Mentirosos escrita por Blair Herondale


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Acho que nem demorei tanto, demorei pessoinhas? Bem! Aqui está o novo capítulo! Espero que gostem! Nos veremos nos comentários finais! Beijos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/729811/chapter/12

    Christian depositou o copo de café sobre a mesa de June, como havia feito nos últimos quatros dias. Sem necessidade de se fazer discreto, visto que os dois eram as únicas pessoas na sala de aula, o jovem garoto não limitou-se aquele simples gesto.

    –Você tem saído mais cedo nas manhãs desta semana. Dimitri está começando a se cansar de lhe mandar café. -afirmou, jogando a mochila sobre a própria mesa, que ficava logo atrás de June. Seu rosto tão pálido e desenhado ainda mostrava os sinais de que havia acabado de sair da cama.

    –Decidi ser uma aluna mais aplicada esse ano. -resmungou, arrancando um quase imperceptível sorriso de Christian pela mentira.

    –Devia se aplicar às aulas tanto quanto tem sua aplicado às suas mentiras.

    –É o que venho tentando fazer. -respondeu, um misto de amargura e divertimento.

    O garoto abriu a boca para retrucar de prontidão as palavras de June, mas o primeiro sinal tocou, trazendo diversos grupos de amigos que conversavam alto e riam por besteira. De modo automático, Christian virou-se com os dedos sobre os fios negros e June voltou-se para a frente, o copo de café entre seus lábios. Embora a farsa proposta por Dimitri tenha levado os dois a se conhecerem mais, na academia St. Swithin tudo mantinha-se como antes. Afastados e indiferentes, a fim de manter as aparências.

    June ainda se esforçava para isso porque não queria que sua melhor amiga, Elle, descobrisse que possuía qualquer relação com o garoto. Havia passado o tempo que o preconceito era a razão para isso, agora ela só não saberia lidar com o sentimento de traição que talvez se apossasse da morena ao perceber que June mentira para ela por mais de dois anos.

    Era algo terrível de se fazer, de fato, quando você observava a situação de forma crua e racional, mas enquanto pudesse adiar esse terrível dia, manteria a farsa da indiferença.

    Quanto a Christian, June ponderou, apesar de perceber que ele era uma pessoa bem diferente da qual costumava acreditar que era, supunha que o jovem mantinha a falsa relação para não ter a sua imagem dentro da academia manchada. Se não fosse isso, ela realmente não tinha nenhuma ideia do que poderia ser.

    –Todo dia o mesmo café da Starbucks, porque essa mudança repentina nos seus hábitos alimentares? - Elle questionou, abrindo um sorriso estranho para a melhor amiga.

    June deu de ombros, forçando um sorriso de volta, como se aquilo não tivesse razão específica fora sua simples vontade. Contar que não aguentava mais olhar a deslumbrante Winter todas as manhãs, seria complicado demais.

    Felizmente, a amiga não insistiu no assunto e, quando bateu o segundo toque, voltou a direcionar toda a sua atenção para os assuntos da academia.

 

[...]

Quando o toque que anuncia o final das aulas bateu, June estava perdida em pensamentos. Era uma reflexão bastante introspectiva acerca do que era arte e como ela se apresentava em diferentes partes do mundo, porém, durante o tempo que levou-se e passou a acompanhar Elle até os armários, seu foco volta-se não para questões do artístico, mas para seu desestímulo em voltar para casa.

A razão para aquilo era óbvia. Evitar Winter ou um Dimitri que só conseguia falar sobre Winter.

Aquela rotina estava se mostrando cada vez mais exaustiva para June e ela não deixava de se questionar se Christian sentia o mesmo quando o final da semana chegava e percebiam que a vida deles girava basicamente em torno da nova garota.

—June! -Elle lhe chamou, visivelmente exasperada. -Eu precisei falar seu nome mais de três vezes! Você ao menos estava escutando o que eu dizia?

—Ahn… -June abriu a boca, percebendo que não fazia a menor ideia do que Elle estivera lhe falando desde que haviam saído da sala de aula. Será que era algo sobre a seleção do clube de teatro? -Sobre a sua vontade de conhecer teatro? -chutou, por falta de opção.

—Não, June. -respondeu entre dentes, irritada pelo desatenção da amiga -Eu estava te contando que eu...Quer saber? Esqueça, isso pode esperar. Acho que agora é mais importante falar sobre o que está acontecendo na sua vida.

—Sobre o que está acontecendo na minha vida? -questionou, sentindo-se lenta por não fazer nada além de repetir as palavras de Elle.

—Sim. Porque durante todo esse tempo eu estive esperando você vir me contar por livre e espontânea vontade, quero dizer, foi isso que eu li na internet quando fui atrás de “O que fazer quando sua melhor amiga está agindo estranha as fuck”. Mas eu cansei de ser a compreensível e esperar, então, pode ir contando.

—Ahn…

Aquilo era um choque para June, porque apesar de todas as mudanças que vinham acontecendo em seu cotidiano, não pensara que isso pudesse ter se tornado evidente no seu modo de agir.

