Tentando conquistar Min Yoonji escrita por Mizuki Shimizu


Capítulo 3
Chapter 2 - Homework




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Os papéis desgastados estavam espalhados pela cama de lençol turquesa com estampa do Homem-Aranha. O travesseiro havia sido arremessado ao chão e agora descansava em cima de um livro aberto de Inglês. Ao lado, encontrava-se um estojo simples aberto com a ponta de uma lapiseira preta para fora. A borracha era achada sobre a capa dura, sem desenhos e da cor vermelha, de Biologia.

A caneca média com traços brancos e pretos, dando característica de panda, havia sido esvaziada novamente e pousava no criado-mudo. Um suspiro frustrado. Yoonji encarou as folhas outra vez. Em silêncio, amaldiçoou novamente o tal do Park Jimin, que no decorrer da semana não fez nada além de cumprimentá-la ocasionalmente quando os dois se esbarravam nos corredores. Até no refeitório a garota não via nem a sombra do loiro. Melhor para ela, e para ele.

A semana passou rápido. Depois do leve incidente das Mean Girls, Yoonji passara a ser observada frequentemente por um certo quatro-olhos, o qual, deduzia ela, ficara tanto tempo na fila da nerdice que não tivera tempo de receber um pouco de bom senso. Todavia, ela não podia condená-lo por completo. Também ficaria impressionada com ela se fosse um homem, ainda mais depois de salvá-lo sem ao menos conhecê-lo. Pensando nisso, deu um leve sorriso convencido, e jogou um tanto do cabelo para trás.

Ainda assim, tudo tinha limites. Durante a semana letiva passada, ele fazia uma tentativa falha de cumprimentá-la, pois começava a gaguejar no “bo” de bom dia, boa noite, ou qualquer outro “bo” que existisse. Ela até achava aquilo engraçado, mas não o suficiente para fazer com que ela demonstrasse isso.

Quando ficaram livres, finalmente, no sábado, ele tentou perguntar se a morena tinha lido um livro chamado Demian, Demoníaco, ou qualquer coisa ruim, e, apenas para fazer essa pergunta, Kim Taehyung se atrapalhou todo. A pergunta saiu como: Já (o nome do livro que Yoonji não conseguia lembrar, pois era irrelevante, convenhamos) leu?

Aquilo quase se tornou uma confusão ainda maior, pois, até a garota perceber que o nome estranho remetia a um livro, pensou que Taehyung estivesse tentando zombar dela. E isto era uma das poucas – na verdade, muitas – coisas que ela não tolerava. Ninguém poderia simplesmente tirar uma com a cara de Min Yoonji e sair impune. A sorte dele foi que Jung Hoseok, o cara do livro, veio a seu resgate e explicou a situação. No fim, a morena tinha mais um livro para ler, pois acabou aceitando o quase-causador-de-uma-confusão emprestado do quatro-olhos. Ela não sabia bem o porquê.

O que Kim Taehyung não fazia ideia era que a morena estava o observando a distância. Ela estava verificando todos os dias se o garoto não era perseguido, olhando-o de longe a todo intervalo. Se alguém prestasse atenção, poderia jurar que ela estava cuidando dele, mas só por cima de seu cadáver que Yoonji admitiria isso. Não era cuidar, era fiscalizar se alguém tentaria arrumar confusão com o quatro-olhos. Afinal, depois de ter pego o livro emprestado, se o eliminassem, a quem ela devolveria o objeto? Era puramente precaução.

Rolando os olhos para mais uma ficha repleta de nomes de clubes, o de leitura pareceu chamá-la. Ela mordeu os lábios e dobrou a folha, colocando-a do lado de seu corpo, estendido na cama.

Jeon Hoseok era... excêntrico, na falta de uma palavra melhor. Ele não tinha mais insistido para Yoonji entrar em seu clube, o que a deixou um pouco irritada, pois, quem desistiria tão rápido assim? Não que ela fosse aceitar, obviamente. Contudo, não entendia o motivo do convite se ele simplesmente aceitasse o fato de que a garota não se juntaria sem ao menos perguntar outra vez. Ele era um novo tipo de fracote? Yoonji não sabia.

