Pov. JungKook

            Eu ainda estava chateado com o Hyung, e para a minha infelicidade, o resto do grupo percebeu. Ainda sim, seus pedidos de explicações, não me fizeram dizer absolutamente nada.

— Olha, eu não sei qual o problema de vocês, mas eu não estou com muita paciência pra criancisse. – Min Yoongi suspirou pesadamente, se levantando do sofá em seguida.

— Odeio dizer isso, mas concordo com Sugar. – Namjoo também se pronunciou. – Estão suspensos da audiência de hoje, até que resolvam seus problemas.

            Eu apenas dei de ombros. De qualquer forma, eu não queria participar de nada disso. Estava apenas na vantagem. Jimin, por outro lado, sentia-se injustiçado.

— Não é justo! – Se alterou. – Jungkook é muito cabeça quente, e eu saio prejudicado por isso também?

— Os dois vão se resolver, hoje! – Jin interviu, como uma verdadeira Omma.

            Sem maiores protestos, Jimin sentou no sofá oposto ao meu. Nossos hyungs saíram em disparada porta a fora, prontos para serem jurados no primeiro dia de audiência. Hoseok foi o único que parecia ter pena o suficiente da gente, para nos lançar olhares de pesares.

            Como se eu estivesse preocupado com isso.

            De relance, percebi que Jimin bufava, irritado. Eu sabia que, de alguma forma, era culpado por isso. Era orgulhoso demais para lidar com esse tipo de situação.

            Como me desculpar? Eu ainda não sabia, mas tinha certeza que deveria.

— Já que estamos fadados ao confinamento a tarde toda, será que vai me ouvir agora? – Ele disse, contendo a expressão irritada. Fiz um sinal para que continuasse. Ele suspirou. – Primeiramente, minha intenção nunca foi lhe constranger. – tentei protestar, mas ele pediu silêncio. Eu me calei. Sabia que devia isso, ao menos. – Você sabe que sou impulsivo. Segundamente, descobri que Naomi não é exatamente normal, sabe... – Sua voz falhou, e meu coração também.

            O que ele queria dizer com isso? Dessa vez, não evitei encarar o meu Hyung, curioso e preocupado.

— Ela não é das mais inteligentes, se é que me entende. – Fez um sinal de pouco caso com as mãos.

            Eu não sabia de onde ele havia tirado essa ideia de que Naomi tinha algum problema “mental”. Ela me parecia normal o bastante quando conversávamos. De qualquer forma, eu não daria trela para essa sugestão de Hyung, porque eu sabia que ele era o “rei” das ideias sem pé nem cabeça. Chegava a pensar que o próprio Jimin tinha a mente fraca.

            Contive a vontade de rir, lembrando a minha missão no camarim, a alguns anos atrás de fazê-lo dizer “obrigado”. Ele nem mesmo desconfiou das minhas intenções, mesmo com a câmera da missão em sua cara. Ele deveria ter imaginando que eu não era o tipo que elogiava insistentemente sem que quisesse alguma coisa com aquilo.

— Mas tenho que confessar que Naomi é extraordinária. – Desta vez, percebi um brilho em seus olhos.

            Eu nem preciso dizer que aquela simples frase, me afetou de uma maneira inexplicável. Não havia gostado de ouvir.

— Porque? Se apaixonou por ela também? – Era nítida a minha impaciência.

— Acho que qualquer um se apaixonaria se tivesse visto o que eu vi. – Engoli em seco com as palavras de Jimin.

            Era demais ter que ouvir aquilo. O que ele pensa que está fazendo?

— E você diz isso na minha cara, depois de tudo que eu falei?! – Mais uma vez, não pude conter a raiva. Me levantei de prontidão

— Calma aí, Jungkook. Não é nada disso que você está pensando. – Jimin se levantou, igualmente. – Eu quis dizer que ela tem um talento incrível. Aquela garota faz milagres com as mãos e a boca... – Não esperei que dissesse mais nada. Saí do dormitório, batendo a porta com tanta força, que não me surpreenderia se a mesma viesse a quebrar.

