Heaven escrita por Azrael Araújo


Capítulo 10
XI




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Leah, ao meu lado, soltou um lamento baixo.

— Vocês fazem parte de nossa família. Não era pra ser desse jeito.

Eu não estava realmente discordando disso, mas era difícil a esse ponto. Havia algumas diferenças não resolvidas de opinião entre eu e Sam no momento.

— Nós sabemos que você se sente... Bem, sabemos que a situação com os Cullen e a Renée é difícil, entendemos que isso é um problema. Mas tudo isso já passou dos limites.

Embry ganiu. Reação além dos limites? Cara, eles mandaram crianças nos atacar!

Embry, você já ouviu sobre os caras que jogam poker? Eles fazem cara de paisagem. Calma aí.

Desculpa.

Os olhos de Jared foram pra Embry atrás de mim.

— Sam está implorando pra levarmos isso com calma, Isabella. Ele está calmo, conversou com os outros anciões e eles decidiram que ação imediata não é nenhum dos interesses maiores agora.

Tradução: Eles já perderam o elemento da surpresa, Leah pensou. Era estranho como nossa união estava distinta agora. O bando... Bem, eles já eram os “outros” pra nós. Alguma coisa de fora, outra. Era especialmente estranho me pegar pensando desse jeito — por Leah, Embry e eu sermos um grande e sólido “nós”.

— Billy e Sue concordam com você, Isabella, de que nós podemos esperar até Renée... Até que ela esteja separada do problema. Matar ela não é uma coisa que faça nós ficarmos confortáveis.

Mesmo que eu tenha dado uma bronca em Embry, eu não pude segurar um pequeno rosnado meu. Então eles não se sentiam confortáveis com assassinato, huh?

Jared ergueu suas mãos de novo.

— Calma, garota. Você sabe o que eu quis dizer. O ponto é, nós vamos esperar e repensar a situação. Decidir depois se há um problema com a... Coisa.

Há, Leah pensou. Que babaca.

Você não acredita?

Eu sei o que eles estão pensando, Isabella. O que Sam está pensando. Eles estão apostando que a sua mãe vai morrer de qualquer jeito. E então eles pensam que você vai ficar tão brava...

Que eu mesma vou liderar o ataque. Minhas orelhas se pressionaram contra o meu crânio.

O que Leah estava supondo era bastante estranho. E quase possível, também. Se... Quando aquela coisa matasse Renée, seria fácil esquecer como eu me sentia sobre a família de Carlisle agora. Eles voltariam a parecer como inimigos — como nada mais que sugadores de sangue pra mim novamente?

Imaginei Edythe e o que ela diria se me ouvisse tendo esses pensamentos. Caramba, a simples ideia de vê-la machucada me fazia querer morrer.

!!!!!!!!!!

A surpresa ecoou como um tiro de espingarda no meio da floresta enquanto Leah e Embry assistiam minha mente se desenrolar em lembranças e pensamentos sobre a vampira ruiva.

Leah ganiu um som de vômito.

— Isabella? — Jared perguntou.

Eu bufei um suspiro. Cara, que confusão.

Embry, dê uma volta só pra ter certeza. Eu vou ter que conversar com ele e quero ser garantir de que não há nada mais acontecendo enquanto eu estou transformada.

Ele bufou uma vez e depois se foi pela floresta sem dizer uma única palavra. Eu sabia que teria que me explicar aos dois eventualmente.

Jared e os outros ficaram olhando para o lugar onde ele havia desaparecido no mato.

— Onde ele está indo? — Jared perguntou.

Eu o ignorei, fechando meus olhos, me colocando no lugar e me levantei sobre minhas patas traseiras, pegando o momento tão bem até que eu estava totalmente reta quando voltei à forma humana sem me preocupar com nada. Nudez era uma inconveniente mas inevitável parte da vida de bando.

— Oh — Jared disse. — Hey, Isabella.

— Hey, Jared.

— Obrigado por falar comigo.

— Claro, claro.

— Nós queremos que você volte, cara.

— Eu não sei se isso é fácil, Jared.