Ele não a ignorou. Durante toda a semana, quando a avistava, corria para cumprimentá-la. Não que Yoonji fosse especial por isso. O modo como Hoseok tratava a todos era muito gentil. Doce até demais, para o gosto dela. Pensou que, por ser aficcionado por leitura como ele era, afinal, estava sempre com um livro diferente em mãos, não seria um cara cheio de amigos. Enganou-se completamente.

Vários alunos abriam sorrisos quando Hoseok entrava no refeitório. No começo, Yoonji pensou que fosse um reflexo, pois o leitor estava sorrindo quase o tempo inteiro. Ele dava passos largos pelo cômodo, parando pelo caminho para cumprimentar seus inúmeros amigos, então seguia para se servir. Até mesmo os ajudantes que substituíam os pratos vazios conversavam um pouco com ele. A morena não podia deixar de se impressionar, só um pouquinho, pois nunca conseguiria um feito desses. O mais estranho era que, após sua rotina, o dono dos cabelos castanhos claros, os quais agora Yoonji suspeitava serem um pouco ruivos, esgueirava-se entre as mesas, até depositar suas coisas em uma específica, a qual não mudara nenhuma vez. A de Yoonji.

No começo, ela achou estranho. De todas as pessoas, por que ela? Será que esse garoto tinha uma meta estúpida de arrumar a maior quantidade de amigos possível? A morena observava com frieza estupenda enquanto ele colocava várias colheradas de comida em sua boca. Quis deixar uma coisa clara logo na primeira refeição dos dois juntos – tecnicamente, não só os dois, alguns integrantes do séquito de Hoseok também estavam lá – após o dia que ele veio falar com ela.

— Ouça, eu serei bem direta – A morena começou, amarrando o cabelo liso com um prendedor escuro. Hoseok parou de comer e a olhou, atento. Ela se sentiu um pouco constrangida. Geralmente, costumavam demonstrar respeito quando ela dizia que seria direta. O – agora ela tinha certeza, vendo o cabelo dele com mais atenção – ruivo estava ficando louco? Yoonji apagou o constrangimento e prosseguiu. – Eu não sei o que você está pensando, mas se quer que eu seja mais uma na sua lista idiota, pode tirar o cavalinho da chuva, ok?

Sentiu-se ridícula por usar uma expressão daquelas. Mas, como diria sua mãe, a ocasião faz o ladrão, certo?

Hoseok demorou a processar. Sua expressão virou uma mistura de concentração e confusão. Observando sua expressão, Yoonji notou como ele tinha um rosto esticado. Era bem diferente de qualquer outro ali. Ele começou a rir, atrapalhando as observações da garota.

— Que lista? – Balançou a cabeça negativamente. – Não estou fazendo nada demais. Estou te incomodando, é isso?

Yoonji mordeu os lábios e depois deu um sorrisinho.

— Quer ouvir a verdade? – perguntou.

— Não. – respondeu o ruivo.

Ela deu de ombros. Se tivesse mesmo vontade, falaria de uma forma ou de outra. O problema era que a refeição estava deliciosa demais para que ela desse importância a assuntos mundanos.

Yoonji detestaria admitir, mas, olhando agora para a folha dobrada perto de seu corpo e relembrando da segunda vez que tiveram uma refeição juntos, estava se acostumando aos poucos com a companhia do ruivo nos cafés, almoços e jantares. Ela continuou implicando com o garoto para que ele desistisse de acompanhá-la, pois, “não preciso que sintam pena de mim”, porém, para isso o ruivo era insistente.

Ela gritou. Estressada, jogou todas as folhas no chão, menos o papel dobrado. Este colocou com delicadeza sobre o criado-mudo. Deu uma olhadela naqueles escritos. Teve uma epifania. O nome de um clube, além do de leitura, prendera a atenção da morena. Sem hesitar, ela agarrou o pedaço amassado e repetiu o que fizera com o que tinha o nome do clube que pertencia à Hoseok.

Cansada, apenas fechou os olhos e dormiu.

~

O dia seguinte foi como todos os outros. Um tédio. O professor vistou outra tarefa que Yoonji não fez, não chamando a atenção dela. Pelo visto, ele já percebera qual o tipo de aluna que ela era.

