Era uma vez uma garota sensível e inteligente, mas nada esperta, que se apaixonou perdidamente. O alvo do seu amor platônico era um garoto bonito, extrovertido e superpopular que não a enxergava como nada além de uma boa amiga.

A garota sabia que precisava se declarar, pois seu coração se partia em pedaços cada vez que via seu amado rodeado de outras meninas, sempre lindas e poupulares como ele. Mas ela era tímida, tímida como a lagarta que se esconde em um casulo, e sabia que jamais conseguiria expressar em palavras o sentimento profundo que nutria por ele.

Um dia, finalmente, o casulo se rompeu e a lagarta transformou-se em uma linda borboleta. Infelizmente, o garoto não estava mais lá para ver e a menina deixou de acreditar no amor.

Para sempre.

~ Back to School ~

Manhattan
          26 de outubro de 2012

Capítulo 1

Eu pesco um terninho preto em meio a uma longa coleção enfileirada por cores no meu guarda-roupa. Do preto ao branco, atravessando tons de cinza e é apenas isso. Nada colorido ou muito chamativo, que contraste com a minha personalidade e que eu provavelmente nunca teria coragem de usar.

Eu não posso dizer que ligo para grifes e sempre foi assim. A diferença é que, hoje, eu sei valorizar um bom corte e bom um tecido, o tipo de roupa que não afunda a sua imagem, nem te destaca na multidão pelos motivos incorretos.

Quem sou eu? Isabella Swan. Vinte e oito anos e uma vida estável, com um emprego, um cachorro e um apartamento limpo e organizado.

Enquanto todos estão por aí falando sobre ser uma completa bagunça, eu estou feliz trabalhando para a Blue & Berry e gerenciando o meu tempo da seguinte forma: pela manhã, trabalho. À tarde, mais trabalho. À noite, planejar todo o trabalho a ser feito no dia seguinte.

Minha chefe atual, Victoria Brittany Halls, é uma vampira de almas. Ruiva, alta e dona de um corpo estonteante, ela é uma mistura de anjinha da Victoria's Secret com a encarnação do anticristo. 

Quando eu chego para trabalhar na segunda feira, às oito, Tarisha, minha assistente, pede que eu vá imediatamente para a sala de reuniões do sexto andar.

Victoria tem o costume de convocar todos os funcionários para uma reunião toda primeira segunda feira do mês, por isso, eu nem me surpreendo. Apenas deixo a bolsa em meu pequeno e elegante escritório e corro para o elevador antes que a porta se feche.

Do lado de dentro do maquinário de metal está Jacob Black, a pessoa que eu mais odeio no mundo. Black é o tipo de cara que se acha um Deus. Corpo incrível, olhar penetrante e sorriso agressivo, mas não passa de um daqueles saradões de academia enfiado em um terno preto caro.

Ele acha que todos os seus atributos físicos serão responsáveis por levá-lo a um outro patamar na empresa, mas na verdade, ambos sabemos que ele é só mais um escravo de Victoria lutando para mostrar o seu talento.

— Bom dia, Swan.

— Bom dia, Black.

Eu finjo que não noto o sorrisinho cínico dele, mas noto. A experiência, no entanto, me diz para agir friamente.

Desde que entrou na Blue & Berry, há um ano, Jacob Black transou com quase todas as funcionárias da empresa. O cara é uma lenda. Não do jeito certo e profissional, mas realmente é uma lenda.

Quando eu sinto sua mão deslizando pelo decote do vestido em minhas costas, dou um pulo e o fuzilo com os olhos. Mas é tarde demais. O desgraçado aperta a minha bunda ao mesmo tempo em que a porta do elevador se abre.

Victoria está reunida com vários outros membros da equipe, parecendo esfuziante. Quando ela me vê sair do elevador, ainda com o bumbum queimando pela mais recente demonstração de mediocridade do Sr Black, arqueia as sobrancelhas entusiasticamente.

— Jacob e Isabella, excelente! Tenho uma novidade que, com certeza, vai agradar aos dois.

Eu não consigo pensar em nada que vá agradar aquele projeto de ser humano e a mim, ao mesmo tempo, mas sorrio educadamente e entro na sala seguida pelo traste.

Eu percebo que apenas diretores de arte estão presentes na reunião. Seja qual for o assunto, Victoria deixou de fora nossas duplas, os responsáveis pela parte textual das campanhas.

Black e eu cumprimentamos a todos com acenos rápidos e ocupamos os dois únicos assentos vazios ao redor da enorme mesa de madeira polida.

— Bem, como eu havia acabado de anunciar, nós recebemos um pedido muito especial da Yves Saint Laurent, ontem, pouco depois que o expediente de vocês encerrou _ Victoria anuncia com um sorriso triunfal, que me faz pensar que ela adoraria dar aquela notícia mais mil vezes ao longo do dia. _ O que é maravilhoso, pois a vaga para Diretor de Criação está efetivamente em aberto.

— O que? _ eu engasgo, sentindo uma pontada no coração e o olho esquerdo tremendo _ Você não disse que Robert ainda ficaria na empresa por mais ou menos seis meses?

— Sim, mas infelizmente Robert sofreu um ataque cardíaco neste fim de semana e decidiu antecipar a sua saída da empresa _ minha chefe explica. _ Por isso, eu estou abrindo as candiaturas para o cargo de Diretor Criativo. Agora. Para todos os diretores de arte.

Uma combinação de medo e ansiedade ameaçam me mandar para um quarto de hospital, junto a Robert. 

