Feliz Aniversário escrita por LizAAguiar


Capítulo 4
Capítulo 04


Notas iniciais do capítulo

Aeeeeee o/
Como não teve capítulo semana passada resolvi postar assim que terminasse de escrever, o que, literalmente, acabou de acontecer.
O que me faz sacrificar a revisão....Podem conter atrocidades linguísticas nesse texto :v

Sem mais delongas, o último capítulo:



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Reyna só queria um lugar que remetesse a casa, um lugar seguro para que pudesse ficar remoendo os acontecidos de três dias atrás.

Mas é claro que Hylla não ligava para isso.

— Você tem sorte do nosso pai ter me feito prometer que nunca bateria em você. — Sua irmã socava o boneco de treino que apelidara com o nome de um ex-namorado sem dó. — Você é beijada pelo amor da sua vida e corre. — A estudante de veterinária apenas continuou sentada no chão, olhando para ele como uma criança que leva uma bronca dos pais. — Inacreditável. — A palavra ecoou por toda a sala de treino, como se até as paredes concordassem com a dona da academia.

Não tinha como contestar de forma racional, mas isso não a impedia de dizer asneiras.

— Ela só... — Arrumou a gola da blusa enorme que havia pego emprestada de sua irmã, Reyna gostava de Black Sabbath, porém não em tamanho GG. — Ela só estava confusa e triste por ter terminado com o Jason.

Sua sentença saiu baixa e hesitante, não era para Hylla ouvir, sabia que ela provavelmente lhe xingaria de todos os nomes possível e a ameaçaria com socos outra vez, tratou de pegar a bandagem negra e começar a enrola-la nas mãos.

— Se eu não tivesse visto Belona grávida diria que você é adotada. — Não fez questão de olhar, seu único pensamento estava em como Hylla conseguia falar enquanto batia forte em Billy e, da forma raivosa com que pronunciava cada palavra, teria de se lembrar de agradecer a Julian quando o visse de novo. — Sua idiota.

— Só foi de repente, ok. — Reyna havia se prontificado a ajudar quando batera na porta da irmã a três dias atrás, saíra de forma tão apressada de seu apartamento que só notou que não tinha dinheiro para pagar o táxi, e que se encontrava descalça, quando chegou a seu destino.

Passara os últimos dias dando aulas de boxe gratuitamente e evitando a irmã, para que entendesse sua necessidade de não falar do assunto, mas é claro que Hylla não ligava para isso também.

"Eu fiquei a manhã inteira de domingo conferindo os materiais, a tarde ajudei com o imposto de renda e mesmo assim você não me dá um desconto!"

— E daí? — Sua irmã deu um golpe mais forte no boneco, que estava achando que mudara de nome por aqueles dias, se ele tão estivesse bem preso ao chão com toda a certeza teria caído. — O que você esperava?  — Ela se virou para encara-la, o cabelo trançado caia sobre o ombro esquerdo, a respiração estava levemente descompassada, o que era bizarro, os olhos castanhos que todos diziam serem tão semelhantes aos seus a sondavam como se quisesse encher sua cabeça com cascudos, fortes. — Que vocês se casassem primeiro? — As mãos estavam na cintura e Reyna desviou o olhar, se nem como criança gostava de se sentir como uma, adulta era ainda pior. — Em que século você vive?

— No mesmo em que Osama Bin Laden explodiu as Torres Gêmeas. — Murmurou procurando a outra fita no chão. Hylla apenas suspirou.

Reyna já havia aceitado seu fracasso no amor, tinha uma carreira promissora pela frente, amigos com que se importava de verdade, uma família, mesmo que não convencional, que sempre poderia contar, — Belona não era a mais participativa das mães, mas exército ou guerra alguma pode impedi-la de estar presente quando Hylla quebrara a perna, ou quando precisavam de conselhos, — será que o amor romântico era tão fundamental, a ponto da felicidade ser impossível de ser alcançada sem ele?

"Ganesha! O que diabo foi aquilo?"

Será que Piper estava bêbada?

"Ela não usa drogas."

Ou talvez um remédio vencido?

