Stolen Moments escrita por STatic


Capítulo 9
Rise


Notas iniciais do capítulo

Olaas! Quanto tempo! Minhas provas finalmente acabaram - pelo menos as primeiras - e, como prometido, eu vim correndo para cá. Era para ter postado antes, mas é claro que minha internet deu problema. Dã. Enfim, capítulo novo aqui! Esse é mais um sobre o tempo depois que a Kate foi baleada, mas se passa em um lugar diferente do outro.

Eu amei e me identifiquei muito com esse capítulo e foi quase como ter uma conversa comigo mesma em certas partes, então espero que gostem também.

Obrigada pelos comentários, vocês arrasam!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725166/chapter/9

Kate POV

— Você tem certeza que não quer comer? – Minha mãe perguntou pela milésima vez.

— Absoluta.

— Mas...

— Mãe. Eu vou comer mais tarde, eu prometo. – Tentei sorrir para ela, notando logo que não estava sendo muito convincente.

­– Certo. É melhor que coma. – Tentou parecer severa, mas eu podia notar a preocupação em seu rosto. Eu odiava aquilo. Odiava que ela tinha que se envolver na minha bagunça e se preocupar tanto. Eu sabia que não havia nada que eu pudesse fazer, então apenas desejava que ela não fosse afetada demais por tudo aquilo.

Sorri novamente, me ajeitando no sofá e ela foi para a cozinha. A noite estava calma, como todas as noites ali, os únicos sons sendo o do vento la fora que balançava as árvores e os ocasionais barulhos que minha mãe fazia ao se mover pela casa, seus esforços de se manter silenciosa falhando de vez em quando. Eu não importava, ao menos não sempre.

Quando uma panela era fechada com mais força do que a necessária me mandava em um espiral de pânico, o que só causava um aumento na dor e exaustão, levando minutos até que eu conseguisse fazer meu coração recém consertado voltar a bater normalmente. Não muito divertido, mas eu viveria.

O silencio era bom para mim. Era calmante, uma maneira eficaz de me fazer esquecer do mundo e me curar. Entretanto, me deixava com tempo livre demais e meus pensamentos giravam incontrolavelmente. Quando não estava apagada pelos malditos e indispensáveis remédios para dor ou repetindo para minha mãe que estava bem, eu estava pensando.

Bom, um pensamento na verdade. Um único pensamento que se interligava com vários outros e faziam minha cabeça doer e meu estomago se revirar.

Castle.

Eu havia mentido para ele e aquilo me consumia por dentro. Nós não fazíamos aquilo, não era como funcionávamos. Não mais. Os jogos e fazer as coisas escondido haviam ficado para trás. Mas então eu havia mentido e quando ele descobrisse, toda a confiança construída estaria ameaçada.

Não só havia mentido. Não, isso seria pouco para minha mente defeituosa. Eu havia mentido e o mandado embora. E mentido novamente sobre ligar em breve. Um mês havia se passado desde que eu deixara o hospital após um longo tempo lá, e eu ainda não havia ligado. Não podia.

Era difícil demais. Era difícil demais pegar o telefone e ligar, falar com ele ao saber que havia olhado em seus olhos e mentido para ele. Era difícil demais sequer pensar sobre aquilo. Richard Castle me amava, ele mesmo havia dito. Enquanto eu deitava e sangrava sobre a grama do cemitério, mas ainda assim... Ele havia falado.

Aquilo assustava. Por algum motivo, me apavorava até o ultimo fio de cabelo o fato do melhor e mais carinhoso homem do mundo me amar. Eu tinha medo e não conseguia pensar sobre aquilo. Não conseguia pensar sobre aquilo porque toda vez que tentava, eu estava de volta lá, naquele exato momento.

Eu ainda podia sentir – com muita exatidão – a bala entrando em meu peito: O som abafado, o ar sendo arrancado dos meus pulmões quando Castle pulou sobre mim, a dor. Ainda podia ouvir os gritos desesperados e o caos enquanto as pessoas que eu amava me assistiam sangrar até a morte. Eu não havia me preocupado muito com elas naquele momento... Richard Castle estava me segurando e ele me amava.

Era como o paraíso. Bem no meio do inferno.

