Por certo tempo Jon até mesmo achou que a viagem até Dorne seria mais longa do que a viagem de Asshai a Westeros. Parecia que nunca chegariam a pôr os pés em terra firme novamente.

Tinham se atrasado – se é que em algum momento tiveram prazo certo para chegar ao extremo sul. A primeira embarcação tinha enroscado em algumas rochas marítimas, o barco tinha se desfeito praticamente em pedaços. Tinham perdido quase todos os pertences e Lyanna ficara desesperada com a má impressão que isso causaria ao seu talvez futuro marido.

Não que a mãe fosse uma Lady excepcional e se preocupasse muito com vestidos de festa e jóias caras, tinha ficado com medo de que com a pequena quantidade de roupa que restara eles chegassem apenas com as roupas de baixo no continente novamente.

Já a segunda embarcação era menor e cheia de velhos marinheiros, todos dormiam aos montes na proa do barco. Com o pouco de ouro que eles ainda não tinham gasto, puderam alugar apenas uma pequena cabine que era dividida por Lyanna, Robb e Jon.

Quanto mais ao sul chegavam, mais calor ficava e Jon já estava pensando que talvez a preocupação da mãe em chegar com as roupas de baixo fosse se concretizar.

Não era nenhum pouco confortável e Jon sentia-se uma criança novamente dormindo agarrado a mãe. Dos sete soldados que vieram junto deles, restaram apenas dois e Theon Greyjoy, pois num barco como aquele não caberiam tantas pessoas, e também Jon não poderia mais se arriscar, com os soldados o escoltando ele realmente parecia um rei e não queria que a noticia de sua longa jornada chegasse aos ouvidos dos leões.

Quando finalmente desembarcaram em Lanssolar só faltou que o primo chorasse, tinha passado os três últimos dias vomitando tudo o que colocava na boca e sentir o chão firme sob seus pés era como deitar numa cama de penas após uma vida inteira dormindo na palha.

Não poderia haver uma recepção mais saudosa. Todos foram esplendidamente educados e atenciosos, até já tratavam Jon como Vossa Graça. O Jovem Dragão tinha uma impressão de qualquer que fosse aliança firmada naquele encontro, seria boa.

Seus devaneios foram interrompidos quando uma garota falou com ele. Era muito bonita, de olhos escuros e cabelos negros e brilhantes. As jóias dela brilhavam contra o sol.

Aquela só poderia ser Arianne Martell, cuja beleza e astúcia eram conhecidas em todo o continente. Ela indicou-lhe, como uma boa diplomata, seu quarto.

Fazia muito pouco tempo que haviam chegado. Lyanna e Robb já tinham se estabelecido em seus quartos, mas Jon não. A herdeira Martell quis lhe colocar em um quarto “digno de um rei Targaryen”. Este que ficava do outro lado do castelo, e tudo que o meio Stark queira no momento era uma boa refeição é um banho.

― Obrigado pela gentileza Princesa ― O rosto jovem pareceu se iluminar com as palavras corteses de Jon ― Poderia lhe pedir um último favor? ― A morena jogou os cabelos para o lado dando a Jon uma bela vista de seus seios fartos.

― Poderia me pedir qualquer coisa, meu rei ― Sorriu maliciosamente de lado e Jon sentiu-se deslocado com a situação. Nunca fora bom com flertes e garotas.

― Peça, então uma aia, por favor ― Pediu gentilmente, mas já sério. Não iria ficar naquele joguinho com a moça – por que com certeza era isso para ela.

― Com prazer ― Disse visivelmente decepcionada, mas era uma boa jogadora e como tal continuou sorrindo até sair do quarto.

O quarto era realmente esplendido, podia ser quase comparado as pinturas que via da fortaleza vermelha, o que fez Jon prender a respiração por alguns segundo admirando a grandeza do local.

Logo ouviu três rápidas batidas na porta e mandou que quem quer que fosse entrasse. Era a aia. Vinha com uma bandeja cheia de queijo e pão fresco, também tinha um jarro de vinho que emanava um cheiro doce e uma taça brilhante de bronze.

