Destino Cego escrita por BeaFonseca


Capítulo 3
Mentiras




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Pov. Naomi

            Eu estava aliviada por não ter levado nenhuma bronca de Sunbae Yon-Lee pela minha falta de responsabilidade. Ele nem ao menos ralhou por ter pedido ajuda a um completo desconhecido. Era bastante arriscado, e eu só parei para pensar nisso algum tempo depois quando já estava em meu apartamento, alimentando meu gatinho de estimação.

            Apoiei meu braço no balcão, pensativa. Aqueles olhos escuros e tímidos tomaram boa parte da minha boa noite de sono. E com isso, eu estava falando do Jeon.

— Aigo! Porque ele tinha que ser tão bonito? – Expressei, de repente, alto demais.

— Falando de mim? – Shane encostou no balcão, com os olhos extremamente divertidos.

— Oppa, que susto! – Me afastei um pouco. Ignorando o fato dele achar que eu estava falando dele. Sorriu.

            Não porque Shane Oppa não fosse bonito, muito pelo contrário. Era belíssimo, como uma verdadeiro ator de cinema. Cabelos castanhos claros e olhos igualmente claros. Era alto demais e um corpo relativamente “saudável”. Sumbae Yon-Lee e sua falecida esposa tiveram muita sorte de ter filhos tão belos e educados. O mais novo se chamava Hank-Lee, e por ainda estudar, não aparecia muito na loja.

            Lembrei-me, de repente que ainda precisava fazer a limpeza no violão da vitrine. Eu não poderia passar horas a fio admirando a beleza do meu melhor amigo, não é? Afinal, não havia sido ele a me despertar o interesse.

— Está bastante distraída hoje. – Shane observou, acompanhando meus passos.

— Eu? – Nem mesmo olhei em sua direção, sabendo que entregaria minha expressão de culpada. – Só estou preocupada com a loja. – Não era uma total mentira. O ouvi soltar uma risada anasalada.

— Se você continuar tocando, como fez ontem, isso pode mudar. – Lembrou.

— Ainda estou me recuperando do dia anterior. Quer mesmo que eu faça isso agora? – Finalmente o encarei, deixando transparecer meu nervosismo.

— Só tem uma cliente aqui. – Apontou, discretamente.

Suspirei.

            Olhei para o violão em minhas mãos, e sentei em um banquinho próximo. Shane decidiu me deixar a vontade, fingindo afazeres ao redor da loja. Não que estivesse mesmo fingindo. Afinal, essa loja era, inexplicavelmente, um grande colecionador de poerias.  Procurei por Sunbae Yon, mas este não estava a vista.

            Dedilhei leves acordes, até começar a tocar alguma música popular da região. Não que gostasse, mas quando se vive em um país que respira K-POP, é quase impossível não aprender alguma coisa. Além do mais, era isso que chamava atenção, não é mesmo?

            Desta vez, não me senti desconfortável. Seja pelo espaço agradável da loja, seja por motivos de que ainda não tinha plateia. No entanto, no término da música, a vitrine parecia abarrotada de pessoas.

Aigoo! Isso era realmente constrangedor.”— Pensei.

 - Você toca tão bem. – Uma moça elogiou, ao meu lado. Sorri para ela, agradecendo. – Deveria tentar uma carreira de cantora. – Sugeriu, antes de voltar sua atenção aos artigos musicais nas pratilheiras.

            Fiquei por um longo tempo pensativa, naquele canto da loja. “Uma carreira”, ela disse. Eu tinha atributos para isso, e conhecimentos também. Mas não me sentia preparada para tornar isso um meio de vida.

            Passei os olhos pela loja, percebendo que estava começando a ficar agitada. Seria uma boa hora para voltar as atividades. Afinal, Sunbae estava realmente precisando de ajuda com os clientes. E pela primeira vez, notei um brilho diferente em seus olhos naquele dia.

Pov. Jungkook

— Vai sair de novo, Maknae? – Jimin perguntou, curioso e divertido.

— Pretendo.. – Dei de ombros. – Porque?

— Anda muito distraído, sabia? – Jimin observou. – Os Hyungs estão comentando... Desde que chegou a dois dias, de um “passeio noturno”. – Fez aspas com as mãos, e imaginei o que deveria está pensando.

