Colors escrita por IVY


Capítulo 13
Chapter thirteen: Death is not the end


Notas iniciais do capítulo

Então, estamos praticamente no fim. O epilogo não está pronto mas eu não aguentei esperar mais e publiquei este capitulo de uma vez! Espero que gostem. Eu sei que esta história é curta e não é uma das melhores, mas foi escrita com carinho. Essa é a primeira história que concluo e pra mim isso significa muito. Queria agradecer a Kika que comentou várias vezes aqui e, através destes comentários, me motivou a continuar. Enfim, boa leitura.



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Lentamente, Caleb Hunter me afastou de seu abraço, puxando-me pelos ombros para trás antes de abaixar-se afim de poder olhar em meus olhos, ficando apenas alguns centímetros mais baixo que eu. Olhei em seus olhos claros e tempestuosos e senti a dor que eu sentia nos olhos dele, que me olhavam com um sentimento que eu não pude definir ou entender. Ao redor, tudo permanecia um caos. Um grande caos de memórias, mortes e emoções alinhadas umas nas outras. Eu sentia o mundo despedaçando, contudo, eu me mantive de pé, olhando para aquele senhor que eu descobri ser meu pai. Meu pai. E o Senhor Franco era meu tio. E eu nunca soube, apenas dias antes do meu fim.

Ele acariciou meu rosto com seus dedos o mais delicadamente que pôde, e eu quis sorrir, mas não consegui. Era impossível sorrir após presenciar tamanho horror. Eu ainda não havia superado, mesmo me forçando a fazê-lo.

— Eu li a sua carta – ele sussurrou calmamente. Suspirei com a informação, a carta era pessoal e escrita para aquela que eu aprendi a amar – a sua atitude é muito nobre, mas não posso deixar que faça isso.

O quê? Minha feição esboçou a mais pura perplexidade.

— O quê? Eu estou fazendo o que disse que ia fazer, eu vim para acabar com esses demônios, salvando ela – fiz sinal apontando para o além, aonde a garota deveria estar – Ela não veio com você – vacilei – ou veio?

Meu nível de preocupação se elevou. Não poderia deixar mais ninguém morrer na minha frente. – Não – ele disse e eu novamente suspirei – pedi para que esperasse, disse a ela que iria te trazer de volta.

— Não! Não irei, cumprirei meu destin...

Caleb segurou minhas mãos e as apertou sem muita força.

— Emília, você não é um herói de um livro qualquer, seu destino não é se destruir ou se sacrificar, seu destino é ao lado daquela garota, como você quer que seja.

— Nem tudo é ou será como quero – respirei fundo, tentando conter o choro que viria – mas eu preciso fazer isso, é o único jeito.

Os olhos dele fitaram o chão por um momento. Eu utilizei este mesmo momento para me acalmar, estava ficando nervosa com a conversa e receosa com o rumo que ela estava tomando. Inesperadamente, Caleb levantou-se e olhou para mim, pegando minha mão esquerda – vamos, preciso te dizer algo em um lugar mais apropriado.

Apertei sua mão contra a minha e deixei com que ele me levasse. Precisávamos de uma pausa, nem que ela durasse apenas alguns minutos.

...

 A porta do jardim se abriu com um rangido seco e silencioso em comparação ao trovão que gritou no céu. A estufa era bela em um dia nublado, em compensação, em noite de tempestade, dava-me arrepios. Estaria completamente escuro se não fosse pelos relâmpagos que dançavam ameaçadoramente acima de nós, que nos protegíamos com o vidro que, por um milagre inexplicável, não se quebrou. As plantas, porém, movimentavam-se, como se tentassem correr para longe. Rapidamente, conclui que o vento de fora entrava para dentro por alguma brecha.

