Inquebrável escrita por Larissa Carvalho, MorangoeChocolate


Capítulo 13
Good Girl


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Primeiro eu venho pedir desculpas por deixar essa fic incompleta tanto tempo. Mas eu nunca abandono o barco, mesmo que ele balance e me faça ficar parada. Estou relendo toda essa saga novamente e minhas histórias postadas aqui e sei que eu vacilei feião em deixar minha paixão de lado.

Muitas coisas aconteceram na minha vida nesses últimos anos, e agora, eu voltei para casa. Para o meu refúgio seguro. Amo escrever e tenho muitas histórias para vocês em breve. Por hora, todo domingo estarei aqui com essa história que vai chegar até o final.

Já aviso que pretendo deixa ela grandinha e bem detalhada para vocês, Romitris fãs.

Diga para mim nos comentários se ainda acompanham, se são novos por aqui ou se já leram algo meu. Eu amo comentários meninas! Sempre movimentam o rumo da história.


Beijos e até domingo que vem!
Larissa Carvalho (Zoye Belikov)



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Eu achei que depois de um tempo considerável de amizade, a Lissa fosse se importar de não me ver tanto, mas o Ozera a mantinha bem ocupada. Infelizmente para mim, ela tinha programado uma pré-lua de mel e eu tinha um apartamento de dois quartos, uma geladeira sem comida e um silêncio enlouquecedor. 

Havia um tempo em que eu chamaria a metade da escola e daria uma big festa, mas agora, eu só queria uma xícara de café e hibernar em três dias de folga. Eu praticamente tinha sido expulsa do hospital por Alberta. 

Eu tinha bem mais horas que uma médica com suas faculdades mentais deveria ter, e isso poderia de fato, me deixar menos produtiva. Então, eu joguei minha bolsa no chão perto da porta e respirei fundo umas três vezes. 

Uma para cada dia que eu iria fazer parte da estrutura do sofá e engordar de tanto comer. Ascendi a tela do meu celular, depois de tirá-lo do meu jeans e senti um aperto por não ter notificações.  

Nada de Lissa. 

Nada de Dimitri.  

Nada de irmão recém aparecido. 

Uma leve mágoa passou por mim. Eu deveria ter ido correndo ligar para ele e marcar mais um almoço ou lanche, não?  

Sei lá, talvez seja o que irmãs fazem.  

Mas eu ainda não sou boa nisso. Eu sou apenas uma novata nessa coisa de irmão e família grande. Sempre fomos eu e Janine. E eu sempre vali por mil filhos rebeldes, então, acho que ela sabia como era ser mãe de gêmeos, apesar de eu ser filha única. Aparentemente. 

Fui direto para o banho, ainda me arrastando pelo cansaço e fome. Respirei fundo mais uma vez, enquanto tirava minhas roupas lentamente para um longo banho. Depois que a água caiu pelas minhas costas, eu senti uma mistura de prazer e alívio. 

Só conseguia escutar o barulho da água.  

Meus pensamentos estavam confusos. Eu queria entender como a minha vida tinha virado uma novela mexicana. Um irmão e um pai. Um vizinho e novo melhor amigo gostoso. Um encontro com um desconhecido também gostoso no dia seguinte e uma nova Rose Hathaway chata e descoordenada.  

Sentia falta da garota que eu era. Mas era como se, eu tivesse deixado para trás quando eu resolvi acompanhar Lissa em uma nova cidade. Senti-me respirar, ainda mais aliviada quando meu corpo recebeu bem aquela quantidade de água quente e fumaça. 

Depois de um tempo, consegui escolher uma regata azul marinho, que era bem justa ao meu corpo e um short flanelado vermelho. Eu sabia que ele mostrava demais de mim, mas quem liga? 

Fui até a geladeira e fiz bico quando vi que tinha mais água, que besteiras. Lissa tinha feito um estoque infinito de sorvete, mas esqueceu de abastecer antes de viajar.  

— Vacilona. - murmurei, comigo mesma.  

