Tentando conquistar Min Yoonji escrita por Mizuki Shimizu


Capítulo 2
Chapter 1 - Boys & Girls




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O sol iluminava o quarto. O pequeno criado mudo branco, ao lado da beliche marrom escura, só continha um celular de geração antiga, com a tela um pouco trincada em uma das bordas. A luz solar batia no aparelho e era refletida até chegar no rosto suave de Min Yoonji. Pareceu não incomodá-la, pois ela apenas se enrolou um pouco mais na coberta e continuou a dormir profundamente.

O pequeno quarto era planejado para duas pessoas a priori. Um armário de tamanho considerável ocupava a parede esquerda do lugar, enquanto o lado direito estava tomado por uma beliche. O norte exibia uma porta branca, trancada muito bem – Yoonji conferiu duas vezes – enquanto a parte do sul era ocupada por uma escrivaninha – também de madeira –, uma pequena porta que dava caminho a um banheiro e uma estante, onde a garota colocara algumas HQs.

A parte de cima da beliche estava desocupada. O motivo? As vagas para a Bangtan High School estavam esgotadas. O pai de Yoonji teve de “mexer uns pauzinhos” para que conseguisse matriculá-la. Porém, a garota pegou o quarto mais antigo de todo o prédio, lugar este que estivera sendo utilizado como mais uma despensa, o que, é claro, foi revertido antes da chegada dela. Yoonji não queria admitir, mas adorou ter um quarto só seu.

Ela tinha muita dificuldade em lidar com garotas. Não que esse problema não existisse com os meninos, o que, de fato, havia. Contudo, meninas geralmente eram más umas com as outras simplesmente por serem malvadas, e não porque alguém as ameaçou com sua gangue do primeiro bairro onde morava (a propósito, Yoonji fizera isso, mas já é assunto para outra história). Então, não ter de dormir em um quarto compartilhado com outro ser humano era motivo de muita satisfação para a morena.

O pequeno celular começou a vibrar e a tocar Chop Suey. Eram sete horas. Yoonji apertou o travesseiro com força contra seus ouvidos, na tentativa de ignorar o despertador. Nunca mais escolheria uma de suas músicas favoritas como alarme. Ela pensou em jogar o travesseiro no aparelho, porém, a imagem de seu pai apareceu em sua mente e ela abriu os olhos. Droga! Não queria ter de estudar.

Mal-humorada, chutou as cobertas para o lado e se arrastou para fora da cama. Desativou o despertador e prosseguiu para o banheiro. Encarou o pequeno espelho à sua frente, ficando emburrada. Pior do que estudar era ter de levantar cedo.

Ela se arrumou rapidamente. Sua barrigava emitia sons guturais, pois Yoonji deicidira não comer no dia anterior. Não estava com paciência para lidar com um monte de pessoas mimadas. Aproveitando o horário do almoço no dia anterior, tirou um cochilo em seu quarto, e, ao tocar o sino para o início do período vespertino, a morena quase faltou.

Odiava promessas.

Antes de sair para tomar café da manhã, encarou-se no espelho mais uma vez. Seu rosto parecia vivo agora. O cabelo não estava bagunçado. A camisa da BHS passada e a saia cinza de pregas davam um ar feminino ainda maior à ela do que no dia anterior, por mais que Yoonji detestasse isso.

Sem paciência para se olhar por mais um segundo, retirou-se do banheiro e pegou sua mochila vermelha na escrivaninha. Deu passos largos para fora do quarto, conferindo duas vezes se a porta estava trancada, guardando a chave em um compartimento de sua bolsa.

Respirou fundo e atravessou o longo corredor que estava lotado de garotas de pijamas, andando apressadas enquanto falavam alto e seguravam utensílios de maquiagem. Algumas quase esbarravam em Yoonji, porém, como ela detestava contato físico, conseguia se esquivar perfeitamente.

Quando finalmente se livrou do aglomerado sufocante de garotas, se deparou com o pequeno cômodo que dava acesso aos elevadores e com dois garotos da sua sala. Um deles era o nerd do dia anterior e o outro era o garoto que sentou na sua frente.