Meu pai soltou minha mão e caminhou até a mesa em que nos sentamos nas outras vezes. A mesa da verdade. Fora nessa mesa que eu obtive respostas, por mais estranhas e confusas que elas fossem. Eu o observei puxar uma cadeira e se sentar. Olhei ao redor, fixando meu olhar nas plantas que se debatiam com a força do vento. Não demorou muito para que ele começasse a falar.

— Eu sabia muito pouco sobre você, muito pouco mesmo. Quando o Diabo-Branco levou sua mãe eu... Pensei que ele tivesse a matado ou torturado das piores maneiras. Ele a culpou de ser responsável pela minha revolta, por preferir viver entre os humanos ao invés de mata-los sem piedade. – ele soltou o ar dos pulmões, parecia que o estava prendendo por um tempo – Mas sua mãe era especial, pra mim e para o Colin. – A menção ao nome de meu tio me fez recordar de sua morte. Estremeci. - Ela não era a responsável. Eu era. Quando você nasceu – movi o olhar até pousar nele, ele olhava para frente, como se eu estivesse sentada na cadeira, junto a ele na mesa. – uma tempestade como esta estava no céu, é assim que nascemos nesse mundo, porém, era diferente, era mais forte. Eu estava curioso, queria olhar no espelho e ver quem era. É claro, na época eu não sabia de quem se tratava, mas mesmo assim, presumi que era um caco de vidro poderoso e resistente.

Ele fez uma pausa. – Colin sempre viajou pelo mundo, ele sempre disse que era seu trabalho, mas Colin herdou tanta riqueza que trabalhar para ter mais era loucura. Não, eu sabia que ele estava procurando Iris e ele nunca a encontrou, mas, em uma de suas viagens, durante uma tempestade, ele decidiu repousar em uma pousada simples e ele me contou que, quando estava quase pegando no sono, algo chamou sua atenção.

Me aproximei, dando um passo após o outro para frente, curiosa e hipnotizada com a história. Minhas sobrancelhas subiram em meu rosto em uma curva. Eu estava descobrindo tudo, ele estava me contando tudo. Senti um fio de luz em mim, como a famosa luz no fim do túnel. E então minha consciência estragou tudo. Pensei comigo mesma: se ele está contando tudo agora, é porque talvez não vá poder contar nunca mais...

— O que foi? – perguntei, o incentivando a continuar.

— Uma mão no espelho, pequena como a de um bebê. Ele, não acreditando no que via, esfregou os olhos e notou que a mão desapareceu. Mas aquilo o deixou esperançoso. Meses depois, Colin ouviu boatos de que a filha da dona da pousada havia sido amaldiçoada. Louco para encontrar sua irmã, ele voltou lá – Caleb engoliu em seco – e encontrou poças de sangue pelo local, assim como corpos e um fedor adocicado – ele abriu um sorriso triste – ele fez questão de jogar esta parte na minha cara. Enfim, em meio aquela cena horrível, ele encontrou um bebê pálido, porém vivo. Ele levou este bebê para minha casa e me cobrou respostas.

Meus lábios tremiam, e só reparei quando tentei dizer algo. Mas de mim saiu algo parecido com: - Ziz o eu me bebê? – Caleb sorriu, compreensivo e continuou – Era você. Ele queria saber se, através de você, ele poderia salvar a irmã dele, como uma troca justa. Eu disse a ele que você era diferente, que era incerto, que o certo seria esperar você se tornar madura o suficiente para se comunicar com o outro lado. Eu o avisei que seria arriscado, expliquei tudo sobre os reflexos e revelei que você possivelmente havia trocado de lugar com a filha da dona da pousada, porque essa era a única explicação! Colin já estava furioso comigo antes, depois ele resolveu me perdoar pelo sumiço de Iris, mas também nunca mais me procurou. Até esse ano. Você era um reflexo, apenas um bebê quando ele saiu da minha casa com você em seus braços, e eu achei que você era um reflexo quando te conheci. Mas você nunca foi, minha filha.

