Meiko

—O capitão tem uma kenshin?

Estava tão espantada como o Tenma. Pensei que nenhum deles usavam, pelo menos todos me pareceram admirados quando a do idiota fez a sua surgir. O que se estava a passar afinal? Como é que ele conseguia fazer aquilo? Olhei para todos os jogadores da Raimon... Pareciam tão chocados quanto eu.

—Oh!- olhei logo para o treinador adversário que erguia os braços, antes de os baixar repentinamente com uma cara de louco- Uma ressonância de kenshins!

O Lancelot do Tsurugi deve ter despertado a natureza que havia no fundo do coração desse rapaz!- aquele homem era arrepiante, mas ainda assim deixou-ma a saber duas coisas: que não batia muito bem, e que o idiota de roxo se chamava Tsurugi.

—Que interessante.- E que convencido. O sorriso foi logo estampado na cara dele antes de tornar a sua kenshin de novo num vulto negro.

—Sou eu quem deve defender... A Raimon!- disse-o em alto e bom som para que todos ouvíssemos, antes de gritar uma vez mais.

—Capitão!

—Tenma!- estava preocupada com o facto dele se pôr no meio deles.

—Afasta-te!- mas ele não se moveu. Algo se passava com o capitão. Aquele tom de voz não parecia de algo que tinha revelado alguém tão calmo até agora- Afasta-te!- e de repente empurrou o Tenma que caiu no chão.

Olhei para o Tsurugi... Fez um olhar de cumplicidade ao treinador que não gostei nada, antes de sorrir.

—Eu sou o capitão da equipa, por tanto eu tenho que defender o futebol.

—Achas que vais conseguir?- o sorriso só aumentava na sua face. Estava assim tão convicto de que ia vencer?- Porque serei eu quem te vai deixar em pedaços.

Uma vez mais a sua kenshin apareceu antes dele levantar a bola porque a rematar com toda sua força. Porém, a do capitão também fez o seu movimento juntamente com ele, que parou a bola com um outro remate. Já as kenshins pareciam lutar entre si; o cavaleiro com a espada e o maestro com o arco dourado a servir de escudo. A força delas era tanta que sentia o seu poder por todo o meu corpo. Esta despertar a minha parte divida a qual lutava para não mostrar, mas estava difícil fazê-lo. A luta entre elas eram muito poderosa. Ao parar a bola, o capitão fê-la subir antes de saltarem os dois para a apanhar. Esperava que o capitão a conseguisse ter primeiro que ele.

—Acabou!- olhei para o banco adversário ao ouvir o grito do treinador deles. De seguida coloquei os olhos na disputa e vi que o capitão ficara com a bola, mas só porque o Tsurugi desviara a pé propositadamente.

—Porquê?- ao que parece eles estavam tão espantado como todos nós.

—A partida acaba aqui.

—Como? Porquê?- quem era ele para decidir aquilo?

—Retiramo-nos do jogo.- Começou a caminhar para dentro do campo indo ao encontro dos seus jogadores que se reuniram junto a ele.

—Estão a fugir?!- o capitão parecia o mais indignado com tudo aquilo.

—A fugir?- sorriu antes de se voltar para nós- Na verdade estamos a poupar-vos a vida.- Que convencido- Mas a decisão está tomada. Shindou Takuto, a tua presença salvou a existência da Raimon.

O Tsurugi levantou rapidamente a bola atirando-a para bem longe deles antes de começarem a sair do estádio. O que mais me irritava naquele situação toda é que ainda sorriam como se tivessem saído vitoriosos de algo. Como os odiava!

—Seus grandes cobardes!

—Capitão!

Mal ouvi o Tenma gritar, olhei para o lado e vi-o correr até ao Shindou. Levantei-me e fiz o mesmo, tentando correr com as minhas últimas forças. As minhas pernas só me queriam deixar andar. Todos se aproximaram a correr, chamando pelo companheiro desmaiado no campo de jogo. O treinador Kudou aproximou-me também e pediu-nos que saíssemos da frente para que o agarre e levasse nos braços até à enfermaria, acompanhado por um dos defesas da equipa. E quando dei pelo Tenma, já estava novamente junto de bola, de cocaras em frente a ela. Sorri e caminhei até ele. De certeza que também estaria a pensar sobre o que acabara de acontecer.

—Tenma!- ao ouvir uma rapariga chama-lo, parei e olhei para ela, vendo que era uma aluna da Raimon, de curtos cabelos azulados e com um grande sorriso nos lábios.

—Aoi! Estavas aqui?

—Sim. Que grande surpresa tudo isto. Mas tu estás bem?

