A Última Guerra de Percy Jackson escrita por Avassalador


Capítulo 5
O deus barbudo na floresta


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é pro pessoal que gosta mais de dialogo que narrativa :3



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5.

 

O líder máximo da autoridade dos deuses romanos estava diante dos dois semideuses cansados e assustados. Jason estava um pouco mais surpreso que Percy, provavelmente por conta de seu pai divino estar bem na sua frente, coisa que não acontece com frequência. Coisa que quase nunca acontece. Júpiter vestia uma armadura colada e extravagante de couro marrom com um simples saiote azul e negro logo abaixo. Dos seus pés aos joelhos havia sandálias típicas da época dos grandes gladiadores. Parecia estar pronto para lutar com cem leões no coliseu da outra parte do acampamento. Ainda empunhando sua gloriosa espada ele fixou seus olhos elétricos nos dois. Não sabiam se deveriam se ajoelhar ou nem se moverem. O mundo parou em volta e só conseguiam se concentrar na figura à frente. Não existia mais acampamento, não existia mais chamas e entulhos, ou corpos pelo chão. Havia somente eles e o deus dos deuses. Uma sensação sufocante. 

— Pai, o que está fazendo aqui? Quer dizer... Por que o senhor veio? – Jason estava louco por uma explicação para o que estava acontecendo.

O deus parecia agitado. Seu olhar estava atento e penetrante como normalmente seria, no entanto, um certo traço de tensão era visível. Percy notou que alguns aspectos de seu rosto não eram os mesmos da figura a qual ele já estava acostumado. A barba do deus romano era mais curta e o cabelo mais denso. Talvez fosse até mais musculoso? Difícil dizer. Ele se sentia pressionado do mesmo jeito, assim como sempre fica quando está de frente para Zeus. Sua voz ressoou retumbando seriamente.

— Onde está Lupa?

Eles piscaram por um instante. Aquela era uma boa pergunta. Nenhum dos dois viram a grande loba na batalha, nem sequer um uivo ouviram. Também não se lembravam de a terem visto perto do túnel Caldecott ou da pequena ponte de pedras por onde passaram ao entrar.

— Hã... Não sabemos – respondeu o loiro se entreolhando com Percy – não a vimos desde que chegamos.

Júpiter não respondeu.

— Talvez Reyna saiba onde ela está! – exclamou Percy lembrando que a pretora do acampamento era a mais indicada para orienta-los.

Jason concordou transformando a espada em moeda novamente.

— É claro, Reyna!

— Mas onde ela está? – perguntou Percy.

Outra boa pergunta. Não a viam desde o ataque surpresa dos arqueiros. Teria ela sido atingida pelo contra-ataque de quando Jacques usou seu poder de exagero? Júpiter parecia não estar com tempo para ouvir explicações. Ele levantou sua espada para o céu e o ar começou a se mover. Uma grande ventania surgiu. Seu cabelo e sua barba balançavam magistralmente. O vento forte foi de encontro às chamas espalhadas pelas área distantes, apagando-as. Os dois semideuses tiveram de se protegerem com os braços. Um trovão ribombou no céu, e alguns segundos depois uma chuva fina e rápida começou a cair. Perceberam que o deus estava ajudando para que o Acampamento Júpiter e suas árvores não fossem consumidos pelo fogo ainda aceso.

— Cuidem dos que ainda estão vivos – ele ordenou, num tom melancólico mas com autoridade – volto em breve!

Nisso seu corpo gigantesco se tornou uma corrente elétrica que se levantou e dissipou-se entre as nuvens no céu. Percy e Jason encararam aquilo sem saber o que comentar, preferiram apenas as boas e velhas caras de bobos. Foram salvos pessoalmente por Júpiter, isso significava uma proporção escandalosa de estranheza. Fitaram o corpo morto de Jacques à frente.

— Nós teríamos morrido, não é? - perguntou Percy.

Jason não parecia muito otimista para ter que admitir alguma coisa.

— Não sei. Mas mais importante: fomos salvos pelo meu pai. Isso não é contra as Leis Antigas ou algo assim?

Percy suspirou.