O dormitório era confuso. Do lado direito dos três andares era a ala feminina, enquanto do esquerdo era a masculina. O quarto andar era ocupado por um grande refeitório. Yoonji ainda não tinha o visto, no entanto, não sabia como pessoas que ocupavam três andares de um prédio poderiam caber em um só. Se bem que, na opinião dela, nada naquela escola fazia sentido.

— Bom dia – murmurou o garoto de cabelos castanhos e óculos imensos. Ele estava sério e sua boca estava fechada, diferente do dia anterior. Yoonji apenas deu uma olhadela nele e voltou a encarar os três elevadores, esperando que um deles, qualquer um, abrisse para que ela não tivesse de socializar. Mais um plano falho.

— Bom dia – disse ela, em resposta, enquanto colocava uma mecha do cabelo preto atrás da orelha. Não sabia bem o motivo de ter respondido, já que, geralmente, ela não faria isso, mas precisava agir como se aquilo fosse normal para ela.

Seus olhos correram pelo rosto do menino de óculos e ela notou que ele agiu como se não tivesse ouvido. Quatro-olhos maldito.

Yoonji desviou sua atenção para o outro rapaz. Só agora percebera o quão alto ele era. Seu corpo aparentava ser musculoso, ainda que ela tivesse visto maiores, o cabelo castanho claro bagunçado, o uniforme completamente desleixado, seus olhos piscando de sono e o nariz engraçadinho. Ela notou tudo aquilo pensando no motivo de ele não ter respondido nem ao nerd, nem a ela. Finalmente teria achado um igual?

Tentou se lembrar do nome dele. O irritante presidente de sala tinha mencionado no dia anterior. Não conseguiu.

O dorminhoco apertou os botões dos três elevadores novamente. O quatro-olhos revirou os olhos, pegando um livro grosso e procurando por uma página específica. Yoonji podia adivinhar o que o outro estava pensando: Os elevadores não virão mais rápido mesmo se você apertar os botões constantemente, seu sem noção. Ou algo assim.

Ela, que costumava não ligar para muito para a estupidez humana geralmente, bufou. O seu companheiro de fila virou para encará-la, sua expressão indicava um desafio. Yoonji não se deixou abater, ergueu uma das sobrancelhas e deu um sorriso de deboche, aceitando. O rapaz fez menção de que ia falar quando o elevador do meio abriu, e uma quantidade enorme de garotas saiu de lá, quase atropelando-o.

Yoonji quis rir da cena. O dorminhoco se desesperou com a situação e recuou vários passos, parecendo estar apavorado. Ele trombou no de óculos que lia seu livro, e foi para o lado em seguida. Nossa, pensava a morena com tremenda ironia, esse com certeza era um cara muito assustador.

O elevador ficou vazio. Yoonji entrou primeiro, seguida pelo de óculos que conferia o estado de seu livro depois do leve esbarrão, e segurou a porta. Seu sorriso cresceu um pouco mais.

— Você vem? – perguntou docilmente. – Ou por acaso não quer pegar o mesmo elevador que uma garota?

O livro caiu tamanho foi o susto do garoto ao seu lado. Ele abaixou para pegá-lo enquanto o rapaz do lado de fora a olhava, incrédulo. Ele piscou duas vezes antes de entrar, e Yoonji deixou que a porta se fechasse.

O humor da morena havia melhorado em cinquenta por cento. Ao invés de ficar frustrada por ter visto que o seu suposto futuro companheiro – ou rival – de brigas era molenga, ela queria rir da reação dos dois.

A pequena “viagem” até o andar do refeitório acabou sendo longa. A cada andar, muitas pessoas entravam, fazendo com que Yoonji ficasse prensada no canto do elevador junto dos dois garotos. Ela queria derrubar o livro do colega, pois ele não parava de ler, e isso estava fazendo seu braço roçar no dela. Ela contou até dez mentalmente e respirou fundo algumas vezes, até a porta do elevador se abrir finalmente no quarto andar.

O aglomerado de alunos saiu, deixando os três para trás. O de óculos andou pelo refeitório sem tirar os olhos do livro, enquanto o dorminhoco deu uma última olhada rápida para Yoonji, com uma expressão de choque, os olhos bem abertos. Ela balançou a cabeça negativamente enquanto saía do elevador, pensando em como ninguém parecia ter tido coragem de ir contra o garoto sonolento alguma vez na vida.