Além de tudo, lembrar de Castle me lembrava do hangar. De como eu havia gritado implorando para que ele me deixasse ir, que me deixasse ajudar Montgomery. Me levava de volta para o momento em que havia achado seu corpo e do olhar de suas filhas quando eu havia contado que o pai não voltaria para casa. Eu só podia imaginar que era o mesmo olhar que eu tinha em meu rosto tantos anos atrás. A dor única de perder um pai amado.

E era tudo culpa minha. Montgomery havia morrido tentando me proteger e o pensamento de que Castle estava ali tão perto a todo o momento me causava mais medo do que qualquer coisa.

Ele me amava e eu era um caso perdido.

Era um título horrível para uma história e eu não podia lidar com isso agora. 

Endireitei-me no sofá novamente, tentando me sentar o mais dignamente possível sem sentir tanta dor.

— Você devia ligar. – Minha mãe disse inclinada no sofá bem perto de mim, me fazendo pular. Eu não a havia visto se aproximar.

— Eu não posso. – Respondi, já sabendo de quem ela estava falando. Nós já havíamos discutido aquilo mil vezes. – Às vezes você parece um fantasma.

— Você deveria ligar mesmo assim.

— Ele provavelmente desligaria na minha cara. Depois de gritar. – Parei e abaixei o tom de voz para um quase sussurro. – É o que eu faria.

— Ele não é você. – Minha mãe me lembrou.

— Eu sei! Com certeza não é como eu. – Dei uma risada sarcástica e ela revirou os olhos.

— Não foi o que eu quis dizer. Além do mais, qual a pior coisa que pode acontecer?

Ele podia atender. Pensei comigo mesma. Podia gritar comigo e falar todas as verdades que eu provavelmente merecia ouvir. Gritar que eu não tinha coração ou respeito pelos sentimentos de ninguém, que era uma megera fria e não o merecia. Ou pior, ele podia atender e ser compreensível. Dizer que entendia porque eu havia mentido e fugido, que estava tudo bem, que ainda não havia desistido de mim. Não era o que eu merecia.

— Ele deve me odiar.

— Ele não te odeia.

— Eu acho que você está errada.

— Eu nunca estou errada. – Desdenhou meu argumento sem qualquer cerimônia.

Dei uma risada fraca. – Certo, eu me esqueci.

Minha mãe sorriu e deu a volta, saindo de trás do sofá e se sentando ao meu lado. Desviei os olhos para o meu colo, evitando seu rosto, mas ainda assim podia sentir seus olhos nos meus, me avaliando. Alguns momentos se passaram sem que disséssemos nada, ela se preparando para falar e eu me preparando para ouvir.

Finalmente ela suspirou, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Eu sei o que você está fazendo.

— O que? – Perguntei sem olhar para ela.

— Se escondendo assim. Você costumava fazer a mesma coisa quando era pequena. – Contou. – Você coloca um sorriso no rosto, levanta a cabeça e encara o mundo com a maior coragem possível mesmo quando tudo está desmoronando ao seu redor.

— Bom, as vezes a melhor maneira de ter coragem é fingir que a tem. – disse ainda sem desviar os olhos do meu colo.

—Não é muito saudável... Mas é Kate. – Ela riu um pouco, mas era obvio que não estava achando nada engraçado. – Mesmo quando era bem pequena e nós perguntávamos se queria que deixasse a luz acesa a noite. Você revirava os olhinhos e dizia que claro que não. Eu via que estava assustada, mas simplesmente recusava a luz.

— Eu era estranha.

Minha mãe riu. – Era forte! Algumas semanas depois o medo tinha sumido completamente. Mas seu pai costumava dizer isso.

Olhei para ela rapidamente, chocada.

— Que eu era estranha?

— Sim! Teve uma vez que você teve um acidente... Um carro vinha rápido demais e você estava de bicicleta.

— Eu me lembro disso. Eu desviei e atravessei uma cerca. – ri. Eu podia rir disso agora.

— Mas não foi atropelada! – riu. – Seu pai e eu ficamos completamente apavorados e não desviamos os olhos de você pelos próximos dias, mas apenas alguns minutos depois você montou na bicicleta novamente, o rosto determinado, sem qualquer medo e rindo como se nada tivesse acontecido. E então Jim me disse "essa garota é muito estranha" – ela explodiu em risadas, incapaz de conter a lembrança e eu ri com ela.

