Mudanças escrita por Temperana


Capítulo 1
Capítulo Único: This changes everything


Notas iniciais do capítulo

Oi meus Docinhos Azuis lindos!
Quanto tempo! Retornei com uma one porque aquela quarta temporada de Race to the Edge exigia isso. Gente, que temporada linda!!
Espero que gostem da one, mais informações nas notas finais... Até lá!



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This changes everything (Isso muda tudo)

 

Avistei ele ao longe na plataforma dos estábulos, observando o movimento de seus cabelos castanhos, quase ruivos, que dançavam com o vento.

Era engraçado o fato de que aquele lugar — aquele simples lugar que servia de início para todas as missões dos pilotos, que sempre decolavam de lá — tivesse se transformado no início de tudo para mim também. Aquela simples plataforma de madeira passou a ser como um marco dentro de mim, algo que ficaria tatuado para sempre, e que tinha certeza de que ficaria marcado dentro dele também.

A noite já banhava o céu do Domínio do Dragão e o silêncio parecia, de forma contraditória, cantar uma canção melancólica. Tudo parecia estar finalmente bem depois de tanto tempo e de depois de tantas lutas. Um pequeno momento de paz.

Ou ao menos o que parecia ser um momento de sossego.

A guerra contra Viggo se estendia mais do que podíamos suportar. Soluço estava cada vez mais atolado de pensamentos e de incertezas, rodeado de conspirações e desejos de poder fazer mais. Ele dormia, mas não conseguia descansar ou desligar. Estava sempre pensando no que de ruim poderia ocorrer se ele fechasse os olhos.

Eu tinha medo de que ele enlouquecesse com tudo o que estava acontecendo, mas às vezes ele apenas sorria e eu me lembrava do quanto ele era forte. Mais forte do que eu era em muitas situações, menos impulsivo na maioria das vezes em que eu nunca iria aguentar esperar.

Por mais que sua paciência esgotasse às vezes, Soluço tinha um autocontrole até mesmo invejado. Mas isso esgotava todas as suas forças.

Caminhando para me sentar ao seu lado, me lembrei de um acontecimento de algumas semanas antes. Eu sorri apenas com o pensamento daquele pôr-do-sol, quando Soluço acabou por confessar seus sentimentos para mim. No momento que eu e ele julgamos perfeito.

Quando ele me beijou e foi mais que perfeito.

Não vou negar que, como Soluço, eu também não pensei várias vezes na possibilidade de ficarmos juntos. Passamos por muitas coisas ao longo dos anos que fortaleceu a nossa amizade, nossa conexão. Eu e ele parecíamos formar uma espécie de organismo vivo, que funcionava em conjunto. Éramos guerreiros que se entendiam na batalha.

Mas, naquele momento, eu vi que um amor correspondido é muito melhor do que qualquer coisa que eu imaginei. Do que qualquer conexão que imaginava possuir com ele. Estávamos unidos por muito mais do que simples pensamentos alinhados, mais do que saber o que o outro pensava ou faria no calor da batalha.

Os sentimentos nos levavam muito mais além.

Finalmente me sentei ao seu lado, e Soluço se virou para mim com um sorriso. Ele entrelaçou sua mão na minha e eu sorri. Não éramos um casal muito grudento, até porque sempre havia algum problema para solucionar. Além disso, não havíamos contado para os outros sobre a nossa situação ainda, o que nos levava a ser mais discretos.

Soluço e eu acabamos não conversando sobre contar para alguém ou externalizar nossos sentimentos, até porque aquilo pertencia mais a gente do que a qualquer um. Nos contentávamos em sem que podíamos arranjar um tempo de tudo aquilo, passar alguns momentos juntos, apenas aproveitando a presença do outro.

Normalmente, entrelaçar minhas mãos nas suas eliminava qualquer preocupação que eu tivesse tido naquele dia. Ele tinha um efeito poderoso sobre mim.

