— Vocês estão começando a tirar minha paciência.— Cruzei os braços, encarando os rapazes. Alguns apoiavam as mãos nos joelhos. Outros estavam encostados na parede, e outros, deixaram-se cair no chão.

— Noona, você ta parecendo o professor Hyung, reclamando.— Jungkook se referiu ao Tuli.

— Vocês estão muito distraídos hoje.— Ralhei, finalmente me sentando no chão com as pernas cruzadas. - Jimin Oppa, você está perdendo o foco.— Acusei. De todos, ele era o único que estava realmente fora do ritmo.

— Porque será?— Sugar murmurou, com as mãos apoiadas no chão e a cabeça virada pra cima. Jimin estava corado e mexia em sua nuca, nervoso.

— Desculpa.— Foi a única coisa que disse.

— Você está aí, apenas dizendo o que deveríamos fazer, mas até agora, não mostrou pra gente, na prática, o que realmente quer.— Namjoo comentou.

         Engoli em seco. Não estava nos meus plano dançar ainda pra ninguém. Cumpria meu “trabalho” apenas dizendo o que deveriam fazer.  

— Mas vocês estavam indo muito bem. — Argumentei. – E não é como se nunca tivessem me visto dançar.— Lembrei do vídeo.

— Aquele era mesmo você? — Namjoo provocou. Contive a vontade de revirar os olhos.

— Mas é claro que sim! — Me senti ofendida.

— Não sei não, acho que estou na dúvida. — Ele sorria, malicioso. Bufei, me levantando.

— Você não precisa provar nada, Sophie. — Jimin se levantou de repente, olhando para todo o grupo. – Hyung só está brincando.

—  Fui desafiada.

        Decidida, recoloquei a música. Eu estava experimentando algo que a muito não sentia. Dançar na frente das pessoas. Vibrar com a música e flutuar em transe. Quando me dei conta, os rapazes me acompanhavam animados. 

         Estávamos rindo e muito bem sincronizados. Era muito lindo de se ver e eu estava em êxtase. No fim, até caímos no chão, cansados.

— Isso foi libertador. — Soltei, pra mim mesma, e sabia que eles haviam percebido isso. Principalmente Jimin, que estava bem ao meu lado exibindo um enorme sorriso orgulhoso. – E também me deixou com fome.

         Todos caíram na mais gostosa gargalhada concordando.

         Quando paramos para a refeição, que foi trazida pro salão de festa do hotel, Jimin sentou ao meu lado, e estávamos um pouco afastado dos outros.

— Deveria tentar de novo.— O ruivo disse, me deixando confusa. – A academia de dança, sabe...— Me fitou. – Tem nosso apoio caso precise ser indicada para entrar.

         Analisei suas palavras. Era notável a intenção de me incentivar a correr atrás do meus sonhos. E por um breve momento, pensei sobre isso. No final, eu concluí que não valeria a pena de forma alguma. Não porque eu não acreditava mais na minha capacidade. Mas porque eu tinha ganhado algo muito mais importante. Um reconhecimento e um verdadeiro motivo pra viver meu sonho, que aliás, eu já estava vivenciando.

         Obviamente ser coreografa de uma banda coreana não era exatamente o meu sonho. Mas onde eu tinha chegado e os motivos que me levaram a chegar até aqui, já eram mais do que um simples sonho de entrar para uma academia de dança. Era a realização dele, e eu não iria retroceder. Porque a vide segue pra frente.

— Acho que não preciso mais de uma bolsa na Academia de Dança para me sentir realizada.— concluí arrancado um meio sorriso feliz de Jimin. Ele entendeu.

        Ficamos alguns segundos assim, trocando olhares e nos comunicando silenciosamente. Novamente, me via presa a um momento só nosso. Não existia mais os rapazes ao redor, nem o salão em que estávamos. Era somente eu e Jimin novamente. Senti meu coração acelerado. Uma angustia e a certeza de que algo estava faltando.  