— Volte pra casa — ele disse, indo pra frente com as palmas das mãos voltadas para cima. — Nós podemos resolver isso. Você não pertence aqui. Deixe Embry e Leah voltarem pra casa, também.

Eu ri.

— Certo. Como se eu já não tivesse implorado pra que eles fizessem isso desde a primeira hora.

Leah bufou atrás de mim.

Jared entendeu isso, seus olhos cuidadosos de novo. 

— Então o quê? O que acontece agora?

Eu pensei nisso por um minuto enquanto ele esperava.

— Eu não sei. Mas não estou certa de que as coisas possam voltar ao normal, de qualquer jeito, Jared. Eu não sei como funciona, não é como se eu pudesse ligar essa coisa de entrar e sair da matilha de acordo com meu humor. Eu acho que é meio que permanente.

— Você ainda pertence a nós.

Eu levantei minhas sobrancelhas.

— Dois alfas não podem pertencer no mesmo lugar, Jared. Lembra como ficou difícil naquela noite? Eu quase matei Sam. O instinto é muito competitivo.

— Então vocês vão ficar com os parasitas pelo resto da vida? — ele exigiu — Você não tem um lar aqui. Você vai ficar como lobo o tempo todo? Sabe que Embry não gosta de comer desse jeito.

— Embry pode fazer o que quiser quando ficar com fome. Ele está aqui por sua própria escolha. Eu não vou dizer a ninguém o que fazer.

Jared suspirou.

— Sam está arrependido sobre o que ele fez com você.

Eu concordei.

— Eu não estou brava agora.

— Mas?

— Mas eu não vou voltar, não agora. Nós vamos esperar e ver como vai ser. E nós vamos ficar com os Cullen até quando for necessário. Porque, mesmo você não acreditando, isso não é só sobre Renée. Nós estamos protegendo aqueles que devem ser protegidos. E isso se aplica aos Cullen, também. — pelo menos um número justo deles, de qualquer jeito.

Leah latiu baixo em concordância.

Jared fechou o rosto em uma carranca.

— Então eu acho que não tem nada que eu possa dizer pra você.

— Não agora. Nós vamos ver como as coisas vão se desenrolar.

Jared virou seu rosto pra Leah, concentrado nela agora, separado de mim.

— Sue pediu pra falar pra você... Não, para implorar pra você que volte pra casa. Ela está com o coração partido, Leah. Sozinha. Eu não sei como você pode fazer isso com ela. Abandoná-la desse jeito.

Leah choramingou.

— Calma aí, Jared — Eu avisei.

— Só estou deixando ela saber como é.

Eu bufei.

— Certo. — Sue era mais forte do que qualquer um que eu conhecia, mais forte que eu. Forte o suficiente pra brincar com sua filha, se isso era o que faria ela voltar para casa. Mas não era justo brincar com Leah desse jeito. — Sue está sabendo disso há quantas horas? E a maior parte do tempo ela passou com os anciãos e Sam? Nah, eu tenho certeza que ela está falecendo de solidão. É claro que você está livre pra ir, Leah. Você sabe disso.

Leah fungou.

Então, um segundo depois, ela virou uma orelha pro norte — Embry devia estar perto. Jesus, ele é rápido. Duas batidas do meu coração e Embry parou nas árvores um pouco longe. Ele cavalgou indo para frente de Leah e deixou seu nariz no ar, bem obviamente não olhando na minha direção.

— Isabella? — Jared começou, dessa vez com clara hostilidade.

Eu bufei mas ele ignorou.

— Renée fez uma escolha, já você... Você não tem nenhum laço com os sugadores de sangue.

O rosto de Edythe voltou à minha mente como num flashback — fiquei feliz por estar em minha forma humana onde nenhum dos meus irmãos poderiam me flagrar tendo esses pensamentos sobre ela novamente.

— Nós queremos que você volte. Quinn quer que você volte.

Eu trinquei os dentes de forma audível.

— Quinn me pediu para implorar. Ela me disse para literalmente ficar de joelhos se precisasse porque a única coisa que ela quer é que volte pra casa que é onde você pertence, Bells.