— Hey, você parece pensativo. Algum problema? — eu perguntei, fazendo com que ele parasse de olhar para o seu encarasse meus olhos.

— Nenhum, só estou pensando em algumas coisas — ele percebeu que eu queria mais respostas e sorriu. — Resumindo, estou pensando em um plano para recuperar o Olho de Dragão e finalmente acabar com isso tudo de uma vez por todas.

— Um plano? — eu encarei a lua, assim como ele. — Não sei se os seus planos são tão confiáveis assim — eu ri e ele me acompanhou. — Eu quero saber mais, me conte.

— Não tenho nada elaborado ainda. Só penso em atacá-lo em sua base, durante a noite. Precisaríamos ser silenciosos e discretos, não podemos admitir erros.

— Isso é um pouco superficial para um plano — eu ponderei.

— Eu sei, eu disse que estava pensando, é apenas um esboço. Exige pessoas para neutralizar, ao mesmo tempo, todas as partes da base dele. Isso exige muito planejamento e disposição.

— Os Beserkers e a Equipe A podem ajudar, Soluço — eu disse. — Não poderíamos fazer isso sozinhos de qualquer forma.

— Eu sei que não podemos. Seria suicídio.

— Olha, eu posso dar sugestões para tornar o seu plano menos suicida e assim poderíamos encontrar uma alternativa para todos os furos que encontrarmos. Eu posso te ajudar, Soluço, não tem que fazer tudo sozinho também.

— Eu não poderia. E você também não deixaria — eu encarei seus olhos e sorri.

— Faço isso porque sou uma das suas melhores guerreiras, certo? — ele acenou com a cabeça, concordando. — Então eu tenho ótimas ideias. Mas não é só por isso, é que eu sou uma ótima namorada, sabe — ele riu com o comentário e eu acabei sorrindo. — É sério.

— Não sabia que você tinha namorado, Astrid Hofferson — ele cruzou os braços e sorriu.

— Pois é, ele ainda não me pediu em namoro, sabe. Eu sei que ele está esperando o momento perfeito para isso, porque ele é assim. E eu entendo e sou apaixonada por esse jeito dele de ser. Estamos no meio de uma guerra de incertezas e ele quer apenas o melhor para todos os dragões. O melhor para nós.

— Astrid... — ele começou a dizer, mas eu coloquei meu dedo indicador em seus lábios.

— Mas nada muda o fato de que eu sou a sua namorada — eu disse sorrindo.

Ele pegou minha mão e sorriu. Enquanto eu pensava se deveria roubar um beijo ele já havia colado seus lábios nos meus. Parece que alguém havia aprendido comigo. Eu sorri entre o beijo.

E, quando nos separamos, eu me perdi novamente em seus olhos verdes brilhantes que pareciam duas esmeraldas. E isso era algo que se tornava, cada vez mais, um hábito. Me perder em seus braços e descobrir quem eu amava ser com ele.

**

Abri a porta da cabana de Soluço com força. Ele me encarou confuso, parando de guardas algumas coisas em uma caixa grande, ajoelhado no chão.

— Por favor, me diga que, quando voltarmos para Berk, Melequento e os gêmeos irão trabalhar bem longe de mim — eu implorei.

— O que houve agora, milady? — ele perguntou rindo e se levantando do chão

— Eu não estou achando nada engraçado, Haddock. Eles estão me tirando do sério mais uma vez. Primeiro foi a língua que eles inventaram, agora são as coisas sem sentido algum que eles falam. Além da total incapacidade de fazer algo certo.

— Eu já me acostumei com isso — ele disse e eu respirei fundo. — Senta um pouco e respira. Quando voltarmos para Berk, eu vou pensar numa solução, se você quiser.

— Eu só estou falando isso da boca pra fora, você sabe que eu gosto deles, são de um jeito ou de outro a minha família. Mas às vezes eles me testam até o limite.

