P.O.V. Nico

     Era domingo, eu já estava me sentindo bem melhor, mas não o suficiente para sair de meu chalé. Um pacote de biscoito de chocolate foi o meu café da manhã, almoço, e eu tinha esperanças de que durasse até o jantar.

     Lá para as quatro e meia da tarde, alguém bateu a minha porta. Eu não respondi. A pessoa bateu de novo. E de novo, não respondi. A insistência da pessoa levou-a a bater por uma terceira vez. E dessa vez eu fui abrir a porta.

     -É muito difícil abrir a porta da primeira vez que a pessoa bate? –Falou Anna com um sorriso fraco. Ela entrou, eu fechei a porta.

     -Você precisa de um abraço. –Não era uma pergunta, ela estava afirmando. E me abraçou.

    Eu quase não suportei, tinha passado por tudo aquilo no sábado só por causa dela, e valia à pena e eu lutaria por ela até o fim.

    -Se não quiser falar tudo bem. –Ela começou com sua voz suave, ainda estávamos abraçados. –Por que fez isso?

     -Isso o que? –Eu sabia, mas deixei que falasse.

     -Se apaixonar... Por mim...

     -“É simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.” –Ela se afastou e me olhou nos olhos, eu havia acabado de citar um trecho do Pequeno Príncipe, seu livro favorito, e o de Bianca também.

     Ficamos assim por alguns instantes. Então ela sorriu para mim, jogou seus braços em meu pescoço e nós nos beijamos. Seus lábios macios e delicados uniam-se aos meus em um beijo apaixonante, digno do aplauso de Afrodite.

    Ficamos assim por um tempo, mas então aquele beijo começou a ficar mais intenso e nós nos jogamos na cama sem interrompê-lo. E nós ficamos mais algum tempo daquele jeito. Então Anna me afastou um pouco e disse:

     -É incrível o que alguns meses no mesmo colégio e uma semana no mesmo acampamento podem fazer com duas pessoas. –Nós dois rimos abraçados.

     -Anna... Foi só por isso que você veio aqui?

     -Só? –Ela fingiu uma cara de ofendida. – Não, não. Na verdade vim te avisar que Quiron quer contar a você e ao Percy a profecia.

     -E você nem me conta? –Eu precisava falar com Quiron, mas ficar deitado na cama com Anna era beeeeem melhor.

     -Eu não pude resistir você sabe que Pequeno Príncipe é o meu livro favorito!

     -Ok, mas nós temos que ir.

     -Por que nós?

     -Caso os últimos acontecimentos não tenham deixado claro, Anna eu sou totalmente apaixonado por você, e por isso nós dois fazemos parte da profecia.

     -Eu sabia que por trás dessa carinha de mau, você era super fofo. –Anna me deu um beijinho e se levantou. –Já que temos que ir, vamos logo.

     Anna se olhou no espelho e se ajeitou um pouco, tentei fazer o mesmo, para não levantar suspeitas sobre o que tinha acontecido, mas arrumar meu cabelo era uma missão impossível.

     Conforme íamos em direção a Casa Grande, víamos mais campistas, e acabei percebendo que todos estavam olhando para nós e cochichando. Eu e Anna ainda estávamos de mãos dadas, e quando eu tentei soltar ela disse:

     -Você não enfrentou Hades, ontem por nada, não é Nico? Deixe que falem. -Incentivado por Anna, segurei sua mão mais forte e nós continuamos nosso caminho.

     Entramos na Casa Grande e fomos recebidos com quatro pares de olhos curiosos. Me pareceu que todos sabiam o que tinha acontecido entre eu e  Anna, mas eu não liguei, aconteceu sim, e eu gostei.

     -Agora que o casalzinho maravilha chegou, podemos continuar? –Senhor D, mais entediado do que nunca.

     -Pois bem, eu já havia contado a vocês que uma profecia havia sido feita, mas não a profecia em si. Aqui esta. –Quiron nos deu um papel onde estava escrito a profecia, com uma letra muito bonita.

“Até o inicio deste inverno

Do meio sangue com mais poder

Reinará o pai e

O destino do Olimpo decidirá

Porém caso o amor seja soberano

E aos olhos desse semi-deus chegue

Os planos antes feitos, serão destruídos

E muito do que era, será perdido”

     Lemos os quatro juntos em silêncio e permanecemos assim. Nossa, aquela era a grande profecia.... Não tinha riscos de vida aperentes, não era tão aterrorizadora, relativamente curta, para falar a verdade, era igualzinha a qualquer uma profecia de livros de fantasia baratos, só tinha um pequeno detalhe, aquela era real. Percy expôs meus pensamentos.

     -É só isso?

     -Só isso Peter Jonhson? Ou esse garoto é muito burro ou ele é muito corajoso. E com essa cara só pode ser burro.

     Percy fuzilou o deus com os olhos, mas este nem ligou, estava mais interessado em ler uma revista qualquer, se é que estava lendo...

     -D., não seja tão duro, nem explicamos a eles. –Respondeu Quiron.

     -E eu gostaria muito que alguém me explicasse onde esta o problema. –Reclamou Annabeth, ela odiava não saber das coisas.

     -Nós também não entendemos tudo muito bem, mas... –Quiron foi cortado pela pessoa mais improvável da sala.

     -Não é obvio? –Falou Anna. –“Do meio-sangue com mais poder, Reinará o pai”, Por parte do Nico, Hades. Por parte de Percy, Posseidon. Mas agora essa é a parte interessante, “e O destino do Olimpo decidirá”, acho que agora já deu para entender quase tudo não é mesmo? A vamos, não é difícil.

