Estilhaços (Vkook/Taekook) escrita por Mizuki Shimizu


Capítulo 1
Prólogo - Último Show


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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“Will you stop time?

If this moment passes

As though it hadn’t happened

I’m scared (…) I’ll lose you”

Butterfly – BTS

 

Atento ao tiquetaquear do relógio grande do camarim, observo com tranquilidade os ponteiros movendo-se incessantes. Os segundos, que antes demoraram a passar, agora seguiam a um ritmo lento. Ao menos, era o que eu pensava, olhando em retrospecto a antes do nosso último concerto de nossa turnê mundial e agora, que havíamos finalizado o show há alguns minutos.

Ouço os managers conversando preocupadamente, ajustando os mínimos detalhes para que possamos nos deslocar até o hotel onde estamos hospedados. Suas palavras são ditas em uma velocidade tão grande que me pergunto, dando um leve sorriso, se eles não gostariam de se juntar aos hyungs para um novo Cypher. Senti um súbito alívio por Suga-hyung não conseguir ler pensamentos, ou provavelmente eu levaria uma bronca. Não que eu ligasse, é claro.

Respiro fundo e estico os braços, espreguiçando-me. Ainda não troquei minha roupa. Coloco os braços para trás, segurando minha nuca. O relógio perde a graça e fecho os olhos. Poderemos voltar para a Coréia do Sul, depois de meses fora. Era gratificante receber tanto amor em diversos países, até dos que ficam do outro lado do mundo. No entanto, percebo que não há lugar melhor do que o lar. Ou algo assim.

Sinto um toque delicado em meu cabelo e ignoro, fingindo estar dormindo. O cheiro demasiado de sabonete de erva doce, apesar de termos feito um show de quase três horas, denunciava o dono das mãos que brincavam com mechas do meu cabelo. Continuo de olhos fechados, sentindo pontadas de sono. Sempre que Jungkook ficava perto de mim, sentia-me mais calmo.

Lembrei-me, de repente, do motivo pelo qual eu estivera um pouco irritado com ele antes do concerto, e abri os olhos. Seu rosto estava a centímetros do meu, nossos olhos se encontrando. Constrangido, desviei minha atenção para a pequena cicatriz na bochecha do maknae e inconscientemente levei minha mão até ela, acariciando-a com as costas de minha mão direita. Por um breve instante, o ciúme que ele me fizera passar foi esquecido novamente.

Hoseok-hyung gritou em algum lugar do cômodo e Jungkook se afastou, envergonhado. Ele olhava para as paredes brancas, virando-se de costas para mim. Eu pigarreei e sentei-me ereto na cadeira vermelha. Meu reflexo no espelho cumprimentou-me, ainda que eu tivesse ignorado-o para observar as costas de Kook através do objeto.

Alguns minutos se passaram e, casualmente, ele voltou seu corpo para frente do lado direito da minha cadeira. Eu o encarei, enquanto ele fitava o celular que tinha acabado de tirar do bolso. Continuei esperando por qualquer manifestação dele, apoiando meus cotovelos no suporte da cadeira.

Ao contrário de mim, Jungkook estava pronto. Usava um jeans escuro rasgado nos joelhos, uma camisa vermelha larga, provavelmente uns dois números maior do que o tamanho dele, e seus velhos companheiros, os coturnos favoritos dele. Ponderei se eu devia desamarrar os cadarços de seus sapatos para que ele prestasse atenção em mim, o que, infelizmente, não foi preciso.

— O que você pensou quando fez aquilo antes? – perguntou Jungkook, ainda com os olhos pregados no aparelho eletrônico. Ele digitava furiosamente e fiquei curioso para saber com quem ele estava falando.

— Defina “antes” – retruquei, esticando um pouco o pescoço para tentar ver o que dizia a tela do celular. Jungkook notou o meu movimento e ergueu o objeto. Voltei a ficar como eu estava. – Antes do show? Antes de virmos para cá? Antes de iniciarmos a turnê? Antes de eu grava Hwarang? Antes de

— Antes quando você acariciou a minha bochecha – murmurou Jungkook, finalmente bloqueando o aparelho e me fuzilando com o olhar. Aquilo fez a minha raiva se expandir um pouco. Eu detestava quando ele era o culpado e brigava comigo antes para que eu ficasse como o ruim da história.