Peguei o sorvete de creme e uma colher. Sentei no sofá e liguei em um filme qualquer. Não estava nem ai para o filme, minha atenção estava inteiramente naquele pote de sorvete e como eu faria para não ir ao encontro. 

Eu era boa em encontros. Talvez eu possa me sair bem.  

Ou talvez, eu possa dar um bolo no estranho da boate. 

Possibilidades. - pensei.  

E do nada, eu pulei com a campainha. Já passavam das dez da noite e eu pensei que Lissa já estaria em um quarto de hotel gemendo com Cristian. Então, coloquei o pote de sorvete na mesinha e andei cautelosamente até a porta.  

O cheiro de pós barba me invadiu e eu sorri. Se fosse para ser assaltada por Dimitri, a única coisa que eu entregaria sem lutar seria o meu coração. Esperei um pouco, antes de girar a maçaneta e sorri ao dar de cara com ele.  

Dimitri tinha seus olhos chocolate fixos em meus shorts, mas também uma expressão difícil de decifrar. Consegui ver um pouco de luxúria se formar em seu rosto, mas isso logo passou quando ele percebeu que eu percebi.  

Ele deu um leve sorriso, alá Belikov

— Já estava com saudades? - perguntei, escorando-me na porta. Senti uma sombra de sorriso novamente e sorri ainda mais. 

— Só achei que gostaria de ser alimentada decentemente. - falou, parecendo uma mãe preocupada. Eu suspirei, sentindo seu olhar quente.  

 - Que bom que você é uma boa cozinheira, camarada. Eu já estava muito entediada com aquele pote de sorvete.  

Dimitri balançou a cabeça para os lados, cruzando seu braço na frente do peito. Eu nem tinha reparado que ele também estava de pijama. Ele tinha uma calça de moletom cinza e uma blusa regata preta, que acentuava ainda mais seus músculos.  

Seus cabelos estavam presos e eu sorri, ao ver mais detalhes do seu rosto. Dimitri me olhou divertido.  

— Vamos lá, Roza. - disse, inclinando a cabeça para o corredor. - Traga um edredom, espero que não babe muito no meu sofá hoje.  

Eu gargalhei.  

— Eu não babei muito no sofá da última vez. - retruquei. - Vai ter festa de pijama, hein?  

Dimitri pareceu incomodado com o sorriso maldoso que eu fiz à ele. Mas ele não expressou isso por muito tempo. Apenas revirou os olhos e pareceu ignorar meu comentário. 

— Isso é pijama? - perguntou, apontando para o meu short.  

Eu olhei para eles, e arfei. Dimitri apenas ignorou minha cara feia e apontou novamente para o elevador, me dando a entender que provavelmente tinha alguma comida muito boa e quente lá embaixo.  

Eu apenas corri até meu quarto, peguei uma manta fofinha rosa claro e desliguei a TV. Peguei o pote de sorvete e fui até ele, fechando a porta devagar. Dimitri pegou a manta de mim e desacelerou seu passo para que pudéssemos caminhar lentamente até o elevador.  

Eu apenas catuquei ainda mais aquele pote de sorvete com a colher e comi mais um pouco. Dimitri me olhou curioso.  

— Você vai perder toda a fome.  

Eu sorri, ainda comendo.  

— Isso não é uma possibilidade, camarada.  

Ele apenas deu de ombros, enquanto apertava o botão e pareceu se divertir.  

 

                                              *** 

 

 

Terminei o segundo prato de macarrão e Dimitri ainda me olhava curioso. Ele apenas estava sentado na minha frente, com uma expressão maravilhada e divertida. Era bom ver que por trás daquela carranca toda de quase dois metros, tinha alguém disposto a sorrir. 

Eu sorri de volta, fingindo não perceber que ele estava parado me admirando comer. Ninguém admira a outra pessoa comer. Mas um policial, talvez.  

— Como foi com seu irmão? - Dimitri pegou os pratos na minha frente e se levantou em direção à cozinha.  

