papel havia deixado o que é que estivesse ali embaixo com um formato estranho.

— Isso é para mim? – Perguntei ainda sem conseguir acreditar.

— Sim, Autumn – Charles revirou os olhos –, é para você. Mas já aviso que não é nada demais, está bem? Não vá esperando muita coisa.

Ele aproximou-se, colocando o objeto sobre o meu colo e sentando-se ao meu lado outra vez. Desviei meus olhos do rapaz ansioso para o presente, encarando-o um pouco perdida, sem saber se deveria abrir ou não.

— Eu prometo que não é uma bomba ou algo do tipo – afirmou Charles, soltando uma risada logo depois.

Meus dedos migraram finalmente para uma das fitas adesivas que seguravam o papel de presente e, ainda insegura, a puxei. Fui fazendo isso com as outras fitas até conseguir ver uma parte do que estava por baixo de tudo aquilo. O som de surpresa que saiu de meus lábios foi instantâneo, assim como o arregalar dos meus olhos. Rapidamente comecei a tirar o que restava do papel vermelho, já não me preocupando com seu estado final. No fim, só restou o presente sobre meu colo e eu o encarava quase sem piscar.

Não sei por quanto tempo eu fiquei admirando aquela máquina de escrever amarela sobre meu colo e dedilhando seu formato e teclas, ainda desacreditada de que agora ela pertencia a mim e isso tudo graças ao rapaz ao meu lado.

— O que achou? – Ouvi a voz de Charles perguntar em um tom hesitante e eu dirigi meus olhos até ele, notando novamente sua presença. – Eu sei que não é das melhores, mas foi o que eu consegui arrumar. A gente pode dar uma melhorada nela, comprar umas peças novas e-

— É perfeita – eu disse rapidamente, interrompendo-o. Sentia minhas bochechas começarem a doer devido ao tamanho do sorriso estampado em meu rosto, porém estava feliz demais para se quer tentar contê-lo, sabendo também que seria uma tarefa falha. – Mas não precisava, Charles, sério. Não deveria gastar seu dinheiro comigo.

— Não precisa se preocupar com isso. Ela era lá do escritório, mas foi aposentada faz um tempo. Perguntei pro meu chefe se ele não queria me vender e ele resolveu me dar de graça, já que estava quebrada e precisava de conserto. Sr. Wilson parecia ansioso em se livrar dela na verdade.

— Então aquele dia que fomos a loja de ferramentas...

— Sim, era para consertar sua máquina. Foi mais fácil do que eu pensava, Sr. Martin me explicou algumas coisas e eu acabei conseguindo consertá-la sozinho.

Antes que Charles pudesse dizer mais alguma coisa, eu voei em sua direção e o envolvi em um abraço apertado. Claro que abraçá-lo ou ter qualquer tipo de contato mais íntimo com ele ainda era um pouco incomum, mas isso não significava que não era agradável. Sem contar que eu não conseguiria expressar minha gratidão e felicidade em palavras, então esperava que aquele ato dissesse tudo o que eu queria dizer, mas não conseguia.

Logo suas mãos subiram até minhas costas e por ali ficaram. Não pude deixar de notar que ele parecia cada dia mais habituado àquele tipo de coisa, então sua resposta passava a ser a cada vez mais rápida também. O apertei, enterrando meu rosto em seu ombro, sentindo meus olhos começarem a arder.

— Obrigada – sussurrei contra o tecido de sua blusa, esperando que ele tivesse escutado.

Uma de suas mãos subiu até o meu cabelo, entrelaçando-se nos fios cor de ferrugem e lentamente começando a fazer uma espécie de cafuné, porém um pouco desajeitado, como se suas mãos não fossem acostumadas àquilo.

— Não há de quê, Autumn.

Ficamos um bom tempo ali, daquele jeito, pois parecia tarefa impossível afastar-me dele naquele momento. Seu cheiro tão característico rodeava-me, impregnado minhas roupas, e seus carinhos em meus cabelos continuavam, servindo apenas para favorecer à minha ideia de permanecer ali até amanhecer.

Ainda era difícil acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Eu queria dizer-lhe tantas coisas. Dizer-lhe o quanto aquilo tudo havia me tocado e que sempre me lembraria daquele dia, e também que me sentia grata por tê-lo em minha vida, por sua companhia e sua amizade.