— Ele devia ficar orgulhoso! – me defendi, pousando a mão levemente no peito onde a cicatriz puxou.

— Não me leve a mal, ele estava muito orgulhoso! A filha dele era a criança mais durona do mundo! – ela parou, sorrindo e depois voltou a ficar séria. – Mas eu sabia o que estava tentando fazer, assim como agora.

— É? – Perguntei enquanto brincava com a manga da blusa, puxando um fio que não estava ali.

— Você colocava o sorriso corajoso e seguia em frente mesmo com medo para que não nos preocupássemos... Acho que preferia agir como se tudo estivesse bem para não nos ver mal. – ela se inclinou e segurou minha mão, parando minha tentativa de arruinar a blusa. – Não era seu trabalho, Katie, se preocupar assim com todo mundo.

— Bom... – comecei sem ter certeza do que ia dizer.

— Não é seu trabalho agora, também. – ela parou e esperou que eu olhasse para ela. Com a mão que não segurava a minha, ela avançou e pegou a lagrima que escorria lentamente. Eu não havia percebido que estava chorando. – Você precisa se deixar sentir, deixar que as pessoas entrem... Que vejam o que está sentindo, não tem nada de errado com isso!

Um soluço escapou dos meus lábios e eu sacudi a cabeça. Tudo o que eu queria agora era correr. Fugir o mais rápido possível, me esconder onde ninguém pudesse me ver.

Minha mãe continuou, atingindo em cheio o ponto mais sensível enquanto continuava a segurar minha mão e me olhar atentamente. Meus olhos se desviavam para todas as direções, incapaz de se manterem fixos em seu rosto.

— Essa parede que você tem? Ela não está apenas deixando os outros de fora. Ela está prendendo você dentro também e eu tenho medo de que quando perceber isso seja impossível sair.

Nos olhávamos diretamente nos olhos enquanto ela dizia isso e o peso de suas palavras me atingiram com toda força.

— Você me conhece bem demais. – disse e o choro que eu tentava não deixar me vencer, finalmente fez seu movimento final.

— Bem, eu te carreguei por aí durante nove meses. – apontou enquanto me puxava para os seus braços, me segurando forte mas delicadamente enquanto eu chorava.

Chorei por tempo demais e por coisas demais. Chorei pelas pessoas que eu havia perdido, por toda a injustiça que existia por aí. Chorei por ser uma idiota incapaz de fazer as mais simples coisas, como pegar o telefone e ligar. Mas também chorei de alivio pela pessoa que eu ainda tinha e que realmente estava sempre certa.

Após um longo tempo eu me afastei, secando o rosto com a manga da blusa e sorrindo bem fraco. Ajeitei o cabelo e encostei a cabeça no ombro da minha mãe, deixando o cansaço dominar.

— Que bagunça. – Comentei.

— Vai ficar tudo bem.

— Eu menti para ele.

— Eu sei. Mas sabe de uma coisa? Quanto mais você demorar para ligar para ele, mais difícil vai ficar.

Ela tinha um ponto, mas ainda assim...

— Você precisa dele e sabe disso. Ele precisa de você também. – Continuou.

— Ele não vai simplesmente vir para cá, mãe. – Apontei e ela se levantou subitamente. Tive que me apoiar rapidamente antes de bater a cara no sofá.

Eu havia dito aquilo, mas sabia que era uma mentira. Eu tinha, no fundo, apesar de toda a incerteza, a impressão de que Castle largaria tudo em Nova Iorque e me encontraria ali se eu dissesse que precisava dele.

— Bom, vamos ver! – Ela sorriu e observei horrorizada quando ela pegou o telefone, discando rapidamente e colocando-o no ouvido. Alguns segundos se passaram e antes que eu pudesse me recuperar ela estava falando. – Ei, Castle! É, Johanna. Tudo bem, e quanto a você?

Me levantei o mais rápido que pude, caminhando até ela em uma tentativa de tirar o telefone de suas mãos. Quando percebeu meu movimento, caminhou na direção contraria, de modo que ficamos presa em uma perseguição inútil ao redor da mesa de centro.