— Você é muito sujo, Hyung! – Soltei uma risada de constrangimento. Ele riu, malicioso. – Eu não fiz nada demais. Só dei uma volta pelo quarteirão. – Expliquei, mesmo não precisando fazê-lo.

— Sei... – Duvidou. – Vai dar mais uma volta no quarteirão?

— Quer ir? – Convidei, mais para provar que não havia nada demais, do que para, propriamente, ter sua companhia.

            Intimamente, rezava para que recusasse o convite. Afinal, a minha ideia era fazer uma visita a uma certa vendedora desastrada que ocupou boa parte dos meus pensamentos esses dias, e saber, claro, como ela estava. Seria realmente difícil fazer isso com os Hyungs próximos. Seria catastrófico, na verdade.

— Vou pegar minha máscara. – Avisou, antes de sair em dispara para o quarto.

            Sentei na beirada do sofá, inquieto. Eu tinha mesmo que perguntar?

            Estávamos os dois de toca e máscara, para assim, não sermos reconhecidos na rua. Hyung não parava de falar, e não era como se eu não estivesse acostumado com isso. Mas no momento, eu estava bastante nervoso com a possibilidade de vê-la novamente, e não conseguia me concentrar em algo para dizer com toda aquela conversação.

            Olhei para meu Hyung, imaginando que, as vezes, eu era mais adulto que ele.

— Pra onde estamos indo? – Perguntou, empolgado por está andando, praticamente, sem ruma.

— Queria ver o preço de um piano. – Respondi, rezando para que não percebesse a mentira. Eu nunca fui muito bom em mentir.

— Não sabia que queria um piano. – Jimin ficou pensativo. Pensei que finalmente se calaria. – Na verdade, o único que parecia interessado em um piano novo, era o Yoongi. – Lembrou.

— Pois é, ele me pediu para ver o preço de algum, se o visse. – Menti mais uma vez. Estava começando a ficar bom nisso.

— Oh... – Jimin expressou, parecendo entender. – Então deveríamos ir pelo lado oposto. Tem uma loja de instrumentos enorme na avenida principal da cidade... – Sugeriu.

— Não. Estou sem paciência pra andar por ali. Podemos acabar encontrando Sasaeng. – Insisti. Ele assentiu, concordando e voltando a me acompanhar. No entanto, o falatória não havia parado.

            Já em frente a loja, fiquei admirando por um longo minuto o letreiro que a alguns dias havia sido plateia de um momento um tanto quanto incomum. Com um sorriso de lado, fiz menção de entrar, esquecendo-me, por um breve momento, que Jimin estava o meu lado.

— Não me lembrava dessa loja. – Ele disse, se fazendo presente e chamando minha atenção. Estava tão fascinado com alguns dos móveis antiguados do ambiente, que não me acompanhou por outros corredores da loja, que naquele momento, parecia agitada. Discretamente, arrumei a máscara, para ter certeza que estava em seu devido lugar e fazendo sua função de me esconder.

            Então eu a vi. Parada e concentrada demais em repor uma pacote de peletas em um arame. Nas pontas dos pés, fazia um esforço enorme para alcançar o objeto. Em poucos segundos, eu consegui ajudá-la, percebendo o toque de nossas mãos e a aproximação. Elas era quente.

— Oh, obrigad... – Ela não finalizou o agradecimento quando me encarou. – Jeon! – Quase gritou o meu nome ao se desequilibrar e segurar em minha jaqueta.

Porque sempre que nos encontramos, acaba se tornando uma situação cômica?— Perguntei, mais para mim, do que para ela. Esta, por sua vez, sorriu, envergonhada.

— O que faz aqui... quer dizer. – Olhou para todos os lado, e suspirou, mudando a postura. – Deseja alguma coisa?

            Eu poderia dizer que sim. Desejava conhecê-la melhor e chamá-la para sair. Mas imaginei que não seria nada apropriado, e além do mais, eu nem ao mesmo tinha ideia de como fazer.

