Hitome não conseguiu conter o choro, era uma dor dilacerante que sentia no peito ao ter a certeza de que a própria mãe havia abandonado ela e o pai, simplesmente fugindo com Hideki e levando tudo. Queria tanto achar que aquilo era mentira, que Touya estava inventando aquela história, mas as evidências que ela mesma presenciou eram irrefutáveis. Fingir que não tinha visto ou procurar uma desculpa para as atitudes de Akemi se converteram em seu pior erro.

— É minha culpa... É tudo minha culpa. — dizia entre soluços e tentava secar as lágrimas na camiseta, porém era inútil. Não conseguia parar de chorar. — Se eu não tivesse me feito de cega, poderia ter evitado tudo isso!

— Você não tem culpa de nada. — Touya a abraçou carinhosamente com um braço, enquanto com a mão livre acariciava o cabelo da moça, e as vezes limpava as lágrimas que insistiam em cair.

Apesar de querer consolá-la com palavras de ânimo, não havia muito o que dizer, afinal de contas, o que se podia falar em um momento como aquele? Ele mesmo não fazia ideia do que faria se estivesse no lugar de Hitome. E para piorar, longe de casa.

— Você quer ir ver seu pai, não é? Posso tentar dar um jeito...

Hitome realmente desejava ardentemente ver o pai, poder abraçá-lo, e confortá-lo. Pois ela sabia como Makoto amava Akemi, e como dedicou a vida por ela. Porém, tinha vergonha de encará-lo, porque nunca disse uma palavra sobre as coisas que havia presenciado, sentia-se extremamente culpada.

— Obrigada... Eu realmente quero muito vê-lo, só que agora não é um bom momento. A Aya está de cama, e a gente não pode estar no mesmo lugar. Tão pouco estou com coragem de encarar meu pai nesse instante. Além disso, quero encontrar minha mãe e fazê-la devolver o dinheiro que roubou.

Hitome ainda chorava, mais soluçava do que falava, ainda assim conseguiu de alguma forma proferir aquelas palavras.

— Só peço que você e a Aya cuidem bem do meu pai e me ajudem a achar a Akemi. Eu vou dar meu melhor no lugar de Aya. Eu juro que eu vou conseguir ir até o fim com isso! — talvez se conseguisse manter a farsa, seria mais fácil achar a mãe. Poderia fazer contatos, pois sabia que o filho de Hideki queria seguir na carreira de modelo, já que se achava perfeito. Se achasse o filho, acharia o pai e consequentemente, sua mãe.

Se tinha uma coisa que sabia, era que Akemi não tinha saído do país ainda. Não conseguia explicar o porquê de ter aquela certeza, alguma coisa dentro dela lhe assegurava que a mãe estava por perto.

Touya se surpreendeu com aquelas palavras, porque ele temia que ela fosse desistir da troca com a Aya, justamente para poder ficar ao lado do pai, e obviamente por ter o psicológico abalado pela situação.

— Eu já falei com a Aya que vamos dar um jeito de ajudar seu pai, ainda não encontramos uma solução, mas garanto que encontraremos uma solução. Pode contar comigo para o que for. — sorriu gentil. — E vamos achar à senhora Akemi, ninguém consegue se esconder para sempre.

— Não conta nada para o Akira, está bem?

— De qualquer forma eu já não planejava dizer. — Touya não tinha intenções de misturar as coisas, mesmo que Akira fosse amigo de infância de Hitome e fosse contracenar como co-estrela no dorama, aquilo não lhe dizia respeito, era muito particular.

Hitome se desvencilhou de Touya, mesmo a contragosto, graças ao colo dele que pode se acalmar e colocar um pouco os pensamentos no lugar, e apesar de querer abraçá-lo mais um pouco, não tinha intimidade para aquilo. Podia não parecer, todavia, não fazia nem dois dias que se conheciam.

Mentiria se dissesse que não passou por sua cabeça em desistir da troca. Entretanto naquele momento devia ser forte e aguentar firmemente, apesar de soar egoísta, ser Aya poderia ajudar a encontrar a própria mãe.