— Famílias são assim — eu me sentei na cadeira da sua mesa de projetos.

— O que você está fazendo?

— Empacotando coisas. Vamos ter que usar um barco para levar isso tudo para Berk, pelo visto — ele suspirou. — Não acredito que estamos partindo.

— O Domínio está correndo perigo. O vulcão pode explodir a qualquer instante, mais uma vez. E isso não será nada bom. Já conseguimos reagrupar os dragões em outras ilhas, o que é um grande começo. Mas o projeto de Ryker e Viggo deixou suas consequências. Mas vai dar tudo certo, Soluço. Vamos recomeçar.

— Passamos muitas coisas por aqui — ele sorriu, olhando ao seu redor.

— Sim. Muitas coisas. E continuaremos nossas aventuras. Descobrindo novos lugares para explorar, se você quiser. Cuidando de Berk. Fazendo a diferença. Mas tudo irá dar certo, é só acreditar.

— Tenho a impressão que já tivemos essa conversa antes — eu sorri.

— Exige muita força convencer você de alguma coisa, Soluço. Acho que encontrei uma pessoa ainda mais teimosa do que eu.

Me ofereci para ajudá-lo a guardar algumas coisas da mesa e ele agradeceu. Eu encarei os desenhos e os projetos em sua mesa, enquanto ele voltava a guardar algumas coisas na caixa, ajoelhado no chão.

Nos papéis havia vários modelos de caudas e de celas, mas havia também retratos de Banguela e até mesmo de mim. Eu sorri, observando um desenho meu aos 10 anos mais ou menos. Era incrível e cheio de detalhes. Ele sempre foi muito talentoso.

Lembrei-me de quando vi Soluço quase ser morto por um dragão pela vigésima vez na vida — ao longo dos anos as ocasiões foram se tornando frequentes conforme buscávamos dragões selvagens dos mais variados tipos. Mas naquela vez, ele havia salvado a minha vida, a de todos de Berk.

Foi ali que percebi o quanto eu gostava dele. Ali eu vi que desenvolveria algo muito forte por ele e que anos mais tarde, depois de negar por muito tempo, eu descobri que era amor. Eu fui apaixonada por Soluço Haddock por quase uma vida sem querer assumir que sim.

— O que você está vendo aí? — escutei Soluço perguntar, e o barulho de seus passos se aproximando ecoaram na cabana.

— Seus desenhos — eu respondi, e ele me pegou observando o meu retrato.

— Ah, você está vendo isso — ele corou levemente e eu sorri. — Eu só tinha 10 anos, em minha defesa.

— São muito mais perfeitos do que eu faria com 19 anos, então não tem do que se defender. Só não entendo uma coisa — ele encarou meus olhos. — Por que eu?

— Você ainda pergunta? Sabe o que você é para mim, Astrid. Isso começou há muito tempo atrás — ele apontou para o desenho.

— Então você me desenhava — senti um aperto no peito. — Em todos aqueles anos que eu assistia eles caçoarem de você e não fazia nada, você estava apaixonado por mim.

— Astrid... — eu o interrompi.

— Não diz nada, você sabe que é verdade. Eu não fiz nada por você, nunca demonstrei o que sentia. Eu acabei me tornando fria por não entender o que eu sentia. Como você poderia gostar de mim?

Ele pôs sua mão sobre a minha e me puxou para um abraço. Não sabia como, mas ele tinha cheiro de mar. Provavelmente oriundo dos treinamentos malucos dele com Banguela, muitas vezes suicidas. Eu gostava de cada coisa nele. De cada cheiro. De cada gesto.

— Você foi a primeira que me enxergou como eu sou. Você sabia quem eu era antes mesmo de eu descobrir. Sabia de que lado que eu estava.

— Isso não foi te entender. Isso foi gritar com você, humilhar você — eu retruquei, com certa culpa.

