Thalia odiava o fato de ser usada a favor de Nico, ainda mais quando era ciente que o garoto tinha um penhasco por ela, o que não era tão confortável a vista do jeito que ele ficava nervoso, com as orelhas erguidas em alerta de qualquer coisa romântica – eca – poderia acontecer e ele desmaiar.

Mas, embora as reclamações e xingamentos fofinhos em direção a sua linda amiguinha Bianca Di Ângelo (sintam a ironia nas palavras, obrigada!), lá estava a cupido: indo em direção ao quarto do garoto, mordendo o lábio inferior ao tentar montar um discurso sobre a existência de um humano no closet da sua irmã e eles precisarem da ajuda do garoto para transporta-lo igual uma mala em direção ao Dia dos Namorados.

— Nico? — Thalia o chamou, dando dois toques na porta e não esperando uma resposta ao abri-la.

Nico, que estava sentado na cama brincando com um boneco, saltou de imediato do colchão e se pôs de pé, arregalando os olhos surpreso ao vê-la ali de novo. Não era ela que sempre evitava ir embora cedo por ele estar acordado e ter o risco de esbarrar na escada?

— Você? Por aqui? De novo? — lançou as perguntas sem conseguir se segurar, notando que as bochechas dela estavam vermelhas. O que isso significaria? Thalia Grace estaria com vergonha? Ah, claro que não! Ela bate na cara da vergonha com seus coturnos divosos.

— Não reclama, ok? — Thalia resmungou, cruzando os braços. Mas logo sua postura mudou para algo mais tímido, no qual ela juntou as mãos em frente ao corpo em um ato nervoso e comprimiu os lábios sugestivamente. — Ah...Não fica bravo, ok?

Uma das orelhas do coelho se curvou para frente e a outra continuou esticada, mostrando que ele estava em dúvida do que seria o próximo passo naquela conversa.

— O que foi? — questionou, hesitante.

Thalia pensou muito em como explicaria isso para ele. É claro que pensou. Mas é claro que nada veio a sua cabeça no momento importante, deixando uma tela branca em seus pensamentos que não dava fuga para a garota, a não ser se jogar e ir na fé.

— Tem um humano no closet da sua irmã.

A garota mordeu o lábio inferior ao ver que um dos olhos dele começou a ter um tique, piscando sem parar enquanto o outro olho estava aberto. Se aquilo não era um ataque, Thalia não saberia dizer o que era.

— Como é que é? — a voz dele estava esganiçada e a cupido sabia que ele iria sair do controle a qualquer momento e começar a dar voltas pelo quarto super-rápido, igual sempre acontecia quando ele e Bianca discutiam por algo e ambos ficavam nervosos. — Thalia....Como assim? Como assim um humano? Vocês são loucos? Perderam a noção do perigo?

— Quem perdeu a noção do perigo é você que tá aumentando a voz sendo que ninguém pode saber disso, animal! Literalmente! — a Grace retrucou, perdendo a pose de timidez que ela odiava.

— Um humano?! Então era pra isso que você queria minhas roupas? Provavelmente é um garoto, não é? Como ele veio parar aqui? — Nico começou a lançar perguntas rápido demais para ela, tentando ignorar seus sentimentos feridos se estivesse certo, pois havia sido enganado por sua crush.

— Como é que, de repente, você tá parecendo um velho de oitenta anos? — Thalia retrucou, negando em reprovação. — Eu vou te dar uma voadora!

— Você não sabe dar voadoras!

— Di Ângelo, eu voo, isso já basta pra saber te dar uma voadora! — a garota colocou as mãos na cintura, indignada e deixou que suas asas fossem abertas. Fechou os olhos quando um barulho de estilhaços se fez a ouvir, encolhendo os ombros e baixando os cantos dos lábios ao notar que havia quebrado a janela. — Malditos corações quebrados, sempre esqueço que elas são maiores do que eu imagino e acabo quebrando alguma coisa!

Por mais que Thalia ficasse muito bonita com as asas brancas expostas, no momento, Nico estava surtando com a possibilidade de eles serem punidos se descobrissem o humano, e o maldito ainda morrer no mundo dos feriados porque foi burro o suficiente para cair ali.

