Estilhaços (Vkook/Taekook) escrita por Mizuki Shimizu


Capítulo 2
Antes do Último Show - Capítulo 1




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"So I need you with me

To keep me right and keep me up all night

We can get faded”

Kehlani – Distraction

 

As paredes de creme chamavam minha atenção. Os detalhes esverdeados contidos em todos os pequenos quadros espalhados pelo cômodo eram lindos. Minha vontade era de tirar uma foto de algum espaço. Comecei a balançar uma das pernas, ansioso. Namjoon-hyung continuava a responder as perguntas da mulher sentada à nossa frente, enquanto eu tentava planejar como eu poderia tirar um retrato ali. Será que eu pediria à ela após a entrevista? Ou eu deveria me conter em ficar calado? Afinal, nós ainda éramos rookies, nosso debut havia sido há um mês. Julho, um mês para se refletir. Ou não? A minha única reflexão naquele momento era se eu podia guardar uma foto de recordação.

Alguém colocou a mão sobre a minha perna que continuava se mexendo contra a minha vontade. Olhei para aquela coisa pequena e fofa, e virei para Jimin, que estava do meu lado direito, aparentemente atento na conversa de Namjoon e a entrevistadora. Notei que ela estava fitando minha perna, e Jiminie ter me alertado fez com que ela desviasse o olhar. Quis me afundar na cadeira de plástico onde eu estava sentado. Preocupei-me pensando que aquilo seria prejudicial para nós, de alguma forma, e encarei Jimin para que ele me visse e eu pudesse sussurrar obrigado. Ele não percebeu.

A entrevistadora sorriu quando Namjoon-hyung parou de falar. Ela tinha um sorriso simples e bonito, com uma pequena falha no meio dos dentes da frente, mas isso atribuia um certo charme. Estava com um terninho vermelho, a saia descendo um pouco depois do joelho, e a parte de cima abotoada com perfeição. A maquiagem excessiva em seu rosto, que parecia esconder um pouco o brilho nos olhos dela, tinha apenas um propósito ali: passar a falsa imagem de que ela era perfeita. Sentada, como todos nós, não parecia ser tão baixinha como de fato, era.

Ela me olhou nos olhos, como se pudesse adivinhar que eu estava fazendo uma análise geral dela. Deu uma olhadela em minhas pernas e leu alguma coisa em uma ficha que estava em sua mão. Parecia outra pessoa quando estava concentrada em sua profissão, ao menos era foi o que eu percebi.

— V – disse ela, voltando a me olhar. Deu um sorriso gentil. – Dizem que você é um 4D. Descobrimos que te chamam de alíen por aí, poderia nos contar o motivo pelo qual te chamam assim?

Eu fiquei em silêncio. Não pensava que viria uma pergunta para mim, ainda mais uma como aquela. Abri e fechei a boca algumas vezes, mas nada saía, pois eu não estava pensando no porquê. Apenas me chateou, novamente, aquela história de alíen. Não sabia porque as pessoas diziam que eu era uma pessoa tão “excêntrica”, “diferente”, “esquisita”, como muitos me rotulavam. Eu era apenas um adolescente normal, com uma família amável e normal, com um sonho consideravelmente normal, e que eu estava me esforçando muito para torná-lo realidade. Não havia nada de inovador naquilo. Nada de extraterrestre. Pelo contrário, era tudo muito terráqueo.

— Não acho que V-hyung seja um alienígena – respondeu uma voz baixa ao meu lado. Jungkook falara pela primeira durante toda a entrevista. Eu queria agradecê-lo por ter salvado minha pele, pois não tinha notado quanto tempo eu perdi olhando para o nada e fazendo outra reflexão. Era tudo culpa de julho. – As pessoas o chamam de 4D porque ele é alguém muito especial, que marca presença e cativa a todos que estão ao redor.

Eu dei um grande sorriso, comovido por aquelas palavras. Fiz uma nota mental: naquela noite eu o deixaria ganhar uma partida de King of Fighters, como forma de recompensá-lo. Ele ficaria feliz, certamente.

A entrevistadora voltou a olhar para mim, e, como eu continuei sorrindo sem dizer nada, ela voltou a procurar outra pergunta em sua ficha.

Discretamente, coloquei minha mão na mão de Jungkook, fazendo com que ele virasse surpreso para mim, e sorri ainda mais. O pequeno maknae tinha realmente salvado a minha pele. Talvez eu pudesse deixar que ele ganhasse mais de uma partida.