— Faz parte da sua personalidade dar alguns gritos para que a gente enxergue a realidade — ele puxou delicadamente meu queixo para que eu encarasse seus olhos. — A sua personalidade única e encantadora. E nem em um milhão de anos eu me sentiria humilhado por você, Astrid. Nunca pense nisso.

— Eu nunca amei ninguém na vida como eu amo você — eu disse e fechei os meus olhos. — Eu não entendia o que eu sentia. Eu me impedia de sentir, eu me defendia do que parecia que iria me machucar.

— Eu sei disso, mas nada daquilo importa mais. Nós estamos juntos agora, é somente isso que importa pra mim.

Ele enxugou algumas lágrimas que deixei cair involuntariamente com toda essa conversa boba sobre passado. Boba porque não se pode mudá-lo mais. Então, pra quer sofrer com ele, se podemos ser felizes com o presente? Abandonar sofrimentos e escolhas passadas é o primeiro passo para sermos felizes.

— Eu tive uma ideia — ele disse em um sussurro.

— Que ideia? — eu perguntei no mesmo tom.

— Você está livre de noite ou tem patrulha? — eu o encarei, desconfiada.

— Não, Perna de Peixe e Melequento estão na patrulha hoje. O que você está aprontando? — ele riu.

— Nós vamos nos despedir do Domínio em grande estilo — ele disse. — Voando.

— Você gosta de voos românticos ou é impressão minha? — eu ouvi a sua gargalhada e sorri. — Então, se é assim, vamos nos despedir em grande estilo.

— Agora, vamos resolver essa situação com os gêmeos e o Melequento — ele disse com um sorriso. — Sem assassinatos no Domínio até quando nós irmos embora, é uma meta que criei agora — eu ri, vendo a sua tentativa de me puxar para fora.

— Não tão rápido, Haddock — eu o puxei pelo braço e pelo seu sorriso percebi que ele sabia o que eu iria fazer.

Quando eu o beijei nada mais precisava ser dito. Ele era tudo pra mim e concordava com que ele me disse um tempo antes em uma parte da floresta do Domínio onde eu não podia enxergar, mas podia sentir sua presença ao meu lado. Onde eu sabia que ele estaria comigo até o fim.

É, ele estava certo. Sempre existira um Soluço e uma Astrid que se amavam.

**

— Por que me trouxe aqui tão perto do vulcão? — eu perguntei confusa. — Não entra em seu padrão de segurança para nós, eu acho

Soluço encarou meus olhos e sorriu enigmaticamente. Ele me puxou para a beira da saliência que havia na montanha. Perdi o fôlego com a vista da lua beijando o mar. Fechei os olhos sentindo a leve brisa marítima que corria naquela noite.

— Achei que não seria tão perigoso e Perna de Peixe disse que mão corremos risco de o vulcão derramar antes do tempo. Ainda temos duas semanas em segurança, segundo a Mala, depois disso ele não vai se segurar mais. Embora o bebê Eruptidão esteja ajudando bastante, é nosso limite.

Ele encarou o cume da montanha preocupado e eu entrelacei minha mão na sua. Ele sorriu pra mim e retirou minha franja dos meus olhos.

— Vai ficar tudo bem — eu disse.

— Eu sei. Tudo dá certo no final. Só somos um pouquinho azarados.

— Um pouco? — nós rimos e ele me abraçou.

Senti suas mãos acariciarem minha cabeça lentamente e tentei me concentrar em algo que não fosse sua presença ao meu lado.

— Por que me trouxe aqui? — eu perguntei.

— É o momento perfeito — ele disse simplesmente.

Tentei absorver suas palavras e senti meu coração acelerar. Afastei-me delicadamente de Soluço e encarei seus olhos. Eu sabia que aquele viking iria aprontar alguma. Tentei manter a calma, mas tudo estava confuso ao meu redor.

Aquilo tudo era o que eu estava pensando?