Sua casa era pequena, mas ainda era aconchegante. Ele tinha romances baratos de faroeste em uma pequena livreira de madeira no canto da sala e o resto dos móveis eram perfeitamente alinhados e limpos. 

Deveria perguntar porque ele ainda não tinha se casado ou porque tinha escolhido morar sozinho, mas não sabia que ele ia se sentir à vontade em me responder.  

Eu sabia que ele tinha uma sobrinha e irmã. Por hora, eram as únicas informações que ele tinha me passado e eu estava grata por isso. Talvez com o tempo ele fosse em dando mais material sobre si próprio.  

Eu suspirei, me levantando da mesa e indo devagar até o sofá dele. Dimitri já tinha colocado um travesseiro ali e minha manta. 

— Sei lá. - falei, finalmente. Ele largou os pratos na pia e veio até mim devagar. Senti aquele cheiro me intoxicar e me deixar tonta por segundos. - Eu só queria que pensar que ele pode ser uma boa pessoa e que eu perdi muitos anos. 

— Mas por que só pensar? Ele também estava interessado em você, Rose. Ele te achou.  

— Eu sei. - murmurei, brincando com a ponta dos meus dedos. - Mas e se ele não gostar de mim? Quer dizer, eu dava bastante trabalho para a Janine e isso é algo que deixaria um irmão mais velho não tão orgulhoso.  

Dimitri sorriu, condescendente.  

— Rose, você era jovem. - falou. - Você agia como jovem e isso é normal. Ele também deve ter dado trabalho ao pai e isso, é algo que você terá que lidar e contar com calma. À medida que vocês forem se conhecendo.  

Eu encarei Dimitri e ele estava com um sorriso fraco, porém reconfortante. Eu gostava disso nele. Gostava tudo nele.  

— Seria pior, se eu não tivesse conhecido você. - eu disse, fitando-o. - Sabe... - eu pigarrei-ei. - Se você não tivesse feito um dossiê da minha vida e eu não tivesse achado.  

Dimitri gargalhou. 

— Oh, Roza. - disse, pegando a minha mão.  

Aquela eletricidade que eu sentia quando ele estava perto demais, me pegou novamente. Olhei para Dimitri na esperança que ele não tivesse percebido que eu tinha vacilado um instante, mas ele me olhava diferente. 

Como se o mundo tivesse parado para ambos os lados. Eu senti meu coração apertar e meu estomago girar. Era como se aquele toque quente sob minha pele fosse parte de mim. Eu não ia conseguir respirar se ele me tirasse isso.  

Dimitri tinha um olhar quente e doce, eu senti como se ele tivesse estudando minha expressão e cada parte do meu rosto. Eu pelo menos, já tinha decorado o rosto dele.  

— Por que me trouxe aqui? - perguntei, ainda sentindo Dimitri brincar com meus dedos. Eu estava retribuindo ao toque. Era como se nenhum dos dois conseguisse parar.  

— Porque eu sabia que você ia se alimentar de café e sorvete. - falou. Eu abri um sorriso fraco. Algo dentro de mim queria que ele dessa outra resposta. Então, abaixei minha cabeça, sem que ele percebesse meu desanimo e olhei para sua mão com a minha, quase entrelaçada. - Mas... 

— Mas...? - perguntei, com a voz tremula. 

Dimitri sorriu devagar.  

— Queria saber se pode me ajudar com o encontro de amanhã.  

Eu engoli a seco.  

— Você... - lutei para consegui lembrar de como continuar falando. Meu coração estava recebendo várias fisgadas ao mesmo tempo. Será que eu estava enfartando?— Você... Vai... Amanhã? 

Dimitri me olhou com surpresa.  

— Depois de todo trabalho que você teve em me levar para uma boate, acho que deveria ficar orgulhosa.  

Eu forcei meu melhor sorriso. Acho que estava começando a enfartar de verdade.  

Eu pigarreei. 

— Claro. - falei, suspirando. - Com certeza. Eu ajudo.  

Mas uma fisgada.  

