Mente de Coordenadora Pokémon escrita por Kevin


Capítulo 26
Reunião Familiar


Notas iniciais do capítulo

Acharam que eu ia falhar, né? não teremos mais falhas! hauhaua tive problemas hoje ( eu saí hauhaua)!

Acredito que acharamo capítulo revelador... para alguns chutado demais em umas partes para outro... de uma situação que fará alguns voltarem a leitura para conferirem se é isso mesmo!



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— E então… Já sabe o que sente pelos pokémons? -

 

Foi engraçado, pois eu parecia falar comigo mesma. E na verdade aquela pergunta estranha era realmente uma das que eu andava me fazendo. Não que me importasse muito com os pokémon, mas parecia que uma das coisas que mais reprimi na vida era justamente o que sinto por eles. Não me permitindo expressar quanto a minha vontade quanto aos pokémon.

 

Mirian abriu os olhos lentamente e percebeu estar deitada. Sentiu uma tontura que a fez permanecer deitada, detendo cada movimento que havia feito anteriormente no intuito de se levantar.

Um turbilhão de coisas veio a sua mente e de repente lembrava-se, havia tido uma briga com Erika, a líder do ginásio da cidade de Celadon, logo após tiveram um momento de revelações onde descobriu-se que o Lado Sombrio existia, que tentaram matá-la no passado e que Kenan ou era uma vítima do Lado Sombrio ou era o próprio Lado Sombrio.

 

— Ela acordou! -

 

A voz reverberou em sua cabeça, tão forte que fez uma careta. Sabia que Laris estava apenas aflita, ainda assim sentiu precisou segurar o impulso de xingá-la.

 

— Eu sei que queria xingá-la. Rasga o verbo e manda ela falar baixo. -

 

Mirian franziu o cenho a escutar aquelas coisas. Sentou-se como pode e sacudiu a cabeça. Ela estava escutando seus próprios pensamentos como se fosse uma pessoa externa falando. Chegou a rir, não tendo muitas outras opções que não essa.

 

— Beba um pouco. -

 

Viu Erika esticar um copo com água para si. Lembrava-se de desmaiar logo após dar de cara com Allan e Dove e a revelação que a menina loira e assassina era sua irmã. Os dois estavam ali, no canto observando a recuperação dela.

Mirian bebeu a água percebendo que ainda estava no ginásio, mais precisamente na recepção. O relógio parecia indicar que havia se passado apenas 30 minutos desde que saíra do ginásio. Era um tempo considerado desmaiada.

 

— Trinta minutos desmaiada. Você não tem vergonha? Eu tenho vergonha de você! Na verdade, eu tenho vergonha de mim. -

 

Aquela voz familiar de novo. Mirian girou o rosto e engoliu um seco. Parada, em pé, próximo a entrada, estava ela mesma, numa versão mais confiante e poderosa de si mesma. Encarando-a com certo desprezo, parecendo ignorar todo resto.

 

— Agora eu pirei de vez! - Mirian exclamou suspirando.

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Meu nome é Mirian Miller e me tornei uma Coordenadora Pokémon para conquistar uma taça em homenagem a minha. No entanto, virei alvo de uma organização chamada Lado Sombrio da Coordenação Pokémon que manipula os resultados dos concursos e até mata para que isso aconteça.

Agora não sei o que fazer, já que no momento estou alucinando.

 

 

Mente de Coordenadora Pokémon
Episódio 26: Reunião Familiar

 

Excêntrico e disposto a fazer o que for preciso para defender quem ama. As vezes, decidido a fazer o que não é certo, cruzando a linha de abrir mão da sua própria autopreservação, em nome do que é mais importante. - Uma pausa na fala, Mirian tentou ignorar, mas era difícil ignorar sua própria voz. — Quem era esta pessoa? -

 

Após alguns minutos tentando convencer a Laris e Erika que estava bem, Mirian conseguiu deixar o ginásio, rumando em direção ao centro pokémon. Acompanhando-a, mesmo ela pedindo para ficar sozinha, estavam Laris, Allan e Dove. Os três ignoraram os pedidos, mas Mirian a nenhum momento pedia para eles deixarem-na sozinha, na verdade falava com sua versão confiante que andava atrás dela como uma sombra, sorrindo e falando coisas que ela não queria ouvir.

Dias atrás havia feito uma sessão de interiorização induzida com Sabrina e neste ponto conheceu Sentimento Pokémon, uma parte dela que dizia respeito aos sentimentos pokémon que ela tentava ignorar a todo custo. Naquele encontro em sua mente Mirian foi interpelada por aquela sua versão confiante quanto aos sentimentos dos pokémon sobre assumir o que ela sentia pelos pokémon. Agora, parecia que sua mente insistia que ela devia fazer sua escolha e assumir o que ela sentia.

Por todo caminho, no entanto, apenas a voz de Mirian era escutada. Para Mirian, uma outra Mirian a questionava e para os demais, apenas Mirian mandava-os deixá-la sozinha. Mas, não era como se Laris pudesse ir para outro lugar que não o Centro Pokémon e Allan e Dove tivessem outra coisa para fazer, ou onde ficar, que não com Mirian no Centro Pokémon.