Eu senti meu corpo estremecer quando Jared usou o apelido que Quinn me chamava. E então, quando ele acrescentou as últimas palavras, os pelos do meu braço se ergueram. Fechei as mãos em punhos e respirei rápido, tentando controlar a queimação que subia pela minha espinha. Eu não podia perder o controle, não agora. Levei quase um minuto inteiro dizendo a mim mesma pra não explodir. Eu não sabia se Jared havia entendido que tocou numa ferida ou se ele esperava uma desculpa para começar uma luta, mas ele ficou em silêncio até que eu me acalmasse.

— Olha, Jared... Nós vamos passar esse período, mas antes que passemos, vocês provavelmente vão querer ficar na terra de vocês. Assim não haverão mal entendidos. Ninguém quer uma briga em família, certo? Sam não quer isso também, quer?

— É claro que não — Jared respondeu — Nós vamos ficar na nossa terra. Mas onde é a sua terra? É a terra dos vampiros?

— Não, Jared. Digamos que eu seja sem teto no momento. Mas não se preocupe, isso não vai durar pra sempre. — eu tive que pausar para respirar — Não há tanto tempo assim... Sobrando. Okay? Então os Cullen provavelmente vão embora e Embry e Leah vão voltar para casa.

Leah e Embry protestaram juntos, o barulho vindo na minha direção em sincronização.

— E você?

— Eu não sei. — suspirei — Ouça, se precisarem conversar, só... Uivem, mas cuidado com a linha. Nós viremos até vocês. E Sam não precisa mandar tantos. Nós não estamos procurando uma briga.

Jared juntou as sobrancelhas, mas concordou. Aparentemente ele não gostava que eu demandasse condições para Sam.

— Vejo você por aí, Isabella. Ou não. — ele acenou.

— Hey, diga à Quinn que eu estou bem, por favor? E que eu sinto muito, e... Que eu a amo.

— Farei chegar à ela. 

— Obrigada.

— Vamos, caras. — Jared disse. Ele virou as costas para nós, indo pra algum lugar que não desse para vê-lo se transformar. Os outros dois lobos estavam logo atrás dele. Assim que ele tinha ido, deixei o tremor tomar conta do meu corpo e, em dois segundos, estava em quatro pernas de novo.

Eu disse alguma coisa que vocês não queriam que eu dissesse? Eu perguntei a eles. Me preocupava, falar por eles desse jeito, quando eu não podia ouvir exatamente o que estavam pensando. Eu não queria assumir nada. Eu não queria ser como Sam. Eu não disse algo que precisava dizer?

Você foi ótima, garota. Leah disse. 

Claro, claro. Embry pensou.

Eu suspirei. Okay, então. Nós estamos bem, por enquanto. Leah você se importaria de ficar de olho nas coisas por um tempo? Embry e eu precisamos dormir.

Eu não estava tão preocupada, mas eu me lembrei do compromisso de Sam. A total atenção em destruir o que perigo que ele tinha visto. Ele ia tirar vantagem do fato que ele podia mentir para nós agora?

Sem problemas.

Eu vou até os Cullen explicar o que aconteceu. Eles provavelmente estão um pouco tensos ainda. E também preciso checar umas coisas, de qualquer jeito.

Eles entenderam as imagens do meu cérebro frito.

Embry choramingou de surpresa. EW. 

Leah balançava a cabeça como se quisesse tirar a imagem de sua mente. Essa é facilmente a coisa mais nojenta que eu ouvi na minha vida. Eca. Se tivesse algo no meu estômago, estaria voltando agora.

 

Quando eu voltei para a grande casa, não havia ninguém do lado de fora esperando notícias minhas. Ainda em alerta?

Está tudo legal, eu pensei diretamente.

Meus olhos captaram imediatamente uma pequena mudança na cena agora familiar. Havia uma pilha de tecido no último degrau da varanda. Eu me aproximei para investigar segurando a respiração, já que o cheiro de vampiros estava grudado na roupa de forma inacreditável, eu cutuquei a pilha com o nariz.

Eram minhas roupas. Huh. Edythe. Quase gemi em agradecimento. A ruiva devia ter captado o meu momento de irritação enquanto eu estava na porta. Bom, isso foi legal.

Eu peguei as roupas com os dentes cuidadosamente e as carreguei até as árvores.