            Não deixei de notar que, quando estava ao seu lado, eu conseguia esquecer, completamente que eu era famoso e sujeito a espreita da mídia. Eu me sentia normal. Um cara normal lindando com uma garota. Era quase surreal pra mim. Porque nunca achei ser capaz de tentar algo assim.

— E-Eu gostaria de saber o preço daquele piano. – Preferi mentir, novamente. Estava começando a ficar com medo dessa nova habilidade. Ela riu, e parecia desconfiada.

— Bom, esse piano é bastante antigo. – Seu olhos pousaram no instrumento que se destacava pelo belíssimo detalhes das bordas. De fato, eu não havia reparado que ele tinha aspectos antiguados.

            Não era como se eu estivesse de fato interessado no piano.

— Sabe tocar? – Ela perguntou, curiosa. Sorri, pelo primeira vez me sentindo orgulhoso com algo.

— Modestia parte, muito bem. – Arranquei-lhe mais um sorriso, e junto, um brilho nos olhos. – Quer ver? – Perguntei.

            Mas o que eu estava fazendo? Eu iria me expor demais oferecendo minha habilidades como pianista. Me arrependi, no exato momento em que ela puxou meu braço em direção ao piano. Passamos por Jimin, que continha uma expressão de surpresa.

— Saria maravilhoso. – Ela enfim respondeu, apontando para o instrumento.

Okay, não faria mal algum tocar um pouco.” – Olhei ao redor da loja. Estavam todos absortos em seus próprios afazeres. Talvez ninguém notasse.

            Os olhos de Naomi brilhavam ao sorrir. Mais um gesto que aquecia meu coração. Cogitei a possibilidade de está me sentindo um idiota apaixonado. Agora eu entendia como era não ter absoluto controle de suas ações quando há uma garota na jogada. O que é irônico, porque na realidade, eu sempre me senti um tolo perto de uma garota. Talvez eu esteja confundindo as coisas.

Como foi que me deixei levar por isso, tão de repente?

            Fiz uma pequena demonstração, apenas para deixá-la satisfeita. Talvez eu devesse me gabar por ter conseguida, afinal, não era a toa que me chamavam de Golden Maknae.

— Isso foi ótimo! – Elogiou.

            De alguma forma, meu pequeno gesto atraiu a atenção das pessoas, inclusive, de Jimin, que me encarava desconfiado e pronto para me arrastar daquela loja e me  interrogar a qualquer momento. Me levantei, evitando o olhar alheio.

— Eles sempre fazem isso... – A pequena morena a minha frente disse, olhando das pessoas para mim, em seguida. Deu de ombros. – Estão sempre esperando por alguma novidade neste piano ou em qualquer outro instrumento.

            Sua afirmação me chamou atenção. Não esperava que nesta loja tão antiguada, pudesse promover esse tipo de entretenimento. Imaginei que a loja tivesse alguém específico pra fazer isso. Talvez um contratado externo, aspirante na música. Isso poderia ser uma bela desculpa pra vir mais vezes aqui, afinal, a BigHit precisava de uma prodígio musical.

— Deve ter ficado constrangido por tocar na frente de tanta gente, não é? Eu entendo. – Sorriu, gentilmente quando nos afastamos do piano e seguíamos para o outro lado da loja, evitando os olhares alheios. Na verdade, eu praticamente a arrastava para longe daquelas pessoas. 

            Ciente de tê-la ouvido falar sobre entender esse tipo de situação, mil e um pensamentos vagavam em minha mente. De que modo ela entendia? Não me parecia nem um pouco tímida. 

            Naomi parecia surpresa por eu ainda manter nossas mãos juntas. Soltei, rezando para que ela não achasse o gesto inconveniente.

— Na verdade, eu não fiquei constrangido por isso. – Falei, verificando se Jimin ainda fingia não ter notado nada. Já estava sofrendo porque sabia que ouviria poucas e boas, além do interrogatório.

— Bom. De qualquer forma, você tem muito talento. – Ela sorriu. Não pude deixar de sorrir igualmente com o elogio. Não era como se eu já não tivesse ouvido isso antes. Mas partindo dala, as coisas pareciam ainda melhores. 

            Se ela soubesse...


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Notas finais do capítulo

Oii gente!! E então? Estão gostando?
Já já postarei o próximo capítuloo!! Bjsssss



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