Touya observava Hitome com um olhar carinhoso e preocupado. Era fato que queria que a garota estivesse bem por causa da gravação que teria no dia seguinte, contudo, ver a expressão de tristeza no rosto dela o fazia ficar apreensivo. E sentia naturalmente o instinto de querer protegê-la.

— Obrigada por me emprestar seu ombro para chorar... Eu estou me sentindo melhor. — agradeceu, conseguindo enfim secar as lágrimas e esboçar um sorriso encabulado.

Touya não disse nada, apenas sorriu e afagou uma última vez os cabelos da moça.

Quando a situação se acalmou, perceberam enfim o horário, quase meia noite.

— Vá se deitar, amanhã você tem compromisso cedo. Eu virei te pegar às sete da manhã, está bem?

— Sim... — Hitome até havia se esquecido de que tinha um programa para ir. Mas de qualquer forma, estava cansada demais para sentir-se nervosa ou ansiosa. O dia já havia sido suficientemente agitado e precisava dormir.

— Até mais então.

Hitome se despediu, mesmo não querendo ficar sozinha, pois temia que ao se deitar na cama fosse começar a pensar nos problemas novamente. Entretanto naquele momento não tinha o que fazer. Pedir para Touya não ir embora e ficar com ela seria muito estranho. Também não poderia ligar para ninguém, além de estar tarde, era um problema que devia enfrentar sozinha naquele momento.

A garota foi tomar um banho antes, talvez ajudasse a relaxar, colocou seu despertador para seis horas da manhã. Quando se deitou, sentiu todo o peso do cansaço, o que a ajudou a dormir de imediato e ter paz de espírito, ao menos por umas horas.

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Touya estava exausto, afinal passou o dia todo resolvendo problemas sem parar um segundo. E para completar o quadro, ver Hitome angustiada só o  deixava mais aflito, era de partir o coração. O manager estava decidido em ajudar, havia dado sua palavra para ela e também para Aya. Além disso, estava preocupado com a entrevista, como ela se sairia? Era muita coisa para pensar e analisar ao mesmo tempo. Naquela altura do campeonato a única coisa que lhe restava era rezar.

Ele morava perto do luxuoso condomínio de artistas, era praticamente na esquina seguinte. Resolveu alugar uma casa ali perto já que assim ficaria mais fácil de cuidar de Aya, que era sua cliente em tempo integral. Dedicava todo o tempo de trabalho para ela. E não foi à toa que Aya estava sendo reconhecida por todo esforço. Sabia que com ela não precisava se preocupar, era uma garota independente e esperta.

Assim que estacionou o carro foi direto para o banheiro, precisava tomar um banho quente, relaxar nem que fosse por cinco minutos.

Sentiu o alivio da água quente, porém era difícil relaxar quando a cabeça estava repleto de problemas para resolver.

O banho fora rápido porque ele também precisava dormir para acordar bem cedo, teria que estar em pé antes das cinco, já que tinha que terminar de montar a agenda de Aya. Também precisava resolver outras pendências, como os sapatos do dorama.

—/-/-

Aya estava de banho tomado, sofreu para conseguir tomá-lo sozinha. Não poderia pedir ajuda de Makoto e precisava urgentemente de um banho. Então amarrou um saco de lixo na perna e outro no braço, e foi com a ajuda do pai postiço até o banheiro.

A perna imobilizada gerava muito estresse para Aya, já que precisava pedir ajuda para realizar tarefas simples, era tão bem acolhida. Makoto era carinhoso, mesmo naquela atual condição, ele ainda mantinha um sorriso sincero no rosto.

— Se precisar de qualquer coisa, me chame, está bem? — Makoto deu um beijo na testa de Aya. — Boa noite.

— Boa noite, pai. — Aya sorriu e abraçou em seguida. — Pode deixar que eu chamo sim. E você também. Se precisar de mim, sabe que vou estar literalmente aqui!

Assim que Makoto fechou a porta do quarto, pegou o celular e mandou uma mensagem para a sósia, perguntando se estava bem. E depois mandou outra para Touya, perguntando como havia sido a conversa.

Sabia que não haveria resposta, já era bem tarde. Porém esperava obter alguma novidade na manhã seguinte.