Mais de que tudo aquilo, o que realmente lhe causava desconforto era a falta de notícias.

Annabeth lhe mandara uma mensagem lhe pedindo desculpas, — o que de fato não entendeu, — mas fora apenas isso, sua colega de apartamento permanecia em silêncio.

Piper não tinha paciência, não sabia esperar, das vezes em que haviam se desentendido, — poucas que não conseguia denominar como brigas, mas existiam, — ela não deixara de ligar ou mandar mensagens, preocupada e ansiosa com a situação, ficar em silêncio não era algo normal.

O único motivo que lhe vinha à mente era que talvez Piper estivesse envergonhada.

E aquilo só tornava tudo pior.

— Quanto tempo você ainda vai ficar aqui? — Hylla indagou em um tom neutro, tirando as bandagens de suas mãos calmamente.

— Até amanhã. — Tinha que buscar suas roupas, já estava de férias de qualquer forma.

"Talvez seja bom visitar o Julian."

Terminou de enfaixar as mãos e se levantar, Hylla apenas fitou-a por alguns segundos, antes de rolar os olhos e jogar as bandagens em sua direção.

— Covarde. — Murmurou irritada dando meia-volta, andando até a porta.

— Infantil. — Acusou, dando mais atenção a recolher as faixas, enrolando-as com cuidado.

"Quem é você para me dar conselhos? Sádica..."

Andou até os armários encostados na parede e colocou as bandagens da irmã encima do de sua propriedade, suspirou, passando a tirar as próprias, sua vontade de treinar fora drenada. Ouvir o ranger da porta de metal fez com que olhasse para o nome da irmã no armário com escárnio.

— Será que você poderia parar de me encher o saco? — Hylla só precisava ficar em silêncio, não podia ser tão difícil! — Eu não preciso de...

— Mas eu não fiz nada. — A voz que preencheu seus ouvidos a fez parar de retirar a bandagem instantaneamente.

Completamente atônica e rezando para que fosse uma miragem, olhou para sua direita, onde o motivo de suas noites mal dormidas se encontrava. Piper estava recostada na porta, olhando para o ambiente com certo interesse.

A camiseta branca tinha manchas de tinta, em azul, laranja e preto, — provavelmente por estar ajudando na montagem do cenário de alguma peça, — a calça jeans surrada era uma velha conhecida, que ela dizia dar sorte, o colar de contas dos anos em que passara em um acampamento de verão, — onde conhecera a maioria de seus amigos, — encontrava-se em seu pescoço, o tênis azul estava sujo a ponto do absurdo, mas foi a blusa roxa amarrada em sua cintura que lhe chamou mais a atenção.

Isso além do fato dela conseguir ficar linda vestindo qualquer coisa.

— Isso é meu? — Foi quase uma pergunta retórica, conheceria aquele tom desbotado de roxo em qualquer lugar, Piper apenas sorriu para o nada, desencostando da porta e andado em sua direção.

— Eu estava com pressa e ela estava largada no sofá. — Sua colega de apartamento disse com divertimento pairando em sua voz, ainda estudando o local.

— Não estava no sofá. — Tinha total certeza disso, ela apenas sorriu outra vez, como se achasse graça de uma piada não contada, por fim parou a sua frente, ligando seus olhares.

Reyna não sabia o que dizer, muito menos o que esperar, só conseguia sentir um sentimento de burrice aflorando.

"Claro que ela não vai deixar isso para lá."

— Quando pretende voltar para casa? — Indagou suavemente, brincando com a manga da blusa em sua cintura.

Responder qual era o sentido da vida seria mais fácil. Engoliu em seco, se pondo a terminar de retirar a bandagem da mão direita.

— Ainda não sei. — Murmurou de forma automática, era uma resposta idiota e sabia disso, porém se via impossibilitada de agir normalmente, ou de forma madura.

— Você deixou seu fondue estragando, está usando as roupas da sua irmã e não foi na faculdade, tudo isso para não me ver. — Por que Piper estava sorrindo?