Distanciei-me de seu ombro para olhar em seus olhos, pronta para dizer tudo o que sentia. Entretanto, no fim, o que me permiti dizer foi o seguinte:

— Ninguém nunca fez algo assim por mim. Claro que já ganhei presentes de Merle e Martha, mas nenhum com valor tão pessoal e especial quanto esse – senti algo molhado escorrer pela minha bochecha, sendo enxugado rapidamente por um de seus dedos. Seus olhos azuis estavam iluminados e tão profundos que eu sentia-me incapaz de desviar meus olhos dos dele. – Você não sabe o quanto isso significou para mim, o quanto você significa para mim, Charles.

Meu coração batia tão acelerado quanto o dia em que ele havia me beijado. Talvez fosse a proximidade, a emoção de finalmente dizer-lhe aquelas palavras ou somente a imersão que nós dois estávamos naquele momento, na conexão que estávamos tendo que se fazia mais através do olhar do que na fala, pois era nele que as palavras não ditas tinham lugar.

Suas mãos subiram para o meu rosto lentamente, quase como uma tortura, enquanto nossos olhos ainda conversavam intimamente. Elas seguravam-me com tanta suavidade e sua pele fria era um agrado a pele ardente de minhas bochechas.

Quando estávamos assim, tão próximos e com seus olhos lendo todo o meu passado, presente e provavelmente meu futuro através dos meus, eu não conseguia pensar em mais nada a não ser nele.

Seus lábios, então, encostaram suavemente sobre minha testa, presenteando-me com um beijo demorado. Meus olhos se fecharam com o seu ato inesperado e terno, tentando memorizar cada detalhe daquele momento. Charles afastou-se aos poucos e colou sua testa na minha, soltando um suspiro logo depois.

Estava insegura em abrir meus olhos, mas simplesmente não pude evitar espiá-lo. Queria saber o que ele estava sentindo e pensando, e sabia que só poderia descobrir através de sua expressão. Decidi abri-los aos poucos, encontrando seus olhos fechados e seu cenho e lábios levemente franzidos, como se estivesse tendo uma batalha interna.

Quando estava prestes a questioná-lo sobre isso, ele disse, pegando-me de surpresa devido ao seu tom de voz tão sério:

— Talvez nunca vá me ouvir dizendo isso novamente, Autumn Pierce, então grave bem essas palavras. –  Seus olhos abriram-se de repente, conectando-se aos meus instantaneamente. – Eu já não sabia mais o que era estar vivo até você aparecer.

Eu não saberia explicar o que sentia naquele momento. Todas aquelas emoções eram tão novas para mim, que eu conseguia entender muito bem ainda do que se tratavam ou mesmo como lidar com elas. Estava sem palavras ao ouvi-lo dizer tudo aquilo para mim, não conseguia processar direito o que isso significava, só que provava de vez por todas que o que tínhamos era real e recíproco.

Minhas mãos foram automaticamente até o seu rosto, sem que eu percebesse. Não pude evitar acariciar sua pele pálida, sentindo a maciez dela e vendo-o fechar os olhos, assim como eu havia feito anteriormente. Suas mãos logo cobriram as minhas e pude notar que já não estavam mais tão gélidas. Primeiramente achei que as afastaria de si, conforme o esperado, mas elas apenas seguram as minhas e por ali ficaram.

Sentindo que deveria dizer algo em resposta, decidi não pensar muito e seguir meu coração, já que minha mente estava bagunçada demais para elaborar algo.

— Como você pode dizer uma coisa dessas e esperar que eu não me apaixone por você? Sinceramente, Charles, eu não sei mais o que eu faço com você.

Ele olhou-me completamente surpreso com o que eu havia dito e eu engoli em seco, de repente, dando-me conta do que havia deixado escapar. Logo seus lábios repuxaram-se em um de seus sorrisos laterais, porém dessa vez menos malicioso e mais ameno, e virou o rosto para depositar um beijo na palma de minha mão esquerda, antes de dizer:

— Eu não espero nada de você, Autumn, não espero mais nada de ninguém na verdade. Talvez seja por isso que você me surpreende tanto. Nunca achei que fosse me sentir assim em relação a alguém novamente, a última vez que confiei tanto assim em alguém foi quando minha mãe ainda estava viva.

E mais uma vez, sua declaração tinha me pego de surpresa. Ele finalmente estava me dando detalhes importantes sobre sua vida e eu nem mesmo havia precisado incitar algo; Charles apenas me contara, como alguém que confidencia algo pessoal a um amigo próximo. Considerando aquilo um bom sinal e uma boa oportunidade para descobrir mais sobre o rapaz a minha frente, disse o mais cuidadosa e gentilmente possível:

— Você nunca me contou sobre ela antes, Charles.