— Sempre achei que sim. Cara, o que raios está acontecendo?

— Raios, é? - Jason indagou com um sorriso.

— Não foi intencional.

Dentro da floresta em frente aos dois, a uma distância um pouco mais afastada, Hazel cuidava de Frank. Ele estava repousado ao pé de uma árvore. Não tinha uma expressão muito boa e sua pele estava esverdeando. Ao redor deles, vários outros campistas faziam o mesmo uns com os outros. Iam se movimentando de um lado para o outro, dando prioridade para os mais machucados. Alguns arqueiros tiveram a proeza de serem acertados por mais de três flechas, precisavam de atenção redobrada. Piper, que estava tentando ajudar como podia, não admitiu em voz alta mas estava surpresa que tenham resistido. Provável que fosse ficar gripada por causa da chuva que começou de repente, já que tirou sua blusa roxa para estancar o ferimento na perna de um dos campistas caídos.

— Foi bem fundo – Hazel comentou enquanto olhava atentamente as duas aberturas ao lado da barriga de Frank.

Frank não parecia estar se importando muito. Ele não resmungava, podia se contentar apenas em ver o rosto de Hazel bem à sua frente, o tratando com todo cuidado do mundo. Talvez ele estivesse até feliz. Entretanto, Piper estava preocupada. Já não ouvia mais os barulhos da batalha, e se perguntava o que poderia estar acontecendo. Annabeth disse a poucos minutos que iria para os limites da floresta esperar pelo momento em que deveria servir como finalização. Piper teria pedido para ir junto se não fosse sua consciência a avisando que não precisavam dela lá. Ainda se considerava muito fraca perto dos demais. Seria melhor mesmo que Annabeth revolvesse as coisas sozinha. Seu charme de filha de Afrodite não se parecia com algo útil contra a criatura branca. Ela levantou-se e pegou pelo braço uma garota que passava, chamando sua atenção.

— Todos que escaparam estão aqui?

A garota a olhou cabisbaixa. Não parecia ferida, tinha apenas pequenos cortes. Entretanto estava chateada.

— Não, ele atacou principalmente a Principia e as áreas dos quartéis. Nem mesmo as casas de banho foram poupadas. Então os faunos levaram os mais novos e os que não podiam lutar na direção oposta, devem ter ido para o lago a Colina dos Templos. Provavelmente para ficar sob a proteção de Término. O cara voador não parecia estar interessado em ir para lá.

Piper lembrou-se de Término sendo aquela estátua furiosa que apareceu no Argo II com uma explosão. Realmente ele poderia ser intimidador quando devesse.

— Entendo, obrigada!

A garota assentiu e continuou seu rumo. Piper não tinha certeza de quantos morreram, estavam feridos, ou à salvo. Teriam que reunir todos pela manhã. Minutos antes daquilo, Annabeth andava em linha reta até que pudesse sair em espaço aberto, onde Percy e Jason lutavam. Precisava apunhalar Jacques assim que ele caísse acertado pelo ataque em conjunto. Ela andava apressada, tomando cuidado para não pisar em falso ou esbarrar duramente na madeira das árvores. Annabeth em determinado momento foi impedida de prosseguir. Faltava apenas alguns metros para sair da densidade, mas algo a fez parar. Não havia nada ali fisicamente, ainda assim ela sentiu um sentimento próximo ao medo, uma sensação de insegurança repentina. Olhou para todos os lados, forçou seus olhos cinzentos para enxergarem entre as árvores, através do escuro. Porém ainda não tinha amanhecido e isso tornava a tarefa difícil. Tinha alguém ali? Por que estava tendo esse pressentimento ruim? Não sabia responder e acabou se distraindo. Nem fazia ideia mas a luta já tinha acabado. Começou uma chuva fina e rápida, foi o que fez com que voltasse a realidade. Ela abriu a palma da mão, sentindo as gotas.

— Percy...? - se perguntou olhando para cima.

Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, um raio cortou o céu e desceu rapidamente entre as sequoias perto dali. Mal teve tempo de reagir - o estrondo a fez pular de susto. Erguendo-se, no mesmo ponto onde o raio caíra, estava Júpiter. Agora no tamanho comum de um ser humano, mas não menos imponente do que quando apareceu pouco antes para Percy e Jason. O chão em torno de si estava um pouco chamuscado, e ele não parecia muito contente. Seus olhos azuis fixaram-se nos de Annabeth. Aquele era Zeus? Bem ali na sua frente? "Não! - pensou - Estamos no Acampamento Júpiter, esse não é Zeus". Ela nunca iria saber, mas seus olhos cinzentos serviram para acalma-lo um pouco. Eram iguais os de sua querida filha, Minerva. Annabeth ficou pálida e arfou.

— Júpiter.

— Preciso falar com você, Annabeth Chase! – anunciou o deus firmemente.

Naquele momento mil e uma coisas se passaram na cabeça da filha de Atena. Primeiramente, ela não fazia ideia do que poderia estar acontecendo, e do que o deus dos deuses poderia querer com ela. Até que ela pensou no pior. Pensou em Percy, e que talvez ele tivesse... Que ele não tivesse conseguido. Poderia ser ousadia pensar algo assim, no entanto aquela poderia ser uma muito respeitosa e formal mensagem de luto. Assim como quando visitam as viúvas dos soldados que caíram em guerra. Seu coração começou a bater mais forte.

— Fique calma, Perseu está bem – apressou-se ele em dizer, como se pudesse ler a mente da loira – mas se quiser que as coisas continuem assim terá que me ouvir. O que tenho para falar com você é de extrema importância e preciso de toda sua atenção neste processo.

Annabeth pensou no quão idiota e patética poderia estar deixando transparecer naquele instante. Tratou de se recompor e fez uma reverência.

— Sim, senhor! – exclamou a filha de Atena.

Júpiter abriu a boca para falar, no entanto antes que qualquer palavra pudesse sair, algo aconteceu atrás de Annabeth. Uma imagem em forma circular com uma essência amarelada surgiu no ar. Por instinto a semideusa pulou para o lado contrário e entrou em posição de combate. Pegou a adaga que levava na cintura e a posicionou pronta para cortar a primeira garganta que aparecesse. Seu coração desacelerou ao perceber que se tratava de uma mensagem de íris. Perdeu a tensão e esperou até que a imagem borrada estivesse ficando nítida.

— Bééééé!

Era um sátiro quem tentava falar com ela.

— Grover! – ela chamou.

— Annabeth! – Grover surgiu com seus grandes chifres entre o cabelo desgrenhado.

Ele melhorou muito desde a tentativa de retorno de Cronos. Ele ainda era magro e peludo, mas já não era tão desengonçado e molenga, tinha adquirido um ar de segurança. Sem falar em todas as outras músicas de Mozart e Beethoven que ele aprendeu a tocar com sua flauta.

— Hã... Grover, não é uma boa hora – Annabeth começou a ficar nervosa, lembrando-se que bem atrás dela estava ninguém menos que Júpiter em pessoa.

— Você está vermelha, o que foi? Quer dizer, preciso falar logo! É o acampamento – disse ele, olhava para os lados, como se pudesse ser descoberto a qualquer momento – sofremos um ataque.

— O quê?!

Grover foi falando de maneira muito rápida, quase atropelando as palavras.

— Isso mesmo, não tenho tempo para explicar, e também não tenho certeza se devo pedir a ajuda de vocês ou avisar para que fiquem longe. Os outros me fizeram prometer que eu não dissesse ao Percy, disseram algo sobre não sermos responsabilidade dele e que nos viraríamos sozinhos. Mas não falaram nada sobre você, então...

— Você precisa se acalmar e me dizer o que está acontecendo, quem atacou?

Annabeth segurava o ar involuntariamente.

— Não os conhecemos, ninguém parece saber – ele agora olhou fixamente nos olhos dela – não são inimigos normais, Annabeth. Eles conseguem soltar poderes pelas mãos, como se fossem o Goku.

Annabeth não sabia o quê ou quem era Goku, nem perderia tempo tentando decifrar isso. Provavelmente algum amigo em comum que Grover conhecera enquanto esteve infiltrado entre os humanos para proteger Percy anos atrás. De vez em quando eles ainda conversavam sobre coisas parecidas.