Tudo começou a ficar estranho um pouco antes do período vespertino iniciar. Yoonji encarava as duas folhas do dia anterior, tentando optar por qual delas escolheria. Tentava organizar os prós e os contras das suas opções quando alguém colocou um chocolate sobre os papéis.

Yoonji ergueu os olhos, estupefata. Quem se atrevera? Ela encontrou Jeon Jungkook, sua frustração de rival/amigo, fitando-a. A morena franziu o cenho.

— O que você pensa que está fazendo? – questionou ela, pegando o bombom e o erguendo.

Novamente, o choque no rosto do outro. Aquela expressão era muito engraçada. Alguém devia fazer um meme dela, pensou Yoonji.

— Eu, ahn – Ele corou. – Ah, bem, eu – Yoonji ergueu as duas sobrancelhas, à espera. – Eu acabei comprando chocolate demais.

E, proferindo aquelas estranhas palavras, ele se jogou na cadeira da frente. Apesar dos olhares insistentes de Yoonji, ele a evitou durante a aula toda, de certo com vergonha do que havia feito e dito.

A morena não aceitou de muito bom grado. Queria devolver o chocolate pela insolência do colega, mas algo, ou melhor, alguém, a impediu.

Kim Taehyung puxou sua cadeira para perto dela. Yoonji o julgou silenciosamente, enquanto ele fazia barulho e outros na sala começavam a comentar sobre a cena. A garota queria pedir gentilmente para todos calarem a boca, pois estavam ajudando a piorar tudo. Conseguiu se conter com um pouco de esforço.

Ele sorriu para ela. Aquele sorriso inocente, dócil e puro, o qual Yoonji acabara de notar que ele tinha. Quando sorria, ficava dez vezes mais bonito. Os seus olhos se fechavam um pouquinho e as bochechas assumiam um tom fofo, contranstando com a personalidade carrancuda de nerd que ele parecia ter.

Taehyung sentou-se perto dela. Ela procurou por algum professor para resgatá-la. Se ele tinha vindo perguntar do livro, a morena com certeza surtaria e responderia para ele enfiar o livro em algum lugar não conveniente, pois detestava ser pressionada. Pensou também na hipótese de ele tentar empurrar algum outro para ela, e de repente, Yoonji não soube dizer qual era a pior opção.

Tirou seus óculos e os deixou em cima da mesa. Sem aquele objeto garrafal, ele ficou vinte vezes mais bonito. Não que isso fizesse alguma diferença na vida de Yoonji, pois não fazia. Não mesmo.

— Esses óculos – começou ele. Yoonji procurou por Hoseok. Não queria não entender outra frase do dono de cabelos castanhos. Detestava não compreender coisas. Ela não achou o ruivo. Ele sempre a acompanhava nas refeições e depois sumia. – auxiliam a me concentrar.

Divertindo-se, Yoonji colocou o objeto na cabeça, entrelaçando os dedos das mãos e deixando-as na perna.

— É? – Ela esperou que ele pedisse os óculos de volta, porém, Taehyung estava ocupando olhando seu rosto.

— Sim – respondeu, ignorando o fato dos óculos concentradores estarem com Yoonji. – Mas, desde de o dia que você chegou, não consigo mais me concentrar nos estudos, mesmo com eles.

Yoonji ficou em choque internamente. Aquilo era uma espécie nova de cantada? Aliás, Kim Taehyung estava flertando? Com ela? A primeira cantada que recebeu na vida tinha partido do nerd que ela protegeu de um grupinho de garotas idiotas, riquinhas e sem noção. Sério? Não, não. Taehyung aparentava ter um jeito diferente de se comunicar, ela devia ter entendido errado.

Tirou os óculos da cabeça e empurrou para ele.

— Volte a se concentrar nos estudos. – ordenou ela, tentando, ao máximo, não demonstrar vergonha.

Taehyung os colocou e levantou. Viu Yoonji uma última vez, puxou a cadeira e, tristemente, sentou-se no seu lugar de origem. A morena permaneceu chocada por alguns segundos até dar de ombros. Não era surpresa alguma alguém gostar dela. A surpresa seria se alguém não gostasse.