 O fato de suas mãos terem levado as minhas para longe de seu rosto, fez com que eu automaticamente me arrependesse de ter tentado continuar o assunto. Porém, para o meu alívio, suas mãos não soltaram as minhas quando caíram sobre o colchão, e logo seus longos dedos começaram a se entrelaçar aos meus, enquanto seus olhos se mantinham fixos ali.

— É porque não é tão simples assim – ele respondeu de repente, soltando uma risada sarcástica, sem humor algum.

— Como assim? – perguntei, enquanto observava seus olhos, tentando extrair alguma informação que pudesse me dar uma pista do que viria a seguir.

— Porque aparentemente ela cometeu suicídio, Autumn, quando eu tinha 10 anos.

 E pela vigésima oitava vez naquela noite, eu estava paralisada, completamente sem palavras. Ele me encarou, sem expressão alguma em seu semblante, mas seus olhos entregavam o ódio que sentia dentro de si. Perguntei-me se estaria relacionado a sua mãe, porém não fui capaz de questioná-lo, apenas apertei suas mãos entre as minhas.

— Eu... sinto muito, Charles. Agora eu entendo porque nunca havia me contato. Me desculpe por ter insistido no assunto, eu não fazia ideia.

— Eu também sinto, apesar de não sobrar muito espaço para isso dentro de mim. Mas se pudermos mudar de assunto, eu agradeceria. Afinal, é seu aniversário, hoje é sobre você, não sobre mim.

Charles sorriu suavemente para mim, embora eu pudesse ver o quanto ele estava incomodado por termos abordado aquele assunto. Apesar disso, fiz o meu melhor para sorrir de volta para ele, concordando em mudar o rumo da conversa. Vendo minha confirmação, ele pigarreou, perguntando em seguida:

— Então quer dizer que você está apaixonada por mim? – Levantou uma de suas sobrancelhas, sugestivamente.

— Eu não disse isso, White! Você que não interpretou a frase corretamente – retruquei, empurrando seu ombro levemente com uma das mãos, enquanto a outra ainda segurava a sua. Eu estava visivelmente envergonhada, mas tentava a todo custo não demonstrar para não acabar piorando a situação.

— Não, não, eu tenho certeza que interpretei corretamente – ele disse, inclinando-se em minha direção. – Não precisa ficar com vergonha, Pierce. Eu imaginei que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.

— Sério, se você continuar com isso, eu vou embora, Charles – ameacei, levantando-me da cama e dando um passo em direção a porta.

Suas mãos imediatamente apertaram as minhas, impedindo-me de dar mais um passo se quer para longe dele.

— Não, fica... só por essa noite – ele pediu, enquanto olhava no fundo dos meus olhos. Parecia que seus olhos azuis queriam me dizer alguma coisa, mas tudo o que eu consegui captar foi insegurança, o que era totalmente inesperado.

Por mais que meu coração implorasse para que eu aceitasse sua oferta, eu precisava pensar racionalmente.

— Se a Sra. Stevens me pega aqui, sozinha com você, ela me mata – tentei argumentar, apesar de dar um passo em sua direção, sem nem mesmo perceber.

— Não, ela me mata. Você sabe que ela só está esperando um motivo para isso – Charles disse, aproximando-se mais da ponta de sua cama, deixando que eu ficasse entre suas pernas.

A visão de seu rosto perfeitamente esculpido naquele ângulo foi o suficiente para tirar meu fôlego. Alguns fios de cabelo preto caiam sobre seus olhos, tão grandes e belos quanto nunca. Eu me perguntava se ele tinha ideia do tamanho da sua beleza e de quanto ela agregava ao seu poder de persuasão.

— Não é verdade, Charles – eu disse, não conseguindo evitar que minha mão tirasse aqueles fios de cabelo de seu rosto. – Está exagerando.

— Estou? Tem certeza? – Perguntou, arqueando uma de suas sobrancelhas. – Porque eu não tenho.

— Pois eu tenho, só está dramatizando outra vez – revirei os olhos para ele, vendo-o encarar-me ainda com a mesma expressão. – Certo, talvez nem tanto assim. Ela realmente não gosta de você.

— Obrigado por pelo menos admitir isso – riu levemente, antes de levar suas mãos sorrateiramente até o meu quadril. Aparentemente ele havia tirado o dia para me pegar de surpresa com seus atos espontâneos, estava vendo o momento que cairia dura no chão. – Então, vai ficar? Fica pelo menos mais um pouco, até seu aniversário oficialmente passar. Me deixa compensar o fato de não ter passado o dia com você hoje.