— Quando eu derrotei o Morte Rubra, papai me deu uma joia que estava há muito anos na família. É tipo uma tradição para os Haddock que ela seja entregue para os descendentes homens e assim perdure para sempre. Meu pai nunca a confiou a mim antes, afinal eu era um pouco desastrado.

— Ainda é — ele riu e entrelaçou nossas mãos novamente.

— O fato é que ela era sua antes mesmo de eu saber disso. Ela devia ser entregue para aquela que eu confiaria o meu coração e para quem eu o entregaria junto a ele. E em troca receberia o da outra pessoa para cuidar e proteger.

Ele se aproximou um pouco mais e senti nossas respirações se misturarem.

— Não a trouxe comigo para o Domínio, porque temia perdê-la, e também porque eu precisava criar coragem para entregá-la para você. Quando você quase morreu com a Praga de Odin, eu só pensava no quanto eu havia sido covarde e não havia entregado meu coração para você. Se você morresse, meu coração morreria junto. Pois sem saber eu o entreguei para a guerreira mais forte da nossa tribo. A mulher mais linda, mais corajosa, perfeita.

— Eu já havia entregado o meu para você há muito tempo — eu sussurrei para ele.

Tive que conviver com as lágrimas que insistiam em se libertar. Ele beijou levemente meus lábios e enxugou minhas lágrimas antes de continuar.

— Papai trouxe para mim o anel depois disso tudo. Mas, novamente, as circunstâncias não permitiram que eu o entregasse para você. Somos azarados, como eu já mencionei. Então, quando finalmente dizemos tudo que guardávamos um para o outro, eu não estava com o anel. Sabe como é, eu ainda sou meio desastrado.

Eu ri e ele pegou em seu bolso uma joia incrivelmente linda. Um anel simples com uma única pedra azul, pequena e brilhante.

— O meu coração é seu. Minha vida é sua, Astrid. Eu só peço que me aceite como eu sou, que me ame como eu te amo. Que um dia aceite se casar comigo. Que nunca desista de mim. Astrid Hofferson, você aceita namorar comigo?

Encarei seus olhos brilhantes. Ele cumpriria cada uma de suas promessas. E eu cumpriria cada uma as minhas. Porque escolhi amá-lo pelo resto da minha vida. E aquele seria apenas o primeiro “sim” que eu diria para ele.

— O meu coração é teu. Minha vida é sua, Soluço — ele sorriu e acariciou meu rosto delicadamente. — Eu seria louca se não dissesse sim.

Ele beijou minha mão direita e descobri que o anel cabia perfeitamente em meu dedo, como se fosse mágica. Isso seria algo que eu perguntaria para ele mais tarde.

Porque naquele momento, eu só queria sentir seus lábios sobre os meus. Para sempre.

**

 

Vários momentos nesses dois anos que se passaram poderiam ser compartilhados por mim, mas isso é para outra história. A parte mais importante dela está aqui, neste relato que estou fazendo.

Soluço tinha algo romântico dentro de si, algo que permitia que ele dissesse o que o seu coração pedia, fizesse o que ele ordenava. E que transformasse as nossas vidas em algo único, belo, repleta de momentos perfeitos.

Aquele viking conseguiu superar todas as dificuldades que a vida trouxe pare ele, e foram inúmeras. Demorou um tempo para que ele se recuperasse de tantas bofetadas, mas ele se tornou alguém incrível que eu admirava ainda mais.

Valka, a mãe de Soluço, ajudou muito nesse processo de superação de uma perda pelo qual ele passou. Perdi a conta de quantas vezes Stoico havia sido como um pai para mim e sofria junto com a falta dele. Sorria ao me lembrar de suas frases nada discretas.

Porque sim, ele já me considerava sua nora. Faltava apenas o pedido. E era isso que Soluço estava aprontando naquela vez.