Conferiu as redes sociais e viu que muitas pessoas estavam ansiosas para o lançamento do dorama. Várias mensagens de incentivo para ela e todo o elenco.

Aya orou para que tudo desse certo e que acordasse com boas noticias. Não demorou muito até  que caísse no sono.

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         Ainda não eram cinco horas, Hitome acordou ofegante e suando frio.

Olhou perdida para os lados, notando que estava no quarto e o sol ainda não havia nascido, apenas a luz da lua que vinha da janela iluminava o espaçoso quarto.

— Foi um sonho?

Ainda assustada, sentiu como se aquele pesadelo tivesse sido real. Todos seus temores resolveram se consolidar naquele pesadelo que veio rapidamente em sua memória, e a terrível sensação de quando as pessoas descobriam que ela era uma fraude, no meio do programa alguém da plateia gritava que Hitome não era a Aya. E de repente várias pessoas começaram a gritar e a insultá-la. E em instantes a polícia estava indo prendê-la, por falsidade ideológica. Não suficiente com aquilo, enquanto estava na cadeia, apareceu Akemi. Usando várias jóias e roupas de grife, com o dinheiro que havia roubado. E como se não bastasse, havia comprado passagens para Europa, onde Akemi e Hideki iram  morar dali em diante.

Demorou alguns minutos para conseguir se acalmar, precisava beber um copo de água. Depois de  ir até  a cozinha e beber rapidamente, foi para sacada, observando aquele condomínio de alto padrão, focou nas piscinas, nas quadras esportivas, no bar... Tudo ainda estava aceso e podia ver poucas pessoas ali.

Era estranho, nunca pensou que um dia estaria ali, ocupando o lugar de outra pessoa. Sabia que estava no meio de uma loucura e que tudo poderia dar errado, de alguma maneira teria que suportar e ir até o fim.

Não era apenas ela que estava sofrendo, Aya depositou seu sonho de vida nela. Touya se esforçava para que tudo desse certo. Também tinha seu próprio pai, que passava por toda aquela situação.

E o que poderia fazer por todos eles era aguentar o medo e ansiedade, teria que dar o seu melhor.

Fechou os olhos tentando memorizar a força momentânea que havia conseguido para seguir em frente. Precisava ser bem-sucedida, pela Aya, pelo Touya, por seu pai. E também para fazer Akemi pagar pelo o que fez, não somente ela, como também Hideki.

Quando abriu os olhos novamente, viu o Sol nascer. Era estranho, porém, presenciar o majestoso amanhecer diante dela, trazendo um novo dia, a fez se fortalecer. Não seria um dia fácil, mas decidiu que faria de tudo para dar certo.

Voltou para a realidade e resolveu se arrumar, olhou o relógio e ainda tinha algum tempo, ainda assim, teria que ser rápida, tinha que estar pronta antes de Touya chegar. Pensou nas roupas que devia usar e na maquiagem que devia fazer. Preocupou-se com os sapatos, já que o pé dela era menor do que a de Aya. Enquanto pensava em uma solução, notou que tinha uma caixa de sapato em cima da penteadeira. Não se lembrava daquela caixa estar alí no dia anterior, tão pouco havia notado antes de dormir, provavelmente devido ao cansaço. Em cima da caixa, tinha um bilhete de Touya.

“Eu comprei no caminho de volta, pensa em uma roupa que combine com esses sapatos. Espero que sirva”.

Ele realmente era surpreendente, pensava em tudo, mesmo antes dela pensar. Aya tinha sorte de ter um manager como Touya.

Rapidamente abriu o guarda roupa e conseguiu encontrar uma combinação adequada de roupa, com a cara da Aya. Tinha passado horas estudando o perfil dela, até Akira havia ajudado. E também não era difícil de achar fotos da atriz, realmente ela estava em evidência naquele momento. Então não poderia descuidar um momento sequer.

Assim que terminou de se arrumar, olhou as horas no celular, tinha pouco tempo até que o manager chegasse. E só naquele momento notou que havia uma mensagem, viu que o remetente era do celular dela, então devia ser Aya.