Ela continuou a falar com Castle e eu finalmente me sentei novamente, incapaz de permanecer de pé por mais tempo. Observei com renovado pavor enquanto ela perguntava a Castle – realmente perguntava – se ele gostaria de fazer uma visita. Ao que tudo indicava ele havia concordado porque no segundo seguinte minha mãe estava ditando coordenadas. Ai, meu Deus.

Ela sorriu para mim, parecendo se divertir um pouco demais e eu apenas conseguia encará-la. E então ela me passou o telefone.

— Alguém quer falar com você.

— Eu vou... – Minha voz se perdeu e eu não consegui fazer minha ameaça. Com as mãos tremulas levei o telefone a orelha. – Oi. – Foi tudo o que fui capaz de dizer e mesmo assim minha voz parecia fraca.

— Kate, oi! Eu sei que disse que você ligaria e eu estava mesmo tentando me comportar, mas bom, sua mãe ligou então tecnicamente... – ele continuou falando e eu mordi os lábios para não sorrir, ciente do olhar da minha mãe em mim. Olhei para ela até que se afastou, fingindo arrumar alguma coisa do outro lado.

Voltei minha atenção para Castle e Deus, como era bom ouvir a voz dele! Notei nesse momento o quanto eu realmente sentia sua falta. E ele estava se desculpando. De verdade, ele estava se desculpando comigo.

— Castle! – O interrompi. – Está tudo bem. Eu, ham, é minha culpa, eu disse que ia ligar e...

— Não ligou. – ele completou. Apesar de parecer magoado, ele não parecia tão bravo.

— É. Eu sinto muito, eu fiquei com medo e cheia de coisas na minha cabeça e eu sinto muito. – disse. – Eu ia ligar quando...

— Eu sei. – ele me interrompeu dessa vez. – Está tudo bem, eu sei. Nós podemos falar sobre isso uma outra hora, que tal assim?

Eu sorri, aliviada. – Seria ótimo. Então... Como está?

— Ótimo, você?

— O mesmo. – Disse e podia dizer que, de alguma maneira, nós dois estávamos mentindo. Continuei, tentando aliviar o humor: – Tirando o fato de que acabei de descobrir que meu pai me achava estranha. – lancei um olhar acusador para minha mãe.

— Ele não achava que você era estranha! – ela gritou e eu a ignorei.

— Ah, não se preocupe. – Castle disse eu podia ouvir o sorriso em sua voz. – É uma coisa universal de pais. Eu acho Alexis estranha também. – ele disse e eu ri quando ouvi um “Ei!” do outro lado.

— Ela não é. – defendi e ele riu. – Então... Você vem mesmo para cá? – perguntei, me sentindo muito insegura de repente. Quantos anos eu tinha, 15?

— Em algumas horas estarei em toda minha glória na sua porta. – ele parou. – A não ser... A não ser que não queria, eu posso...

— Não! – quase gritei. – Eu acho que vai ser ótimo.

— Legal.

— Legal. – respondi de volta e ficamos alguns minutos em silencio.

— Certo, eu te vejo daqui a pouco, então.

— Tchau. – respondi e desliguei, não dando tempo para que ele falasse mais nada. Olhei para minha mãe imediatamente, encontrando seu olhar angelical. – Sério?

— Você adorou.

Revirei os olhos. – Ele vem. – disse, incapaz de controlar o sorriso.

— Uau, mas olha só isso! Quem diria? – fingiu choque.

— Hilário! Pode me ajudar a trocar essa roupa?

Ela sorriu para mim maliciosamente, mas caminhou na minha direção, me ajudando a levantar.

— Vocês crianças... – parou então, me olhando com inocência. – Você acha que vou precisar sair?

— Mãe! – Disse e ela riu. Era como se ela não se divertisse assim há tempos. – Eu estou tão feliz de estar se divertindo com isso.

— Eu também! Quer dizer, vocês deviam se beijar e acabar logo com isso.

— Claro.

— A vida é curta, é o que eu digo.

Ela tinha razão, claro. Sorri para seus comentários inadequados enquanto escolhíamos uma roupa, pensando que ela estava mesmo sempre certa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Me contem o que acharam, sempre amo saber!

Aliás, eu postei uma oneshot hoje mais cedo, se alguém quiser: https://fanfiction.com.br/historia/745290/Be_Okay/

Beijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stolen Moments" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.