Pov. Jungkook

            Minha intenção, naquele momento, era voltar para aquele dormitório e descontar toda a minha raiva. Um sentimento tão roncoroso não podia ser guardado assim...

Suspirei pesadamente. 

            Eu não conseguiria fazer isso, por mais que eu quisesse. E parando a minha caminhada apressada, percebi que nada se encaixava, e mais uma vez eu estava sendo levado pelo impulso da má interpretação. Jimin não era o tipo de pessoa que magoaria os “irmãos”. Ele sempre cuidou de mim, mesmo quando eu nem mesmo precisava. Além do mais, ele tinha sérios problemas para se expressar da forma correta...

Eu estaria sendo um idiota, novamente?!

            Enconstei na parede daquele corredor, respirando fundo e me deixando atigir o chão frio. Para a minha sorte, ninguém estava passando naquele corredor. Fiquei apenas pensando no que eu poderia fazer para me desculpar ou me preparar psicologicamente para ouvir, de fato, o que ele tinha pra dizer.

            Acontece que eu já estava tão chateado por já ter sido decepcionado em minha juventude, que a desconfiança estava impregnada em meu ser. Era difícil confiar, quando se passa uma vida toda tentando ser “perfeito”. Tentar não confiar demais, me eliminava de expectativas e ideias impossíveis, e com isso, estava tudo sempre em seu devido lugar. Sem decepções. Sem problemas.

            Eu era precavido. Prático. Realista. Na maioria das vezes, pessimista. Vivia uma vida sem emoção, porque emoção me leva a expectativa, e expectativa a decepções. Era um ciclo sem fim e desgastante.

            Fechei os olhos na intenção de pensar melhor. Ainda precisava arrumar um jeito de pedir desculpa a Jimin, e dar a chance dele se explicar, porque eu sabia que ele não iria me decepcionar assim. Não mesmo!

Uma melodia... Aquela voz...

            Abri os olhos, tentando achar o caminho que me levaria até aquele som. Me levantei lentamente, caminhando para o lado oposto ao que eu vim. Lembrei que eu estava proibido de vir a audiência. Mas não estava resistindo aquele som. De qualquer forma, eu não tinha intenção de participar, apenas queria saber quem era a responsável por aquele talento impecável.  

            O som estava mais próximo, então eu parei, certo de que vinha por trás daquela porta. Era a saída de emergência de uma dos auditórios da BigHit.

            Bem lentamente, abri a porta, ciente que todos estariam de costas pra mim. Eu mal podia acreditar no que estava vendo.

            Naomi estava cantando e tocando em um piano. Estava tão alheia ao que ocorria ao redor, que muito provavelmente, ela não havia percebido a minha chagada e nem os suspiros encantados do meus Hyungs, e principalmente o de Bang-Ssi.

Ainda segurando a maçaneta, ou alguém tocar o meu ombro, e me assustei quando percebi que era Jimin.

— Era sobre isso que eu estava falando... – Ele estava com os olhos vidrados na “apresentação”, e esquecendo que a poucos minutos eu o havia ignorado.

            Eu também não estava lá preocupado com isso, porque finalmente soltei um suspiro carregado de alívio. Alívio por saber que Jimin jamais tivera intenção em relação a Naomi, e alívio por não mais me sentir um idiota por pensar isso.

Fiz uma promessa a mim mesmo que jamais desconfiaria dos meus Hyungs. Jamais!

— Ela ainda não sabe quem você é. – Jimin soltou, dando leves tapinhas em meu ombro.

            Não percebi que ele me arrastava auditoria a dentro. Ficando próximo os bastante para nossos Hyungs perceberem a nossa presença. Não estavam mais irritados.

            Ainda vidrado em Naomi, percebi quando ele finalizou com um lindo sorriso e me encarou da forma mais envergonhada e inocente que uma garota como ela pode ser. Meu coração ainda acelerava.

— Naomi, não é? – Nosso chefe perguntou, arrancando apenas uma sinal de positivo da morena. Esta ainda me encarava. Seus olhos eram cheios de curiosidade e confusão. – Acho que não te apresentamos os dois integrantes que faltavam na audiência. Jeon Jungkook e Park Jimin. Mas acho que já deve conhece-los. – Fez um gesto banal.

Sim, ela conhecia, mas não da forma como ele acreditava.

Nem preciso dizer que me senti extremamente envergonhado por ter mentido para ela.

            De repente, algo que ninguém esperava aconteceu. Naomi caiu na mais profunda gargalhada. Ninguém pareceu entender o que estava acontecendo. E como um contagio, eu a acompanhei nas risadas.