Ela havia escrito uma mensagem consideravelmente grande, perguntando se estava bem, como estava se sentindo e se precisava de alguma coisa.

Hitome não tinha muito tempo para escrever naquele momento, mas também não seria justo deixar Aya sem resposta. Portanto, respondeu rapidamente que estava bem e que mais tarde ligaria para ela, assim poderiam conversar melhor e colocar o assunto em dia.

—/-/-

Seis e meia, Touya já estava na porta do apartamento, pensou se devia entrar direto usando a chave que Aya tinha dado para ele, ou se tocava a campainha. Afinal Hitome poderia ainda estar de camisola andando por ai. Achou que a melhor decisão seria de tocar a campainha. A porta foi aberta segundos depois.

— Bom dia! — Hitome sorriu, tentando se mostrar animada e de bom humor.

— Bom dia! — Touya sorriu em retribuição, sabia que ela estava se esforçando para começar bem o dia e fazer um bom trabalho. — Está muito linda. Com certeza vai arrasar hoje no programa! — Elogiou de maneira sincera. Hitome soube se produzir bem, usava roupas que estava em perfeita sintonia com a personalidade de Aya, além de a maquiagem estar impecável e o cabelo bem penteado, com leves ondulações.

— Vou dar meu melhor! — Hitome deu  um largo  sorriso, era uma forma de ela mesma se animar.

— Vai dar tudo certo. Eu vou estar lá e o Akira também. Apenas vá confiante que tudo sairá bem.

Enquanto desciam até o estacionamento, Kevin também estava indo para o mesmo destino, já que ele tinha um programa de variedades para participar.

— Bom dia! — Kevin abraçou Hitome e depositou um beijo na bochecha da garota, que corou instantaneamente. — Bom dia, Touya! — acenou para o manager. — Que sorte! Ontem nem deu tempo de me despedir direito! A gente precisa marcar alguma coisa... Sair para um encontro ou talvez um vídeo game, o que acha? – ele falava eufórico

Hitome não sabia o que responder.

— Você pode ir para seu compromisso, e a gente vai para o nosso. Até mais. — Touya abriu a porta do carro para que Hitome entrasse, e fez o mesmo, ignorando a audácia de Kevin em tentar xavecar a garota.

Kevin riu, e entrou no próprio carro, assim seguindo seu destino.

Touya passou o caminho todo conversando com Hitome, a fim de fazê-la se distrair, não dar espaço para pensar em qualquer coisa, seja nos problemas com a família, ou em ficar nervosa com a gravação do programa. Mas assim que chegaram à emissora, não teve como evitar. Teria que enfrentar aquela situação e fazer com que tudo desse certo.

Ela ficou pouco tempo no camarim, apenas bebeu um pouco de água, teve a maquiagem retocada e logo chegaria sua vez de entrar, junto com os outros convidados.

A sósia sentia as pernas tremerem, lembrou-se da sensação que era de se apresentar no teatro, apesar de Akira apenas tirar sarro dela por ter a árvore e a grama. Hitome havia apresentado outras peças pela escola, que inclusive concorreu a um festival e ficou em segundo lugar.  Akira só não soube, porque no último ano escolar ele mudou para outra cidade.

Respirou fundo e se preparou para entrar no estúdio de gravação.

O programa era conhecido por ser cômico, sempre com vários jogos diferentes e de certa forma até um pouco constrangedor, devido ao alto teor de “pagação de mico”.

Além disso, naquele programa em especial, além dos jogos com os artistas ia ter um especial com o elenco do dorama, cuja as filmagens começariam em breve.

Akira saiu do camarim e encarou Hitome que estava na porta do set de filmagem.

— Qualquer coisa eu te dou uma mão. – Assim que Akira falou, os apresentadores chamaram o nome dele para entrar no palco.

Aquilo de alguma forma deu uma pequena tranquilizada nela, esperava do fundo da alma que o que ela havia estudado no dia anterior fosse o suficiente para ao menos não ser desmascarada ali mesmo.

Sem mais tempo para se preocupar, ouviu seu nome ser chamado, então, entrou rapidamente, se posicionando ao lado de Akira.