Oh, Rose. Você é medica. Isso não é enfartar. - gritei comigo mesma.  

— Então, como eu deveria me arrumar? - perguntou, entrelaçando nossas mãos, finalmente.  

Eu arregalei os olhos.  

Falar para ele ir com uma roupa feia. - pensei.  

— Como você foi na boate. Eu gostei daquele estilo. - eu disse. Dimitri me olhou, divertido. - Talvez, chocolate ou flores para o primeiro encontro não seja ruim. 

Dimitri pareceu pensativo e eu tentei disfarçar. Eu queria sim dar péssimas dicas, mas eu sabia que ele queria fazer dar certo e então, eu apenas coloquei meus pensamentos egoístas de lado e sorri.  

— Seja você. - falei, finalmente. Apertei minha mão à sua. Aquela eletricidade passou por nós novamente e dessa vez, Dimitri me olhou instantaneamente. Ele abaixou a guarda e me deixou ver em seu rosto que ele tinha sentido algo. - Qualquer garota gostaria de estar no lugar dela.  

Dimitri me olhou ainda mais atento. Nossas mãos ainda grudadas e apertadas uma na outra. Como se fossem apenas uma.  

— Por que não tem ninguém? - perguntou, com a voz rouca. Se sotaque parecia ainda mais carregado agora que ele estava distraído em se manter sério. 

Eu abri a boca sem resposta, mas acabei mordendo a boca para formular em uma frase o que eu tinha para contar. Apenas balancei a cabeça, sentindo mais uma pontada no estomago e sorri, fraco.  

— Eu costumava ser uma vadia louca. - Dimitri mexeu as sobrancelhas em uma expressão indecifrável e eu sorri. - Eu ia para festas, beijava caras e eventualmente ficava bêbada com a Lissa e uma galera festeira.  

Dimitri se mexeu, incomodado.  

— Você está mesmo me dizendo que a Lissa ficava bêbada?  

Eu sorri, maldosa.  

— Estou te dizendo que, a Lissa era a primeira a me dar a bebida.  

Dimitri sorriu, olhando nossas mãos. Eu tentei fazer um comentário sobre isso, mas eu ainda estava contando a história e ele parecia estar esperando por mais. Então, eu continuei.  

— Eu namorava um garoto divertido e inclinado a idiotices fatais. - falei, Dimitri riu. Ele ainda analisava nossas mãos. - Então, na noite da formatura, ele me levou para um quarto e nós... 

Dimitri me olhou, quase que em susto. Eu sorri, tentando continuar a história antes de continuar recebendo aquele olhar de desaprovação.  

Eu suspirei.  

— Eu não consegui ir até o final. - murmurei. Tentando não corar com aquilo. Dimitri respirou, tentando parecer normal. Mas eu sabia que ele parecia aliviado com aquela resposta. - Eu queria, mas eu... - eu parei por um momento, tentando não lembrar da raiva que eu passei naquele dia.  

—  Não precisa continuar. - falou, passando seu dedão na minha mão, ainda entrelaçada à dele.  

Eu sorri, sentindo seu toque quente.  

— Tudo bem! - falei, olhando-o. Seus olhos chocolate me estudavam cuidadosamente. - Eu não estava pronta. Mas é difícil contar isso para um cara com vontade de ir até o final e semi nu.  

Percebi Dimitri sério novamente. Ele deve ter imaginado a cena e eu sabia que ele não estava achando agradável. Eu respirei fundo.  

— Ele me deixou lá e saiu irritado. Eu chorava bastante. Pensei em correr atrás dele e fazer o que eu tinha que fazer. Mas eu estaria agradando a ele, não há mim. - Dimitri assentiu, ainda em silencio. - Depois disso, minha mãe ficou doente, eu fui mudando para cuidar dela e depois da faculdade, eu resolvi me mudar.   

Dimitri sorriu de canto e encarou-me. 