~

Chegando em casa, corri até um quarto e me joguei na cama de Jungkook. Ele e Hoseok iam praticar mais um pouco, enquanto Jin-hyung fazia barulho na cozinha, provavelmente pegando panelas e utensílios domésticos para fazer o jantar. Eu normalmente ia até ele perguntar se eu podia ajudá-lo, porém, como eu sempre ouvia um belo “não, obrigado”, decidi aproveitar e ficar na cama de Jungkook, enquanto ele não estivesse ali.

Deitei minha cabeça no travesseiro fofo e senti o cheiro de sabonete de erva doce. Era tão bom que eu me flagrei absorvendo a fragância como se não houvesse amanhã. Como ele podia ser tão cheiroso sempre? Precisava descobrir seu segredo e reutilizá-lo na minha vida. Não era possível que alguém que estava sempre se mexendo pudesse cheirar tão bem o tempo todo.

Coloquei meus fones de ouvido e apertei o play. Minha playlist recente estava quase só preenchida por músicas da Adele, uma cantora espetacular. Suas canções me emocionavam mesmo eu nunca tendo me apaixonado, nem descoberto o que era a dor de separação. Era isso o que eu queria fazer. Passar mensagens através de músicas, inspirar e comover quem quer que ouvisse. Um pacote completo.

Someone Like You parecia estourar meus tímpanos com os vocais poderosos da cantora, deixei me levar por aquela música. Balbuciei o que achei serem algumas frases em inglês, colocando a canção no repeat. Fechei os olhos e me perguntei quando descobriria o que era amor romântico, se é que todos teriam o privilégio de terem. Parecia ser algo muito bom. Logo depois, estava entretido imaginando se Luffy conseguiria vencer muitos pokémons fortes, como o Charizard e todas as evoluções de Eevee.

Sem perceber, meus olhos foram pesando e eu dormi, agarrado ao travesseiro. Não me lembro bem o que sonhei, apenas me recordo de que alguém começou a balançar o meu corpo, por mais que eu continuasse de olhos fechados.

Já enjoado daquele balanço, tateei no escuro, os olhos ainda selados, até achar o braço de quem me deixava enjoado, apertei e puxei, trazendo a pessoa para a cama, jogando-a no canto. Abracei o membro bem forte, até que ele me deu um peteleco na testa e fez com que eu abrisse os olhos.

Jungkook me olhava, tentando se soltar. Eu continuei segurando o seu braço e dei um sorriso. Sabia que ele não estava realmente querendo se livrar de mim, pois, apesar de dois anos mais novo do que eu, o garoto era bem mais forte. Comecei a rir, e, poucos segundos depois, ele me acompanhou.

Talvez fosse por isso que não nos deixavam dormir juntos, pois nós faríamos muito barulho. Ríamos por nada e fingíamos brigar por nada. Jogávamos sempre que possível e encenávamos variadas cenas de dramas. Não tinha parado e refletido o quão importante a amizade de Jungkook era para mim, até aquele dia, naquele breve e, ao mesmo tempo, longo momento no qual gargalhávamos sem motivo aparente. Porém, existia um porquê, só de estarmos perto um do outro nos sentíamos felizes.

Mesmo que eu não soubesse o que era o amor romântico, ao menos sabia o que era amar um amigo.

O moreno finalmente libertou seu braço de mim, e me empurrou de brincadeira. Seu cabelo estava úmido e o cheiro de erva-doce estava ainda mais forte que nunca. Ele fechava os olhos algumas vezes. Consegui perceber o cansaço que emanava dele.

— Hyung, vai dormir no seu quarto – murmurou ele. Notei que Namjoon-hyung dormia profundamente ali, sendo esse o motivo de Jungkook fazer seu pedido em um tom de voz tão baixo.

— Não – retruquei, também em um sussurro. Jungkook pareceu surpreso, até que ele sorriu. Ficava muito bonito quando sorria.

— Pare de brincar, hyung – pediu, rindo um pouco. – Ninguém conseguiu te acordar para que você jantasse. Você precisa ir para a sua cama.

Eu tinha tirado os fones de ouvido enquanto cochilava. Tateei a cama em busca deles e, ao achá-los, pluguei no meu celular. Coloquei um dos fones na orelha esquerda de Jungkook e na minha direita, pus o outro. Abaixei o volume para não assustá-lo. Cliquei na música que ouvi há pouco tempo e deixei ela soar enquanto nós dois nos olhávamos, admirados pela beleza da canção.