— Akira Sanada fará o papel de Junpei no dorama do canal RSE: “Mudando de Vida”. Ele começou a carreira como ator há cinco anos, fez vários papéis em filmes e doramas, além de ser modelo. Seu ultimo papel foi Jun, no filme “Memórias de um Samurai”, na qual foi muito elogiado. — Disse um dos apresentadores.

— E também está conosco hoje, Aya Natsume! Uma talentosa atriz e modelo, que irá estrelar seu primeiro papel como protagonista em um dorama, contracenando com Akira. O nome de sua personagem é Kaori!

— Akira, como é ter a Aya atuando junto com você pela primeira vez? Soubemos que vocês dois são próximos. — A apresentadora perguntou curiosa.

— Eu estou bem animado. Ela é uma atriz talentosa, mas não tivemos a chance de filmar juntos ainda. Acho que será divertido. — Akira respondeu com um sorriso.

Hitome poderia dizer que ele estava muito charmoso, diferente do que ela conhecia. O jeito dele se portar, a forma como ele conversava, era totalmente discrepante.  

— E você Aya? — o apresentador perguntou rapidamente e logo esperou a resposta da garota.

— Bom, é meu primeiro papel como protagonista, então estou um pouco nervosa. Mas também estou muito ansiosa para as filmagens e espero que vocês gostem do resultado. Então, torçam por mim!

Touya ficou impressionado porque apesar de notar que Hitome estava nervosa, ela conseguiu dar uma boa resposta e ainda manter os trejeitos de Aya. Se continuasse daquele jeito ia dar tudo certo.

— Agora vamos apresentar os antagonistas do dorama! Arisa Midorima no papel de Momo Higurashi e Kevin Matsumoto no papel de Alan Botton.

Akira estranhou um pouco ao ouvir o nome do Kevin, não esperava ele como antagonista, até porque sabia de antemão que o ator seria outro. Na questão da Arisa, não havia sido divulgado oficialmente, mas as pessoas já estavam especulando que seria ela, já que estava fazendo vários papéis de vilã nos últimos tempos.

O programa ia divulgar em primeira mão, o elenco completo da novela, que até aquele momento, só haviam revelado os protagonistas.

— As pessoas já estavam se questionando se Arisa faria o papel de Momo e hoje estamos confirmando! — a apresentadora anunciou. — Arisa fez uma grande vilã no último dorama exibido da RHE, como se sente fazendo novamente um papel assim?

— Acho que eu tenho cara de malvada! — Arisa brincou. — A verdade é que eu sempre gostei de atuar como vilã, sempre escolhia o papel de malvada na escola. Acho que combina comigo e vai ser a primeira vez que atuo com esse elenco, então quero começar a filmar logo.

A atriz falava descontraída e com um sorriso digno de uma estrela. O fato de ter começado como atriz desde os dez anos, pode ter sido uma boa influência, afinal já estava mais do que acostumada.

— E você Kevin?

— Pra falar a verdade, eu entrei no elenco de última hora. —  Kevin explicou. — O ator que faria originalmente o meu papel, era o Yusuke Kintaro, que também é mestiço. Mas ele acabou quebrando a perna e um dos braços, e teve de ser substituído.

Ouvir Kevin dizer aquilo, fez Hitome gelar. Afinal de contas era exatamente como Aya estava.

— Infelizmente ele foi uma das vítimas do terremoto que ocorreu esses dias. Apesar desse infeliz acidente, espero poder atuar bem, e honrar meu amigo, que com certeza faria um papel brilhante.

Os apresentadores conversaram com os atores sobre o dorama, perguntaram se eles já tiveram contato com o roteiro. E se sim, o que acharam.

— Bom, eu recebi o roteiro do primeiro episódio ontem. Posso adiantar que está bem engraçado! — Arisa respondeu animada.

— Acho que todos receberam o roteiro ontem. — Kevin completou a resposta da colega.

Hitome não sabia o que dizer, ainda estava petrificada pelas palavras de Kevin, sobre o ator que havia se acidentado no terremoto, sentiu como se aquilo tivesse sido dito para ela.