— Ele foi um idiota. - murmurou. Eu quase não escutei suas palavras. Meus olhos intercalavam entre sua boca e por um momento, Dimitri fez o mesmo. Senti aquela tensão novamente entre nós e sorri, fraca. 

— Eu sei. - falei. - Depois disso, eu apenas queria ficar sozinha. Me dediquei a faculdade e em como continuar com a virgindade intacta e inquebrável.  

Dimitri sorriu. Eu tinha acabado de revelar minha virgindade ao cara que meu coração apontava ser o motivo da minha suspeita de enfarto. Eu era louca. Por um momento, eu corei.  

Dimitri percebeu e apertou novamente nossas mãos. Chamando atenção para si.  

— Bom... - começou. - Se eu fosse ele e você, não tivesse escolhido esse momento para finalmente perder algo importante... - ele me olhou com mais afinco. Algo no silêncio que caiu sobre nós, me fez ter necessidade do som da sua voz. - Eu iria respeitar você e fazer do dia que você quisesse, o melhor da sua vida.  

Algo em meu coração se apertou. Olhei para Dimitri, que ainda me encarava com algo quente. Minha guarda caiu totalmente. Deixei meus ombros relaxarem e esperei que Dimitri não tivesse reparado. Eu conseguia olhá-lo, mas algo nele tinha mudado.  

Não fisicamente. Apenas para mim.  

Eu senti meu estomago revirar, mas era uma sensação nervosa. Como se tem antes de uma prova final ou de um encontro. Algo em mim gritou: HEY, NÃO DEIXA ELE IR AO ENCONTRO AMANHÃ. 

Mas ao invés disso, eu apenas engoli a seco. 

— Você deve ter tido uma larga experiência no assunto. - falei, sem nem ao menos disfarçar minha voz tremula e minha boca ainda aberta.  

Dimitri sorriu.  

A luz do ambiente estava baixa. Apenas um abajur na mesinha ao lado do sofá e a luz da lua, da janela que estava aberta. Dimitri respirou fundo e piscou algumas vezes. Se eu o conhecesse bem, poderia confirmar que ele estava se divertindo com possíveis respostas.  

— Algumas. - falou, divertido. - Eu não era exatamente popular, mas era fácil conquistar garotas.  

Eu sorri, pensando como era Dimitri ter garotas. Ai meu Deus! Dimitri já teve garotas. Plural, não singular. Eu acho que era uma péssima ideia continuar segurando a mão dele.  

— Era conquistador, camarada? - perguntei, tentando demonstrar diversão. Eu estava sentindo tanto aquele clima em cima de mim, que poderia explodir.  

— Era fácil quando se tinha tantas mulheres em casa. - falou. Ele gargalhou, suave. - Elas davam dicas. 

— Mulheres? Sua mãe e irmã?  

Dimitri sorriu ainda mais. Ele se ajeitou no sofá e me puxou para ele. Senti meu corpo cair em cima do seu e minha cabeça se encaixar exatamente no contorno do seu pescoço. Meu corpo todo relaxou com essa nova posição.  

Eu senti o cheiro de Dimitri ainda mais forte e fechei meus olhos por poucos segundos, antes dele terminar de se ajeitar no sofá. Estávamos nós dois ainda de mãos dadas, confortavelmente em um sofá pequeno. Pelo menos, pequeno para ele. 

Puxei um pouco da manta para cima de nós. 

— Eu tenho três irmãs, uma mãe coruja e uma avó sabe tudo.  

Eu sorri, sem que ele visse. Mas acho que ele também estava sorrindo.  

— Belikov no meio de mulheres mandonas. - deduzi. - Eu gostaria de ver isso.  

Dimitri gargalhou. Ele parecia feliz em falar de sua família.  

—  Bom, elas vão vir para o casamento do Cristian. Pelo menos, a minha irmã mais nova e minha avó. Minha mãe tem algumas coisas para resolver no trabalho. 

Eu mexi minha cabeça para tentar olhar ele. Mas não consegui uma visão tão boa, então me acomodei de novo em seu pescoço. Dimitri me puxou ainda mais para si. Me perguntei se ele sabia o que estava fazendo.  