—Sim, estou bem. Isto não foi nada.- De seguida, vi-a encarar-me continuando a sorrir.

—E tu?- apontei para mim mesma.

—Eu?

—Sim.- Riu-se- Vi que tu e o Tenma jogaram juntos o tempo todo e também pareces ter saído um pouco magoada. Estás bem?

—Estou bem, sim.- Aproximou-se de nós.

—Chamo-me Sorano Aoi. É um prazer.

—Igualmente. Chamo-me Goenji Meiko.- Não pude evitar sorrir. Seria a minha primeira amiga?

—É incrível tudo o que aconteceu antes de Cerimónia de Receção.- O Tenma nem respondeu. Limitou-se a olhar para ele e sorrir como uma estátua.

—Tenma? O que se passa?

—Ah! Pois é! Vai começar a cerimónia!- eu e a Aoi suspiramos. Como assim ele se tinha esquecido?

*

Fomos rapidamente vestir os uniformes escolar antes de irmos para a cerimónia. E no wc feminina, já pronta, fui até ao lavatório, abri a água e lavei a cara suja de terra. Olhei-me ao espelho e suspirei. O pensariam os meus pais ao ver a Raimon neste estado? O que estaria a minha mãe a fazer? O que faria o meu pai? E o meu tio Mamoru? Ele sabia desde o início que eu queria vir para a Raimon, sabia o quanto queria jogar futebol, mas nunca foi capaz de me falar do estado em que o futebol juvenil estava. As kenshin... Aquela equipa... O Quinto Setor... Quem quer que fosse o superior de tudo aquilo, iria pagar bem caro pelo que estava a fazer.

Desliguei a água e limpei a cara com um pouco de papel antes de sair do wc. Se queria derrotar o Quinto Setor tinha que entrar para Raimon. Iria precisar de ajuda deles.

—Parabéns aos novos alunos por entrarem no nosso instituto.- Aquele diretor... Ainda não me tinha esquecido que tinha permitido aquele duelo e que não fizera nada para impedir aquele disputa contra a Raimon. De que lado estaria afinal? Ele nem se importava com o facto do idiota do Tsurugi ali estar- Como já sabem, esta nossa escola alcançou um grande prestigio e reputação pela sua equipa de futebol. Estou certo de que todos vocês as grandes histórias da lendária Inazuma Eleven. E mais recentemente das grandes honras conseguidas pelo clube de futebol da Raimon.

Deixei de ouvir naquele exato momento ao reparar que uma rapaz baixinho e com uma faixa parecida ao meu tio, mas azul, começou a chamar o Tenma, despertando a minha curiosidade. Podiam chamar-me de intrometida ou o que fosse, mas era melhor do que ouvir aquele velho. Fechei os olhos e concentrei-me para ouvir a conversa mesmo estando longe deles, graças aos meus poderes divinos era algo que podia fazer.

—Apesar de vocês serem do primeiro ano, fizeram frente a essa gente.— Tentei controlar-me para não me sentir uma convencida. Pelo menos acho que também estava a falar de mim. Era a única do primeiro ano para além do Tenma e do outro.

—Tu viste?

—Claro que sim! Até aprendi os vossos nomes. Tu chamas-te Matsukaze Tenma, não é? E o dela é Goenji Meiko. É filha do lendário atacante da Raimon, certo? Ela não mostrou muito naquele jogo, mas com certeza que tem técnicas incríveis como as do pai.— Sentia-me deprimida. Eu tinha mostrado tudo o que sabia. O Tenma ria-se baixinho ou controlava-se para não o fazer... Mais tarde ia pagar por isso- Aquilo foi impressionante!

—Muito obrigado.— Ri-me baixinho. Ele estava tímido só por um elogio?- E tu como te chamas?

—Nishizono Shinzuke, mas podes chamar-me Shinzuke. Estamos na mesma turma, não é?

—Encantado.— Pensei que era hora de prestar atenção ao que o velho dizia, mas a conversa ainda não tinha terminado ao ver o Shinzuke ao chamar o Tenma para se aproximar.

—É a primeira vez vejo kenshins.— Não era o único que via uma pela primeira vez- Então elas existem de verdade. Tu também podes invocar uma?

—Claro que não!

—Oh.— Pareceu um pouco desapontado- E a Goenji?— nesse mesmo instante o Tenma começou a voltar-se para trás e rapidamente pus-me direita e a olhar para o diretor como se não tivesse sequer a ouvir a conversa. Fixou-me durante uns segundos antes de se voltar para ele. Suspirei e voltei o meu olhar para eles novamente.

—Não. Também acho que não.— Por muito que fosse verdade, esse facto aborrecia-me.