— Aya recebeu o texto, mas não teve tempo de ler inteiro, porque também se acidentou no dia do terremoto. Felizmente não se machucou. – Akira falou pela amiga e disfarçadamente deu uma cotovelada nela, para fazer  ela retornar a realidade, em lugar de ficar parada feito estátua.

— V-verdade. — Hitome balbuciou de inicio. – Pra falar a verdade eu não lembro da hora do acidente. Só me lembro de acordar no hospital. Então, eu fico muito feliz da sorte de ter saído sem lesões. E espero que o Kintaro possa se recuperar bem.

Os apresentadores continuaram a conversar com os artistas. Hitome ficou aliviada, porque não vieram perguntas na qual ela não pudesse responder.

— Vocês irão inaugurar o nosso novo quadro! — O apresentador disse animado. — Como todo mundo sabe, não dá pra acreditar em tudo que se vê na internet! Então...

— Nós pegamos as fichas virtuais de vocês! E vamos fazer a prova real! — A apresentadora completou.

— Hã? — Os artistas ficaram surpresos e um pouco confusos.

Em um televisor apareceu a ficha pessoal de Akira Sanada. Tinha nome completo, idade, altura, cor dos cabelos. Tudo o que uma ficha devia ter. Mas também tinham habilidades e curiosidades. E informações que até mesmo o próprio Akira já tinha esquecido.

Pegaram uma trena para verificar a altura do ator, a identidade para verificar a idade. Depois começaram a vir às partes mais complicadas.

— Aqui diz que você consegue escrever com as duas mãos ao mesmo tempo! Não tem como. — O apresentador pareceu duvidar daquela afirmação. Já que realmente era incomum alguém ter uma habilidade como aquela.

— Sim, eu consigo. — Akira confirmou. — Mas a letra com a minha mão esquerda sai um pouco esquisita.

— Você vai ter que provar pra gente! — A apresentora, já estava com uma lousa e dois canetões em mãos.

Hitome sabia que era uma informação verdadeira, já que durante a escola já o havia presenciado escrever em dois cadernos ao mesmo tempo. Observando Akira escrever na lousa, se tocou de uma coisa muito importante. E quando fosse a vez dela? Não sabia o que poderia ter na ficha de Aya, talvez tivesse alguma coisa que ela não soubesse fazer. Poderia ser descoberta! A gravação estava indo bem, por que tinha que aparecer aquele “quadro novo” justo naquele momento? Só podia ser Buda a castigando.

Akira conseguiu cumprir todos “desafios” numa boa. E para o desespero de Hitome, ela era a próxima.

Já em uma das primeiras linhas, já dizia que Aya era uma garota extremamente flexível, conseguindo colocar os pés atrás da cabeça. E Hitome era praticamente uma tábua que mal conseguia colocar as mãos nos joelhos. Qual desculpa ela poderia dar?

— Eu acho que isso eu não vou ser capaz de fazer agora. — Hitome começou a falar, pensando em alguma desculpa.

— Mas aqui está dizendo que você é capaz. — Retrucou a apresentadora.

— É... Mas é que fui recomendada a não me esforçar muito fisicamente. Depois do acidente, apesar de eu não ter quebrado nada, me lesionei um pouco. — Hitome rezou para aquela desculpa servir.

— Realmente não é uma boa ideia forçar o corpo agora. As filmagens começam em breve. — Akira encobriu, mesmo porque sabia que a amiga era completamente inflexível.

— Tem razão... Então dessa vez vamos deixar passar. — Respondeu o apresentador. — Então vamos seguir. Você sabe concertar relógios, segundo a sua ficha.

Hitome respirou aliviada, já que várias vezes quebrava o próprio relógio, além de outros objetos,  e como não tinham dinheiro para repor tudo  o que  quebrava, aprendeu como mexer em relógios, assim como também aprendeu a lidar com vídeo games e outros eletrônicos, Era uma das  formas dela ganhar um dinheiro extra, já  que consertava as coisas dos colegas de escola. E também acabou virando um hobby ficar fuçando nas coisas.

— Acho que ainda consigo sim. — Hitome respondeu sincera.

Trouxeram uma mesa com um relógio de pulso comum, o desafio era ela montar o relógio, que estava todo desmontado na mesa.

