Psi-Cullen (Sunset - pôr-do-sol) escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

~~ Esme aparece no próximo capítulo



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Quando chego na sala de aula respiro aliviada que o professor não tenha chegado ainda – eu temia ter que ficar do lado de fora duas aulas seguidas; e se meu pai descobrisse que eu fiquei fora de uma aula, ele iria ficar muito zangado e me mataria, eu acho – e fico do lado da porta encostada na parede esperando pelo mestre. Alguns minutos depois ele chega trazendo uma estante de metal com um videocassete e uma televisão mais ou menos nova - por isso a demora!, penso: 'Oba filme!' Eu ofereço ajuda:

— Precisa de ajuda, professor?

— Ah Carol, não obrigada... – eu já me preparava para entrar na sala quando ele complementa. - Quer dizer, pode levar a minha mochila em cima da minha mesa?

— Claro! - Pego a bolsa dele, entro na sala, deixo a mala do professor em cima da mesa dele e me sento no meu lugar. A minha carteira é a primeira da fila e permanece constantemente encostada na mesa do professor, formando uma esquina com esta.

 - Aqueles que estão nas primeiras carteiras vão precisar sentar mais para trás – diz ele arrumando o televisor e colocando o vídeo. Dá um pause na fita e espera enquanto nós alunos nos ajeitamos.

'É claro, eu não iria conseguir ver nada do meu lugar'.

A sala vira uma bagunça, carteiras e cadeiras sendo arrastadas. O barulho é tão irritante que chega a ser infernal. O guincho do metal no chão é enervante.

— Levantem as cadeiras, pessoal – comanda o professor.

Meus ouvidos agradecem. Sorrio para o mestre e ele me compreende e sorri de volta.

Nos agrupamos no centro da sala para o fundo. Todos sentados para assistir ao filme. Não é como num auditório que as cadeiras das fileiras mais afastadas são elevadas um pouco para a cabeça dos que estão na frente não atrapalhar a visão de quem está atrás e por isso o professor pede que os mais altos sentem nas cadeiras mais afastadas. Eu aprovo a ideia, pois não sou nem tão alta e nem tão baixa, fico na média; eu não conseguiria ver se os mais altos ficassem na frente.

Então o professor apaga a luz e vai soltar o filme apertando play no controle. Serão duas aulas seguidas de filme sobre as células. Duas aulas na penumbra, é preciso muita força de vontade para não dormir...

...XXX...

 

Assim que  o filme termina, o professor desliga  o televisor e coloca a fita para rebobinar, ouvimos o som característico da fita voltando. Talvez ele vai passar o filme para outra turma também. Ele acende as luzes e meus olhos piscam involuntariamente até se adaptarem à claridade.

Alguns minutos depois, toca o sinal para a terceira aula e a coordenadora vem me chamar:

— Caroline, precisamos da sua presença na diretoria.

Meu coração dá um salto, não de susto porque alguma coisa dificilmente me pega de surpresa, mas por causa da estranheza. ‘O que eu fiz?’ Minha mente não me acusa de nada. ‘Será que eu fiz algo e não sei o que fiz?’

— Ih, aprontou alguma – ouvi um aluno da turma do fundão comentar com voz de deboche - Quem diria hein, com essa carinha de santa!

Se alguém tivesse feito alguma coisa a chance seria maior que ele tivesse feito, ele é  bad boy. Fiquei tão envergonhada que não consegui dizer nada em minha defesa. Só olho para o rapaz indefesa e incrédula que ele duvide de mim. Eu não fiz nada! Bem, eu acho que não. Acredite em mim. Porque ele duvida se eu nunca dei motivo?

Ainda bem que o professor já não estava mais na sala se não seria muita humilhação para mim passar por isso na frente dele, ele é meu vizinho que às vezes já até me deu carona para casa? Como eu iria olhar na cara dele? Não conseguiria, mas ainda bem que ele não está mais aqui.

Abaixo a cabeça constrangida e caminho para a porta.

— Ela não fez nada – diz uma outra aluna me defendendo. Fico muito grata a essa menina e lanço-lhe um olhar de gratidão, que espero que ela tenha compreendido.

Saio da sala acompanhada pela mulher morena de óculos. Ela não parece me olhar com repreensão, mas isso também pode ser porque ela não sabe o que a fez me chamar.

— Não se preocupe – ela diz ao ver a minha expressão abatida. Sempre sofri por antecipação. Mas, se ela está dizendo para me acalmar, isso quer dizer que ela sabe por que foi me chamar. Pode ser que eu tenha cometido alguma falta sem saber e ela também não sabe e por isso não me recrimina.

Não respondo e apenas sigo com ela na direção da diretoria imersa em meus próprios pensamentos. ‘Por que isso está acontecendo comigo? Por que estou passando por essa humilhação? Eu sempre fui uma boa aluna, os professores nunca precisaram chamar minha atenção, minhas notas são exemplares... Por que eu estou aqui?’ Me torturo, mas não saberei a causa que me levou lá sem antes ouvir.