Ainda extremamente nervosa com o fato de suas mãos estarem em um local nunca antes habitada por elas, e também por ninguém antes, concordei com sua proposta, sabendo que não conseguiria sair dali nem se eu quisesse. O sorriso que Charles enviara em minha direção logo depois já era recompensa o suficiente, mesmo que Sra. Stevens nos pegasse ali e desse um fim em nossas vidas.

As horas seguintes se passaram pacificamente, era tudo o que eu precisava depois de um dia tão cheio como aquele havia sido. Felizmente cheio de surpresas boas, eu diria. Sentia-me tão cansada que podia sentir cada piscada de olho que dava ficando cada vez mais demorada. Charles, que estava deitado de barriga para cima ao meu lado, comentava sobre algo que Sr. Martin havia dito naquela manhã, aparentemente distraído demais para notar que o espaço de tempo entre meus bocejos se tornava cada vez mais curto também. Eu estava deitada de bruços sobre sua cama, com a cabeça virada em sua direção, atenta a cada traço de seu rosto que não havia tido a oportunidade de reparar antes; desde seu nariz perfeitamente esculpido até a pequena pinta que habitava um ponto acima de seu queixo. Apesar dessa minha atenção toda em suas feições, não fazia ideia do conteúdo que saia de sua boca a um bom tempo.

Tentava a todo momento me manter acordada, pois não queria dormir e perder toda aquela experiência nova que era estar tão intimamente próxima a Charles White. Afinal, estava em seu quarto, em sua cama, deitada ao seu lado e perto o suficiente do seu corpo para sentir o calor que emanava dele.

Minha breve expedição sobre seu rosto chegou ao fim quando, de repente, ele virou sua cabeça em minha direção com o cenho franzido e disse:

— Você não ouviu nada do que eu acabei de dizer, não é?

Cansada demais para se quer tentar enganá-lo, balancei minha cabeça negativamente, lançando um sorriso culpado. Ao notar pela primeira vez o estado em que eu me encontrava, ele virou o seu corpo em minha direção e sorriu levemente, fazendo com que meu coração se aquecesse na mesma hora.

— Deveria ter me pedido para calar a boca, assim você poderia descansar em paz.

— Eu gosto de te ouvir falar e eu não queria dormir, senão teria que fazer o sacrifício de levantar daqui – disse, não conseguindo segurar o bocejo que surgira em seguida.

— Não precisa ir, se quiser. Eu disse que poderia ficar. Posso dormir no chão, se não estiver confortável – ele disse rapidamente, fazendo menção para se levantar.

— Não tem necessidade – o impedi, segurando seu braço com o último resquício de energia que existia em mim. – Acho que vou ficar por aqui esta noite então, se não se importa.

Charles assentiu e levantou-se para apagar a luz, deixando-nos em quase uma completa escuridão, se não fosse pela luz da lua que emanava através de sua janela. Ele deitou-se ao meu lado novamente e puxou a coberta que ficava ao pé da mesma, cobrindo-nos em seguida. Quando se certificou de que o tecido estava me cobrindo devidamente, encostou sua cabeça sobre travesseiro e olhou-me mais uma vez, com seus olhos azuis tão límpidos e calmos como nunca havia visto antes.

— Obrigada mais uma vez, Charles, por tudo. Eu realmente não sei o que fazer para te agradecer – sussurrei para ele, aconchegando-me sob sua coberta.

— Apenas lembre-se de guardar uma cópia de seu romance para mim quando terminar de escreve-lo – sussurrou-me de volta, fechando os olhos e instigando-me a fazer o mesmo.

— Farei isso e também farei questão de deixar uma dedicatória para você.

— Mal posso esperar por isso – comentou, bocejando logo depois. – Boa noite, Autumn.

— Boa noite, Charles – disse, deixando-me finalmente ser vencida pelo cansaço e ser embalada em um sono tranquilo, o qual não experienciava há tempos.


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, é isso. Espero que a espera tenha valido a pena.

Sintam-se livres para deixarem suas opiniões, teorias, sugestões, críticas, etc. Eu amo saber o que vocês estão achando. E caso encontrem algum erro, não se esqueçam de me avisar, eu sou a minha própria revisora, então pode ser que eu tenha deixado algo passar.

Não vou cometer o erro de fazer mais promessas, mas eu só queria dizer que estou inspirada para continuar a escrever e também tive a sorte de encontrar alguém que está me incentivando (as vezes em forma de bronca) a tirar um tempo para trabalhar nessa história que eu amo como se fosse um filho e que me faz muito bem.

Muito obrigada por lerem e por continuarem acompanhando.

Espero ver vocês logo mais no próximo capítulo! ♥

Tati



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