        Ele não pareca diferente de mim, e tive a impressão de que ele me beijaria novamente. Mas antes que mais algum centímetro de nosso rosto fosse movido, ouvimos uma tossidela muito próximo a nós. Com o susto, ergui os ombros, ainda com o coração palpitando. Jimin mantinha a expressão decepcionado no rosto, e só um tempo depois se recompôs, com muita tranquilidade e certa impaciência.

— (...) Tem sorte dos outros não estarem prestando atenção nisso.— Sugar respondeu algum resmungo de Jimin. Eu não conseguira entender o que ele havia falado. Estava surpresa com a possibilidade dessa nova aproximação.

         Me levantei, envergonhada por Sugar ter presenciado esse momento e por não conseguir olhar pra cara de Jimin. Andei apressada até a porta e retornei para a suíte. Precisava controlar meus pensamentos. Precisava me acalmar.

Que angustia...

***

Pov. Jimin

— Você tinha que atrapalhar. — Acusei, irritado. Sugar cruzou os braços.

— Estou salvando vocês dois de um constrangimento maior, e de uma boa fofoca sobre estarem juntos.— O mais velho ralhou. – Se era pra fazer algo idiota, que faça da forma certa.

         Jimin não teve tempo pra questionar, porque os outros se aproximaram, fazendo perguntas sobre a saída repentina de Sophie. Apenas comecei a dar de ombros, ignorando suas perguntas e decidindo também sair dali.

         Mesmo de uma forma grosseira, Sugar estava certo sobre agir como um idiota. Desta forma, eu estragaria qualquer coisa que havia construído com Sophie. Sobre a fazer da forma certa, eu não tinha certeza do que ele estaria sugerindo. Mas ao me deparar com Tony Hyung e Sook abraçados no saguão e sorrindo um para o outro, e de alguma forma se escondendo para que ninguém os veja tão próximos e apaixonados, desejei mais do que tudo ter Sophie desta mesma forma. Como seria namorá-la? Como seria enfrentar a todos para ficar ao seu lado?

         Eu teria coragem suficiente para isso? Hyung deixou claro que não queria a irmã envolvida com nenhum de nós. Mas não tinha tanta certeza se ele realmente falava sério. Ele surtaria? Mandaria Sophia para longe de nós... de mim? Ele era o Oppa dela, e tinha completa responsabilidade e direito de fazer isso, mesmo que ela já seja maior de idade. Eu não queria prejudicar a vida de Sophie. Além de tudo isso, existia o peso da fama. O que a mídia diria? Nosso país não era dos mais solícitos com estrangeiros, mesmo que minha própria família não se importasse. Ainda tinha os rapazes... Concordariam em enfrentar a mídia comigo?

E mais uma vez, eu estava arrumando desculpas para ser um covarde e ter uma vida superficial...

***

         Por um dia inteiro evitei o contato com Jimin, ou qualquer outro no grupo. Porém, Tony anunciou, naquela manhã que eu acompanharia ele e os rapazes na coletiva a noite. Sook, aparentemente, estava gripada, e não ia poder acompanhar, pois precisava descansar pra o dia seguinte do show do rapazes. Ela apenas me ajudou com uma roupa apropriada.

         No caminho, estávamos todos em silêncio, e se Tony percebeu algo errado, não falou nada. Ao chegarmos, notamos a quantidade de artistas ali, presentes, e olhe que nem era o grande dia da festa anual. Um assistente de palco avisou que os rapazes entrariam no ar em 10 minutos. Tony deu-lhes algumas instruções necessárias.

         Fiquei no fim do palco do programa, na entrada e saída de convidados. Eu nem sei porque Tony havia me trazido. Mas entendia que ele precisava de um apoio moral. Era a primeira vez que instruía os rapazes para uma coletiva.

         Me dei conta que o grupo sendo entrevistado antes do BTS, era o GOT7. Quase havia esquecido que eles estavam também na cidade para um show, que segundo ouvi falar, foi a dois dias. Todos eram altos, e não pareciam ser mais velhos que o nosso grupo. Um deles, estava jogando tanto chame pra câmera, que era quase impossível não suspirar. Era realmente muito bonito.