            Meu coração doía de tal maneira, que era impossível arrumar um jeito de diminuir a intensidade, se não chorando. Hyung era meu melhor amigo/irmão. Não esperava que fosse capaz de fazer isso.. depois de tudo. Era uma traição, imperdoável.

            No fim das contas, era bem melhor não ter que confiar em ninguém. Assim, eu jamais teria meu coração partido.. Jamais seria decepcionado.

Como fui me enrolar em sentimentos tão repentinos?!

***

Pov. Naomi

“Ele disse a próxima?” – Meu coração parecia saltar pela boca.

            Cá estava eu, pronta para cantar e tocar, na frente de desconhecidos importantes no meio artístico. Eu não tinha coragem...

Meu celular tocou. Talvez fosse um sinal para que eu não continuasse. Talvez eu estivesse me livrando de uma enorme vexame.

Atendi.

— Naomi!— Era Shane. Tinha a voz embargada.

— Oppa? Oppa.. o que aconteceu? – Me afastei o suficiente para ouvi-lo melhor. Haviam poucas meninas a espera, e eu realmente não me importava nem um pouco se passassem na minha frente. Afinal, eu estava quase desistindo mesmo.

— Naomi... onde você está?— Shane perguntou.

— Eu... – Olhei ao redor. Oppa precisava mais de mim, do que eu precisava daquele audiência. – Sabe aquele cafeteria ao lado da BigHit? – Ele concordou, mesmo me questionando o que eu estaria fazendo ali. – Estou aqui próximo, venha até mim. – Pedi.

            Mais uma vez, dei um última olhada para aquela porta da audiência. Não seria hoje que eu enfrentaria meus medos. Dei meia volta, rumo ao lado de fora daquele prédio. Talvez eu fosse me lamentar por isso mais tarde, mas por enquanto, meu melhor amigo precisava da minha ajuda.  

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— (...) Eu não posso mais conviver com isso... – Foram suas últimas palavras, antes que chegássemos a um longo silêncio constrangedor e significativo.

            Levei longos minutos para processar a informação. Shane acabara de confessar que estava alimentando sentimentos homo afetivos por um amigo que conhecera a dois meses. Jogou todo aquele sentimento guardado, esperando algum reação minha. Como eu poderia ajudá-lo?

            Nosso país era preconceituoso com tal situação. Não era pra menos o desespero em sua expressão. No entanto, eu sabia que Shane não precisava ter medo. Sunbae, apesar de aparentar ignorá-lo esses dias, amava demais o filho para não apoiá-lo. 

— Oppa... – Toquei em seu rosto, de modo que pudesse confortá-lo. – Eu estou sempre aqui para te apoiar. Enfrentar qualquer obstáculo ao seu lado... – Comecei. – E por isso, peço para que converse com Sunbae. Você não pode conviver é com o fato de que seu pai deve está tão confuso quanto você. Tudo isso deve ser esclarecido. – Sugeri.

— Ele não vai aceitar... – Shane insistia. – Eu não tenho coragem.

 - Claro que tem coragem. Todos nós temos coragem... – Incentivei, mas me dando conta de que a poucos minutos atrás, eu estava desistindo de um sonho, por medo.

Afinal de contas, que moral eu tinha para aconselhar o meu melhor amigo?

— Sunabe Yan te ama muito, Shane, e confia em você. – Comecei. – Mas essa confiança só irá fortalecer se você mostrar que pode confiar nele também. Se faça entender, e ele também o fará. – Shane pareceu entender e suspirou pesadamente.

Me levantei, puxando-o junto comigo.

— O que vai fazer? – Sua expressão era de pura surpresa com minha atitude decisiva.

— Vou te mostrar que nosso medos podem ser enfrentados, e foi você mesmo que me incentivou a isso, sabia? – Me referia a loja, quando ele sugeriu, pela primeira vez que eu tocasse os instrumentos, logo depois fazendo Sunbae fazer o mesmo.

Corri em direção a Big Hit, aproveitado a oportunidade para contar sobre a audiência.

“Só esperava que não fosse tarde demais”.