Era exatamente o que ele estava fazendo.

— Eu preciso pensar todas sempre que vou fazer alguma coisa? – questionei.

Ele ajeitou o cabelo castanho claro com as duas mãos e fechou os olhos com força. Respirou fundo e voltou a olhar para mim.

— É claro que precisa. É por isso que você tem um cérebro. Para usá-lo. – argumentou Jungkook, a voz baixa e carregada de raiva. Não me deixei atingir por sua pequena explosão. A nossa equipe se dispersava, o que o tornava mais propenso a falar tudo o que ele desejava. Os membros já tinham saído do camarim. Era praticamente ele e eu.

Levantei e fiquei de frente para ele, erguendo as sobrancelhas em deboche.

— Por que está tão irritado? Só porque eu fiz isso? – Toquei em sua bochecha bem rápido antes que Jungkook batesse de leve em minha mão para eu tirá-la de seu rosto. – Ou é porque você percebeu que eu estou com raiva?

Jungkook recuou alguns passos. Sua expressão confusa me fizera crer que ele realmente não tinha notado mudança alguma em meu comportamento. Ele costumava não notar, fiquei frustrado por pensar que ele tinha evoluído de alguma forma.

Nós nos encaramos por um longo tempo. Meu desejo era despejar tudo o que eu havia guardado em uma falha tentativa de deixar nossa confusa “relação” em algo estável. Eu não conseguia mais esconder, nem fingir que não ficava magoado ou irritado com algumas coisas. Era frustrante e por vezes pensei se eu estava certo em seguir com aquela confusão em que nós dois estávamos. Não desisti porque eu tinha sentimentos fortes por ele.

— Você não percebe o que faz? – Eu retomei a conversa. Jungkook continuava confuso. – Você não quer contar para ninguém, recusa tirar fotos comigo com medo do que vão pensar – Ele abriu a boca, porém, eu levantei meu dedo pedindo silêncio. – Não quer ter um relacionamento e, ao mesmo tempo, também quer. – Sentia meu rosto quente. – E você parece evitar somente a mim, pois com os outros, você não se importa do que falem. Estou cansado de me preocupar com a maneira a qual devo agir com você perto dos outros, não sinto que sou livre.

Jungkook fitou o chão. Ele parecia digerir calmamente as raivosas palavras que eu dirigi a ele. Resisti ao impulso de fingir que estava brincando apenas para não vê-lo naquele estado.

— Venham tirar uma selca – chamou Jimin, voltando ao cômodo. Eu o encarei e observei ele olhar para Jungkook e depois para mim, repetidas vezes. O sorriso que estava em seu rosto quando ele entrou, tinha se desmanchado e uma feição séria ocupou o lugar. – Querem que eu volte outra hora?

— Não precisa – respondeu Jungkook, levantando a cabeça e caminhando para perto de Jimin. Eu forcei um sorriso para fingir que estava tudo bem. – Ele provavelmente não quer tirar selca, mas vamos nós dois, hyung. – Jungkook colocou o braço no ombro de Jimin, que continuava me olhando, preocupado.

— Está tudo bem, Tae? – murmurou ele.

Eu assenti.

— Bom, eu estou indo na frente. Parece que eu interrompi alguma coisa. Estamos esperando por vocês. – Jimin se desvencilhou de Jungkook e foi se afastando até fechar a porta por onde tinha entrado.

Com raiva, proferi a frase cuja me faria sofrer amargamente durante vários dias:

— Se você for com ele, está tudo acabado.

A expressão de Jungkook era indecifrável. Ele abriu e fechou a boca diversas vezes e ficou em silêncio por algum tempo.

— Faça o que você quiser – disse, correndo até a porta, abrindo-a e, em sequência, fechando-a com um barulho ensurdecedor.

Sem forças, sentei-me no chão, esperando a porta ser aberta por ele a qualquer instante.

Ele não o fez.


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Notas finais do capítulo

Críticas? Dúvidas? Sugestões?
Vejo vocês!



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