— Sua família é da Rússia, certo? - perguntei, ainda sentindo seus braços quentes me envolverem.  

— Sim. - falou, ainda com um tom alegre. - Como você imagina a Rússia? 

Eu sorri.  

— Não sei. - falei, pensativa. - O paraíso gelado, talvez. Ursos polares e tudo mais.  

Dimitri gargalhou. Senti seu peito se mexer e mais daquela energia passar por mim. Minha nuca arrepiou com o som pouco frequente da risada de Dimitri.  

— Não é assim. - falou. Dimitri desentrelaçou nossos dedos. Eu estava quase pegando sua mão de volta, quando senti algo terno pelos meus cabelos. Ele parou sua mão ali e mexia devagar, quase como um mantra. Eu sorri devagar, sem que ele visse.  

— Um dia eu descubro. - murmurei, me sentindo sonolenta e feliz. 

— Um dia, quem sabe, eu te leve lá, Roza.  

Eu corei. Silencio caiu entre nós.  

Sua mão ainda afagava meus cabelos lentamente. Eu me senti aquecida. Nem ao menos tinha conseguido terminar de racionar, quando abri minha boca. 

— Isso se continuarmos nos vendo. - falei. Dimitri se mexeu abruptamente e me encarou, ainda me mantendo em seus braços.  

Eu o olhei de volta, já sentindo a tontura do meu cansaço. Ele tinha um olhar assustado. 

— O que? Por que? 

— Lissa vai casar em dois meses e eu não vou continuar em um apartamento com um casal recém-casado. - falei, fechando meus olhos. - Lissa e Cristian vão querer privacidade e como eu sei, que talvez ele queira se mudar pra cá, eu terei de ser a pessoa a sair.  

Dimitri pareceu menos assustado e um pouco mais pensativo. Senti meus olhos pesarem e lutar contra isso, estava me esgotando ainda mais. Com a falta do carinho de Dimitri, eu apenas me agarrei à sua camiseta preta e fechei meus olhos. 

Dimitri respirou fundo e me apertou ainda mais para si. O silencio não era tão ruim, quando eu sentia ainda mais seu calor. Dimitri voltou a afagar meus cabelos, escorregando um pouco seu corpo no sofá. 

— Eu amo seu sofá. - murmurei, ainda confortável.  

Hipocrisia, Hathaway. Não é bem o sofá que você ama. - pensei. 

Senti o peito de Dimitri se mexer e supus ser uma gargalhada. 

— Eu acho que ele também ama você. - falou. Algo dentro de mim, gritava: Me ama, me ama, me ama.  

Dimitri apertou-me mais um pouco e colocou seu queixo na minha cabeça, em um movimento rápido. Eu fui deixando meu coração desacelerar e meu aperto em sua camiseta afrouxar.  

— Boa noite, Roza. - sussurrou para mim.  

Eu apenas respirei fundo, antes de deixar o sono me vencer e sorri.  

Eu estava incondicionalmente e irresistivelmente apaixonada por Dimitri Belikov.  

 

                                                  *** 

 

O barulho do rádio relógio me fez pular de susto. Dimitri não estava mais comigo e eu ainda estava me ambientando no que parecia ser um sofá de couro mal forrado. Minha manta estava cobrindo apenas os meus shorts e eu estava de barriga para baixo. 

Com o que parecia ser um ninho de passarinho na cabeça.  

Olhei para o relógio da mesinha e vi que eram seis da manhã. Apertei o botãozinho da lateral e voltei minha cabeça para o travesseiro. Dimitri não estava ali e eu nem sabia que ele tinha me deixado e ido para o quarto ou se tínhamos divido aquelas poucas horas de sono.  

Lembrei com calma da noite anterior e suspirei.  

Oh, Belikov. Você tinha que ser tão maravilhoso e quente? - pensei. 

Me levantei, ainda relutante. Caminhei até o corredor do apartamento de Dimitri, que dava para o seu quarto em busca de um banheiro. Tinha esquecido todos os meus produtos de higiene em casa. 