— Poderes? Espera, poderes azuis? – perguntou ela – Como se fossem um arco de energia brilhante?

— Exatamente! Espera, como você-

Ela o cortou.

— Grover, preste atenção – pediu eufórica – quem atacou vestia um uniforme todo branco?

O sátiro assentiu diversas vezes.

— Isso, isso mesmo! Como você sabe?

Annabeth suspirou pesadamente. Isso era ruim. Havia um padrão naquilo tudo, não foram ataques aleatórios. 

— Não é hora pra isso, vamos pegar Percy e ir ajudar! - afirmou convicta.

— Pegar Percy? Como assim? Pensei que ele estivesse com você. Foi graças a nossa conexão empática que eu soube que estavam no acampamento romano, ele não pode estar longe - pontuou, estranhando que nem tudo estivesse certo.

— Sim, sim, ele está aqui. É que ele foi... matar uma aranha pra mim, nada demais. Irei avisa-lo e em breve estaremos aí!

Annabeth não queria contar que deixou Percy lutando com um inimigo poderoso, só o deixaria mais preocupado. Ela olhou para trás, buscando com o olhar mais uma confirmação de Júpiter de que ele realmente estava bem. Ele balançou a cabeça positivamente. Teria que confiar na palavra de seu avô de versão gladiadora. O sátiro estava tão acelerado que nem notara a figura guerreira atrás da loira.

— Que os deuses a protejam, Annabeth. Tome cuidado, preciso ir, até logo! - Grover não parecia muito feliz com seus amigos indo ajudar, se importava com eles mais do que com si mesmo, mas também sabia que seria uma tolice tentar impedi-los. No fundo, estava aliviado de que tivesse com quem contar.

Então a mensagem se dissipou. Annabeth se virou, com a cabeça tendo que pensar em diversas coisas ao mesmo tempo. Júpiter olhou para baixo, como se estivesse absorto nos mais importantes detalhes do mundo, pensando severamente em alguma coisa. As gotas molhando sua cabeça de maneira dramática e digna de um triste filme.

— Como eu temia, já começou em todos os lugares – murmurou.

Annabeth se aproximou com cautela um pouco mais.

— Até o Acampamento Meio-Sangue – afirmou Annabeth – O que está acontecendo? Quem são esses caras? O que é que começou?

Sabia que estava fazendo perguntas demais, mas não achou que isso importasse em um momento importante como aquele. Júpiter levantou o rosto. Um novo brilho de determinação estava em seus olhos azuis. Como um lutador que é derrotado e volta para uma revanche dez vezes mais forte. 

— Eu planejei conversar com você, Annabeth Chase, pois me parece a mais sensata entre todos os outros. Você é quem liderará o que lhe direi, e é de importância vital que faça tudo que for possível e também da maneira mais rápida que conseguir - explicou.

— Toda essa introdução me parece perturbadora – sussurrou Annabeth – para que o senhor viesse pessoalmente dar algum tipo de instrução para mim, algo grande e muito ruim deve estar acontecendo. E parece que todos nós teremos que arcar com isso.

Júpiter ainda parecia pensativo, porém firme.

— Sim, terão – respondeu – na verdade, digo que nenhum ser vivo poderá ficar sem participação nisso tudo. A vida de todo o planeta corre perigo.

— Como assim?

— Diga aos semideuses que preparem-se! – anunciou ele quase teatralmente – Darei detalhes maiores, mas por enquanto saiba que foi oficialmente declarada guerra contra o Olimpo.

Annabeth ficou parada, igual uma estátua. Sua mente resolveu parar por um instante, pois se continuasse com a imensidão de pensamentos ela surtaria. Guerrear contra o Olimpo não era algo de agora. Os titãs e os gigantes fizeram isso pouco tempo atrás. Mas não se lembra de ter tido algum tipo de "declaração oficial". Liderar seja lá o que Júpiter iria dizer não parecia uma tarefa generosa.


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Notas finais do capítulo

É isso!



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