Escondida lá eu joguei as roupas no chão e me transformei em humana, balancei as roupas e as vesti. Calça jeans puída e um moletom azul escuro. Eu precisava admitir que me sentia melhor usando roupas — nunca agradeceria a vampira ruiva o suficiente por ter pego algumas de minhas coisas. Era difícil não ser capaz de simplesmente correr até em casa e pegar outro par de calças de moletom quando eu precisava. A coisa de ‘sem teto’ de novo — não ter nenhum lugar para o qual voltar. Nada de coisas suas também, o que não estava me incomodando tanto agora, mas provavelmente ia ficar chato em breve.

Exausta, eu caminhei lentamente até os degraus da varanda dos Cullen nas minhas roupas confortáveis e provavelmente fedidas para eles, mas eu hesitei quando cheguei na porta.

Devia bater? Estúpido, já que eles sabiam que eu estava aqui. Eu me perguntei porque ninguém se dava conta disso — ou me dizia entre ou se manda. Que seja. Eu ergui os ombros e entrei sem convite.

Mais mudanças. A sala havia voltado ao normal — quase — no últimos vinte minutos. A grande televisão de tela plana estava ligada, num volume baixo, mostrando alguma coisa afeminada que ninguém parecia estar assistindo. Carlisle e Esme estavam de pé perto das janelas do fundo, que estavam abertas para o rio novamente. Alguns outros vampiros estavam fora de vista, mas eu os ouvi murmurando no andar de cima. Renée estava no sofá, com apenas um tubo ainda plugado nela, e uma intravenosa pendurada atrás do encosto do sofá. Ela estava enrolada como um burrito em duas colchas grossas. Edythe estava sentada de pernas cruzadas perto da cabeça dela e Charlie estava sentado na outra ponta do sofá com os pés enrolados da esposa em seu colo. Os dois olharam para cima quando eu entrei e a ruiva sorriu para mim.

Renée não me ouviu. Ela apenas olhou para cima quando seguiu o olhar do marido, e então sorriu também. Com verdadeira energia, todo o rosto dela se iluminou. Eu não podia lembrar da última vez quando ela pareceu tão feliz em me ver.

Qual era o problema dela? Pra começo de história, ela era casada e feliz no casamento também — não havia dúvidas de que ela estava tão apaixonada por aquele vampiro que ultrapassava as barreiras da sanidade, já que ela foi capaz de escolher ele à mim que era sua própria criança. E com uma enorme barriga de grávida, ainda por cima — definitivamente o filho certo.

Então porque ela tinha que estar tão feliz em me ver? Como se eu tivesse melhorado todo o dia dela só em ter passado pela porta. Mas que merda.

Se ela simplesmente não ligasse... Ou mais que isso — se realmente não me quisesse por perto. Seria muito mais fácil me manter longe.

Charlie parecia concordar com os meus pensamentos uma vez que ele estava fazendo uma careta agora, lendo o rosto dela enquanto ela se derretia para mim.

— Eles só queriam conversar — eu murmurei com a minha voz se arrastando de exaustão — Nada de ataques no horizonte.

— Sim — Edythe respondeu. — Eu ouvi a maior parte.

Isso me acordou um pouco. Nós estávamos a uns bons seis quilômetros de distância.

— Como?

— Eu estou te ouvindo com mais clareza, é uma questão de familiaridade e concentração. Além do mais, seus pensamentos são um pouco mais fáceis de entender quando você está na forma humana. Então eu ouvi boa parte do que aconteceu fora daqui.

— Oh. Bom. Eu odeio ficar me repetindo.

— Eu te diria para ir dormir um pouco, Bella.— Renée disse — Mas eu acho que você vai desmaiar no chão em cerca de seis segundos, então não há nenhuma necessidade.

Eu estava impressionada de ver o quanto ela parecia melhor, quanto ela parecia mais forte. Eu senti cheiro de sangue fresco e vi que o copo estava nas mãos dela de novo. Quanto sangue mais seria necessário para mantê-la bem? Em algum ponto, eles começariam a matar os vizinhos?