—Não sei o que você quer que eu diga. -respondeu, por fim. Porque contar a verdade sobre o relacionamento de Dimitri e Winter significava explicar a farsa entre ela e Connor, e explicar a farsa significava admitir que conhecia o garoto há muito mais tempo do que Elle poderia imaginar.

—A verdade poderia ser um bom começo. - e as palavras de Elle soavam como facas em sua pele.

—Não há nada para contar. -disse, convencendo-se de que a verdade doeria mais do que qualquer mentira que contasse.

Elle suspirou, frustrada, e June conseguiu ver todo o cansaço que a melhor amiga sentia. Por um minuto June desejou voltar atrás, não só apenas algumas semanas, mas todos os anos em que estivera morando com Connor, para contar a amiga o que na época era a terrível novidade de dividir o apartamento com um dos grandes babacas da academia. Assim, pouparia toda a culpa e a dor de cabeça que sentia por manter aquele segredo e por perceber o olhar magoado de Elle.

June queria que a amiga gritasse com ela, que lhe forçasse a contar a verdade, que lhe julgasse pela traição causada. Entretanto, quando a morena lhe lançou um último olhar doído e virou as costas, não conseguiu conter um suspiro de alívio.

Ela era a mais pura contradição. Aquilo não estava certo.

Abriu a boca para tentar chamar a amiga, fechando-a logo em seguida. O som perdido no fundo de sua garganta. Porque o medo de piorar as coisas lhe atingiu. Não só de piorar as coisas, percebeu.

Naquele momento a garota sentia medo de tudo. De lhe contar a verdade, da reação que causaria, de falar sobre Winter, de admitir que o amor entre ela e Dimitri havia acabado, de sentir dor. Era o medo de ser cortada pelos próprios sentimentos e pela farsa que mantinha. Devia ter crescido e se tornado forte, mas ao invés disso não era capaz de suportar um mero peso a mais em suas costas.

—Silver, você tem como dar uma olhada na minha última prova de álgebra, acho que a professora corrigiu err-

Seus pensamentos foram interrompidos pelo mais jovem.

Ela se sentia levemente perdida.

—Agora não, James. -cortou o garoto que costumava lhe pedir ajuda nas matérias de cálculo, consciente da própria grosseria, e marchou até o terraço da academia, o som de seus sapatos ecoando a cada encontro com o mármore branco.

Sua escola não era como as convencionais, onde os blocos haviam sido construídos com base em sua função específica. Sala de aula, diretoria, refeitório, etc. Pelo o que se lembrava, a academia comprara o que antes havia sido um convento acoplado a uma igreja. A arquitetura gótica se mostrava presente em cada corredor e estrutura da academia St. Swithin. Por isso, quando praticamente correu até o ponto mais alto daquele lugar, esperando conseguir respirar com liberdade, sabia que estava prestes a ter uma bela vista. As torres da igreja se ergueriam com elegância contra o céu cinzento do inverno.

    Encheu o peito de ar, por fim, sentindo o vento congelante abraçar o seu corpo. Os olhos fechados e a mente aberta. Precisava pensar o que faria a seguir, porque mesmo tão relutante em contar a dura verdade para Elle, talvez aquela fosse uma das poucas opções que restavam para fazer às pazes com a melhor amiga. Ou para acabar de vez com aquela amizade.

    O pensamento lhe doeu e June tentou voltar sua atenção para outra coisa, o som dos pássaros, ou o frio em seu rosto, ou o burburinho das conversas que perdia seu significado com a altura.

    Porém, os minutos se passavam e ela ainda sentia sua mente e corpo agitados.

    Abriu a boca, procurando ar e sentiu-se engasgar.

    O que diabos estava acontecendo?

    Pegou em seu peito, desesperada para fazer seu pulmão voltar a funcionar. Sentia estar se afogando, mas aquilo não fazia o menor sentido.

    Fechou os olhos, apoiou a outra mão no joelho, curvou-se em si mesma e tentou concentrar sua atenção no ar que inspirava.

    Será que eu vou morrer?

    Por dentro chorava em desespero. Seu coração batia mais forte do que nunca e ela tinha certeza que estava tendo um ataque cardíaco.

    Eu vou morrer. Choramingou internamente.

    –Está tudo bem. -alguém falou ao seu lado, surpreendendo-lhe. Uma mão larga e quente repousou em suas costas, afagando-a em um movimento lento. -Você está bem. Apenas faça uma coisa de cada vez, inspire, depois expire. Inspire, expire… -instruiu com suavidade.

    June mantinha sua cabeça baixo, uma mão ainda sobre o peito e a outra em seu joelho. Gratidão não era a palavra certa para expressar o que sentia pelo desconhecido que lhe ajudava. Por alguns segundos, ela realmente chegou a acreditar que iria morrer, seriam necessários muitos médicos para lhe tirar daquele terraço e não conseguia nem imaginar o tempo que demoraria para lhe acharem ali. Mas foi com aquele apoio, que não fizera nada além de pontuar o óbvio, que June começara a se sentir melhor.

    Seu coração estava bem, seu pulmão voltava a funcionar e ela viveria.

    Como pude ser tão absurda? Questionou-se, após alguns minutos.