Eu venho sonhando com essa vaga desde que ela ainda era uma hipótese, há mais de um ano. Agora ela é real, só que minha chefe acabou de incentivar outras três pessoas a entrar no páreo. E uma delas, eu posso dizer, faria qualquer coisa para consegui-la.

Jacob pisca para mim do outro lado da mesa e abre um sorriso predatório.

Eu sinto o café da manhã voltando pela garganta.

— Vocês irão trabalhar sem os seus parceiros durante as próximas semanas e, quando o prazo terminar, cada um vai me entregar um projeto para uma campanha espetacular para Saint Laurent. Nesse meio tempo, eu espero que vocês não comam, não façam sexo e não durmam... apenas no caso de ter algum tipo de sonho inspirador, é claro _ ela sorri de canto. _ Como não terão seu redator para criar o texto, podem escolher fazer o seu próprio texto ou abrir mão dele. O risco é todo de vocês _ ela responde cada olhar ansioso na sala com seus próprios olhos azuis brilhantes. _ O responsável pelo melhor projeto, além de ver seu trabalho em cada tv, site, outdoor ou revista de moda no mundo, ainda terá o prazer de ser o novo Diretor de Criação da Blue & Berry.

Quando a reunião chega ao fim, eu flutuo de volta para a minha sala como se estivesse presa em um sonho. Um sonho que pode se transformar em pesadelo a qualquer momento.

Eu tenho que conseguir esse cargo. Eu preciso disso desesperadamente.

Mas a concorrência é desleal. Jacob, Catherine e Annelise são deuses da moda. Armani, Hugo Boss e Prada são como velhos amigos com quem eles conversam todos os dias, enquanto eu ainda me maquio seguindo tutoriais na internet!

Eu não entendo muito de moda ou beleza, apenas o suficiente para me manter com uma boa aparência. Cabelos castanhos, longos e penteados, terninhos bem cortados e saltos altos como manda o figurino do departamento. Mas a única coisa realmente interessante em mim flui diretamente dos meus dedos para folhas de papel A4 e, depois, são ampliadas às dimensões de uma campanha quase sempre esmagadora.

A Blue & Berry trabalha apenas com os melhores. E eu sou uma das melhores, mas não do jeito certo. Eu tenho o intelecto adequado, mas a minha aparência ainda é apenas... aceitável.

Eu sento atrás da minha mesa, afundando os cotovelos em uma pilha de papéis e sinto a cabeça latejar.

A única chance que eu tenho de conseguir aquela vaga é criar uma campanha monumental para uma das maiores grifes internacionais do ramo da moda. E eu não tenho ideia do que fazer.

Porque, no fundo, ainda sou a mesma estúpida, infeliz e arruinada Isabella Quatro Olhos de doze anos atrás.

26 de outubro de 2000

~ Exatos doze anos antes ~

Tanya fica me encarando como se esperasse uma resposta, mas é claro que ela sabe que eu não vou dizer nada, o que é tremendamente humilhante.

Edward também está me olhando, mas o jeito que ele me encara é bem diferente. Existe compaixão ali e aquilo destrói o meu coração. Outra vez. Eu jurei que ficaria imune aos olhares dilacerantes de Edward... carinho, respeito, saudade e até consideração, mas a verdade é que ele acaba comigo.

Durante dez anos fomos os melhores amigos do mundo. O Cullen mora ao lado da minha casa e, por todo esse tempo, nós dividimos praticamente tudo. Das melhores às piores experiências. Nossas alegrias, medos e angústias. Ele me apoiou, no ano anterior, quando me inscrevi no curso de Artes da Universidade de Forks para segundanistas e eu o incentivei a entrar no curso de verão para jovens escritores, mesmo sabendo que o seu pai morreria se Edward não fosse um engenheiro de sucesso como ele.

Nós ouvimos as histórias um do outro, as inseguranças e os medos, até mesmo os mais bobos, como o meu pavor de trovões e o medo dele de andar de avião. Ele me ensinou a andar de bicicleta, foi o meu primeiro amigo, o meu primeiro beijo e o meu primeiro amor. Até que cresceu e ficou tão bonito que se tornou impossível para as outras garotas não desejá-lo.

Mas o Cullen nunca viu em mim tudo aquilo que eu enxergava nele. Sendo assim, eu preferi me afastar para evitar sofrer mais.

Edward estende a mão para me ajudar a levantar. Eu hesito, mas aceito a oferta, ignorando os olhares e risinhos de deboche ao redor. Eu gosto de pensar que estou acostumada com isso e que esse tipo de brincadeira cruel já não me atinge mais, mas a verdade é que estou contando os dias para dar o fora de Forks.

Eu fui aceita na Universidade da Califórnia e, em alguns meses, estarei morando em um alojamento com pessoas que se importam mais com o cérebro do que com a própria aparência. Eu mal posso esperar.

— Tudo bem? _ Edward pergunta com sua voz doce e seu tom cordial, o que me fez querer ser tragada pela terra.

— Ok _ respondo, evitando contato visual. _ Obrigada _ e saio em passos largos pelo corredor com a voz de Tanya ecoando atrás de mim.

— Obrigada por nada, Quatro Olhos. E não se esqueça de votar na gente para Rei e Rainha do Baile de Inverno!

Eu abraço os livros e não páro de andar, mesmo quando Rosalie e Alice aparecem ao meu lado, me abraçando pelos ombros para me levar pra casa.