Bom, ela estava lá para coisas novas, não é?

Yoonji reparou na quantidade absurda de mesas, a maioria vazia. Calculou que os alunos provavelmente tomavam café antes das sete, e considerou a ideia absurda. Caminhou sem pressa até as mesas mais bonitas, não só por terem toalhas de cor perolada, diferente das brancas que estavam estendidas nas outras mesas, como também pela quantidade gigantesca de comida. Os olhos da morena brilharam e sua barriga roncou. Ela deu de ombros e pegou um prato para se servir.

Colocou um grande pedaço de bolo de chocolate, dois pães e dois copos, um com suco de uva e outro com café. Ansiosa para poder saborear o seu café, agarrou um guardanapo e procurou a mesa mais afastada do refeitório, que estava vazia.

Caminhou até lá e, enquanto passava, sentia que pessoas a olhavam. Perguntou-se, por um instante, se ninguém mais tinha algo melhor para fazer e depois deu de ombros outra vez. Não importava.

Sentou-se na ponta, colocando o prato, os copos e o guardanapo na mesa. Com rapidez, começou a comer.

Pelo menos algo de bom em ficar enfurnada lá. Com toda a certeza, o alimento que ela devorava com tanta vontade era milhares de vezes melhor do que qualquer coisa que ela tentasse cozinhar.

Quando estava limpando os lábios com o guardanapo, alguém se aproximou. Ela ignorou a pessoa e colocou o papel em cima do prato.

— Está gostando de nossa escola? – perguntou a voz irritante do dia anterior. Yoonji encarou o prato, estressada. Sim, ele tinha de aparecer e estragar tudo.

Ela tirou o celular da mochila e ligou a tela. O relógio marcava 07:56. Ela ergueu o aparelho e o mostrou ao loiro, olhando seu rosto, por fim.

— Você não deveria estar na sala puxando o saco dos professores, “presidente”? – A voz de Yoonji estava carregada de desprezo, e o sorriso do loiro oscilou um pouco, seus olhos fechados praticamente fechados continuaram intactos. Internamente, a morena sorriu. Então ele também se abatia, hum?

— Min Yoonji, ambos deveríamos ir para a sala – respondeu ele, calmamente, como se estivesse lidando com alguém perigoso. E, de fato, estava. – Estou apenas aqui para saber sobre sua opinião em relação à Bangtan High School.

Yoonji expressou confusão brevemente. Em um instante, abriu bem os olhos e se levantou do banco. Deu uma olhada rápida pelo vasto refeitório, e, por mais que não tenha prestado atenção nos alunos de sua classe, porque ela não ligava, ninguém da turma parecia estar presente.

Sua raiva originada pelo loiro aumentou um pouco mais. Ela chegou bem perto dele, notando ser um pouquinho mais alta que o presidente, e o fuzilou com o olhar.

— Já pensou em ser ator? – perguntou ela, sorrindo levemente.

Foi a vez do loiro ficar confuso.

— Não, qual o motivo da pergunta?

— Acredito que deva considerar essa sugestão – Yoonji o ignorou, afastando-se um pouco para colocar os copos em cima do prato e levantá-lo. – Pois quase acreditei no seu teatrinho.

— O-o que quis dizer com isso? – gaguejou o presidente.

— Simples – ela deu de ombros. – Você não está aqui porque se importa com a minha opinião sobre essa droga de escola ou qualquer coisa do tipo, e sim para fiscalizar se todos os alunos de nossa – Argh – sala não estão matando aula. – Yoonji empurrou o prato para o loiro, fazendo com que ele o segurasse. – Não é mesmo, senhor presidente?

E saiu enfurecida em direção aos elevadores.

~

O professor não chamou a atenção de Yoonji, apesar da mesma ter esperado por uma reação semelhante. Pensou que fosse porque não atrasara mais que quinze minutos. Então, ela simplesmente pediu licença e seguiu para o seu lugar, atrás do suposto fortão. Ele fingia dormir de novo, enquanto ela agia como se acreditasse.