Soluço conseguiu atender o meu pedido, portanto eu não trabalhava com os gêmeos ou com o Melequento. Eles haviam ficado responsáveis pela academia e também por algumas obras que a Ilha precisava e que eles ajudavam, às vezes. Mas no fim, eles me irritavam menos, algo que eu agradeço profundamente.

Eu, entretanto, trabalhava com Perna de Peixe nos Estábulos, cada vez maiores com as migrações de dragões para Berk. Valka se juntou a nós e fazíamos tudo que estava ao nosso alcance para cuidar dos dragões. E eu amava o que fazia.

Naquele dia, Soluço tinha uma reunião com os lideres dos clãs. Meus pais estavam em Berk e foram no meu lugar. Eles viviam viajando e quase nunca estavam presentes na Ilha. Mas mesmo assim se preocupavam comigo. E eu não podia culpá-los. Os Hoffersons costumam ser assim, mas eu nunca faria aquilo com um filho meu, é claro.

Quando estava saindo da Ala dos Naders encontrei Soluço entretendo os Sombras Mortais, dragões raros e incríveis. Tinha três cabeças e habilidades excepcionais. Eles desapareciam e apareciam novamente enquanto ele fechava os olhos.

Soluço, porém, tinha uma audição digna de dragão e sempre conseguia achá-los. E isso deixava os dragões intrigados e animados. Ele tinha uma habilidade, um dom, incrível.

— Olá, menino dos dragões — eu chamei a sua atenção.

Soluço reparou em mim e quase foi derrubado por um dos Sombras Mortais.

— Calma aí, Penumbra — ele disse com um sorriso. — Prometo que volto para brincar com vocês, mas preciso ir agora — senti a doçura em sua voz e sorri.

—  O que o senhor precisa, chefe? — eu perguntei, enquanto ele caminhava em minha direção.

— Preciso te sequestrar — ele disse rindo.

— Pode ser um pouco mais complicado do que você imagina, Haddock. Mas eu posso ir por livre e espontânea vontade.

— Então vamos voar — ele disse com um sorriso desafiador.

Ele estava aprontando alguma.

**

Abri meus olhos quando já estávamos no chão. Gostava de sentir tudo com mais intensidade enquanto voava com Soluço. Na maioria das vezes fechava os olhos e só os abria quando chegava ao chão.

Quando chegamos à Clareira eu tinha certeza de que ele estava planejando alguma coisa. Nós desmontamos e percebi que estava sem o meu machado e Tempestade havia ficado nos estábulos. Quis bater em Soluço por me desconcentrar daquela forma.

— Se está se preocupando com Tempestade, ela está em boas mãos — ele disse, encarando meus olhos.

— O que você está aprontando, Soluço? — eu perguntei, estreitando os olhos e cruzando meus braços.

— Não é nada demais, Astrid — ele disse com um sorriso misterioso. — Não posso passar um tempo com a minha namorada?

— Sei — respondi ainda desconfiada.

Ele descruzou meus braços, balançando a cabeça com um sorriso e pondo as suas mãos em minha cintura. Eu coloquei os meus braços em torno do seu pescoço e sorri, sentindo o seu perfume, encontrando um aroma diferente daquela vez.

Cheiro de rosas.

— Você é muito desconfiada.

— E você está com cheiro de flores — ele encarou meus olhos, incrédulo com a minha constatação. — Eu sou perceptiva e meus sentidos são aguçados.

— Então olhe para o lago.

Várias pétalas de rosas, de várias cores que não sabia que existiam, estavam espalhadas na água do lago. Banguela corria em volta dele animado, como se esperasse minha reação de aprovação. Eu sorri para o menino dos dragões ao meu lado, totalmente encantada. Ele abraçava a minha cintura meio de lado e eu encostei minha cabeça em seu ombro.

— Confesso que estava aprontando algumas coisas — ele disse.

Eu ri e o beijei inesperadamente. Ele sorriu e se afastou gentilmente. Aquilo não era tudo, eu sentia isso.