— Eu sabia que tinha alguma coisa errada com ela... – Jimin sussurrava mais para si, do que para os outros, apesar de eu ter escutado muito bem.

Naomi em fitava com olhos tão brilhantes, que eu cogitei a possibilidade dela ter me perdoado por tudo isso.

— Ainda não estou entendendo a graça? – Namjoo olhava de um para o outro.

— Jeon.. Park... – Ele deu uma leve batida na testa. – Como sou tola.

— Me desculpe. – Ela ainda sorria, e pedi desculpa porque sabia que era necessário. – Eu não podia dizer quem eu era.

— Tudo bem... – Deu de ombros.

— Bom, tenho certeza que tudo isso será esclarecido mais tarde, então por hora, quero informar que nos impressionou muito, Senhorita Naomi. – Bang-Ssi disse. Suas bochechas coraram. – Com certeza, Jimin estava certo quando disse que você era exatamente o que precisávamos.

            Olhei para Jimin, que sorria como uma criança orgulhosa. Eu queria muito ter descoberto isso antes dele. Queria muito ter sido o privilegiado a conhecer primeiro o talento daquela morena.

            Se antes eu tinha alguma dúvida sobre está apaixonado por uma quase desconhecida completa, agora eu tinha a mais absoluta certeza. Era impossível não se apaixonar pois de ver algo assim. No meu caso, ainda mais.

***

Pov. Naomi

            Depois de ser dispensada, com a promessa de que logo eu começaria os ensaios para representar a BigHit no show de inverno. Esperei que Jungkook viesse ao meu encontro. Apesar de não está com raiva, ele me devia explicações.

  - Eu confesso que não sei o que dizer. – Ouvi sua voz próxima o bastante. Meu coração estava acelerado desde o memento em que meus olhos cruzaram os seus naquele auditório.

— Você já me pediu desculpas. – Lembrei. Ele sorriu. – Eu entendo porque precisou ocultar sua identidade. Mas estava tão claro em cada esquina e eu nem ao menos percebi.

            E de fato, estava tão claro que eu me sentia uma verdadeira tola por nunca ter prestado atenção em detalhes. Mas daquele exato momento, eu não conseguia pensar outra coisa, se não em seu cheiro. Nunca havia reparado o quanto ele era cheiroso.

Eu enlouqueceria...

Eu já estava louca por me apaixonar por um completo desconhecido... ou nem tanto assim.

Eu queria conhecer o verdadeiro Jeon Jungkook.

Eu era uma tola por quase ter perdido a maior oportunidade da minha vida... E eu não estava falando da cerimônia. Estava falando do amor...  

Que destino cego, era o meu.

***

Pov. Jungkook

— Fico feliz que não esteja chateada... achei que jamais me perdoaria por isso. – Naomi sorriu.

— Não seja bobo, Jeon... – Repetiu o meu nome. – Eu jamais iria ficar chateada com você... – Suas bochechas ficaram rosadas. Por alguma razão, eu senti que meus sentimentos eram igualmente correspondidos.  

            Seria uma boa hora para chamá-la para sair?

— Naomi... – Pensei um pouco, mas fui interrompido por ela mesma.

— Alem do mais, se você tivesse revelado sua identidade, poderiam pensar que eu estivesse me aproveitando da situação.. – Ela pós as mãos no queixo, pensativa. – Isso não seria nada legal. Porque aí eu não iria conseguir provar que podemos enfrentar nossos medos.... – Continuava alheia ao redor.

“Enfrentar nossos medos...”

            Ta aí algo que eu sempre achei que fosse capaz, sem nem perceber que desconfiar era minha forma de fugir dos meus medos, e não enfrentá-los. Eu passei a minha vida todo fugindo de expectativas e decepções, quando eu mesmo que estava criando minhas próprias decepções, mesmo sem perceber.  Sempre impulsivo e prático. Sempre objetivo e curto.

            Achei que Naomi poderia ser minha decepção, por criar um obstáculo de que não poderíamos ter algo. Mas eu estava decepcionando meus próprios sentimentos. Meus desejos. Me privei de tanto para ter tão pouco. Talvez eu ainda estivesse me sentindo plenamente satisfeito se eu não tivesse refletindo agora.

            Eu nunca fui tão imensamente feliz quanto estava sendo agora por ter descoberto essa nova sensação. Tudo isso faz parte e eu não podia me privar desses pequenos momentos. Não o faria mais!

“Enfrentar nossos medos...” Afinal, a gente só aprende de verdade o que é a vida, quando soltamos as rédeas dos limites que a atribuímos. As vezes o destino era cego, porque simplesmente embaçávamos com ele.