    Durante todo o processo em que estivera se recompondo, o garoto havia se mantido ao seu lado. Quieto e paciente, o único movimento resumia-se ao afagar de suas costas.

    –Obrigada. -murmurou, sentindo-se envergonhada por criar uma cena como aquela sem qualquer motivo aparente. O que aconteceu comigo?

    —Está se sentindo melhor? Acho que seria bom sentar um pouco. -sugeriu, e foi devido à familiaridade na voz que June ergueu o rosto para descobrir quem havia disponibilizado de tanto tempo e paciência para ajudá-la em sua pequena crise inesperada.

    –Connor? -sussurrou em surpresa.

    O garoto estava sério, embora seus olhos transparecessem um pouco da preocupação que ele devia estar sentindo. Confusa, June encontrava-se entre o espanto e o fascínio.

    –Como você soube que eu estava aqui? -perguntou, endireitando a sua coluna com lentidão e foi somente quando Connor tirou a mão de suas costas, que ela reparou como o garoto mantivera aquele suporte mudo durante todo a sua crise.

    –Eu não soube. -disse simplesmente e quando percebeu que aquilo não bastava para June, completou- Eu costumo vir para o terraço depois das aulas. É o único lugar que permanece silencioso, onde eu consigo fumar meu cigarro com tranquilidade. Estava olhando para fora quando te vi chegar, mas você parecia ocupada demais consigo mesma e eu fiquei calado, foi só quando vi que você estava tendo uma espécie de crise de ansiedade que fui lhe ajudar.

    –Eu...obrigada. -afirmou, verdadeiramente agradecida por tal suporte. Se Connor não estivesse por lá, não queria nem pensar por quanto tempo mais teria sentido aquela terrível sensação. Era falta de ar, misturado com o coração acelerado e...balançou a cabeça. Não queria pensar mais sobre aquilo.

    –Acho que você devia sentar um pouco. -Connor sugeriu, envolvendo seus dedos largos sobre o braço de June, na região que ficava um pouco acima do cotovelo- Deixa eu te ajudar.

    Espantada com aquela série de acontecimentos, que ia desde sua briga com Elle, passava pela inesperada crise, e terminava com um prestativo Connor, June permitiu ser levada pelo garoto, que dava cada passo com uma cautela surpreendente.

    Ele realmente está preocupado. Constatou June, mesmo com toda sua expressão neutra.

    –Eu pensei que fosse morrer. -ela murmurou, sem se preocupar em medir suas palavras. Depois de uma experiência daquelas, medo de possíveis julgamentos tornavam-se preocupações banais.

    Connor sentou-se ao seu lado. Ombro a ombro.

    Por um milésimo de segundo, ela pensou que ele fosse colocar um braço sobre o seu ombro e lhe abraça-la, mas o pensamento logo foi descartado por falta de sentido. Apesar de toda a aproximação causada pela farsa, ainda não tinham tal intimidade.

    –Acho que você teve uma crise de ansiedade. É importante que você vá conversar com a psicóloga da escola depois.

    –Vão espalhar os rumores de que estou ficando louca. -soltou, preocupada com o que iriam pensar dela caso começasse a frequentar um dos lugares mais temidos pelos alunos da academia St.Swithin.

    –Desde quando você se importa com o que os outros pensam de você?- Connor perguntou, virando o rosto para não deixar June escapar de sua pergunta, mas a garota manteve-se muda e ele continuou- Não importa o que vão falar. Seriam idiotas se abrirem a boca para lhe chamar de louca, mas eles nem vão tentar. A sua saúde está acima de qualquer impressão de estudantes imaturos dessa academia.

—Ei, nós somos dessa academia.

—De estudantes imaturos dessa academia fora eu e você. -corrigiu-se, em falso tom de prepotência.

—E Elle. -completou June, sendo capaz de abrir um pequeno sorriso pela brincadeira de Connor. Como se observasse um espelho, ela viu o garoto repetir seu movimento.

—Está se sentindo melhor? -perguntou.

—Um pouco, Connor. Acho que a surpresa por ouvir uma brincadeira sua me despertou.

—Bem, aproveite, não é todo dia que sou assim. Na maior parte do tempo estou ocupado demais sendo o príncipe desta academia.

June sorriu, divertindo-se com a descontração de Connor e seu esforço em deixá-la melhor.

Em mais um gesto surpreendente, o garoto bateu o ombro largo contra o seu, lhe dando um sorriso de volta.

Ela nunca tinha visto tanto sorrisos de Christian Connor em um dia só.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey amores de minha vida! Como vocês estão? Percebi que muitos deram uma sumida após a minha ausência de quase dois meses. Eu sei que tenho culpa na demora e realmente me desculpo por isso, mas saibam que ainda me interesso muito para saber o que vocês estão achando do rumo da fanfic (e das coisas que acontecem nela), por isso, cada comentário é muito importante para mim. (além disso, vocês são tão amorzinhos!)
Então é isso! Comentem, favoritem, recomendem.
Brincadeira, não precisam se sentir obrigados a fazer os dois últimos itens, mas por favor, comenteeem. Gosto de saber a opinião de vocês!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mentirosos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.