— O que eu sou? Eu... – sentei na cadeira em frente a dele na mesa, o encarando com surpresa e perplexidade no olhar – Eu sou um Diabo-Branco? – ao mencionar aquela espécie de monstros, minhas palavras foram ditas com rancor e nojo, até mais do que eu gostaria.

— Metade, mas sim – ele olhou para as próprias mãos, cabisbaixo – graças a mim.

Silencio. O fitei por alguns segundos, suavizando minha expressão com o tempo que se passava. Era ruim, a revelação não era uma boa notícia, mas, dentro de mim, me senti preenchida de certa forma. E, honestamente, um plano fora plantado em minha cabeça após as palavras dele, mesmo que eu ainda não soubesse bem o que faria.

— Colin, por fim – continuou Caleb – apegou-se a você, não queria perder o contato. Em meus sonhos, logo quando passei uma noite no casarão, o Diabo-Branco me avisou que uma criança nascera do preto e do branco e que só se via isso. E que esta criança possuía meu sangue. O quebra-cabeça fora montado em minha mente e eu soube que se tratava de você.

— Mesmo? Eu sentia, no fundo, uma figura paterna em você – meu comentário o fez sorrir.

— Emília, lhe contei isso porque não terei outra oportunidade.

— Já adivinhava... – murmurei baixinho.

Ele me encarou, aflito.

— Eu entrarei no espelho em seu lugar...

— NÃO! – gritei por impulso, me arrependendo segundos depois.

— Querendo você ou não – ele terminou a frase, ignorando minha objeção.

Balancei a cabeça em negativa, observando cada detalhe de seu rosto. – Essa decisão não é só sua.

— Eu menti pra você, não é você que o espelho quer.

Fechei os olhos a tempo de uma lagrima descer e escorregar pelo meu rosto.

— É você – conclui.

Abri meus olhos, molhados, ardidos de tanto chorar, minha visão já turva. Meus dedos brincavam uns com os olhos, era um tique nervoso que eu aderi no momento para manter o controle. Morte, despedidas... Todos estão saindo da minha vida da mesma maneira que entraram: de repente.

Caleb Hunter, meu pai, assentiu.

Engoli em seco. – Não o impedirei, se é isso o que você quer – havia um quê de resistência em minha voz, e ele percebeu rapidamente, erguendo suas sobrancelhas brancas. – Mas me deixe me despedir de você no momento que você for, é tudo o que te peço.

— Tudo bem – ele levantou-se da cadeira – também quero me despedir.

...

Caminhamos em silencio até meu quarto, e o caminho pareceu infinito até que finalmente paramos em frente a porta quebrada e escancarada do cômodo. Pelo estado do quarto, deduzi que os Diabos-Brancos haviam saído pelo meu espelho, a única coisa que parecia intacta por ali. Ao entrar, notei que o estrago era grande, e mesmo que o estado do quarto não era o fato mais importante que havia acontecido nas últimas horas, senti um desgosto dentro de mim. Apesar de tudo, era o meu quarto.

Caleb olhou para o espelho e em seguida para mim, e senti em minhas veias que aquele era o momento. Minhas mãos tremiam, mas eu tentava disfarçar meu nervosismo unindo-as e entrelaçando meus dedos uns nos outros. Lutava com o choro que se instalou em minha garganta seca. Precisava aguentar mais um pouco, precisava me manter de pé.

Ele agachou-se novamente, fitando meus olhos com seus olhos arregalados. Franzi o cenho, refletindo sobre sua feição. Ele estava tentando não chorar, demonstrando ser forte naquele momento. Caleb voltaria para o seu pesadelo, o lugar que fugiu e aprendeu a odiar.

— Eu amei te conhecer – ele confessou, abrindo um sorriso sincero, triste e feliz ao mesmo tempo – e é uma lastima não poder te ver crescer, eu perdi muita coisa mas, fico feliz que ao menos tive a oportunidade de te conhecer. Muita tragédia aconteceu, passamos por muita coisa, principalmente você. Mesmo assim, eu sempre lembrarei do seu rosto e estarei com você, talvez não do jeito que eu gostaria, mas da única forma que poderei.