— Eu já estou de férias. — E por que Reyna estava irritada? Deixou a bandagem encima de um dos armários, cuidaria dela depois.

— Você poderia ter no mínimo voltado para pegar alguma roupa. — Comentou com banalidade, o que a estava deixando desconfiada. — E eu comi todos os morangos. — Levou seus olhos até os dela, abismada.

— Como conseguiu comer tudo? — Tinha comprado quase um quilo! Piper deu de ombros, como se o fato não importasse, ela desviou o olhar para os armários, a súbita timidez a deixou apreensiva.

— Desculpe. — Sussurrou, sem coragem de encara-la e, Reyna gostaria muito de saber o porquê. — Eu assustei você, não é?

Ou talvez não.

Aquilo era como uma queimadura recente em que se jogava sal, ela não tinha dez anos de idade, aquele não era seu primeiro beijo, seu orgulho fora pisoteado tantas vezes, — suas atitudes, Hylla, Piper, — será que um dia ele iria se recuperar?

— Eu fiquei surpresa, muito surpresa. — Negar era inviável. — Mas entendi. — Como gostaria que aquele beijo tivesse sido só um sonho, do tipo que sempre tinha uma vez ou outra.

Mas se beliscou vezes o suficiente para saber que era realidade.

— Entendeu? — Toda a graça, acanhamento e calma tinham se extinguido, dando lugar a uma raiva ainda contida, embora com dificuldade. — O que você entendeu?

Reyna soube naquele momento que qualquer coisa que dissesse estaria errada.

— Bom... — Pigarreou, limpando a garganta e ganhando tempo, rezando para que Odin lhe ajudasse. — Você tinha acabado de terminar o namoro. — Piper cruzou os braços e a fitou com mais intensidade, o que a fez desviar o olhar para o armário, se odiando por parecer tão amedrontada. — Posso entender que não estava em seu juízo perfeito. — Murmurou, qualquer reação que tivesse dela seria esperada.

Menos o silêncio, longo, durando até que seus olhos se encontrassem outra vez, — sabia que ela não diria nada antes que o fizesse, — se sentir uma criança era tão ruim.

— Eu juro que não sei se dou risada ou fico brava. — Piper suspirou teatralmente, o que poderia ser indício de ambos os sentimentos colocados em pauta.

— O que? — Odin não fora uma boa opção, talvez Ísis?

— Você é inacreditável. — Saboreou a última palavra, sorrindo divertida logo em seguida. — Annabeth me disse que era melhor deixar você ter um tempo para si mesma. — Sua colega de quarto rolou os olhos, como se achasse a ideia ruim.

— O que? — Do que ela estava falando? — Piper, será que você poderia ser mais específica?

— Mais? — Colocou as mãos na cintura, o divertimento flertando com o brilho em seu olhar. Reyna suspirou, sem saber mais o que fazer, Vênus. Vênus iria lhe ajudar. — Ok. — Fitou-a, cansada da discussão, mas logo o sentimento que a preencheu foi dúvida, sua colega de apartamento andou alguns passos para trás, colando as costas na parede, escorrendo até se sentar, abraçou os joelhos e a chamou com o olhar.

Reyna precisou reunir toda coragem que tinha para fazer suas pernas se mexerem.

Sentou-se ao seu lado com as pernas cruzadas, olhando para o corpo sem membros de Billy, tinha certeza que sua irmã tinha algo a ver com aquela conversa.

"Eu sei que não poderia ficar fugindo para sempre, mas ela tinha que se meter?!"

Hylla, que não tivera um relacionamento amoroso saudável em sua vida, não poderia dar nenhuma lição de moral ou concelho. Mas pensar naquilo não fazia seu coração ter um compasso normal, muito menos deixar de se sentir nervosa, tinha a impressão de que qualquer movimento brusco poderia fazer com que suas pernas corressem sem ligar para o amanhã.

— Qual o problema? — Piper murmurou com verdadeira curiosidade, seu olhar buscou a ela, que brincava com as mangas da blusa roxa alheia ao redor. — O que incomoda você? — A fala foi tão branda que a surpreendeu.