No meio daquela confusão toda, Yoonji não percebeu que Jung Hoseok adentrara a sala e se encaminhara à sua mesa, lugar do qual ele não conseguia desviar sua atenção. A morena não o notara até virar seu rosto para o lado esquerdo, e vendo que o ruivo estava lendo os papéis, quase deu um grito de surpresa. Apressa, jogou os bracinhos magros na mesa, tentando tampar a visão do outro.

— O que você está fazendo aqui? – Ela falou, puxando as folhas para si e escondendo-as na mochila vermelha.

A reação de Hoseok demorou um tempinho. Primeiro, notou que não havia mais papel nenhum sobre a mesa de Yoonji. Depois, olhou para a garota com uma expressão surpresa e confusa, abrindo um pouco a boca. Por fim, seu sorriso surgiu, e, a cada segundo que passava, ele ficava maior, o que levou a garota a se perguntar se um sorriso podia rasgar a cara de outra pessoa.

— Você está pensando em se juntar ao clube! – gritou ele, extasiado.

Alguns alunos olharam para Hoseok e Yoonji fez careta.

— Não estou! – Ela fez biquinho, apertando a mochila contra seu peito. Quis socá-lo por ter se aproximado tão repentinamente, sem fazer barulho algum, e ter lido o que Yoonji estava escondendo.

Hoseok bateu uma mão com a outra, novamente chamando a atenção dos outros. Yoonji colocou uma mão no rosto, com vergonha alheia.

— Que tal você vir na reunião de hoje? – Sugeriu, sorrindo.

— Não – Yoonji tinha de ser rápida. Ele não conseguiria convencê-la, não depois do descaso para com ela. A morena já tinha percebido que o ruivo não se importava se ela fosse ou não.

— Por favor! – pediu. – Você não precisa se inscrever, vá apenas para saber se gosta. – Yoonji abriu a boca. – É depois das cinco, te esperarei e iremos juntos.

Terminando a última sentença, Hoseok se afastou rapidamente, planejando não ouvir a resposta da garota. Yoonji bufou, irritada. Ela não tinha prometido nada, e, mesmo que tivesse, não significaria que ela iria.

Park Jimin entrou. Seu cabelo loiro estava bagunçado. O colete cinza, amassado. Ele sorria, não como costumava sorrir, ainda que aquilo fosse quase só aparência. Em outras circunstâncias, estando em um universo paralelo qualquer, Yoonji se importaria.

A professora entrou e a aula começou.

~

O Infernato, trocadilho que Yoonji fizera de inferno e internato – sim, ela era ótima até com piadinhas infames –, tinha seus lados bons, por mais que a morena não fosse admitir em voz alta nem que a ameaçassem. Um desses pontos era a inexistência de trabalhos em grupo ou em duplas. Ela nunca se dava bem com pessoas, trabalhos em grupo eram a prova viva disso. Detestava ter de fazer atividades, ainda mais quando essas envolviam um contato social que ela desprezava.

Parando para refletir, a primeira confusão que Yoonji se metera, a qual originou sua futura primeira expulsão, começou com um trabalho em grupo. Ela tinha nove anos na época. Uma garotinha indefesa e inocente. Nunca faria mal a uma mosca sequer.

Até parece.

A receita para o desastre foi simples. Um grupo tirado no sorteio – não que fizesse diferença para Yoonji, ela não tinha amigo nenhum mesmo –, um tema estúpido (quem falaria sobre a importância dos clássicos com nove anos?), a patricinha mor da escola e uma ida na casa da morena.

A casa de Yoonji, na época, foi uma de suas favoritas até então, pois ficava afastada do centro, tinha um grande espaço aberto, onde havia muita grama e uma piscina, e, o melhor de tudo: era a primeira vez que a garotinha morava em um lugar com um cômodo separado para livros e revistas. Ela nunca organizou tão bem seus quadrinhos como naquele tempo.

Sua mãe estava ansiosa. Prepara um bolo de limão com cobertura de chocolate, uma deliciosa torta de maçã, e fizera suco de abacaxi. Ela arrumara toda a casa pelo menos duas vezes na manhã de domingo, pois as garotas viriam à tarde.