— Quer sair comigo?! – Soltei tudo de uma vez, me assustando por ter dito tão rapidamente e sem resistência. Naomi me fitava surpresa. Não era hora para eu voltar atrás. Eu a ouviria. Eu aceitaria qualquer resposta que viesse a partir dalí em diante.

— Eu vou sair com o Jeon ou o Jeon Jungkook? – Perguntou, me deixando confuso. – Por que, sabe.. eu não sei nada sobre o Jeon Jungkook... – Disse em um sussurro. Ela era cômica e fofa.

— Eu ficaria imensamente feliz em te apresentar o Jeon Jungkook. – Sorrimos um para o outro em um ato de pura inocência e diversão. – Mas prefiro que Jeon esteja mais presente em sua vida.

            Era um claro pedido de que, o fato de eu ser famoso, não influenciasse em sua decisão de estar comigo. Eu gostava de ser um cara normal, e eu era normal quando estava com ela.

Uma tossidela nos interrompeu.

Fiquei surpreso por ver o grandão “chefe” de Naomi alí. Nem percebi sua aproximação.

— Me desculpe pelo meu comportamento outro dia. – Ele disse, estendendo a mão em minha direção como um ato de paz. – Eu achei achei que estivesse fazendo a minha amiga aqui de boba. Mas está claro que teve seus motivos, e eu jamais interferiria nisso.

— Obrigado... – Falei, surpreso. Ele assentiu, e em seguida, eu e Naomi percebemos que ele ficara, de repente, aéreo. Olhava um ponto fixo logo atrás e não hesitou em se afastar.

            Naomi parecia preocupada, e eu apenas me sentia ansioso com sua resposta.

— Naomi... – Chamei sua atenção. Ele retornou para mim.

— Perdão Oppa... – Disse, em um ato impensado. – Sua resposta! – Ela sorriu. – Sim, eu aceito sair com você! – Se aproximou o suficiente para dar-me um suave e significativo beijo na bochecha.

             Eu não sabia se ficava mais feliz com o fato dela ter me chamado de Oppa, ou com o beijo repentino. Talvez os dois. E eu nem mesmo ficara irritado por ter sido chamado de Oppa. Pela primeira vez, eu havia gostado do título.

Eu seria o Oppa dela. Não soava nada confuso e irritante.

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Pov. Naomi

            Naquele mesmo dia, Shane descobriu que Taeyan trabalhava com um dos Staffs do BTS. Motivo pelo qual, praticamente, abandonou eu e Jungkook naquele canto do auditório. Andando sem rumo pelo corredor extenso.

            Ele finalmente teve uma longa e cansativa conversa com Sunbae que levou um bom tempo para aceitar as condições do filho. Contudo, nem por isso o abandonou.

            Minha família estava de volta para a Coréia. E ficaram orgulhosos em saber que eu participaria de um festival de música.

            Eu e Jungkook estávamos indo muito bem, até assumimos um relacionamento naquele mesmo dia do festival.

Se eu ganhei? Bom...

            Eu gostaria muito de dizer que sim. Mas não estava triste por isso, porque mesmo assim, Sunbae Bang decidiu me tornar sua futura estrela do meio artístico. Eu agora era Treeiner da BigHit e no fim do ano eu debutaria, tendo em vista meu sucesso no festival. Não nego que o fato de ser namorada de um k-idol, ajudou um pouco, mas eu sabia que não conseguira nada daqui por mérito alheio. Eu enfrentei meus medos e eu consegui meu lugar no mundo. Não poderia está mais orgulhosa por isso.

            Depois de alguns meses, Sunbae Bang começou a patrocinar a loja de Sunbae Yan, promovendo entretenimentos musicais para novos talentos que precisassem ser descobertos.

            Sabe qual foi a melhor parte disso tudo? Meus dois Sunbaes já eram velhos conhecidos, que perderam contato logo após o fim do ensino de ambos. Com isso, a parceria não poderia ter sido mais fortalecida, e a Classic 1981 voltar a ter seu auge comercial.

            Sunbae Yan não afundaria em dívidas e em seu orgulho, e Sunbae Bang ganhou mais do que desejava. Prestígio e reconhecimento pelo trabalho maravilhoso como produtor.

“O Destino só era cego, porque embaçávamos com ele...” – Jungkook realmente estava certo. Apesar da reflexão hilária.

Ahh... Não esqueci de Park Jimin.

Esse, finalmente, amadureceu. Mas duvidava muito que tenha se dado conta disso sozinho.

E tenho quase certeza que o destino pregava uma boa peça para ele também...Afinal, todos nós  já caímos nessa armadilha.