Funguei como uma criança infeliz, e não me importei com meu ato infantil. Não conseguia desviar dos olhos dele, eles me prendiam. – Quando você passar por aquele espelho, matarão você – falei, tristonha – e você não estará mais comigo, nem aqui, nem no espelho...

— Eu sempre estarei – ele apontou para o meu peito. O lado do coração. – Aqui – e subiu até a cabeça – e aqui, se você permitir, minha memória estará com você e, você lembrando de mim é mais do que o suficiente.

Desabei em lagrimas, soltei minhas mãos bruscamente e o abracei com força. Ele retribuiu o abraço, e logo senti suas lagrimas quentes em minha bochecha. Eu sorri, um sorriso triste. Nos mantivemos abraços por um tempo, e confesso que não queria larga-lo, pois sabia o que viria a seguir.

O soltei. Ele levantou e se afastou de mim lentamente, ainda olhando para mim, ele andava de costas até o espelho, que, encostado na parede, aguardava. Mas não por Caleb Hunter. Por mim.

Esperei ele se virar, para enfim desprender seu olhar de mim. Soltei o berro mais alto que pude, desfiando minha voz e minha garganta já falhada por causa dos choros anteriores. Lagrimas ainda escorriam pelo meu rosto. Com o plano montado em minha cabeça, impulsivo e suicida, corri com toda a velocidade em direção ao espelho. Surpreso com a minha atitude, Caleb Hunter virou-se no exato momento em que passei por ele. Como se o mundo girasse devagar, vi a expressão de pavor em seu rosto. E então, em um piscar de olhos, tudo se tornou rápido outra vez.

Meu corpo foi engolido pelo espelho. Mas antes, segundos antes, eu pude ouvir um grito.

Um grito masculino, de pavor. Olhei para trás. Não havia nada.

Havia salvado meu pai, a garota.

Estava dentro do espelho, entretanto, algo me dizia que meu destino não se limitaria ali. Não, algo maior esperava por mim. Para ser mais especifica, algo enorme, branco e com chifres.

Um cheiro adocicado invadiu o local.

...

Tudo era branco e tudo também era nada. Eu esperei por algo, mas minha espera foi em vão. Tive a impressão de caminhar por um longo tempo sem sair do lugar. O silencio que se instalava no local me deixou apreensiva e desconfiada.

Havia passado por um Caleb Hunter perplexo e adentrei o espelho, provavelmente o deixando com raiva de si próprio. Este pensamento me fez vacilar por alguns instantes, contudo, precisava fazer um bem maior, pelas pessoas que haviam morrido e sangrando naquele casarão que antes fora belo.

Também sentia vontade de pôr um fim no sofrimento que se iniciou quando Caleb decidiu viver com minha mãe. Ninguém possuía o direito de retirar ou governar a vida de outro, e aquele Diabo-Branco aprenderia isso assim que provasse do próprio veneno.

Ouvi um som estranho e distante, parei de caminhar e olhei ao redor, procurando pela causa da quebra do silencio. O som aumentava a cada segundo, e logo o identifiquei como o som de passos. Um fedor adocicado invadiu minhas narinas, fazendo com que meu estomago sentisse um enjoo instantâneo que guardei dentro de mim. Não era hora para essas coisas, precisava ter foco.

Me virei bruscamente ao perceber uma movimentação perto de mim e me assustei por estar certa. Dei um passo para trás, encarando a alta figura branca que me encarava. Era ele. Seus chifres eram enormes, cheios de curvas e seus olhos ameaçadores. – Emília – sua voz ecoou pelo local sem fim até estar distante o bastante para não ser mais ouvida – Estava observando vocês pelo espelho e imaginei que não era você quem estraria, mas eis você aqui, me surpreendendo novamente.