Yoonji, por sua vez, ficou trancada em seu quarto. Queria fingir que não existia. Sumir, evaporar, desaparecer por completo. Os sinônimos consideráveis representavam níveis diferentes de pânico. Ela queria desmarcar. Sozinha, tinha pesquisado na internet algumas coisas sobre o tema que a professora passou. Demorou um pouco para entender o que estavam dizendo alguns sites, pois, convenhamos, que tipo de trabalho era aquele? Contudo, no final o cartaz estava praticamente pronto. Só faltava colar as folhas manuscritas e terminar de desenhar as bordas. A morena olhou para as canetinhas no estojo. Talvez não fosse tão ruim assim.

Foi pior do que ela esperava.

As meninas chegaram uma hora em ponto, munidas de canetinhas de marca cara e cartolinas coloridas. Sun-hee, a dita cuja, entrou na casa examinando cada perímetro do lugar, dando uma bufada hora ou outra. Yoonji se perguntou por que ela precisava ser tão idiota, mas decidiu ficar quieta. Sua mãe se chatearia caso fizesse alguma coisa.

Ela guiou as garotas até a pequena biblioteca da casa. Lá, todas se sentaram nas almofadas cor de rosa que a mãe colocara especialmente para a ocasião, e ficaram alguns segundos olhando umas para as outras. Yoonji pigarreou, levantou, e, a passos largos, pegou a cartolina quase pronta, que estava em cima de uma escrivaninha de madeira antiga, mostrando para as colegas.

— Eu quase terminei o trabalho – disse ela, um pouco orgulhosa de si mesma. – Nós podíamos só terminar as bordas e depois irmos para a piscina.

— Sua casa tem piscina? – Uma das meninas perguntou. Yoonji não conseguia mais se lembrar nem do nome, nem do rosto dela.

Sun-hee bateu no braço da outra, revirando os olhos. Ela também tinha cabelos escuros, compridos, cacheados nas pontas. Estava toda vestida de rosa, isto Yoonji conseguia se lembrar perfeitamente. Detestava aquela cor.

— Quem não tem piscina hoje em dia? – zombou, tentando deixar Yoonji e a outra menina sem graça. – E, quem disse que vamos usar o que você fez?

Por essa, Yoonji não esperava.

— Po-porque – ela gaguejou – porque assim não precisamos pesquisar mais nada.

Sun-hee analisou a cartolina que estava nas mãos de Yoonji.

— Não estou vendo nada escrito – acusou.

— As folhas estão aqui – apontou para a escrivaninha.

— Ah! Então me dê essa cartolina – pediu Sun-hee. Yoonji entregou a ela e se sentou.

Sun-hee começou a rasgá-la pela metade. Foi tão rápido que Yoonji não pôde gritar ou impedir. Ao mesmo passo, foi tão lento que ela quis chorar. Os pedaços da cartolina quase pronta decoravam o chão.

— Vamos usar as nossas cartolinas. Nós usamos os seus textos mesmo, fazer o quê. – E, como se nada tivesse acontecido, pegou uma de suas cartolinas coloridas.

Yoonji não teve tempo de reagir. Sua mãe logo apareceu pedindo para que ela servisse a comida. Durante aquela tarde sombria de domingo, a pequenina Min Yoonji foi feita de capacho. E ela teria tolerado por sua mãe, não fosse, quando estava voltando com um copo de água gelada para Sun-hee, ter escutado do lado de fora da porta:

— A mãe dela é tão ridícula e pegajosa.

Ouviu o copo cair no chão e se estilhaçar. A água gelada molhava seu tênis. Empurrou a porta com uma força descomunal para alguém de nove anos e foi direto para cima de Sun-hee.

A intrusa não apanhou muito. Os pais de Yoonji logo apartaram a briga. Não foi o suficiente para que a morena se vingasse, mas foi o suficiente para Sun-hee perseguir a agressora durante quase todo o ano, colocando toda a turma contra ela.

O resultado? Bom, como era de se esperar, Yoonji revidou.

Portanto, trabalhos em grupo e em dupla eram horríveis.