Ela encarava o quadro entediada, vendo o professor passar frases do que acreditava ser inglês. Um pouco depois, o presidente da classe chegou, parecendo abatido. Ele não sorria como sempre, e até chegar ao seu lugar, olhou o tempo inteiro para o chão.

Foi então que Yoonji teve uma ideia divertida. Ela não copiaria o que professor estava passando, obviamente. Ao invés disso, abriu o seu caderno sem nenhuma página escrita e começou a escrever uma lista com formas para se vingar do presidente de classe.

Percebeu, enquanto planejava a quarta maneira, que não sabia o nome de ninguém naquela sala, tirando o do garoto que estava na sua frente, e que ela esquecera. Não que fizesse diferença, pois, em sua cabeça, criaria apelidos para todos os alunos afim de identificá-los caso a provocassem. Menos para o presidente de classe, já que seu cargo, por si só, era motivo de zoação.

Observou-o durante algum tempo, procurando por algum outro apelido, só para deixar de reserva. Ele escrevia tudo rapidamente e mexia o cabelo algumas vezes, puxando as mechas da frente para trás. De longe, ela não percebeu o quanto estava imersa achando ridículo a forma que ele demonstrava interesse. Só notou que o analisara tempo demasiado quando o garoto virou a cabeça rapidamente, e, vendo-a, desviou o olhar no mesmo momento que ela o fez.

O pior? Não conseguira pensar em nenhum apelido. Talvez algum trocadilho com o nome dele, quando o descobrisse. Isto é, se ela tivesse que saber, o que ainda não era o caso.

O resto da aula prosseguiu normalmente, enquanto Yoonji desistira de preencher a lista com mais métodos, passou a desenhar coisas aleatórias. Nunca foi boa nessa arte, aliás, essa palavra só remetia ao sentido bagunceiro para a morena, pois era isso que ela dominava.

Quando havia perdido as esperanças e estava acreditando que aquilo realmente era o inferno do qual ela nunca sairia, o sinal tocou e ela esperou um pouco antes de se mover, só para ter certeza de que não era sua imaginação. Os alunos começaram a sair, e Yoonji percebeu que não era a única desesperada para ir embora. Seria ela forte o bastante para voltar e receber outra dose de tédio no período da tarde?

Abriu a mochila vermelha e jogou o caderno e o lápis dentro, fechando-a em seguida. Ponderou se dormiria no período do almoço, ou se comeria alguma coisa, e levantou da cadeira, colocando o objeto nas costas. Um garoto, o qual ela não tinha notado a presença até aquele momento, quase foi empurrado, pois Yoonji não o viu.

— Bom dia! – Ele sorriu, um sorriso muito maior e bem mais brilhante que o do presidente. Yoonji se perguntou se ele conseguiria cegar alguém com aquilo. – Você é a aluna nova, certo? – A morena detestava esse tipo de pergunta retórica, mas antes que ela pudesse responder, ele continuou. – Sou Jung Hoseok, muito prazer.

Ele estendeu a mão para ela, que apenas observou, sem se mexer.

— O que você quer? – questionou, enquanto ele recolhia a mão.

Os olhos do garoto cintilaram. Ele pegou um livro dentro da bolsa e tirou um folheto que estava antes da primeira página. Estendeu o papel e ajeitou um pouco seu cabelo castanho bem claro com a mão que estava livre.

— Faço parte do clube de leitura. Gostaria de saber se você se juntaria a nós? – Yoonji fitou bem os olhos escuros do tal de Hoseok. Muitas coisas pareciam ridículas naquela cena, a morena nem sabia por onde começar.

Por que ele se interessaria logo nela? Não tinha percebido que ela não era do tipo que lia aqueles clássicos irritantes? Lembrou-se da vez que usou o livro Crime e Castigo, de Dostoiévski, para atingir um garoto que implicava com a única menina que tinha sido gentil com Yoonji na sua vida. Não é preciso dizer que ela foi parar na direção.

Será que estavam tão sem membros que recorreram à aluna nova? Que, por sinal, já estava prestes a arrumar confusão? Ela se imaginou lendo um daqueles livros igual o garoto de cedo e balançou a cabeça negativamente. Ler? Só HQs, mesmo. Não entendia como tantos falavam bem desses supostos clássicos quando A Piada Mortal existia. Nunca entenderia, possivelmente.