     Ficamos olhando para Anna, espantados com seu súbito entendimento da profecia. Até o Sr. D teve que admitir que ficou espantado.

     -Não me olhem com essas caras, sou filha de Apolo, deus das profecias, isso deve me render algum credito.

     -Mesmo assim, foi exatamente o que eu iria dizer. –Falou Quiron.

     -Brilhante Anna! –Disse Annabeth, sorrindo para a amiga.

     -É isso ai, brilhante! Mas eu ainda não entendi o resto. Pode explicar Anna? –Perguntou Percy um tanto debochado.

     -Bom, essa eu admito que não entendi. Quiron?

     -Tudo bem. –Ele disse. -“Porém caso o amor seja soberano E aos olhos desse semi-deus chegue” se algum dos dois estiver apaixonado, o que eu presumo que já aconteceu, “Os planos antes feitos, serão destruídos E muito do que era, será perdido.” Essa parte é a que me preocupa, não sabemos que planos serão feitos, nem por quem, nem quanto do muito do que era, será perdido.

     -E o que quer que agente faça então? –Perguntei, essa era a parte que me interessava.

     -Essa parte é mais difícil Nico... O pai de um dos dois vai tomar o lugar de Zeus no Olimpo, -escutamos uma trovoada do lado de fora da casa. -Mesmo que saibamos que só por um tempo. –Continuou Quiron. –Ou seja, Hades e Posseidon vão começar a brigar para saber quem vai substituir o irmão, e Zeus também entra nessa briga, querendo defender seu trono.

     -Na verdade já começaram uma guerra. –Disse Dionísio.

     Eu e Percy nos entreolhamos, percebi que se ele pensava o mesmo que eu.

     -Mas Quiron, e o tal meio-sangue mais poderoso?-Perguntou Annabeth.

     -É por isso que os deuses estão brigando, os dois querem que seus filhos sejam o meio-sangue da profecia e Zeus torce contra os dois, já que Tália é uma caçadora.

      -Isso não é verdade Quiron, meu pai nunca iria causar uma guerra por mais poder, Hades quem sabe, mas Posseidon nunca. –Falou Percy.

     -Não tenha tanta certeza disso garoto. Você só conhece seu pai a sete anos, eu o conheço a mais de dois mil e trezentos anos, não se deixe levar só por que ele é seu pai. O mesmo vale para Hades. Já vi muito os dois serem bem diferentes do que aparentam. –Falou Sr. D. sem tirar os olhos de sua revista.

     -E têm mais, alguns deuses estão tomando posição nessa guerra. –Falou Quiron, com olhar preocupado. –Por exemplo: Perséfone esta do lado de Hades, assim como Demeter; Hefesto esta do lado de Posseidon; Atena e Hera estão do lado de Zeus.

     -E os outros? –Perguntou Anna.

     -Bom, os outros não estão de lado algum. E, particularmente, seu pai esta criando um lado próprio.

     No exato momento em que Quiron acabou de falar, Rachel entrou na sala com seu habitual jeans surrado, sorrindo fraco.

     -Olá todo mundo! Esta contando a eles a profecia, Quiron? –Quiron fez que sim com a cabeça. –E ai? O que vão fazer?

     -Ainda não sabemos o que temos que fazer, Quiron não falou. –Eu disse.

     -Na verdade agora, vocês não podem fazer nada, e, -disse Quiron olhando para mim e Percy. –Nunca em hipótese alguma devem ficar discutindo sobre quem é o mais poderoso. Ouviram-me?

     -Sim. –dissemos os dois juntos.

     -Bom, eu vou ao Olimpo. E vocês podem voltar para suas atividades. –Falou Quiron.

     Nós quatro saímos quietos, Rachel veio também. Estávamos todos preocupados, continuamos seguindo em frente. Milhares de pensamentos passavam voando pela minha cabeça.

     “Nossa... Então tudo aquilo do meu pai me proibir de amar era por causa dessa profecia... Ele tem certeza de que eu sou o mais poderoso, então me proibiu de ficar com Anna, para poder governar o Olimpo. Agora faz sentido. Mas então por que será que Posseidon não fez o mesmo com Percy? Ele pode achar que o amor de Percy por Annabeth não tem mais reversão, ou ele pode ter certeza de que Percy não é mais poderoso que eu... Droga, estou completamente perdido... E ainda tem aquela historia de Apolo... É isso!”

     Naquele momento algo ficou claro pra mim, que não tinha ficado para nenhum outro, mas eu não tinha certeza se poderia contar para eles, nem mesmo para Anna. Era perigoso para ela. Não sei se já entenderam, mas eu explico. Lembram da primeira vez que Quiron nos contou sobre a profecia? Anna chegou correndo e disse que tinha falado com seu pai e ele havia dado um presente a ela, o Arco Dourado, então, com ele Anna se torna uma meio sangue extremamente poderosa!

     Naquele mesmo dia Rachel tinha nos dito que talvez aquele presente significasse que era para Anna também fazer parte da profecia, o próprio Apolo, se me lembro bem, havia dito isso para Anna. Comecei a duvidar que Anna não se lembrasse desse fato.

     -Sabe, quando eu os com conheci, eram mais animados.

     -Tínhamos 14, e o Nico 12 anos, não pode esperar nada mais de crianças. –Respondeu Percy.

     -Ora vamos lá, assim vocês me fazem sentir culpada por ter feito essa profecia!

     -E de quem é a culpa se não é sua? –Falei. E ganhei um soco no ombro. –Ai! Doeu sabia?!

     -Fresco!