—Mas vocês vão inscrever-se no clube de futebol, não é?

—Claro.— Pensava que ele ia dizer que só ele queria. Nem lhe imaginava o que aconteceria se o fizesse.

—Eu também vou fazê-lo. Decidi que quero jogar futebol.— Será que eles ainda não tinham percebido que estavam a falar cada vez mais alto?

—A sério?! O que te parece se logo vamos inscrever-nos juntos?!— cada vez mais alto, Tenma!

—Sim! E trabalharmos duro para chegar à primeira equipa!- o grito dele fez-me eco na cabeça e nos ouvidos- Não penso parar até consigo-lo!

Gritei um enorme "Au" ao levantar-me assim como o Nishizono ao pôr-se em cima da cadeira pela entusiasmo, mas ao contrário dele eu fizera-o porque o grito dele quase me furava os tímpanos. Não sabia para quem os alunos olhavam mais mais; se para mim de mãos a tapar os ouvidos, se para o entusiasmado Nishizono que pediu imensas desculpas a todos e ao diretor antes de se sentar. Já eu baixei os braços e sentei-me sem dizer uma só palavra antes que me enterra-se, desativando a minha super audição, enquanto sentia a face arder com a vergonha que acabara de passar.

—Ora vejam só!- prestei atenção ao que o diretor começou a falar, vendo-o olhar para mim com um sorriso. O que raio queria?- Parece que o nosso instituto tem a honra de ter como aluna a filha Goenji Shuya e Endou Malina, dois grandes jogadores que passaram pelo nosso prestigiado clube de futebol, não é verdade, menina Goenji?- todos os alunos começaram a olhar para mim e a murmurar entre si. Odiava quando as pessoas se punham a olhar para mim como se fosse uma espécie de alienígena. Isso não me deixava nem um pouco confortável. E aquele velho! Claro que os meus pais também tinham contribuído para o crescimento do clube de futebol da Raimon... Aquele que ele estava a ajudar a destruir- Não se importa de vir até aqui, como representante dos seus pais, e dar umas palavrinhas aos futuros jogadores do clube de futebol da Raimon?- Velho!

Levantei-me, fechei os punhos e suspirei antes de começar a caminhar. E aquele sorriso dele? Sorri... Aquele velho acabara de passar para a minha lista negra.

Subi o palco sentindo o peso dos olhar a acompanharem cada movimento que fazia, provavelmente se subia as escadas com elegância ou não. Que nervos! Só me apetecia abrir as asas, sair a voar e trancar-me em casa até ser uma velha cheia de rugas e ninguém me poder reconhecer na rua. Mal cheguei junto do púlpito e cumprimentei o diretor, ele afastou-se para me dar lugar. Subi o pequeno degrau e olhei para todos os alunos. Nunca tive medo de falar em frente a várias pessoas, mas dava sempre aqueles nervos.

—Bem... Isto...- não fazia a menor ideia do que ia dizer. Fechei os olhos para me acalmar um pouco. Estava ali como descendente de dois dos lendários jogadores da Raimon, não os queria envergonhar... Não a queria envergonhar- É verdade que o nosso clube é de grande renome, tem um grande prestigio desde o tempo dos meus pais...- procurei rapidamente pelo Tenma. Estava a sorrir, e assentiu-me como se soubesse o que estava a pensar. Não pude evitar um sorriso. O diretor ia arrepender-se de me ter chamado para falar- Mas o futebol agora não e mais o mesmo, nem sequer na grande Raimon que tem o seu futebol controlado.- Todos pareceram chocados com o meu comentário e começaram a falar entre si.

—Go-Goenji-san.

—O futebol que os meus pais, o meu tio e os companheiros deixaram na época deles, tudo o que lutaram, tudo o que sofreram e venceram, neste momento não interessa ao Quinto Setor! O verdadeiro futebol que eles deixaram a esta escola e ao país não existe mais.- Ninguém parecia perceber o que se passava, mas mensagem que eu transmitia estava a chegar às pessoas que eu queria- Só que isso vai mudar!- esperava que o Tsurugi ouvi-se bem as minhas palavras- O futebol vai voltar a ser o que era, tal como o nosso amado clube de futebol. Não vou deixar que o controlem como tem feito até agora. Isso vai acabar!

Olhei para o diretor que parecia completamente chocado. Era óbvio que obedecia ao Quinto Setor. De seguida, encarei o Tsurugi... Estava um enorme sorriso de satisfação nos lábios enquanto encarava seriamente. Ele podia rir o quanto quisesse por enquanto, mas aquela guerra seria eu a vencer.