Yoonji estendeu o braço direito, com a mão aberta, fazendo menção de empurrar o panfleto.

— Escuta, eu não quero fazer parte de nenhum grupo – Isso era verdade. Não se imaginava tendo de conviver ainda mais com outros alunos do que já era obrigada. A decepção no rosto de Hoseok era evidente. O sorriso brilhante desmanchou. – Mas, que tal fazer propaganda para o menino de óculos que senta ali? – Apontou a cadeira do quatro-olhos.

Jung Hoseok fechou os olhos, provavelmente se esforçando para lembrar quem era a pessoa que sentava ali.

— Hum... – murmurava. Abriu os olhos de repente e balançou a cabeça negativamente. – Obrigado pela sugestão, mas já tentamos recrutar Kim Taehyung para o nosso clube.

A morena piscou os olhos algumas vezes. Esperava que ele estivesse dizendo “nosso” por força do hábito, senão teria de explicar novamente que não estava interessada naquele clube.

Ela desviou do viciado em leitura e começou a andar em direção à saída. Depois dessa leve socialização, iria para seu quarto dormir. Chegando na porta, Jung Hoseok gritou:

— Vai almoçar?

Yoonji adivinhou o que estava por vir. Relutante, ela parou.

— Posso te acompanhar? – perguntou ele. Yoonji suspirou. Seu plano de dormir e matar o segundo período havia falhado miseravelmente.

— Faça o que você quiser – E seguiu seu caminho.

~

O almoço não foi tão infernal como Yoonji pensou que seria. Diferentemente do cenário de manhã, aquela hora o lugar estava cheio de alunos, as mesas quase lotadas. Hoseok a seguiu e, ao contrário do que ela imaginou, ele não tentou “convertê-la” ao clube do livro. Apenas conversava sem parar sobre quase todo o tipo de assunto. O melhor era que ela nem precisava prestar atenção direito, era só responder “uhum” e “ah” ocasionalmente que o garoto aceitava muito bem.

Eles se sentaram em uma mesa qualquer e Hoseok começou a conversar com um rapaz que Yoonji não conseguiu ver bem. Seu nome era Namjoon, pelo tanto que Jung Hoseok o pronunciava.

Ela não prestava mais tanta atenção naquilo, muitas pessoas na mesa conversavam sobre um tal de Seokjin. O rapaz era a atração do momento, e Yoonji não deu a mínima para quem ele era e porque era tão especial. Tanto faz. Provavelmente, só mais um irritante no rebanho da BHS.

Suportou as conversas incessantes sobre Seokjin graças à comida. E, ao voltar para a sala após o almoço, pensou que aguentaria outro período de aula por causa do futuro jantar.

Quase todos estavam em suas mesas quando o presidente de sala abriu a porta e entrou. Alguns o chamavam, mas ele apenas acenou com a mão pequena e gorducha, seguindo pelo corredor que dividia a primeira fila da segunda. Min Yoonji o ignorou, era tão falso que chegava a enjoá-la, e voltou a deitar a cabeça na mesa. Não entendia como ninguém mais via o quão intragável aquele loiro era.

— Posso conversar com você? – disse aquela voz que a morena já não suportava. Ela pensou em virar a cabeça para poder vê-lo e fazer a pior careta que conseguia, mas decidiu que não valia a pena.

— Que eu saiba, você já está fazendo isso. – Ela retrucou, tirando uma mecha do cabelo preto que estava em sua boca.

— Não assim – Ele esperou um pouco. – Por favor, poderia me acompanhar até lá fora?

“Não, não poderia”, pensou Yoonji, mordendo a língua. Ela levantou a cabeça, e, olhando feio, seguiu o presidente.

Eles ficaram ao lado da primeira janela da sala, Yoonji se escorando no vidro enquanto o loiro permanecia na sua frente, ereto. Ele não sorria mais, e a morena ainda piorava a situação o encarando com uma sobrancelha erguida.