         Lembrei do anuncio sobre a nova música. Eu não poderia ficar com raiva deles, porque eram apenas peões nesse jogo. Mas só de pensar no Tuli enganando a todos nós...

Observei melhor o grupo. Bonitos. Porém, bastante cínicos. 

         Deduzi, logo após perceber que pareciam indiferentes quando a apresentadora anunciou que o BTS logo estariam no palco. Um deles até disfarçou uma careta. Assim era bem mais fácil ficar com raiva. Eles pareciam se gabar demais do novo álbum. Era quase como ver alguém se auto intitular Rei da porra toda. Eu odiava qualquer ato de menosprezo. 

         Ao finalizarem da entrevista, fizeram fila para sair do palco, passando pela mesma entrada em que eu estava distraída.

— Uma fã? — Um loiro com um largo sorriso, e provavelmente o mais sínico de todos, perguntou. Bufei.

— Nem em sonho.— Respondi, sem fitá-lo.

— Uh.. a moça é braba. — Ele continuou do meu lado, ignorando o pedido dos outros para que se apressasse. – Posso saber porque essa repulsa da gente?

— Acho que não preciso dar satisfações sobre nada.— Debochei. Ele deu um meio sorriso. Mas parecia decidido a me importunar.

— Eu posso te fazer mudar de ideia.— Ele encostou a mão na parede, muito próximo a mim. Mas foi interrompido pela voz de Jin, que estava sério.

— Está incomodando a nossa convidada, Jackson.— Ele disse, deixando claro que desaprovava o comportamento do membro do GOT7.

— Convidada de vocês?— O loiro disse, sorrindo. – Que interessante. Estava justamente dizendo a ela que achei ser uma fã.

— Como eu disse, “Nem em sonho”— Cutuquei seu peito com os dedos. Eu achava que o gesto causaria dor nele, mas acho que não fez nem cosquinha. Bufei. Porque ele tinha que ter esse peitoral?

E porque eu estava prestando atenção nisso mesmo?

— Eu gosto de mulheres temperamentais.— Ele sorriu, debochado e decidiu se afastar um pouco quando o BTS em peso estava a nossa frente. – Espero vê-la na festa, baby.— Acenou, fazendo uma referência em seguida. – E vocês também. — Depois disse, saiu a procura do seu grupo.

— Idiota...— Sussurrei, com raiva. Tinha que admitir que ele era um cara de pau muito bonito. Mas nem de longe me atraia.

— Espero que ele não tenha feito nada.— Jin se preocupou.

— Ele não seria tão imbecil assim.— Indaguei. Jimin parecia chateado e nervoso. Notei quando Sugar tocou seu ombro. Mas antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, foram chamados no palco. Desejei boa sorte, esquecendo-me por um segundo de está envergonhada com os acontecimentos do dia anterior.

— (...) Mas que petulância. – Ouvi Tony resmungar ao se aproximar.

— O que aconteceu? – Perguntei surpresa. – Onde estava?

— Você acredita que Tuli está por aqui, e com a banda GOT7? – Bufou. – Miserável de uma figa.

— E nunca confiei naquele cara. – Soltei.

— Ainda bem que você é a nova coreografa da banda. E vamos ter nossa vingança merecida no dia da festa. – Tony comemorou.

         Não escutei mais nada a partir daí. “Nova coreografa da banda”, era muito mais do que meu coração poderia suportar. Desde quando fui oficializada como a nova professora de dança deles?

Meu coração parou. Me sentia feliz com isso, não é?

         Bom, eu não tinha certeza, porque a única coisa que vinha em minha mente, era o quanto o meu destino havia desatado os nós e agora seguia rumo em uma estrada que eu não fazia ideia se seria a certa. Eu nem mesmo parecia controlar meus passos. Era como se eu estivesse perdendo as rédeas novamente, e desta vez, não estava sozinha. Tinha apoio.