Eu dei de ombros e caminhei até a porta. Queria chegar até as árvores onde o ar seria puro novamente — eu planejava me livrar das roupas a uma distância conveniente da casa para usá-las no futuro, ao invés de ter que prende-las na minha perna, para que eu também não precisasse ficar cheirando elas.

Eu ouvi as vozes enquanto andava pelo gramado.

— Onde você vai? — Renée perguntou.

— Tem uma coisa que eu esqueci de dizer a ela.

— Deixa Bella dormir. Isso pode esperar.

Sim, por favor, deixe a Isabella dormir.

— Só vai levar um momento.

Eu me virei lentamente. Edythe já havia passado pela porta, a expressão era de quem pedia desculpas enquanto ela se aproximava.

— Nossa, o que é agora?

— Me desculpe. — ela disse, e então hesitou, como se não soubesse como dizer o que estava pensando.

Me desculpe pela grosseria. Só estou cansada. Mas o que há na sua mente, leitora de mentes?

— Quando você estava falando com os enviados de Sam mais cedo — ela murmurou — Eu estava tendo uma conversa com Carlisle, Esme e o resto deles. Eles estavam preocupados. 

— Olha, não estamos baixando a guarda. Você não precisa acreditar em Sam como nós acreditamos. Vamos manter os olhos abertos de qualquer maneira.

— Não, não, Isabella. Não é sobre isso. Nós confiamos no seu julgamento. Apesar disso, Esme está preocupada com as dificuldades que isso está fazendo sua matilha passar. Ela me pediu para falar em particular sobre isso com você.

Isso me pegou de surpresa.

— Dificuldades?

— A parte de estar sem teto, particularmente. Ela está muito aborrecida por você estar tão... Desprovida.

Eu bufei. A mãe pássaro dos vampiros — bizarro.

— Somos durões. Diga que ela não se preocupe.

— Ela ainda gostaria de fazer o que puder. Eu tenho a impressão de que Embry gostaria de não comer em sua forma de lobo?

— E...? — eu quis saber.

— Bem, nós temos comida normal de humanos aqui, Isabella. Pra manter as aparências, e é claro, por Renée. Embry será bem vindo para o que ele quiser. Todos vocês serão.

— Nós já conversamos sobre isso... Mas, é, okay, vou dizer a eles.

— Obrigada.

Eu dei as costas para ela apenas para ficar congelada quando ouvi o baixo gemido de dor que vinha de dentro da casa. Quando eu virei de novo, ela já tinha desaparecido

Jesus amado, o que foi agora?

Eu fui atrás dela, me arrastando feito um zumbi. E usando mais ou menos a mesma quantidade de células também. Eu não parecia ter escolha. Alguma coisa estava errada, eu ia ver o que era. Não haveria nada que eu pudesse fazer e isso faria eu me sentir pior.

Parecia inevitável.

Eu me deixei entrar novamente. Renée estava ofegante, curvada sobre a inchação no centro do seu corpo. Charlie estava segurando-a enquanto Edythe, Carlisle e Esme continuavam estáticos. Uma pontada de movimento chamou minha atenção; Alice estava no topo da escada, olhando para a sala com as mãos pressionando as têmporas. Era estranho — como se a entrada dela tivesse sido barrada em algum lugar.

— Me dê um segundo, Carlisle. — Renée ofegou.

— Renée — o médico disse ansiosamente — Acho que ouvi alguma coisa se partindo. Eu preciso dar uma olhada.

— Eu tenho certeza... — respira — que foi a costela. Ow. É, bem aqui. — Ela apontou para o lado esquerdo, com cuidado para não tocar.

Ah bem, agora a coisa estava quebrando os ossos dela.

— Eu preciso fazer um raio-X. Pode ter partículas. Não queremos que elas perfurem nada.

Renée respirou fundo. — Okay.

Charlie levantou a esposa cuidadosamente.

Então agora Renée estava mais forte, mas a coisa também estava. Não se podia passar fome sem fazer o outro passar fome também, e se curar acabava sendo assim também. Não tinha como ela vencer.

O vampiro carregou Renée rapidamente escada acima com Carlisle e Edythe em seus calcanhares, nenhum deles reparando que eu estava parada feito uma boboca na porta de entrada.