— Você não me conhece, tudo que vier de mim será uma surpresa – retruquei entredentes. Estava nervosa, porém, me concentrando muito para não transpassar o sentimento.

O Diabo-Branco abriu um sorriso macabro, lançando-me arrepios pelo corpo.

— Bem-dito – sua voz era forte, grossa e soava como um corte lento de uma lamina recém afiada. O pior de tudo era que ele parecia estar se divertindo, isso ajudou a inflar minha raiva – Decidiu aceitar seu lugar aqui? Já tenho uma missão para você, uma humana interessante que deve morrer.

As paredes invisíveis ao nosso redor tremeluziram e imagens começaram a se formar nelas. Olhei, impressionada e surpresa com aquela magia estranha. Quando as imagens se tornaram nítidas, meus punhos cerraram. Ela estava sentada na nossa cama improvisada, dentro da pequena cabana de Caleb. Encolhida como um animal indefeso com medo do predador, abraçava uma das almofadas contra si. Fitava a porta, esperando que alguém a abrisse. Seus olhos estavam inchados e seus cabelos soltos e bagunçados. Ela era bela, mas sofria. Olhá-la deste jeito partiu meu coração. Eu queria correr até lá e abraçá-la, confortá-la.

— Mate-a – um sussurro próximo ao meu ouvido me fez despertar e virar minha cabeça na direção do monstro horrendo. Mais do que tudo, queria encará-lo com bravura. Ele não queria me matar, mas sim aquela que eu amo... Assim como mandou Caleb matar minha mãe.

Respirei fundo. Fechei meus olhos. Algo dentro de mim estava mudando, eu sentia a mudança. Os sentimentos, as respostas, quem eu era, quem eu sou. Senti minha pele endurecer como couro, minha força aumentando, músculos resistentes; meus dentes mudavam de forma enquanto eu, curiosa, passava a língua neles. E então uma dor de cabeça atingiu-me como uma pancada forte. Forcei minhas pálpebras e senti lagrimas de dor brotarem e escorrerem pelo meu rosto. Uma risada ecoou em minha mente.

— P-para – implorei – para.

— Dói ser como eu – o Diabo-Branco voltou a falar, tentando parar de rir entre uma palavra e outra – Esquecido, esquisito, é doloroso carregar os chifres quando a punição nunca deveria ser sua! – naquele momento, ele berrava, bravo como um leão. A dor em minha cabeça começara a diminuir enquanto eu abria meus olhos lentamente para fitar a criatura branca – Você saberá o que é ser um Diabo-Branco, um verdadeiro Diabo-Branco! Vingue o seu líder e mate aquela humana infeliz!

Ele apontou para as imagens da garota nas paredes, elas tremeluziam uma vez ou outra. Olhei diretamente para minha pobre amiga e levei minhas mãos até minha cabeça, sentindo com o tato os cones tortos que nasceram na mesma. Movi meu olhar para o Diabo-Branco que ofegava com o acesso de raiva. Ao notar que eu o olhava, retomou a postura e fez nascer uma lamina curta que parecia partir das costas de sua mão.

— Repita o que eu fiz, retire a lamina – ele me olhou nos meus olhos e eu senti uma movimentação invisível segurar meu corpo, mantendo-o imóvel por mais que eu quisesse me soltar. Ele estava usando o seu controle sobre mim. – Mate a humana para mim, tudo ficará melhor quando você cumprir o seu dever – sorriu.

Meu corpo fora se aproximando de uma das paredes. Meu cenho se franziu, eu não estava movendo meu corpo, mas ele se mexia contra minha vontade. Tentei me mover para o lado oposto, sem sucesso. Uma lamina branca como minha pele atual descera pelo meu braço, fria como gelo, parando de crescer quando sua ponta bateu fracamente em meu joelho. Percebi que estava indo para o espelho da casa de Caleb, estava rumando para matar minha amiga. O desespero me atingiu, não poderia matá-la, nem a ferir, eu a amava. Ela não sabia disso, mas eu a amava. 