Achei a primeira porta a esquerda e entrei nela confiante de que seria o banheiro.  

Tentei cuidar dos meus cabelos e eu fiz o melhor que pude. Peguei um elástico de Dimitri em cima da bancada da pia e prendi-os, com um rabo de cavalo um pouco mal feito.  

Lavei meu rosto e fiz um bochecho pouco higiênico, também com os produtos de Dimitri. Terminei de ficar apresentável e caminhei até o sofá, começando a arrumar toda a bagunça.  

Até que, escutei a porta bater atrás de mim. Virei-me e Dimitri sorriu. Ele tinha fones de ouvido e uma roupa casual. Jeans e Camisa de manga curta azul. Eu quase nunca o via assim. Ele sorriu e colocou uma caixa branca e dois cafés em cima da pequena mesa que dividia a sala da cozinha.  

— Camarada, Belikov. - falei, sorrindo. - Espero que os dois cafés sejam para mim.  

Ele sorriu. 

— Não. - falou. - Você tem que aprender a controlar seus vícios. Café em excesso não faz bem. Você é medica, Rose. 

Eu rolei os olhos. Dimitri começou a tirar os fones e colocá-los em cima da mesa. Eu me aproximei da mesa, já me preparando para xingá-lo.  

— Sem graça. Oh! Rosquinhas. - falei, quase que de rompante ao ver Dimitri abrindo a caixa. Ele sorriu. 

— Achei que, depois de tanta conversa ontem, poderia te alimentar mal pelo menos hoje.  

Eu sorri, sentando-me e pegando uma. Antes de morder eu me certifiquei de conferir seu olhar para mim. Queria saber se aquela conexão de ontem tinha atingido Dimitri também.  

Ele parecia animado, mas não me deixou perceber mais que essa expressão. Então apenas foquei nas rosquinhas. Era a única que me retribuiria com algo agora. 

— Acho certo. - eu disse, entre uma mordida e outra. Dimitri apenas assentiu pegando seu café. Ele sentou à minha frente e depois pigarreou.  

— Eu estava pensando sobre o que falamos ontem... - começou.  

Eu encarei-o. 

Podia jurar que tinha açúcar espalhado em meu rosto.  

Não fala da minha virgindade, não fala, não fala. - gritei. 

— Sobre o que exatamente? 

— Sobre você ter que arranjar outro lugar para ficar. - falou, finalmente. Eu respirei um pouco mais aliviada.  

— São planos para dois meses. Não é como se eu fosse amanhã. 

Dei mais uma mordida na rosquinha e estava pronta para pegar meu café quando Dimitri me encarou com bem mais voracidade que qualquer outra vez. Seus olhos pareciam determinados. Então, eu retribui o olhar.  

— Eu fiz algo errado? - perguntei. Ele balançou a cabeça para os lados.  

— Não. - disse, com uma mistura de seu sotaque e rouquidão. Dimitri respirou fundo e abriu a boca novamente. - Rose, talvez eu tenha uma solução.  

— Esconder Ozera no banco de trás de uma MiniVan e mandar para o Oregon antes do casamento? - perguntei. Dimitri abriu um sorriso. – Você é policial, deve saber fazer uma pessoa sumir.  

Dimitri sorriu.  

— Tenho uma solução que não infrinja a lei, Roza.  

Eu dei de ombros. Puxando meu copo de café.  

— Que seria? 

Dimitri respirou fundo e fitou-me.  

— Você vir morar comigo.  

Minha mandíbula caiu. Meu coração parou. 

Pelo menos, de forma literal. 


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Notas finais do capítulo

E aí??? Gostaram???? O que vocês acham que vai acontecer nos próximos caps?

1 - Rose e Dimitri decidem morar juntos
2 - Rose conhece Abe
3 - Dimitri beija outra pessoa

E ai? Qual seu voto?
Me conta aqui nos comentários.
XOXO, LC.



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