Eu a vi pela janela do minúsculo carro em que o policial me enfiou. Estava usando roupas de academia e polainas tão negras quanto seus olhos.

Já fazia muito tempo que eu não via Rachel, e confesso que nunca imaginaria nosso reencontro dessa forma; ela, parada com uma expressão fria do lado de fora do camburão onde, pela segunda vez na minha vida, eu estava confinado.

Ao que parece, ela fez uma denúncia assim que "fugiu" e eles começaram a me procurar, mas foi em vão. Por algum motivo, ela agora só saía de casa com seguranças. O policial parecia desconfiado prendendo um homem aleatório que ela apontou na rua, mas resolveu me levar para interrogatório mesmo assim.

Sim, eles me procuraram por um bom tempo e um dia ela apenas me viu caminhando por aí. O destino, meus caros, nos prega peças.

Eu havia mudado muito, raspara a cabeça, adquirira novas cicatrizes no rosto que cobriam as antigas. Nunca seria pego. O segredo era negar.

Quando se trancou comigo no carro e começou a dirigir, ele deixou a divisória que deve separar bandidos e mocinhos entreaberta. Sorri ironicamente diante de seu erro, enxergando minha saída rápida daquela situação.

Incompetente.