O problema de se estar apaixonada pela melhor amiga é que ela sabia como tirar as informações de você.

"Será que isso é realmente um problema?"

— É só... — Tantos porém's, incertezas, consequências, não era pessimista achar que daria errado. — Meu carma. — Sua colega de apartamento riu como se aquilo fosse uma piada.

— Você não tem um carma. — Afirmou com um tom de quem achava aquilo absurdo.

— Claro que eu tenho um carma. — Talvez fosse de vidas passadas, alguma magia negra, ou um deus entediado, Reyna não sabia qual era a fonte, mas ele existia.

— Não pode ter sido tão ruim. — Piper a encarou, deixando de mexer com a roupa, dando total atenção a conversa, usando um tom ameno que conhecia muito bem, foi sua vez de se perder em algo a sua frente, adoraria espancar Billy naquele momento.

Ela sempre conseguia o que queria das pessoas, era quase um dom esquisito, que agradecia por ser pouco usado, especialmente contra sua pessoa.

"Pode me convencer a estudar menos, voltar para casa e talvez a namorar um gnu, mas não dizer que meu carma não existe."

— Pode. — Suspirou a palavra com pesar, se lembrando de suas experiências conturbadas.

— Tipo o que? — Comprimiu os lábios, juntando todas as forças que possuía para não desmoronar por conta das risadas.

— Meu primeiro namorado era gay. — Belona sempre lhe dissera para nunca julgar alguém pela aparência, sabia que a mãe se referia a possíveis ameaças, mas levara aquela lição para outros âmbitos, portanto não vira qualquer problema nas aulas de ballet que assistia por causa dele.

— Isso não é tão difícil de acontecer. — A convicção na voz dela era tão tranquilizadora.

"Não o suficiente."

— Eu conheci uma garota quando tinha quinze. — Crystal parecia tão normal, sempre um amor de pessoa com todo mundo. — Ficou tudo bem por alguns meses. — Ambas estavam se descobrindo, concordaram em ir devagar. — Até ela começar a falar de velas, eu achei que fosse para o ambiente, mas ela queria pingar a parte derretida em mim. — Seu tom estava baixo e penoso, entretanto não deixou ter sua pitada de indignação, sempre ficava com medo quando as pessoas falavam de fetiches depois do ocorrido.

— Bem... — Já tinha conseguido deixar ela sem fala, ótimo. — Também existe gente meio sem noção, foi errado fazer isso com você sem falar nada.

— Não chegou a acontecer. — Respondeu de prontidão, até agradecia seu tom protetor, porém a vergonha fala mais alto. — E também teve uma vez em que... — Deuses, aquela tinha sido a pior.

— Em que... — Piper a incentivou com uma voz calma e compreensiva.

"A pior de todas."

— Lembra quando foi para um congresso ano passado? — Por todos os deuses existentes, e os inventados, por que?

— Aquele em que você disse que ficaria uma semana e voltou três dias depois dizendo que tinha comprado a passagem na data errada? — Conteve o impulso de olhar para ela, como poderia ter uma memória tão boa? — Sabia que tinha mentido para mim. — O tom acusador não passou desapercebido.

As vezes Piper lhe assustava.

— Eu queria aproveitar para ir no jardim zoológico de Chicago. — Era o melhor do mundo, se um dia tivesse a honra de trabalhar ali seria a veterinária mais feliz do universo. — Então fui falar com um grupo que faria a visita técnica. — A pior decisão de sua vida. — Conheci um cara que me convidou para ir a uma festa. — Ele parecia tão normal, só queria ser sociável. — Tinha tanta gente lá. — As lembranças daquela noite jamais deixariam sua mente.

— E qual o problema de ter muita gente? — A indagação vinha com tanta inocência que Reyna cogitou em parar com o relato, porém tinha total certeza que Piper não deixaria o assunto morrer assim.

— Ninguém estava usando roupa. — Ela só queria pegar uma bebida no bar e curtir a música, só isso!

— E o que aconteceu? — A pergunta quase não saiu, como se estivesse lhe contando uma história de terror.