De repente, senti meu corpo relaxar, eu o movimentava agora. Parei de andar no instante em que retomei a consciência. – Ela não merece morrer.

Ouvi os passos dele caminharem até mim. Suas mãos enormes agarraram-me pelos ombros e me viraram com força. Eu pude olhar nos olhos dele e ele olhou fixamente nos meus. – Ela irá morrer!

— Não! – Sacudi meus ombros até ele me soltar; e quando o fez, foi minha fez de sorrir – Você irá!

Utilizei a mesma velocidade que me fez adentrar o espelho antes de Caleb Hunter, meu pai, para pular e erguer meu braço ao mesmo tempo. O Diabo-Branco era alto como um gigante, porém, mantivera-se curvado boa parte do tempo, pois eu era pequena demais em comparação a ele. Contudo, eu estava em outra forma, mais alta e mais ágil, eu senti isso; um misero pulo se tornou um salto torto de mal feito, mas perfeito para o que eu estava prestes a fazer. O Diabo-Branco olhou para cima e ergueu seu braço com a lamina. Tarde demais, pensei. Com um golpe duro e incerto, movimentei minha lamina na horizontal nas nascentes de seus chifres, logo acima de sua cabeça.

Como se o mundo, o tempo, e tudo a minha volta se tornasse lento, eu testemunhei minha lamina se partir em inúmeros cacos, enquanto os enormes chifres do Diabo-Branco estavam completamente intactos. Retornando a velocidade normal, só senti minha garganta arder de arrependimento quando bati minhas costas no chão frio e a gargalhada do monstro perturbou meus ouvidos.

— Achou mesmo que conseguiria cortar meus chifres com essa sua lamina? – ele gargalhou outra vez. Aquela gargalhada teria traumatizado qualquer pessoa, incluindo eu. Me esforcei para levantar, mas quando fui subir meu tronco para cima, senti um pé em minha barriga. – Você não é capaz de me castigar, pequena Emília, você não é nada comparado a mim. - Inclinou seu tronco para baixo, para me encarar e me perturbar com aquela face demoníaca mais de perto. Tentei me mover, mas, novamente, não conseguia – Não sei como conseguiu escapar da minha hipnose, mas sei que não conseguirá escapar disso! – ele gritou a última parte, erguendo sua lamina e passando ela na horizontal acima de minha cabeça.

Ouvi o som oco de meus chifres batendo no chão. Olhei para eles como se eles fossem minha única esperança. E talvez fossem. – Tal pai, tal filha – Sua lamina fora erguida novamente. O encarei, não iria fechar os olhos desta vez.

Passos foram ouvidos novamente, olhei para o lado e as lagrimas retornaram a escorrer pelo meu rosto. Caleb Hunter estava em pé, encarando a cena com uma mistura de ódio e medo.

— Mestre – havia um quê de hesitação em sua voz – é a mim que você quer, deixe-a. Jogarei com suas cartas, como quiser, só a deixe ir. – Caleb começou a dar passos em nossa direção.

O monstro abriu outro sorriso macabro, mas este eu temi mais. Havia insanidade em seu olhar.

— Não, Hunter – ele olhou de Caleb para mim – Este jogo eu já venci.

O Diabo-Branco cravou sua lamina em meu peito e mirou Caleb com um sorriso divertido.

— Eu. – ele retirou a lamina suja de sangue de meu peito, que esguichava sangue ao meu redor. Rapidamente, senti minha pele voltar ao normal e da minha boca um liquido cremoso me forçava a cuspi-lo para fora. Dor era tudo o que eu sentia. A mais pura dor. Com outro movimento, ele cravou a lamina novamente em meu peito, rindo alto – Venci.

Minha visão se tornou turva, e a última coisa que visualizei antes da escuridão se apossar de meu corpo foi meu pai erguer uma lamina de aço contra o monstro que me acertara, e um mar de sangue invadir minhas vistas.  


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