Assim que a professora, senhora Kang, uma mulher de estatura baixa, gordinha, sorridente, de cabelos grisalhos sorteou os trios para um trabalho, Yoonji quis correr de lá. Sra. Kang lecionava literatura coreana, uma matéria que a morena não prestava muita atenção. Agora, com essa proposta, ela quis acabar com aquela aula.

Assistiu com um pouquinho de pesar quando Kim Taehyung e Jung Hoseok foram sorteados para outros grupos, pois, apesar de eles não serem amigos, os dois eram inteligentes, e Yoonji já fora forçada a falar com os dois, o que evitaria dela ter de começar outro contato social.

— Min Yoonji – chamou a professora, captando a atenção da garota. – Kim Namjoon – Espera, pensou Yoonji, aquele Namjoon do outro dia estudava na sala? Quem era ele? – e Park Jimin.

Dessa vez, Yoonji não conseguiu disfarçar a surpresa. Droga, droga, mil vezes droga. De todos os alunos, por que aquele loiro insuportável? Ela fechou a cara. Não podia ser. Não era possível ter tanto azar assim. Não era mesmo.

Ela olhou para o grande relógio que ficava acima do quadro e viu que faltavam apenas quinze minutos para o final da aula. Depois, ela teria que ir ao clube de Hoseok (acabara decidindo ir, para se livrar logo daquela decisão estúpida).

A professora disse que os minutos restantes eram para os grupos se ajeitarem e distribuírem funções. Yoonji procurou desesperada pelo ser de aparência X. Tudo para evitar Park Jimin.

— Namjoon teve de resolver uns problemas do clube dele, professora. – gritou alguém. Yoonji fechou os olhos e respirou fundo. Só quinze minutos.

Park Jimin levantou. Ele tinha tanta pose que acabava parecendo mais alto do que realmente era. Exibido, ele se aproximava caminhando entre o corredor que dividia as duas primeiras filas.

— Posso me sentar aí? – perguntou ele. Yoonji pensou em questionar onde estava a cadeira que ele usaria para tal, mas não o fez.

— Claro – Ela respondeu.

Assim que o loiro chegou bem perto da mesa dela, a morena falou:

— Passe reto.

E Park Jimin obedeceu.

Ela o observou ir até o final da sala para voltar ao lugar dela.

— Você já tem alguma ideia? – indagou, cruzando os braços e assoprando sua franja para que não caísse sobre os olhos.

— É óbvio! Eu passo o tempo todo pensando em temas para um trabalho de literatura coreana. Quem não faria isso? – Ele realmente a irritava.

— Nossa – Jimin sorriu, mostrando que a reposta de Yoonji não o atingira. – Sabe, eu sempre pensei a mesma coisa!

Yoonji revirou os olhos. Como ele era ridículo!

— Mas, já que Namjoon não está aqui, que tal adiantarmos o trabalho hoje mesmo? – sugeriu Park Jimin. – Podíamos jantar e ir para a biblioteca.

A morena não se lembrava de ter frequentado a biblioteca nenhuma vez sequer. Ela apenas não tinha visto a necessidade de fazê-lo. Para falar a verdade, nem sabia onde era o lugar, afinal, o campus do Infernato era gigantesco, por mais que ela passasse quase o tempo todo em seu quarto ou na sala de aula.

— Não gosto dessa ideia de adiantar trabalhos – murmurou ela. – Por que não deixamos isso para depois? O prazo é para semana que vem.

Park Jimin deu uma risadinha cínica.

— Você quer passar o nosso único tempo livre fazendo um trabalho? – Ele riu mais um pouco. – Não pode estar falando sério. Vamos seguir o meu roteiro.

O sinal tocou e muitos alunos se dispersaram. Yoonji estava irritada com aquele loiro, para variar. Levantou-se, colocou a mochila vermelha nas costas e deu um sorriso de deboche para o rapaz.

— Eu tenho compromisso agora. – Ela apontou para Hoseok, que aguardava ansiosamente perto da porta. Park Jimin fez uma expressão indecifrável. – Mas se quiser mesmo adiantar esse trabalho, me espere na biblioteca.

E andou elegantemente para perto de Hoseok.


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