Não tem nada mais desesperador do que você fazer um acordo consigo mesmo para não falar com uma certa criança que te irrita muito. Ainda mais quando você sente que vai dar muita merda se não avisar o ser que está correndo perigo de morte enquanto dorme e sonha com unicórnios.

“Vai dar merda, eu to sentindo isso!” O vampiro repetia infinitas vezes em sua mente a mesma coisa, quase formando um coro e chamando um coral para o acompanhar quando isso acontecesse.

Ele observava a pequena garota dormir encolhida contra os fenos que estavam ali, sabendo que não iria ser muito legal quando Luke passasse por aquela grande porta de metal e notasse sua filha ali. Com certeza iria para cima da pequena, e Nico não estava afim de presenciar uma cena violenta logo cedo. Ainda mais se essa cena fosse contra uma pessoa indefesa.

Mais uma vez tentou acordar ela fingindo uma tosse brava, falhando miseravelmente. Qual é? Uma pedra tomou a forma dessa garota ou o que?

Os passos do lado de fora foram capitados pelos ouvidos do di Angelo, que abaixou a cabeça preparando-se para a desgraça que estava vindo aí. Porém assim que o fez, ouviu um bocejo vindo de Thalia, que se sentou entre os fenos e coçou os olhos grandes.

— Acho que eu caí no sono. – Murmurou sonolenta, fazendo-o arregalar os olhos e começar a alternar o olhar entre ela e a porta, torcendo para que a criaturinha entendesse o que estava prestes a vir. – O que foi?

Luke deu uma gargalhada alta do corredor e o vampiro pode ouvir o coração da pequena saltar dentro de seu peito, se acelerando tanto que ele temeu que ela explodisse a qualquer segundo.

Parecendo entender o que estava acontecendo, ela saltou para atrás de um bloco de feno enorme assim que a porta fora aberta, fazendo-o desviar o olhar direto para o loiro, que entrava radiante na adega.

— Acordou de bom humor hoje, vampirinho de merda? – O Castellan indagou ao ver a sombra de um sorriso no rosto de seu prisioneiro.

Nico apenas deu de ombros, pouco interessado em trocar palavras com ele, já que Thalia estava ali, então queria manter o segredo e fingir que era mudo ou algo do tipo que ela imaginava.

— O que foi? O gato comeu sua língua? – Questionou o loiro, se aproximando mais com curiosidade.

O vampiro apenas deu de ombros, vendo de soslaio a garota tentar correr para a porta e esquecer seu amigo de pelúcia para trás, voltando cautelosa para pega-lo.

Porém, tinha que aparecer aqueles bichos infelizes que chamamos de baratas, não? E foi ali que a criança gritou alto, assustando Luke que estava despreparado para isso, porém logo se recompôs e se virou com os punhos cerrados.

— O que você está fazendo aqui sua estupida? – Xingou, avançando para cima da Grace, que arregalou os olhos e passou por debaixo das pernas do pai que estavam com um espaço que cabia ela, correndo para onde seu amigo estava e se agarrando no cós da calça dele, entrando atrás do moreno, ficando entre ele e a parede.

Nico arregalou os olhos e abaixou a cabeça para observar a menina, querendo soltar um “você é maluca, garota”, mas não se atreveu a dizer uma palavra, apenas ficar boquiaberto com a coragem dela de se esconder atrás de alguém que havia tentado matá-la várias vezes.

O alpha puxou o di Angelo pela gola, afastando-o da criança, pronto para esmurrar aquela carinha angelical que ela tinha, porém, o vampiro rolou os olhos e juntou saliva em sua boca – por mais que aquilo doesse – e cuspiu no rosto do loiro, que o largou.

— Filho da...! – Antes que ele terminasse o xingamento, Thalia soluçou alto se agarrando mais as pernas do moreno.

— Senhor Presinhas não deixa ele me machucar por favor...- Pediu baixinho, entre um soluço e outro, fazendo algo se incomodar la no fundo do peito de Nico.

— Saia da frente, di Angelo! – Luke socou seu rosto com força, o que fez o vampiro fechar os olhos e balançar a cabeça desnorteado por alguns segundos.

“Agora que eu não te deixo chegar perto dela” ele pensou consigo mesmo, entrando na frente e começando a ir para o mesmo lado que o alpha ia, não deixando que ele obtivesse sucesso em chegar perto da garotinha.

Em único movimento, o loiro enfiou a mão no peito do di Angelo, segurando seu coração em suas mãos - literalmente – e ameaçando arranca-lo, enquanto ouvia os gritos de sua filha:

— PAPAI, NÃO! NÃO MATA ELE POR FAVOR! EU VOU COM VOCÊ!

Nico cuspiu o sangue que lhe preenchia a boca, não acreditando que a menina estava mesmo se entregando para salvar sua vida. Ela era inocente a tal ponto? Coitada! Pobre iludida.

— Luke, amor, solte-o. Lembre-se do real motivo que estamos deixando ele preso aqui conosco. – Sky adentrou a adega com um pequeno sorriso no canto dos lábios, vendo o alpha prestes a matar sua única isca para o mundo dos vampiros.

Com esse pedido, o loiro largou o coração do vampiro e se afastou, limpando a mão suja de sangue em sua própria calça e fazendo uma careta raivosa.

— Essa peste negra estava aqui o tempo todo, Sky! Tire-a daqui antes que eu acabe com a raça dessa garota infernal! – Pediu, se virando para a parede procurando se acalmar.

A loira pegou o braço da garota, puxando-a para fora da adega enquanto a Grace gritava com o pai para que não fizesse nada com seu novo amigo, fazendo promessas de que nunca mais iria voltar ali, jurando por sua vida e tudo.  

Enquanto isso, Nico esperava o que estava por vir, sabendo que o loiro provavelmente iria descontar toda sua raiva no corpinho gostoso dele, que voltaria a ficar cheio de feridas e sangue. Eba.

— Eu não quero saber de você perto dela, di Angelo! – Luke se virou de supetão, acertando um soco no rosto do vampiro, que escutou o barulho de algo se partindo, torcendo para que não fosse seu nariz.

Soltou um gemido baixo de dor ao sentir sangue melar seu rosto, pensando seriamente em se aproveitar de seu próprio sangue. Nojento? Talvez! Mas fazer o que, não?

— Fique longe da Thalia, seu verme! – O Alpha segurou o rosto de Nico, fazendo-o encarar seus olhos claros que agora estavam raivosos.

— Irônico você estar me chamando de verme, não? – Retrucou com dificuldade, puxando o ar para seu pulmão e sentindo sua garganta queimar. – Como se você se importasse com aquela criança!

Sua bochecha ardeu com o tapa que recebeu após terminar a fala, o que fez seu interior borbulhar de raiva.

— Não me importo mesmo, mas não quero ela perto de uma raça tão horrenda como a sua. – O loiro rosnou baixo, se aproximando cada vez mais do rosto do moreno. – O bom é que logo não vai mais existir.

Nico o encarou firmemente, porém o alpha se virou e saiu da adega tão rápido quanto entrou, deixando-o extremamente confuso.