DEZ

SHAKESPEARE

— Assim vou aumentar uns cinco quilos... – Bella dizia de boca cheia, enquanto mastigava mais um bombom, a sua boca estava toda melada de chocolate e enquanto ela comia sem parar eu olhava para ela com as sobrancelhas arqueadas, era incrível a forma que ela comia doce. Embora eu já conhecesse ela há algum tempo eu ainda não estava acostumado com a sua forma de comer.

Em cerca de mais ou menos de vinte minutos ela já havia comido quase todo o chocolate que eu havia trazido para ela.

— Hum... Você gostou da marca? – perguntei.

— Eu nunca liguei muito para marca de chocolate, eu adoro de qualquer forma... – ela disse, agora engolindo todo o chocolate que havia em sua boca, ela começou a lamber os dedos.

— Então agora estamos em paz? – perguntei.

Ela pegou um lenço e começou a limpar sua boca enquanto confirmava com a cabeça.

— Sim, sim, sim! Muito obrigada pelos chocolates, eu estava precisando deles, eles me acalmam sabe? – ela disse sorrindo. – Aiiin, desculpa, deve estar sujo meus dentes... – ela acrescentou, agora colocando a mão na boca. Eu dei uma risada. – Perai, eu vou escovar os dentes! – ela pediu e saiu correndo para dentro do banheiro. Pelo menos ela começou a se preocupar com isso, até um tempo atrás ela não se preocupava em sorrir com os dentes cheios de chocolate.

Depois de dois ou três minutos Bella saiu de dentro do banheiro e se aproximou de mim.

— Você não quer nenhum chocolate não? – Bella perguntou, olhando dentro da caixa, se tivesse uns quatro bombons lá dentro era muito. – Bom ainda tem alguns!

— Não, eu não quero, obrigado, é todo seu! – eu disse sorrindo para ela, ela sorriu de volta para mim. – Na verdade, eu quero te pedir um favor! Posso?

Bella me encarou com as sobrancelhas franzidas.

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— Dentre os mais belos seres que desejamos enaltecer, jamais venha a rosa da beleza a fenecer, porém mais madura com o tempo desfaleça, seu suave herdeiro ostentará a sua lembrança; mas tu, contrito aos teus olhos claros, alimenta a chama de tua luz com teu próprio alento, atraindo a fome onde grassa a abundância... - Bella lia o soneto em voz alta para mim, enquanto andava para um lado e para o outro na biblioteca. Eu estava sentado na cadeira em frente a ela, de braços cruzados, olhando-a com as sobrancelhas franzidas.

Já fazia três dias que Bella estava me dando aula de Literatura Inglesa e ás vezes ela dava algumas pausas para recitar alguns poemas para mim, ela dizia que essa era uma forma de cada vez mais eu me acostumar com a leitura, bom, eu já tinha conseguido terminar de ler “Ship of Magic” e isso era um grande avanço, mas sinceramente eu não queria ver um livro tão cedo na minha frente.

— Para, para tudo! – eu disse, interrompendo a leitura dela.

— O que? - ela perguntou, me olhando meio confusa.

— Eu não estou entendendo nada do que esse cara ai tá falando, ele escreveu isso quando estava bêbado ou o que? – eu reclamei, franzindo as sobrancelhas, realmente toda essa baboseira romântica eram muito difíceis de entender, até aquele momento eu não sabia o que ele queria dizer.

Bella encarou-me com a boca entreaberta.

— Como ousa falar assim de Shakespeare? - Bella perguntou sentindo-se completamente ofendida, aquilo parecia ter a atingido no fundo da alma, tanto que era como se eu estivesse falado mal dela e não de outra pessoa.

— O que tem? – eu perguntei meio confuso.

—William Shakespeare é um dos melhores escritores do mundo inteiro, ele foi o dramaturgo mais influente, ele era um gênio, todos conhecem suas obras até hoje, ou vai falar que nunca ouviu falar de Romeu e Julieta? - Bella perguntou.

— Ah claro, aquela história gay lá que um se mata pelo outro? Sabe muitas vezes eu me perguntei quem foi o retardado que escreveu aquilo... - eu respondi, Bella ficou completamente vermelha, de raiva.

— Você diz isso porque nunca se apaixonou! - ela disse, cruzando os braços e ficando emburrada.

— E você já? - eu perguntei, franzindo as sobrancelhas.

— Já o que? - ela perguntou, sem entender.

— Já se apaixonou? – eu refiz a pergunta, ela havia saído de forma tão automática, que só depois eu me toquei que eu não deveria ter feito essa pergunta. Apesar de que eu não podia negar, que no fundo eu tinha curiosidade de saber o que ela responderia.

Notei que ela corou levemente, abriu e fechou a boca varias vezes sem sair nenhum som.