O jovem que estava acostumado com cálices de ferro e cobre achou aquilo esplendido. Era como diziam os livros que ele havia lido sobre Dorne. A grandeza, a luxuria e Dorne andavam juntos de mãos dadas.

― Pode encher-me uma banheira, por favor ― Jon sabia que a menina estava as suas ordens para qualquer coisa, mas preferia pedir a mandar. A jovem acenou levemente, já saindo, enquanto o rei enchia sua taça sentindo toda aquela fragrância que a bebida lhe proporcionava.

Quando a criada voltou ele já havia acabado com a comida e o vinho, se sentia já meio tonto. Percebeu que era besteira sua beber todo aquele liquido como tinha bebido, todo só de uma vez.

― Deseja mais alguma coisa, meu senho... rei? ― Pediu enquanto Jon já começava a retirar as botas. O homem lançou-lhe um olhar e percebeu que a jovem estava corada vendo o homem se despir. Estava meio bêbado, mas não era estúpido o suficiente para fazer com que a garota se sentisse encabulada.

― Obrigado, mas não.

O banho fora tão relaxante que até perdeu a noção do tempo. Quando olhou pela janela já tinha escurecido.

♦♦♦

No dia seguinte acordou mais tarde do que havia planejado, e por um momento quase se desesperou, porém lembrou-se que de qualquer forma não tinha muito o se que fazer ali de manhã.

 Saiu em busca de algum rosto conhecido, e encontrou. A mãe estava sentada em um banco dourado ao lado direito de Doran Martell, assando algum tipo de geléia num queijo duro, foi só então que Jon percebeu que também estava com bastante fome.

― Bom dia, querido ― Disse Lyanna sorridente ao notar o filho se assentando a sua frente. Tudo ali era tão vivo e brilhante que quando olhou para mãe e a viu com um vestido dourado e reluzente, quase a comparou com a mobília.

― Bom dia, mãe. Lorde Martell ― Cumprimentou com um aceno o homem.

― Sem formalidades, por favor ― Pediu Doran sorridente.

Doran Martell não era um típico retrato de senhor de algum lugar, nem parecia um cavaleiro de certo. Mas qualquer um que olhasse para o soberano de Dorne poderia dizer o poder que dele emanava.

― Certo — Concordou Jon. Se logo seriam família, teriam de dispensar formalidades como aquela.

Tudo transcorria tranquilamente, até que Jon notou que Robb ainda não tinha aparecido.

― Onde está Robb? ― Pediu subitamente curioso. Não o vira desde que chegaram a Dorne.

― Parece que seu primo gostou do vinho daqui ― Respondeu a mãe sorridente. O jovem também sorriu.

Conversaram amenidades a mesa, mas Jon queria em breve entrar nos assuntos realmente importantes. Todavia respeitou o dia de Lyanna, já que em muito breve se casaria.

Doran Martell lhe dissera que não desejava que tudo fosse as pressas, mas com a iminência da guerra, Jon tinha que ser hábil com seu tempo. Ainda haviam alianças a fazer, coisas a serem ditas e reinos para conquistar.

— Minha filha foi hospitaleira com você? — Doran perguntou. Jon corou como um garotinho — Imagino que pela sua reação, realmente foi.

— Sim, é claro — Confirmou.

Doran sorriu.

— Arianne joga seu próprio jogo — Expôs com um sorriso sagaz — Ela é uma conquistadora, Jon. Talvez não de tronos em si, mas minha filha faz com que qualquer senhor dobre os joelhos perante ela. Mesmo assim, é uma aliada valiosa e uma garota muito gentil.

Se Jon olhasse por outros ângulos, ela realmente fora gentil. Percebeu que poderia ter soado um pouco grosseiro durante o contato inicial que tiveram.

— Entendo — Falou meio constrangido. Lyanna percebendo que algo incomodava Jon mudou de assunto, passando a falar sobre a cerimônia.

Ela e Doran se envolveram nas frivolidades. Jon não estava realmente interessado na cor das flores que usaria, ou em que alto septão confiariam a honra. A única coisa que lhe importava era que pudesse levar a mãe até seu noivo e esperar que ela vivesse bem.