— Eu saí correndo. — Literalmente, até a rua, depois pegou um táxi para o hotel e comprou outra passagem de volta. O suspiro de alívio captado por seus ouvidos fez com que a olhasse, incerta sobre sua reação.

— Ok, você teve experiências ruins. — Se pegar feliz em escutar que estava certa a fez se sentir idiota. — Mas você só tem 21, não é o fim do mundo. — A certeza em seu rosto a fez suspirar e encarar o teto da academia.

— Ainda. — Se naquele tempo já havia vivido tanta coisa desagradável, não queria imaginar o que viria a seguir.

— Pessimista. — Piper murmurou com um tom acusador na voz, Reyna apenas rolou os olhos.

— Não sou pessimista. — Realista se encaixava melhor.

— É sim. — Reconheceu divertimento em suas palavras, um sorriso discreto brotou em seus lábios.

— Não sou. — Afirmou com convicção, entrando no clima.

— Se eu estou dizendo que é... — Ela deu um soquinho em seu braço, fazendo a estudante de veterinária rir. — É porque é.

— Ok, senhorita dona da verdade. — Sua colega de apartamento riu suavemente. O silêncio as engoliu por alguns momentos, porém ele era tão leve que se fazia bem-vindo e confortável.

"Ok, foi idiota da minha parte sair correndo daquele jeito."

Piper era sua amiga acima de tudo.

— Eu nunca faria isso. — O comentário displicente a confundiu, buscou o olhar dela com o seu, que no momento se ocupava brincando com as mangas de sua blusa.

— O que? — Não fazia ideia do que ela estava falando.

— Pingar parafina líquida em você. — A estudante de artes cênicas sorriu para o tecido, apenas continuou a observa-la, sem saber o que responder. — E com toda a certeza nunca a convidaria para uma orgia.

— Isso é ótimo. — Sussurrou, fingindo não entender o que aquilo queria dizer. Piper suspirou alto, fingindo aborrecimento.

— Eu tento ser legal com você, ir devagar, mas isso não está dando certo. — Semicerrou os olhos quando ela virou o corpo em sua direção, os olhos brilhando em divertimento, seu instinto lhe dizia que tinha algo errado.

Talvez fosse o fato do metal dos armários a impedindo de se afastar.

— Você é tão tímida. — O riso em sua voz fez com que uma de suas sobrancelhas arqueasse.

— Não sou. — Afirmou, certa do que dizia, mas deixou que suas costas deslizassem para a lateral do armário quando Piper se aproximou.

— Desesperada. — Arfou, indignada, flexionou os joelhos, tentando fazê-la estacar, sua colega de apartamento rolou os olhos e vestiu uma máscara carrancuda. — Esquiva, então. — Abraçou seus joelhos e se inclinou, parando apenas a centímetros de seu rosto.

Reyna se viu incapaz de se mexer ou mesmo respirar, Piper simplesmente a encarou com um bico, como se não estivesse entendendo nada. Foram segundos eternos até vê-la suspirar e se aproximar, encostando o rosto em seu ombro, foi quase por instinto que lhe cedeu espaço e deixou-se envolver pelos braços dela, imitando seus movimentos.

— Qual é o problema? — Indagou em um sussurro, rente ao tecido da blusa de sua irmã. — De verdade. — Suspirou, afagando suas costas enquanto tentava acalmar o próprio coração.

— Eu estou com medo. — Admitiu no mesmo tom, tinha que entender que em alguns momentos o orgulho era um estorvo.

— Do que? — Pode sentir os dedos de Piper a apertarem mais por alguns segundos, sua voz era de alguém que poderia dormir a qualquer momento.

Alguém confortável.

— Relações são complicadas. — Principalmente as amorosas. — É mais seguro ficar com o que já temos, não quero perder isso.

— Quem foi que disse que você vai perder? — O tom emburrado a fez sorrir. — Eu sou expert em relacionamentos. — Riu do convencimento que notou em sua voz.

— Não é não. — A não ser que a habilidade tivesse aflorado a poucos dias.