Ela se lembrou do pequeno incidente da escolha de apelidos e ficou um pouco vermelha. Olhou para seus pés. Teve vontade de se justificar, dizendo que nunca analisaria alguém como ele por outro motivo que não fosse deboche, mas preferiu ficar calada, pois era a melhor opção.

— Nós temos várias regras na Bangtan High School – Ele começou. – Uma delas é que todos os alunos, sem exceção, devem participar de um clube. – Yoonji ergueu a cabeça e viu o sorriso do presidente. Ele tinha voltado ao normal. – Não sei se você sabia disso, portanto, estou avisando.

Yoonji teve uma súbita vontade de gritar até seus pulmões saltarem para fora de seu corpo. A cada hora que passava, ela tinha mais certeza de que estava ali como punição por seus pecados, o que, de fato, era um pouco a verdade. Porém, nunca pensou que uma escola de mimados fosse tão irritante e detestável como estava sendo. Definitivamente, a única coisa que valia a pena ali era a comida.

E só.

Mas a morena não se deixaria abater, ao menos, não externamente. Ela cruzou os braços e ergueu as duas sobrancelhas dessa vez, esperando pela continuação. O loiro não se abalou.

— Por que isso de repente? – questionou ela. – Eu acabei de chegar.

Pelo menos pensou que aquilo fosse uma justificativa por um tempo.

O presidente deu uma risadinha baixa.

— O seu prazo é de duas semanas. Nós temos uma variedade imensa de cursos, é só escolher um e me informar qual clube terá o prazer – A morena não deixou de notar certa ironia – em tê-la como membro.

Duas semanas era pouquíssimo tempo. O que ela podia fazer? Será que conseguiria fugir dali utilizando alguma janela como saída? Se fugisse, como sobreviveria? Pois seu pai certamente não a aceitaria de volta.

Ela o fuzilou com os olhos, incrédula. Era fácil notar o quanto o loiro estava se divertindo.

— Tá certo. – respondeu.

— Caso o prazo estoure – continuou. – Seremos obrigados a convocar seus responsáveis.

Que novidade! Como se nenhuma escola estúpida se utilizasse daquele tipo de ameaça. Nossa, muita surpresa mesmo!

— Ah, tá. É só isso? – Ela parou de se escorar na janela.

O presidente parou de sorrir. Ele ajeitou o cabelo e mordeu os lábios. Parecia estar em uma luta interna.

— Sobre o que você disse antes... Não é tudo verdade. – Ele desviou o olhar. – E desculpe não ter me apresentado. Sou Park Jimin.

Yoonji não estava surpresa pela mudança de assunto. Em pouco tempo que ela o conhecia, ele demonstrava problemas em lidar com coisas desagradáveis.

— Okay – falou a garota, simplesmente por não ter o que dizer.

Park Jimin voltou para a sala, sendo seguido de perto por uma colega um tanto confusa perante a bomba que estava prestes a explodir. Como arranjaria um clube?

Foi pensando nisso que ela dormiu quase o período todo, sem ser interrompida uma vez só pela professora de Física, simplesmente porque a mulher, uma senhora baixinha e sorridente, provavelmente não tinha altura o suficiente para ver quem estava atrás do dorminhoco, que por algum motivo estava desperto e sentado ereto.

Antes de fechar os olhos, ela lembrou o nome do rapaz. Jeon Jungkook que a camuflaria.

~

Acordou com um grito estridente. O susto foi tanto que Yoonji quase parou no chão, conseguindo se equilibrar antes que caísse. Seu coração acelerou e ela voltou a se sentar na cadeira. Olhou para a sala toda. Completamente vazia.

Não se importou com o fato de ninguém tê-la acordado, afinal, se ela estivesse no lugar deles, provavelmente faria o mesmo. Apenas se levantou, um pouco atordoada, e pegou a mochila.

Perto da saída, ouviu novamente a voz estridente que gritara antes. Com o susto de acordar no escuro e na sala vazia, Yoonji ignorara complemente o que tinha feito ela despertar. Parou de andar e prestou atenção na conversa.

— Você não pode estar falando sério! – riu a dona da voz que Yoonji ouvira. – Ele está sendo sério?

Ele quem?, Yoonji se perguntou.

