Nico tentava se soltar, xingando aquele maldito de todos os nomes possíveis. Seu corpo preso em uma cruz, seu peitoral exposto, e o anel que impedia que ele queimasse ao sol a uma distância mínima a sua frente, como uma tortura ainda maior, já que se ele estivesse solto apenas precisaria se esticar para pegar. 

Mas ele estava amarrado. O sol começava a nascer no horizonte e, se seu coração batesse, ele estaria desesperado, pois queimaria. Ele morreria queimado e bem em frente a Grace. 

Thalia tinha lágrimas nos olhos, a garganta arranhando a cada grito doloroso que soltava ao passo que seu corpo se debatia enquanto ela tentava se soltar de dois lobisomens enormes, mesmo na forma humana, eles tinham tantos músculos que chegavam ser incontáveis, tais riam do desespero da menina que tinha plena noção de que Nico não sobreviveria e não tinha nada o que ela poderia fazer. 

Naquela noite, tudo estava como mais qualquer outra e o ataque tinha começado sem aviso, rápido demais para que eles montassem uma defesa eficaz, Luke estava em um grupo numeroso e incrivelmente vingativo. 

Thalia odiava aquele homem, os olhos brilhavam em desejo de vingança, um sorriso em seus lábios transbordando aquele prazer doentio pela cena a sua frente, enquanto a Grace sentia os primeiros raios solares tocarem as sua pele e sabia que logo tocariam a de Nico. 

Odiava ter um dia desejado o carinho e amor do loiro. Odiava ter o chamado de papai, quando ele tinha assassinado o seu biológico. E agora o odiava mais do que tudo por estar a fazendo assistir a morte de Nico. 

— Ela não precisa ver isso! — Nico disse irritado. 

Luke gargalhou, como se fosse a melhor piada que um dia ele tinha ouvido na sua vida. 

— Claro que precisa, pois isso vai te fazer sofrer, já que eu preciso dela viva, não posso matá-la na sua frente — Luke disse, agora o sol já tocava as madeiras em torno da cruz, logo tocaria o corpo pateticamente pálido do vampiro, o incendiando. 

Bianca não queria o ataque, mesmo que seguisse os vampiros em direção a casa dos lobos, ela pensava em alguma maneira de ajudar os lobos, mas ela sentiu seu corpo travar ao ver a cena. Muitos dos lobos estavam presos e tentavam se debater para soltá-los, Nico estava a beira da morte, pois o sol agora tocava seus pés, Thalia chorava tentando se debater e salvar Nico. 

Ninguém precisou alertar, eles não tinham tempo. O ataque começou.

Foi o momento perfeito que a Grace precisava, os urros de pânico, as ordens de Luke voando para todos os lobos atacarem sem nenhuma hesitação de matar, as pessoas recuando ao mesmo tempo que iam para frente da luta, os rosnados. Tudo distraiu os brutamontes que seguravam ela, deixando uma brecha para que facilmente se desenroscasse dos dois, chutando o mais alto na canela e o outro na virilha, derrubando-os e se jogando na direção de Nico. 

Seus braços trabalharam em segundos para soltá-lo, sequer tinha consciência de seus atos quando viu que ele estava livre. Seus olhos molharam ainda mais, a visão se tornando turva quando sentiu o único afago de Nico em suas costas ao passo que se virava para a batalha, a tempo de vê-lo se afastar usufruindo de sua velocidade vampiresca, a deixando para trás.  

Ela não podia ficar ali, tinha que ir ajudar Silena que tinha dois homens em cima de si. No entanto, sequer deu um passo para longe da cruz.

O barulho alto da arma soou pelo campo. Corpos se retesaram, assustados de onde vinha e com medo de serem o alvo. 

E Thalia gritou quando sentiu a bala fincar-se em seu peito. 

Nico nunca pensou que entraria dentro de um clichê, mas tudo pareceu ficar em câmera lenta. Reconheceu a voz, unicamente o grito dela. Os sons se afastaram e voltaram de uma única vez para seus tímpanos, seus olhos tornaram vermelho sangue e sentiu todo seu corpo tremer, os dedos formigando e o coração pesado, oco em seu corpo. 

Virou-se, jogando o legítimo foda-se para o sol. E voltou. Correu em direção a garota caída no chão, ouvindo os gritos de Bianca ao longe e, se conseguiria reconhecer, Annabeth também. Suas garotas estavam ali, gritando por ele enquanto ajoelhava ao lado de Thalia. 

O sol chegou em suas costas ao mesmo tempo que a garota abriu os olhos azuis opacos, fitando-o com um certo assombro. Entreabriu os lábios, possivelmente para falar alguma coisa, mas dali só saiu sangue, que sujou o garoto. 

Nico sentiu seu estômago revirar em culpa, o peito afundar apertando suas costelas.

— Sinto muito… — Sussurrou, passando a mão pela bochecha e se assustando ao sentir as lágrimas, não tinha notado que havia começado a chorar.

Thalia puxou o ar com dificuldade, entremeio ao sangue que sentia voltar por sua garganta.

— Você não está queimando. — Respondeu com a voz fraca, quebradiça e tossindo no fim da sentença. 

Fechou os olhos azuis e Nico arregalou os seus, notando que realmente não estava queimando e sequer estava com seu anel. Mas não teve tempo de raciocinar, os gritos voltaram a tona e notou que estava na hora de ir embora, os lobos estavam em desvantagem. 

Pegou Thalia em seus braços e se levantou, deixando um beijo na testa dela e começando a correr. Não conseguia ver Luke em nenhum lugar, tampouco alguém que fosse da alcateia dele. Ao que pareciam tinham recuado e os vampiros estavam voltando para a floresta, Silena rosnava e gania ali perto, chamando atenção do vampiro.

— Eu vou cuidar dela, eu prometo. — Sussurrou e olhou bem nos olhos da loba, começando a seguir sua família logo em seguida, de volta para sua casa.

Nico não demorou alcançar os vampiros, agora que eles estavam distante da toca dos lobos, alguns pareciam prestar atenção no di Angelo e principalmente na humana em seus braços que agora estava terrivelmente pálida e desacordada, mesmo que gemesse de dor inconscientemente. 

O nojo estava transpassando qualquer sentimento. Muitos julgavam Nico por estar fazendo aquilo, e ele sentia isso no olhar em sua pele, mas ele não conseguia se importar, já que ele só tinha o pensamento em Thalia e que precisava dela viva. 

— Nico… — Bianca disse fraco, se aproximando do irmão e o parando, ela já tinha notado. 

— Não! — ele falou com tanta dor da voz que ela sentiu seu coração se quebrar. 

— Eu sinto muito! — Disse fraco o vendo se ajoelhar, seu corpo cedendo a dor. 

— Não, não…— ele negava em desespero, as lágrimas em seus olhos surgindo inconsciente, Thalia já não emitia nenhum som, seu corpo tão estático que ficava óbvio o ocorrido. — Ainda dá tempo, podemos transformá-la! 

— Ela está morta, Nico! — Bianca disse fraco, mesmo sem ser uma vampira ela conseguiria identificar isso. 

— Não, não! — seu tom de voz aumentava, ele sentia seu coração ser destroçado enquanto a apertava mais contra si. 

— Eu sinto muito… — Bianca repetiu novamente, alguns vampiros olhavam a cena com nojo e descrença, era só uma humana. 

No entanto, Nico sabia, bem lá no fundo, que nada mais poderia ser feito. 

Thalia Grace estava morta. E isso o destroçava.