— Mas sempre sei quando alguém vai ou não dar certo. — Sua colega de apartamento levou uma das mãos a borda de sua blusa, enrolando o tecido solto. — Fui eu quem disse ao Léo para desistir da Hazel.

— O Léo gostava da Hazel? — Nunca tinha notado.

— Percy e Annabeth se gostavam desde sempre, mas precisei trancar eles em uma sala para deixarem a idiotice de lado. — Ok, isso tinha sido muito mais surpreendente. — E eu apresentei o Léo e a Calypso.

"Você ajudou algumas pessoas, mas..."

— E o Jason? — Se ela era tão boa assim porque não previu aquele final?

— Teria dado certo se não tivéssemos nos conhecido. — Comprimiu os lábios, sem saber o que dizer, ou como se desculpar. — E se você vier com esse papinho de desculpas vou quebrar sua cara. — Precisou de três segundos para repassar a frase irritada em sua mente e rir.

Piper lhe conhecia muito bem.

Sua colega de apartamento se remexeu em seus braços, se afastando alguns sentimentos para encara-la.

— Se eu estou dizendo que dá certo, é porque dá. — Murmurou com uma voz calma e distante, talvez pouco consciente dela, já que a concentração parecia estar toda em observa-la.

Reyna só não sabia o porquê.

— O que foi? — Disse no mesmo tom, sem saber o que esperar, sentindo um súbito nervosismo, ela lhe entregou um sorriso divertido e levou uma das mãos até seu rosto, acariciando sua bochecha levemente.

— Estava pensando se você correria caso te beijasse de novo. — Semicerrou os olhos, sem conseguir ignorar a cutucada forte no orgulho.

— Como eu faria isso? — Indagou rolando os olhos, Piper apenas riu baixo por alguns segundos.

— Tem razão. — A graça sumiu gradativamente de sua voz, encurtando a distância que as separava. — Tem toda a razão. — A mão em seu rosto escorreu até a gola da blusa de Hylla, Reyna dispôs uma das suas no pescoço, subindo até o rosto.

Quase sem que notasse, como um instinto necessário, mordeu suavemente o lábio inferior de sua colega de apartamento, atestando a veracidade daquele contato, Piper não parecia adepta a muita burocracia, pois livrou-se do aperto e juntou suas bocas, explorando como se necessitasse do contato.

Queria aquilo, queria tanto aquilo, que quando pode ter lhe pareceu um mero sonho, realidade paralela, uma fissura no tempo, estava acostumada a ter seus desejos como utópicos, mas talvez, — apenas talvez, — nem todos precisassem ser assim.

Foram meses, anos, reprimindo sua vontade de toca-la, dizendo a si mesma que seus sentimentos eram um problema, — o que de fato eram, — que deveria deixar para lá, todavia senti-la em seus braços fazia com que todo aquele tempo valesse a pena.

— Ei! — Separaram-se de susto, tanto pelo grito de Hylla quando pelas batidas na porta metálica. — Energia elétrica custa caro e eu não estou ouvindo vocês conversarem!

"Espera..."

— Você estava escutando atrás da porta?! — Aquilo só podia ser brincadeira! — Hy...

— Vamos. — Piper suspirou a resposta, se levantando, o sorriso ameno em seu rosto deixava claro que ela não se importava com sua irmã sendo idiota. — Vamos para casa.

Sua colega de quarto lhe ofereceu a mão, suspirou antes de aceitar a ajuda para se levantar.

Piper a puxou suavemente para a porta, o sorriso suave e feliz acendeu outro em seu rosto.

Hylla poderia esperar, — iria lhe surrar, não tinha prometido nada a ninguém, — a única coisa que importava no momento é que estavam voltando para casa.

Juntas.


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Notas finais do capítulo

Com essa estória acho que é melhor pra mim desistir das one-shots u.u

THE END
Para as pessoas que chegaram até aqui: esperam que tenham conseguido se divertir, é um texto bem despretensioso que fiz para espairecer um pouquinho, portanto não tem nada fora da caixinha XD
Por fim, digam o que acharam, críticas e sugestões são sempre bem-vindas ^^

Xau, serumaninhos o/



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