— Bom, se você não gostou desse soneto do Shakespeare, tem um poema bastante conhecido que gosto muito... - Bella disse trocando completamente de assunto, logo então virou a página de seu caderno e começou a recitar. - Quando me tratas mau e, desprezado, Sinto que o meu valor vês com desdém, Lutando contra mim, fico a teu lado E, inda perjuro, provo que és um bem. Conhecendo melhor meus próprios erros, A te apoiar te ponho a par da história De ocultas faltas, onde estou enfermo...

— Bella... Bella... - eu comecei a chamá-la, tentando interrompê-la, mas Bella continuou.

— Então, ao me perder, tens toda a glória. Mas lucro também tiro desse ofício: Curvando sobre ti amor tamanho, Mal que me faço me traz benefício...

— Bella, dá para parar? – eu implorei, eu não aguentava mais escutar aquelas coisas sem sentido.

Para minha felicidade ela finalmente parou, e então me olhou seriamente.

— Não gostou desse também? - ela perguntou, depois soltou um longo suspiro. – Assim vai ficar difícil eu te ajudar com Literatura Inglesa!

Eu suspirei e levantei-me da cadeira, enquanto encarava-a seriamente. Eu ainda não havia conseguido esquecer que ela não havia respondido a minha pergunta, assim como também eu não conseguia esquecer que mesmo ela e eu termos voltado a ser amigos ela continuava grudada no imbecil do Jacob, e ainda para piorar, eu não esquecia de jeito algum que Emmett todo dia fica falando no meu ouvido que ela não se desgrudava do Jacob porque esta apaixonada por ele e só eu que não consegui ainda enxergar isso.

— Por que você trocou de assunto? – eu perguntei, parando bem na frente dela, notei que ela me olhou meio nervosa, e então deu um passo para trás.

— Ahm? - ela fingiu não entender.

— Não se finja de retardada Bella, que sei que você não é! – eu reclamei, enquanto a encarava meio desconfiado. - Eu te fiz uma pergunta, e você trocou de assunto... Por quê?

Bella suspirou e discordou com a cabeça.

— Tá legal... Para que você quer saber? Desde quando você se interessa pela minha vida sentimental? - ela perguntou, arqueando as sobrancelhas e sem parar nem para pensar, eu a respondi:

— Desde agora... – dei mais um passo em direção a ela. – É o Jacob? – perguntei ainda a olhando fixamente, e ela me olhou com as sobrancelhas franzidas. – Por acaso você está gostando dele? – perguntei, agora aumentando o meu tom de voz, sem desgrudar nenhum segundo os meus olhos dos dela.

Ela parecia atônita enquanto também me olhava nos olhos, era como se ela estivesse digerindo a pergunta que eu havia feito. Eu não sabia o porquê de tanto mistério, afinal, era tão simples. Era tão simples ela me falar de uma vez por todas o que sentia pelo Jacob, só que a cada segundo que ela demorava em me responder, mais eu me dava conta de que eu não iria ter essa resposta tão rápido assim, e o pior é que algo me dizia dentro de mim que eu sentia que Bella estava me escondendo algo.

— Edward... – finalmente ela iniciou, depois de algum tempo em silencio. – Eu... – ela começou, mordendo os lábios inferiores.

— Você? – eu perguntei, enquanto notava que as palmas das minhas mãos começaram a soar. Por que diabos minhas mãos estavam soando? Por que eu estou tão nervoso?

Minha cabeça girava enquanto eu continuava olhando fixamente para Bella, estávamos numa proximidade que eu julgava um tanto perigosa, tanto que eu não me atrevia a ficar em sã consciência tão próximo dela assim, sim eu não estava achando muito normal a minha atitude, eu não estava batendo muito bem das ideias isso estava mais do que claro, e eu deveria me afastar, sim era o mais sensato a se fazer, mas por mais que eu pensasse em me afastar eu não conseguia nem me mover.

 Foi quando eu escutei uma voz conhecida próximo de nós, uma voz que embora fosse conhecida eu não consegui identificar quem era.

— Eu estou atrapalhando alguma coisa? – ele perguntou.

Virei á cabeça rapidamente para olhá-lo e então avistei Jacob, sim, logo ele! Bella ao nota-lo sobressaltou-se, afastou-se de mim rapidamente e sorriu de um jeito estranho, uma atitude muito suspeita em minha opinião.

— Não... É claro que não, estávamos apenas conversando... – Bella se explicou.

E então eu bufei. Por que ela tinha que se explicar para ele? Definitivamente eu não havia entendido a atitude dela. Mas sem dizer uma única palavra segui até a mesa da biblioteca, sentei na cadeira, cruzei os braços e fiquei os observando feito uma criança emburrada. O imbecil do Jacob aproximou-se de Bella, ignorando minha presença completamente.

— Que surpresa você por aqui... – ela disse e então sorriu para ele mais do que acredito que deveria sorrir. – O que é isso? – ela perguntou e só então notei que ele segurava uma cartolina em uma de suas mãos.

