1 Dia anterior.

         Antes do ensaio, Noona Sook havia me chamado para entregar a minha missão. Ela era a responsável por escrever nossas missões, apenas a banda sabia disso. Justamente pra ninguém atormentá-la com perguntas sobre o que faríamos.

— Eu guardei essa especialmente para você, Jimin. – Noona Sook Sorriu, amável. Enquanto abria o envelope, imaginei o que ela estaria aprontando desta vez.

         Noona era quase uma mãe para todos nós, e sempre foi nossa melhor ouvinte e conselheira. Inclusive, foi ideia dela que eu iniciasse gravações em vídeo, como um diário pessoal. Se tornou um vício, e eu amava conversar em frente a câmera. De algum modo, me deixava mais confiante.

— Isso é muit fácil, Noona! – Expressei, pela missão óbvia. Ela alargou o sorriso.

— Acredito que pra você, realmente não será difícil fazer alguém sorrir. – Ela suspirou e olhou ao redor, ficando atenta a um ponto específico. Acompanhei seus olhos. – Mas tai a graça, uma missão não é uma missão de verdade, se não for um desafio.

         Nós dois observamos Sophie, a irmã mais nova de Tony Hyung sentada ao seu lado, entediada. Comecei a refletir sobre isso.

— Ouvi dizer que faz muito tempo que ela não sorrir de verdade. – Foi a única coisa que Noona disse, antes de dar uma desculpa sobre ajustes em nossas roupas para o dia do show.

         Não sei por quanto tempo fiquei pensando naquela frase. “Muito tempo que ela não sorrir”. Estava claro que Sook desejava que eu escolhesse Sophie para o meu desafio, mesmo sabendo que eu poderia escolher qualquer um que seria bem mais fácil. No entanto, ela também sabia que eu gostava de ser desafiado.

E que assim seja, não é mesmo?

— O professor Hyung ta chamando pra ensaiar. – Jin Hyung avisou, dando leves tapinhas em meu ombro, notando a carta da missão na minha mão. – Ei, recebeu seu desafio!

— Nem adianta, não vou dizer nada agora! – Brinquei, guardando a carta no fundo do bolso da minha calça, notando que os outros se aproximavam. Jin ralhava com V e Jungkook pelos empurrões, e antes que eu os acompanhassem até o ensaio, dei uma última olhada para Sophie, que parecia rir, debochadamente do nosso coreografo. Pelo menos ela ria, de forma nada divertida, mas ria. Talvez não fosse tão difícil assim.

Dia atual.

         Como eu podia ser tão idiota? Minha intenção não era beijá-la de forma alguma. Eu queria apenas continuar, como uma missão pessoal, de vê-la sorrindo. Eu gostava de fazer as pessoas felizes, e me sentia bem com isso.

         Eu só queria me aproximar. Falhei na missão de propósito, porque sabia que só de elogios, não iria funcionar. Ela não parecia ser como todos os outros. Pensei que, se eu conseguisse fazer o que ninguém conseguia, segundo Noona, me sentiria bem.

         Aparentemente, meu plano foi por água a baixo com aquele beijo. É claro que ela interpretaria errado. No que eu estava pensando?

         No que eu estava pensando?... Nos lábios, com toda certa.

         Desde o dia do incidente, percebi que Sophie me atraia como um Ímã, o que eu achei ser quase impossível de se acontecer, tendo em vista que nem mesmo nos conhecemos o suficiente. Eu não acreditava em amor a primeira vista... Não era tão inocente assim. Além disso, ser desafiado só me fazia ter mais vontade de cumprir o objetivo. O que me leva a pensar que era somente por isso o meu interesse.

         A questão era, como vou explicar isso a ela, sem parecer ofensivo? Eu não queria parecer ainda mais idiota, e precisava me desculpar pelo que tinha acontecido. Talvez eu converse com Noona sobre isso...

         Melhor não! Certas coisas um homem deve guardar pra si. Seria constrangedor dizer para a Noona que não resisti quando Sophie, simplesmente, olhou para minha boca, causando uma incrível agonia e prazer em mim. E quando me dei conta, já estava beijando-a como se ela fosse a única garota no planeta terra. Eu não queria parecer uma adolescente inexperiente e desesperado.

         Talvez Jin Hyung pudesse me ouvir e me aconselhar nesse quesito, porque, apesar de JungKook ser mais próximo a mim, ele não era a melhor opção pra conselheiro amoroso, sendo mais novo do que eu e, obviamente, donzelo.

      Sem pensar mais no assunto, resolvi procurar por Jin Hyung. Mas o único que encontrei no quarto foi Sugar.

— Hyung, você viu Jin Hyung? – Perguntei, entrando no quarto sem cerimonias.

— Ele estava conversando com Tony Hyung e Rap monster sobre o cronograma de amanhã. – Sugar explicou, e parecia mais interessado em escrever no papel que estava em suas mãos.

         Fiquei pensativo. Jin iria demorar muito, pois era bastante perfeccionista com os detalhes de shows, assim como Rap Monter. Sentei na bairada da cama, suspirando alto.

— O que aconteceu? – Sugar perguntou, parecendo prestar atenção em minha frustração. Nem sempre ele era atencioso, e quando o era, poderia também ser um bom conselheiro.

         Decidi desabafar com ele sobre tudo o que tinha acontecido desde o dia anterior, até o momento do beijo. Ele não demonstrava nenhuma expressão, e cheguei a duvidar que ele estaria prestando alguma atenção, ou procurava palavras para dizer o quanto eu era idiota. De qualquer forma, eu terminei de contar a história, esperando uma resposta.

         Ele torceu o nariz, e parecia pensativo. Levou quase um minuto inteiro antes dele responder.

— Ela deve ta muito Puta com você. – Foi o que ele disse, e quase revirei os olhos.

— Você ficou quase um minuto pensativo apenas pra me dizer o óbvio? – Bufei, me jogando na cama de vez. Ele riu.

— Pra você ta frustrado assim é porque gosta dela. – Sugar avaliou. Encarei ele.

— Não gosto dela desse jeito, Hyung. Eu só queria saber se conseguiria. – Tentei explicar. Ele revirou os olhos. Eu nem sei porque eu tentava.

— Vou fingir que acredito. – Debochou. – Não vai adiantar nada ficar de lamentando por isso. Deixa a cabeça dela enfriar, e depois você tenta conversar com ela. Os dois vão pensar melhor de cabeça fria. – Aconselhou.

         Ele tinha razão. Seria melhor esperar e conversar quando tudo estivesse mais tranquilo e ela estiver com menos raiva. Apesar de eu duvidar que seja simples assim.

— Mas vê se não vai sucumbir aos lábios carnudos e macios dela de novo. – Sugar fez caretas, imitando um idiota fazendo drama. Joguei um travesseiro nele.

— Eu sou seu Hyung, me respeite. – Ele devolveu o travesseiro, jogando o mesmo em mim. Nessa hora, JungKook, V e J-Hope surgiram, fazendo barulho e entrando na brincadeira.

         Apesar de sermos todos adultos, não evitávamos esses tipos de brincadeiras infantis, porque nos lembrava que eram nossos poucos momentos de diversão.  E com tão pouco, a gente aproveitava.