Então eles tinham um bando de sangue e um raio-X? É, bem, o doutor trouxe trabalho para casa.

Eu estava cansada demais para segui-los, cansada demais para me mover então me encostei na parede e deslizei até o chão. A porta ainda estava aberta, e eu apontei meu nariz em sua direção, agradecida pela brisa limpa passando por ela. Encostei minha cabeça no aparador e fiquei escutando.

Eu podia ouvir a máquina de raio-X lá em cima. Ou pelo menos eu presumi que fosse isso. E então os passos mais leves descendo as escadas. Eu não olhei para cima para ver que vampiro era.

— Você quer um travesseiro? — Alice me perguntou.

— Não — eu murmurei.

— Isso não parece confortável — ela observou.

— Não é.

— Então porque você não sai daí?

— Tô cansada. Porque você não vai lá pra cima com os outros? — eu rebati.

— Dor de cabeça. — ela respondeu.

Eu rolei minha cabeça pro lado para olhar para ela.

Alice era uma coisa pequenininha mais ou menos do tamanho dos meus braços. Ela parecia ainda menor agora, meio curvada sobre si mesma. Seu pequeno rosto estava contraído.

— Vampiros têm dor de cabeça?

— Não os vampiros normais.

Eu bufei. Vampiros normais. 

— Então porque você não está com a Renée? — perguntei, transformando a pergunta em acusação. Eu não tinha pensado nisso antes, porque a minha cabeça esteve cheia de outras besteiras, mas era estranho que Alice nunca estava perto de Renée, não desde que eu estava aqui.

— Como eu disse — ela se curvou nos azulejos a alguns metros de mim, passando os braços magrinhos pelos joelhos magrinhos — Dor de cabeça.

— Ela está te dando dor de cabeça?

— Sim.

Eu fiz uma careta. Certamente estava cansada demais para charadas. Deixei minha cabeça rolar de volta para o ar fresco e fechei os olhos.

— Não Renée, na verdade. — ela emendou. — O... Feto.

Ah, mais alguém se sentia como eu. Era bem fácil reconhecer. Ela dizia a palavra com asco, do jeito que Edythe dizia.

— Eu não entendo. — ela me disse, apesar de que ela devia estar pensando consigo mesma. Pelo que ela sabia, eu já estava dormindo. — Eu não vejo nada ele. Assim como não vejo você.

Eu enrijeci, e então apertei os dentes. Eu não gostava de ser comparada à criatura.

— Renée está no caminho. Ela está ao redor da coisa, então ela está... Confusa. Como uma televisão com recepção ruim. É como tentar concentrar os olhos naquelas pessoas meio tortas se mexendo na tela. Ver ela está matando a minha cabeça. E de qualquer forma, eu não vejo muito futuro. O... Feto é uma parte muito grande do futuro dela. Quando ela decidiu no início... Quando ela soube que o queria, ela desapareceu das minhas visões. Isso me assustou demais.

Ela ficou quieta por um segundo e depois completou.

— Eu tenho que admitir, é um alívio ter você por perto... Apesar do cheiro de cachorro molhado. Tudo vai embora. É como ter os olhos fechados e isso alivia a dor de cabeça.

— Eu estou feliz em poder servi-la, garota. — Eu murmurei.

— Eu me pergunto o que ele tem em comum com você... Porque nesse sentido vocês dois são iguais.

Um calor repentino se concentrou no centro dos meus ossos. Eu prendi meus punhos para controlar os tremores.

— Eu não tenho nada em comum com aquele sugador de vidas. — eu disse através dos dentes.

— Bem, tem alguma coisa aí.

Não respondi. O calor já estava desaparecendo e eu estava cansada demais para ficar furiosa.

— Você não se importa se eu ficar sentada aqui do seu lado, se importa? — Ela perguntou.

— Acho que não. Fede do mesmo jeito.

— Obrigada. — ela disse. — Eu acho que é o melhor pra isso, eu acho, já que eu não posso tomar aspirina.

— Dá pra ficar quieta? Eu meio que tô dormindo aqui.

Ela não respondeu, ficando em silêncio imediatamente. Eu caí no sono em segundos.


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Notas finais do capítulo

TT: @eldiablexx

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