— Eu fiz um cartaz para nós divulgarmos mais o nosso manifesto, e então decidi te procurar para ver o que você acha... – ele respondeu, parecia bastante animado até mais do que ela, eu revirei os olhos enquanto observava ela feliz da vida puxar o cartaz da mão dele para olhá-lo.

— Ai, nossa, que lindo, eu adorei, sério, amei... – ela respondeu sorridente e em seguida aproximou-se da mesa em que eu estava, ela colocou o cartaz em cima dela e me olhou, completamente empolgada. – Olha que lindo Edward, fala sério, ele não desenha bem?

Eu olhei para o cartaz com as sobrancelhas franzidas. Fala sério não era grande coisa, era apenas um desenho estupido de crianças comendo vegetais e embaixo do desenho estava escrito: Vivendo uma vida mais saudável, participe do manifesto dos vegetarianos.

— Ah sim, claro... – eu disse, sem nenhuma empolgação em minha voz.

Depois olhei para Jacob e notei que ele aproximou-se novamente de Bella, com um sorriso idiota no rosto.

— E então, vou fazer mais alguns para espalharmos pela escola, acredito que daqui uma semana conseguiremos muito mais assinaturas!  - ele disse, ainda sorrindo. Para que sorrir tanto?

— Sim, sim, você vai ver que... – ela dizia até eu não aguentar mais todo essa cena idiota e interromper a conversa.

— Ooh Bella, você esqueceu-se da minha aula? – eu perguntei.

Ela então me olhou com as sobrancelhas arqueadas, já Jacob finalmente se tocou de que estava atrapalhando. Já era a hora.

— Ah é verdade, me desculpe, nós conversamos amanhã... – ele falou pegando rapidamente o cartaz de cima da mesa, enrolando-o novamente, ele já havia se virado para sair da biblioteca, quando Bella aproximou-se rapidamente dele, puxou-o pelo braço e então quando ele se virou, ela o abraçou.

Fiquei observando aquela cena ridícula boquiaberto, sinceramente eu não estava entendendo nenhum pouco toda essa demonstração de afeto.

— Obrigada... – ela agradeceu ao soltá-lo.

Ele sorriu para ela e concordou com a cabeça.

— Nos falamos amanhã, certo? – ele perguntou e ela concordou com a cabeça, sem dizer mais nada, ele virou-se e saiu da biblioteca rapidamente, sumindo tão rápido como chegou.

Só quando ele foi embora, ela me olhou com um sorriso de leve no rosto.

— Precisava de tudo isso? – eu perguntei.

— De tudo isso o que? – ela perguntou, parecendo não entender.

— O abraço, ele ter vindo até aqui só para mostrar um cartaz estupido! – respondi, levantando-me da carteira.

— O que? O cartaz não é estupido! Ah mais é claro... Por que você se importaria com isso? Já que você deve comer uns dois quilos de carne por semana... – ela retrucou.

— Eu não estou falando disso, mas sim daquele cartaz idiota, você é tão inocente que ainda não conseguiu perceber que ele está usando o cartaz como desculpa para se aproximar de você! E alias, até a minha avó desenha melhor do que ele... – eu também retruquei.

— Para mim o cartaz estava bastante bonito, e alias se você não se importa com isso, você não tem que ficar ai falando mal de quem se importa... – ela respondeu, cruzando os braços. – Bem que a Ângela me falou que Jacob sempre me entenderia melhor do que você...

Ela suspirou e depois se virou caminhando para saída da biblioteca, eu num ato impulsivo corri até ela, puxando-a pelo braço e só depois que fiz isso pensei na idiotice que havia feito, afinal, eu nem sabia o que iria falar.

— Eu... Eu... Eu posso fazer um cartaz bem melhor do que esse se você quiser! – respondi, na verdade foi á primeira coisa que surgiu na minha cabeça e acabei falando.

 - Como? – ela perguntou, cruzando os braços e me olhando com as sobrancelhas franzidas, pela sua expressão parecia meio desconfiada.

— É eu quero participar... – respondi, e o rosto de Bella se iluminou de repente como se fosse mágica. – Sim Bella, eu vou te provar que posso te apoiar bem mais que o Jacob e qualquer outra pessoa... – eu acrescentei, na realidade nem sabia o porquê tinha dito aquilo.

 E então, Bella me abraçou, parecia ter ficado satisfeita com as minhas palavras, eu suspirei e acabei correspondendo o abraço, pelo menos dessa vez ela não tinha me esmagado com seus braços pequenos. Seu abraço era mais calmo, controlado e me passava um calor bom e ao mesmo tempo terrivelmente assustador.

— Que fofo Edward, tenho certeza que conseguiremos melhorar e muito o cardápio da escola! – ela disse, sorridente depois que me soltou.

— Ah... É, claro! – eu disse sorrindo, fingindo empolgação, ela continuou sorrindo para mim, parecia estar acreditando que eu estava realmente empolgado em participar do “manifesto dos vegetarianos”.

Continua...