— Com certeza deve ser alguma brincadeira idiota – respondeu outra garota. – Olhe para ele, tão sem graça que nem deveria tentar fazer piada.

— Eu não estou fazendo nenhuma brincadeira. – rebateu alguém. Yoonji sabia que tinha ouvido aquela voz antes. De quem era? – Não me procurem. Não farei mais nenhum trabalho. Com licença.

Um estrondo. Algo havia se chocado com algum armário, Yoonji conseguiu identificar.

— Onde você pensa que vai? – falou uma terceira voz.

— Você não tem escapatória. – A voz estridente reapareceu.

Um breve momento de silêncio.

— Não é não, garotas. Se me derem licença. – Novamente, outro estrondo. Som de livros jogados no chão.

Yoonji não aguentou mais ficar parada. Ela jogou sua mochila no chão da sala e correu para fora, encontrando três garotas esbeltas e bonitas fisicamente, batendo no estômago no garoto de óculos, que não revidava. Kim Taehyung, era esse o nome do dono da voz que ela conhecia.

Yoonji empurrou a que parecia ser a líder, quem estava fazendo o trabalho de socar o garoto. Ela caiu no chão, o cabelo tingido de ruivo bagunçando com a queda. Em seguida, a morena se virou para a que segurava o garoto pelo braço direito, e, agarrando o uniforme da loira, a jogou contra a parede, machucando-a um pouco.

A terceira soltou Kim Taehyung, o garoto caiu no chão. Ela se posicionou e partiu para um soco, mirando no rosto de Yoonji, que desviou e puxou o braço que a terceira usaria no golpe, torcendo-o um pouco, até a garota gritar para ela parar. Quando Yoonji parou, ela a jogou na loira.

A líder estava em pé. Ao contrário das outras, que pareciam derrotadas sem Yoonji encostar nelas direito, a ruiva falsificada tinha jeito de quem já brigara antes. Provavelmente, lutando contra quem não podia se defender.

A ruiva correu na direção de Yoonji. Esta tentou desviar, mas a líder foi mais rápida. Previu os movimentos da morena e acertou um soco na bochecha da garota. Yoonji sorriu. Aquilo não era nada.

Quase com a mesma velocidade da ruiva, Yoonji segurou os dois braços da garota logo depois dela ter acertado o soco, e com o joelho esquerdo, deu três joelhadas no estômago da líder, jogando-a no chão e ficando em cima dela, prendendo seus dois braços.

— Saia! – ordenou a ruiva. Ela era a dona da voz estridente.

Yoonji riu baixinho.

— Pessoas como você me enojam. – afirmou Yoonji. – Acho bom não te ver ameaçando ou agredindo ninguém, porque, se eu souber de algo parecido – A morena abaixou a cabeça até sua boca ficar perto do ouvido direito da ruiva, que estava assustada. – Farei questão de arrancar até o seu último fio de cabelo tingido. – sussurrou.

Levantou o corpo, ainda prensando a ruiva no chão, virou para olhar as duas idiotas do grupinho. Elas fugiram.

Deu uma gargalhada baixa e encarou a líder.

— Estamos entendidas? – perguntou, abrindo bem os olhos.

— Sim – respondeu a ruiva, a contra-gosto.

Yoongi se levantou e soltou a garota. Observou-a correr desesperada para longe. Que fraca.

Só então lembrou o motivo daquela briga. Olhou para Kim Taehyung, que já tinha juntado os pertences e agora os segurava, abraçando-os. Ele a olhava, como se estivesse hipnotizado.

— Você está bem? – Ela perguntou, estendando a mão para o garoto. Ele aceitou e se levantou, fazendo caretas de dor. – Não se deixe ser ameaçado, tá bom?

O garoto assentiu.

— Muito obrigado! – agradeceu, curvando-se e fazendo uma expressão de dor horrível.

Yoonji quis rir da cena. Conteve-se.

— Não fiz isso por você – explicou ela, recusando o agradecimento. – Fiz porque esse tipo de gente me deixa irritada.

Ela voltou para a sala, pegou a mochila, e, colocando uma mecha do cabelo preto atrás da orelha, afastou-se de onde seu novo fã estava.


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