Esses eram meus pensamentos quando entrei na sala da diretoria. A diretora era uma mulher loira e de olhos azuis, ela olhou para mim assim que passei pela porta  erguendo a cabeça de um livro que estava lendo – talvez minha pasta, pois não parecia um livro de história, como um romance ou algum outro gênero literário.

— Caroline?

— Sim – respondo ainda acabrunhada, minha voz não passa de um sussurro pouco audível. Eu tenho de me esforçar muito para conseguir empurrar a palavra para fora da minha boca e fazê-la atravessar a minha garganta quase fechada.

— Sente-se, por favor – ela me indica com um gesto da mão a poltrona à sua frente encostada na  parede.

Me sento pacientemente no lugar indicado tentando controlar meu nervosismo através da respiração. ‘Não vão te matar. Não sofra antes de saber o que é Carol, ninguém vai te machucar. Só você está machucando a si mesma pensando que vão te machucar. Você ainda nem tem indícios do que pretendem fazer. Até agora foram muito gentis com você.‘ 'Mas meus colegas vão pensar que fiz alguma coisa de errado, mesmo que eu não tenha feito nada. Já estão pensando.’ ‘Deixa eles pensarem o que quiserem, você não tem nada com isso. Se eles pensarem errado deixem que pensem. Você não fez nada e está com a consciência tranquila.’

— Você sabe porque está aqui? – pergunta a diretora para mim. Achei que já estivesse claro no meu rosto que eu não sabia o motivo.

— Não faço a mínima ideia, senhora – meu constrangimento era evidente.

— Não se preocupe, não é nada de mais – ela diz para tentar me acalmar um pouco ao ver meu estado. Então porque tiveram que me chamar no meio da aula? Não poderia ser de outra forma mais discreta e que fosse menos constrangedora para mim? Não seria mais fácil me localizar no começo ou no final da aula ou no intervalo. Ou poderia ser pior se telefonassem para minha casa. Só de imaginar meu pai atendendo o telefone me deixa apreensiva. Melhor que foi assim. Ele não precisa saber de nada. Apenas eu fui constrangida, seria pior se ele soubesse e ainda ficasse me humilhando por causa disso.

— Preciso voltar logo para a sala, a professora não vai gostar nada de ver meu material lá e eu não – digo olhando através da janela para a direção da minha sala de aula. Na verdade, eu queria que ela me dissesse logo porque vim parar aqui. Sempre me comportei para ficar longe daqui e vim parar aqui mesmo assim. Não entendo porque.

— Ela sabe que você está conosco, não se preocupe. Chamamos você aqui para dizer que temos uma consulta marcada para você com a psicóloga da escola.

Ah, eu sabia. Meu pai iria mesmo me rebaixar. Ele odeia psicologia.

— Acho que não preciso – Eu digo aliviada ao saber do que se tratava e que eu não fiz nada de errado. Não que eu tivesse feito deliberadamente, intencionalmente, mas eu acho que não fizera nada de errado. Porém, não sei o que os outros pensam e se para eles eu tinha feito algo errado. Por isso fico mais tranquila ao saber que eu não fiz nada de errado como imaginava que tinha feito.

Mas a minha resposta foi tão automática que a diretora ficou  desconfiada e acreditando que eu precisava mesmo de ajuda...

— Seus professores acham que você deve ir. Vá ao menos essa sexta-feira, se não quiser mais depois fale com ela.

— Está bem, vou sim. Quer dizer, venho – digo me levantando num salto para sair. Eu estou feliz por não haver sido castigada por algum erro que eu cometi sem saber. - Posso ir, agora?

— Sim. A consulta é nessa sexta logo após a aula, está bem?

— Ah sim. Obrigada – digo por sobre o ombro sem virar para trás, estou com pressa de sair dali. Não que tenha sido tratada mal, mas a fama desse lugar não é muito boa. Ao menos entre os alunos e me preocupo com o que meus colegas vão dizer. Para adolescente é muito importante a opinião do grupo, mesmo para uma solitária 'CDF', nerd como eu. Queria ser parte da turma, mas sou excluída. Isso me dói. Agora se eu tinha alguma chance já era. Acabou.

A opinião dos outros é mais importante para mim do que eu gostaria que fosse. Eu não deveria me importar muito com o que os outros pensam, mas não consigo evitar. Agora que vim na diretoria, não importa a razão, mesmo que tenha sido esse motivo. Vou ficar com essa mácula para os outros e jamais ninguém vai querer se aproximar de mim com medo de vir parar na direção. Estou morta, praticamente. Posso desistir de querer me integrar, vou ser um lobo solitário para sempre.

Corro para chegar rápido na sala e não perder muito mais da aula. Ao chegar lá, peço licença para a professora e entro em silêncio, me sento no meu lugar e fico pensando. Eu não vou poder fazer o almoço sexta ou faço quando voltar, vai sair mais tarde. O problema é que meus irmãos estudam a tarde. Tomara que meu pai não fique zangado. Esqueci de perguntar o nome da psicóloga, ah deixa pra lá, depois eu descubro.

Viro para a frente e copio no meu caderno o que a professora está escrevendo no quadro-branco. O quadro-negro aqui é branco e ao invés de giz os professores usam canetões azul ou preto, às vezes vermelho, para escreverem na lousa.

...XXX...


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