— Essa música é linda – sussurrou Jungkook, quando a última nota tocou. Eu assenti, olhando para a tela do celular. – Você devia tentar cantá-la, hyung.

A ideia era tão engraçada que eu quase comecei a ter uma crise de riso. Eu? Fazendo um cover? Não conseguia visualizar aquilo nem durante quinhentos anos.

— Obrigado – Eu respondi, verdadeiramente feliz. – Mas acho que essa música só pode ser cantada por quem já experimentou do amor que a cantora tanto fala. Não conseguiria fazer um cover decente sem esse critério básico.

Coloquei meus dedos na testa do mais novo, tirando os fios de cabelo molhados que impediam uma visão completa do rosto dele. Ele olhava minha mão, curioso, sem parecer pensar que eu podia estar planejando armar uma brincadeira contra ele. Dócil e inocente Jungkook.

— Você jantou? – perguntei. Jungkook sempre fora um dos mais esforçados. Estava trabalhando o tempo todo para melhorar, fosse na dança, no canto ou até em como se socializar para as entrevistas que faziam conosco. Eu o admirava verdadeiramente e o tomava como um exemplo. Não que eu deixasse ele saber disso, é claro. Por estar treinando por muito tempo, ele não se alimentava direito algumas vezes e eu fazia questão de fiscalizar, quando Yoongi-hyung e Jimin não puxavam a orelha dele.

Jungkook balançou a cabeça negativamente.

— Vamos jantar, então – Concluí, levantando e ajudando-o a fazer o mesmo.

Saímos apressados para a cozinha. Jungkook se sentou em uma cadeira, bocejando. Muitas vezes eu esquecia que ele tinha só quinze anos. Parecia um bebê quando estava com sono.

Vasculhei a geladeira em busca de alguma coisa comestível. Vi as sobras do jantar guardadas em um pote e pensei se eu realmente queria comer aquilo. Coloquei o potinho de volta, decidindo fazer lámen. Era mais prático, mais fácil e eu não teria como estragá-lo.

Acendi o fogo, colocando uma panela com água em uma das bocas do fogão. Não era muito bom em cozinhar, porém, nunca tinha realizado a façanha de queimar lámen algum, coisa que Namjoon-hyung já fez. Observei as bolinhas subirem e coloquei o macarrão dentro do recipiente, acrescentando o tempero pronto logo depois. O cheiro estava bom, modéstia à parte, e eu queria devorar a comida antes que ela estivesse pronta. Não tinha reparado que estava com tanta fome assim até o dado momento.

Quando o lámen pareceu estar no ponto, desliguei o fogo e tirei a panela, colocando-a no centro da mesa. Jungkook estava com a cabeça deitada ali perto. Peguei dois pratos e servi muito para ele, mexendo ocasionalmente para esfriar. Esperei alguns minutos para acordá-lo.

Mexi em seu cabelo por um tempo, até perceber que ele não despertaria tão fácil assim. Comecei a apertar sua bochecha. Ele abriu os olhos, surpreso. Ri de sua expressão e bati com a colher no meu prato.

— O jantar está pronto. – Ele apertou os olhos com os punhos fechados. Balançou a cabeça negativamente duas vezes e encarou o prato cheio à sua frente. Mordeu os lábios rapidamente e colocou uma colherada na boca. Fechou os olhos e sorriu.

Fiquei tão entretido o observando comer que esqueci da minha fome. Quando ele terminou, olhou para a panela. Empurrei o utensílio para ele, e, agradecido, colocou todo o resto no prato.

Decidi finalmente acompanhá-lo. Terminamos juntos e Jungkook colocou a louça na pia. Ele caminhava vagarosamente e me aproximei, pois estava com receio de que fosse cair de sono a qualquer instante, podendo se machucar na queda. Eu impediria isso.

Lembrei do meu plano de deixar que ele ganhasse no jogo, mas conhecia o garoto. Ele não recusaria, nem mesmo quase dormindo em pé como estava, apenas porque eu pediria para nós jogarmos. Jeon Jungkook era esse tipo de pessoa.

Abri a porta e ajudei Jungkook a se deitar. Ele foi para o cantinho da cama, o que me deu um espaço. Segurei a coberta, deitei ao seu lado, e, velozmente, nos cobri, dando uma última conferida se o moreno estava completamente coberto. Fechei os olhos após me certificar que sim.

Namjoon respirava fundo.


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