— O que você está aprontando, Haddock? — eu perguntei novamente em um sussurro.

— Você sabia que me apaixonei ainda mais por você nesses últimos meses? Você realmente pegou meu coração para sempre, Hofferson — eu ri. — E eu agradeço muito por ter cuidado dele.

— Era o mínimo que eu podia fazer. Eu amo você, sabe disso — ele sorriu. — E prometi que ia cuidar dele — mostrei o anel em minha mãe, reforçando nossa promessa.

— Eu sei que sim. E te amo muito mais por isso, mais do que a mim mesmo. E é por isso que estava procurando mais um momento perfeito para nós — ele segurou meu rosto delicadamente em suas mãos. — E eu finalmente vou poder realizá-lo.

— Soluço, o que está acontecendo? — eu perguntei confusa.

Ele entrelaçou minhas mãos e beijou minha mão direita, em cima do anel que ele havia me dado anos antes quando me pedi em namoro.

— Te dei esse anel porque pedi que aceitasse o meu coração, que aceitasse ser minha namorada. Mas eu disse que queria que um dia aceitasse ser minha esposa — senti minha respiração acelerar. Ele se ajoelhou lentamente, segurando minhas mãos. — Então é por isso que eu te trouxe aqui, onde tudo começou. Para renovar nossos momentos. Então, você quer se casar comigo, Astrid?

Eu o encarei de joelhos sem reação. Não sabia o que fazer, algumas lágrimas queriam ser libertadas, mas estaquei no mesmo lugar. Isso era algo que Soluço sempre causava em mim, uma sensação de confusão, de ter as emoções a flor da pele.

De ter a certeza de que viveria bem ao seu lado pelo resto da minha vida.

Senti meus impulsos responderem por mim. Meu cérebro rivalizava com o coração às vezes. Dei um leve soco — em minha concepção — em seu ombro e ele me encarou completamente confuso. Ofereci a ele minha melhor expressão de raiva.

— Isso é por demorar tanto para pedir. Eu sei que você procura momentos perfeitos, mas achei que você já havia desistido — eu disse e ele pareceu relaxar a posição ao entender.

— Astrid... — eu o interrompi.

— Calado, Haddock. Isso aqui é pela minha resposta.

Puxei Soluço para cima e seus lábios encontraram os meus em questão de segundos. Senti o seu sorriso e não pude evitar o meu também. Ele se separou de mim e senti suas mãos em minha cintura, de forma alguma querendo distanciar nossos corpos.

— Eu te amo para sempre, milady — ele disse em um sussurro, provocando o meu sorriso.

— Meu coração é teu. Minha vida é você, Soluço — ele encarou meus olhos com um sorriso, também se lembrando daquelas palavras. — Eu só peço que me aceite como eu sou, que me ame como eu te amo. Que nunca desista de mim. Porque eu aceito me casar contigo. E viver o resto da minha vida com você.

Senti Soluço me levantar do chão e soltei uma gargalhada enquanto me apoiava em seus ombros. Eu sentiria aquela felicidade por muito tempo.

Porque sim, cada momento das nossas vidas trouxeram mudanças.

Mais isso... Isso muda tudo.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Não se esqueçam de deixar um comentário dizendo o que acharam!
Tenho ideia para outra one, mas não se poderia escrevê-la. Disse lá na página que estou tecnicamente em hiatus. Consegui postar por causa do Carnaval. Talvez na Páscoa? Ou antes. Não sei, mas uma nova one está por vir.
Se vocês não sabem o que está acontecendo, eu estou estudando nesse ano para vários concursos e estou um pouco atolada. Mas postarei o meu livro no Wattpad em breve. Então fiquem ligados lá na página!
Link: https://www.facebook.com/TemperanaNyah/
Já agradeço a quem comentar, favoritar ou recomendar. Vocês são demais! Até a próxima e mil beijos!
Temp ♥ ♥