— Acho que podemos concordar que a partir do momento que me caso com sua mãe, Dorne está dentro da guerra. Meu irmão Oberyn deseja lutar, junto de suas serpentes de Areia — Revelou Doran, bebericando vinho — Arianne, não sei porque motivo, meteu na cabeça que deseja ir junto de vocês para Jardim de Cima rever sua grande amiga, Margaery Tyrell.

— Ela pode fazê-lo, é claro — Lyanna interveio — Arianne é jovem e precisa de sua dose de aventuras. O que melhor do que viajar com o senhor de Winterfell e o futuro rei de Westeros?

Até mesmo o príncipe teve que concordar com aquela lógica estranha.

— Oberyn chega ao anoitecer de amanhã. Pretendo que a cerimônia aconteça então, para que no dia seguinte possam partir. Jardim de Cima é distante daqui, então precisam ser rápidos. Hoje, festejaremos o noivado.

Depois de conversar com Doran e sua mãe, Jon foi a procura de Robb. Este conversava avidamente com Arianne Martell. Estava claramente bêbado, mas pareciam divertir-se com algo.

 Jon se perguntou onde estaria Theon, não havia visto o nascido do ferro desde que desembarcaram em Dorne.

— Olá, Vossa Graça — Arianne cumprimentou e Robb apenas acenou com a cabeça — Estava discutindo com seu amigo uma informação curiosa.

— E que informação seria essa? — Jon pediu desconfiado, mas sorria. Estava disposto a fazer amizade com aquela estranha herdeira.

Arianne lançou-lhe um sorriso malicioso.

— Estávamos discutindo a veracidade de qual homem, proveniente de alguma região especifica, é melhor de cama — A conversa sugestiva deixou Jon meio transtornado — Robb tem certeza de que são os nortenhos. Eu ouvi dizer, por alto, de que os nascidos de ferro tem uma pegada mais... feroz, se é que me entende. O que você me diz, então?

Jon apenas riu.

— Não acho que tenho informação o suficiente para opinar, não gosto de homens. Também não fui criado aqui para saber essas coisas mais pervertidas.

Arianne balançou a cabeça, como se estivesse decepcionada e o reprimindo, mas o sorriso não abandonava seus lábios.

— Jon, Jon — Disse ela zombeteira — Ainda tem muito o que aprender sobre a vida.

♦♦♦

Arianne Martell era uma cobra perigosa e sabia disso. Não uma víbora peçonhenta e violenta, como seu tio Oberyn. Era paciente e traiçoeira, como seu pai.

Banquetes eram seu forte. Gostava de bajular senhores, de se sentir adorada. Via ali os brasões de famílias dornesas proeminentes, como os Yronwood de Paloferro e Uller de Toca de Inferno, parentes distantes por causa de suas primas. 

Estava sentada ao lado do pai, enquanto Jon Targaryen e os que estavam com ele sentavam-se ao lado de Lyanna Stark. Todos menos os guardas e um em especial.

Theon Greyjoy lhe despertara certa curiosidade desde o momento que o viu. Era bonito, bem apessoado e parecia – talvez não tanto quanto Jon – inteligente. Certo, queria mesmo saber como era estar intimamente com um homem de ferro.

Porém, para sua decepção, o Greyjoy se manteve afastado, se divertindo entre outras mulheres de Dorne. Ela o queria, claro, mas aquele não era o momento. E os deuses sabiam que Arianne poderia ser paciente.

Seu pai anunciou o noivado com Lyanna Stark e então a entrada de nossa casa na guerra. Os lordes, todos leais, juraram lutar por Jon Targaryen. Este foi proclamado rei também em Dorne.

Aquilo lhe lembrava as histórias que costumava ouvir quando criança, sobre como Dorne não se curvava a ninguém, apenas unira-se aos sete reinos por casamento.

Os dorneses gostavam de se ajoelhar, pensou Arianne, porém com objetivos menos honrados.

Arianne não pretendia ficar sentada em Dorne vendo a ação se desenrolar a sua frente. Sabia lutar, porém também era boa em falar. Queria estar junto na batalha, como Nymeria, a princesa roinar.

Olhou para Theon Greyjoy e então para as espadas que os homens levantavam para Jon Targaryen.

Sim, a princesa Martell tinha muitos desejos. Satisfaria todos eles.