 — E-Eu... — gaguejou, não conseguindo tirar os olhos da garota. Mas, limpou a garganta logo em seguida e continuou a falar, agora mais firme: — Eu não acredito nisso! Como ele entrou? Por que ele tá aqui? De onde ele veio? O que está acontecendo? Por que, cenouras, vocês não me contaram isso antes? Estão tentando salvar ele? Não deveriam entregar ele? Quem sabe os feriados não se deixem convencer pela paz e devolvam ele bonitinho, com todos trabalhando juntos?

— Às vezes que te acho tão fofinho, mas é tão inocente e burro — Thalia murmurou consigo mesma, fazendo uma careta e negando em reprovação. — Enfim, você precisa ajudar a gente!

— Ajudar vocês? AJUDAR? — ele se exaltou, fazendo-a subir as sobrancelhas e responder no mesmo tom repreensivo:

— NICO!

— Você só precisa ajudar a gente com sua velocidade e tal, não tem muito o que fazer, você vai gostar de Leo, ele é fofinho e parece um Elfo, o que eu até estranhei e ponderei que ele fosse do feriado do Natal, mas não é — a Grace deu de ombros, pesarosa ao constatar que estava errada. — Mas, vamos, por favor!

— Eu não vou me meter nessa loucura! Já fico de castigo o suficiente por roubar cenouras do armário na hora de dormir! Imagina se meu pai me pega fazendo isso? As cenouras vão ser extintas pra mim! — Nico colocou a mão sob o coração, sentido. Como se isso já tivesse acontecido antes e ele não fosse sobreviver com tal coisa.

— Para de ser medroso! Não vai acontecer nada com suas cenouras! — Thalia rolou os olhos, negando em reprovação e guardando suas asas novamente, abrindo um pequeno sorriso. — Vamos, Nico! Por favor, você precisa ajudar a gente!

O moreno frisou os lábios, colocando as mãos na cintura e observando-a. Não sabia o que responder. Não queria se meter em enrascadas. Mas também não queria deixar a crush, a irmã e o resto do povo na mão, o que poderia prejudicar sua relação com eles (e seu plano de conquistar a crush).

— Olha, o plano é o seguinte: basicamente nós dois vamos ficar sozinhos, juntinhos, e vamos levar o Leo com a gente, porque você é rápido e eu posso voar — Thalia explicou, usando um tom sugestivo que não parecia pertencer a uma criança de dez anos. — Então vai ser bem mais fácil, sabe? Leo vai estar vestido de coelho, o que vai facilitar, e vamos ficar sozinhos — ela tratou de reforçar — e juntos!

— Ok, eu ajudo — suspirou derrotado, mas logo suas bochechas ficaram vermelhas e ele arregalou os olhos. — M-Mas não é porque você e eu vamos...N-Não...É... Você não vai desistir mesmo, então é mais fácil eu parar de tentar não aceitar agora!

  Thalia sorriu, entusiasmada e segurou na mão dele, o puxando para fora do quarto e o fazendo corar — e quase desmaiar — ao estar sendo tocado pela crush.

— Você demorou! — Bianca resmungou assim que Thalia abriu a porta, puxando Nico para dentro.

— Ele enrolou demais pra aceitar e teve um surto lindo — a Grace respondeu, arqueando a sobrancelha quando notou que os olhos verde-mar de Percy estavam em sua mão, a fazendo levar seus olhos para sua mão e notar que estava segurando a mão de Nico. Ela arregalou os olhos, puxando ele na direção de Leo e soltando suas mãos: — Nico, Leo, Leo, Nico — e assim, o empurrou de encontro ao latino.

Leo subiu as sobrancelhas, fitando o garoto a sua frente passar os olhos por si, notando que estava sendo evidentemente analisado ali, sem nem mesmo disfarçar com uma olhada rápida ou tentar esconder isso com as mãos.

— Ele é maior do que eu pensava, como vou carregar ele? — Nico questionou alto, fazendo Bianca rir baixo.

— Então, eu comprei um carrinho de bebê pra vocês irem brincando de casinha e levarem o Leo dentro dele — a Di Ângelo riu travessa, fazendo Thalia arregalar os olhos e olhar para a garota, incriminando-a.