Enquanto deixavam Hitome na mesa concertando o relógio, partiram para Kevin e Arisa.

Kevin tinha uma lista enorme de habilidades, uma delas era de falar quatro idiomas. O que foi provado rapidamente. Até porque ele havia nascido no Japão, mas viajou varias vezes para Alemanha, Espanha, além de ter passado alguns anos na Inglaterra.

Arisa era conhecida por ser multitalento. Cantou, dançou, além de ter a habilidade de equilibrista. Assim que Arisa acabou. Hitome terminou de montar o relógio. Que estava funcionando perfeitamente, ainda deixando uma peça solta de lado.

— Parece que está funcionando perfeitamente! — A apresentadora disse espantada. — Mas e essa peça solta?

— Essa peça não é de relógio. — Hitome entendeu que aquela peça era apenas uma pegadinha.

— Muito esperta. — Kevin disse impressionado — Não está no perfil dela, mas ela também detona no vídeo game. Já que ela disse, que várias vezes ganhou do Akira em jogos de luta. Coisa que eu não tive essa proeza ainda.

— Falando nisso. Akira e Aya são bem próximos. Vocês estão namorando?- A apresentadora perguntou com malicia na voz.

— Não. — Akira e Hitome responderam juntos.  

— A gente chegou a se inscrever na mesma agência, porém eu acabei indo para outra. Acabamos ficando amigos, Dessa época. — Akira explicou sem dar muita importância porque era a verdade. — Nunca tivemos outro tipo de relação, que não fosse amizade.

A gravação seguiu tranquila, faltavam poucos minutos para acabar. O que causava um grande alívio em Hitome e Touya. Ele estava tão apreensivo quanto ela, ficou o tempo todo em pé, atrás das câmeras, rezando para que nada desse errado.

Assim que desligaram as câmeras, Touya conseguiu respirar normalmente. Até o momento estava basicamente sem piscar e respirando quando notava estar sem ar.

Hitome queria descansar um pouco, como não teriam mais nenhuma gravação, Touya levou a garota para o apartamento e a deixou livre. No dia seguinte, começariam a ler o script. Porque na próxima semana seriam as gravações para o tão esperado dorama.

O manager aconselhou a garota a evitar sair do apartamento, para não ser abordada por outros artistas. E ela  também já não estava muito a fim de sair. Touya aproveitou o tempo que tinha e foi resolver outros assuntos que envolviam a Aya. Incluindo ir até a casa da Hitome e se passar por namorado dela.

Também devia explicações para Aya, falar que Hitome ia continuar com os planos da troca e que na gravação tudo ocorreu bem. No entanto, haviam outros assuntos que precisava resolver antes de ir vê-la, portanto iria depois.

Hitome tomou um banho bem quente e deitou no sofá, desejando descansar o resto do dia sem pensar em atuar como outra pessoa. Já tinha tido muita tensão por um dia. A única coisa que se preocupou foi em ligar para Aya.

Conversaram por quase uma hora. Hitome havia dito de antemão, como foi a gravação, e que Touya já havia informado sobre Akemi ter fugido com o amante levando todo o dinheiro que Makoto possuía.

Aya realmente estava  se sentindo péssima por ter que fazer Hitome se passar por ela em um momento cruciante como aquele. Porém prometeu a sósia que cuidaria de Makoto e que faria o possível e o impossível para ajudar a resolver todo aquele problema. Enquanto Hitome prometera que ia se esforçar ao máximo para manter o sonho de Aya vivo, até que esta pudesse retornar ao posto merecido: De atriz e modelo conceituada.

Hitome e Aya sentiam-se como irmãs. Era estranha aquela sensação já que ambas eram filhas únicas. E prometeram que quando tudo terminasse, que elas continuaram amigas.

Depois da ligação Hitome ficou encarando o teto, pensando no que devia fazer, talvez começar a preparar o jantar, ou ainda assistir  um pouco de televisão, naquele  momento era importante saber o que estava se passando no mundo do entretenimento. Quando suas mãos alcançaram o controle remoto, ouviu o som da campainha tocar.

Continua...