 

— Vocês demoraram! - A voz zombeteira de Aries foi escutada assim que entraram na recepção. - Falando sério, na verdade ainda está cedo para pararem de assistirem os tais… -

 

Aries ficou mudo. Ele via claramente Dove caminhando logo atrás deles, acompanhado de Allan. Cansados, abatidos, consideravelmente sujos de uma jornada de que ele podia dizer, de dias ou de muita correria. Olhou rapidamente para Mirian que estava irritada e dirigindo-se a enfermeira Joy com certa pressa, e logo depois para Laris que parecia bem confusa. Nenhuma das duas estava amedrontada, apesar de que Mirian parecia relativamente com medo de algo.

 

— Quer saber? Eu gostaria de uma violência para encerrar meu dia. - Ele olhou para Dove indicando que sabia que ela uma ameaça e apenas esperou que ela esboçasse algo. - Mas, estou achando que para você bater pernas tranquilamente por uma cidade como esta, ao lado de alguém como Allan, ninguém tem provas nenhuma de nada do que poderia te fazer ser presa. -

 

— Aries Olimpo. - Dove lançou-lhe um olhar. - No dia que nos vimos eu sabia quem era você, mas não sabia era um tipo esquisito de gênio. -

 

Allan olhou de Aries e Dove por alguns instantes, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo. Estava claro que Dove havia acompanhado a irma, estudado as pessoas com quem ela estava se relacionando e na certa, sabia muito de Aries e não esperava que ele entendesse tão bem a situação.

 

— Como assim presa? - Laris parou alguns instantes até perceber que a menina loira era a mesma que Mirian disse ter arquitetado o ataque terrorista em Saffron. - É ela? - Laris começou a se afastar assustada até que trombou de costas com Aries que apenas sorriu para ela.

 

— Não creio que fomos devidamente apresentadas. - Disse Dove.

 

— Farão isso outra hora. - Disse Mirian virando-se para o grupo com uma chave na mão. - Quem quiser vir que venha! - Ela disse se virando para um corredor e dando dois passos, mas parou. Resmungou algo inteligível, como se xinga-se a ela mesma. - Melhor dizendo, venham todos, pois não vou ficar repetindo a mesma história depois. -

 

Aries piscou aturdido diante a situação. A voz firme, uma agressividade para com ela mesma e uma nítida irritação para com o assunto. Viu que a menina se dirigia para uma direção incomum do Centro Pokémon, as salas de reuniões. Quase ninguém usava tais espaços por terem um custo extra que nem sempre pessoas em jornada estavam prontas para arcar. Mestres Pokémon, Líderes de Ginásio e Top Coordenadores não costumavam usar tais recursos também, já que quando precisavam sempre tinham a disposição qualquer outro tipo de instalação.

 

— Essa história de irmã tá realmente tirando ela do sério. - Disse Laris.

 

— O que? - Agarrando Laris pelo braço, Aries começou a puxar a menina para a direção que Allan e Dove tomavam para seguir Mirian. - Isso é melhor do que eu pensava. - Ele parecia muito animado com aquilo. - Eu estava apostando em uma Dove apaixonada, mas isso é muito mais interessante. -

 

Dove não parou de andar com sua mochila nas costas e claramente bem cansada. Mas, virou a cabeça deixando que Aries visse um olhar e perigoso que foi respondido por um sorriso animado e olhos faiscantes.

 

— Ele disse que queria encerrar o dia com violência. - Comentou Allan sem nem olhar para trás.

 

Uma sala grande com uma grande mesa de reuniões e algumas modernas e confortáveis cadeiras. Mirian mexia em um computador, parecendo tentar realizar alguma conexão de comunicação com alguém e por isso não dava atenção aos demais que entraram e nem a Chansey que entrou animada com um carrinho onde parecia haver um lanche generoso e se pôs a servir.

 

Cada um sentou-se agradecendo a Chansey, exceto Mirian que pareceu nem ligar para a presença da pokémon que ficou olhando-a por alguns instantes, mas acabou por sair logo depois.

 

— Acho que ela esperava que você agradecesse ou dissesse se precisa de mais alguma coisa. -

 

Mirian cerrou os punhos mostrando certa irritação. Escutar aqueles comentários de sua própria voz, sabendo que era apenas uma alucinação, estava deixando-a irritada. Mas, ainda viu-a sentar-se como se fosse uma pessoa real e preparar-se para participar de toda a reunião. Preparou-se para gritar para sua alucinação mais uma vez, mas foi surpreendida pelo vídeo sendo iniciado.

 

— Mirian? -

 

Wanda Miller, a mãe de Mirian, atendeu a videochamada ficando surpresa de ver a filha acompanhada de tantas pessoas. Ela identificou a sala de reunião do centro pokémon por ter usado-a algumas vezes no passado. Criptografia de comunicação, sala protegida e o conforto para horas de conversas secretas, importantes e delicadas. Pensou em desligar a conexão da chamada, mas o olhar da filha dizia que ela ligaria novamente quantas vezes fosse preciso.

 

— Tenho medo de quanto você fica com esse olhar. - A mãe se deu por vencida por conta própria. - Quando está com Maurício eu sei que ele vai te tirar vocês do problema… Ou piorar tudo. As vezes desconfio que vocês disputavam para ver quem aprontava mais. Vai ficar bem sem ele? - A mãe parou alguns instantes. - Sem ofensas galera. -

 

— Mamãe sempre soube quem metia quem em confusão. - Mirian escutou sua alucinação rir da situação.

 

Mirian segurava-se para não parecer louca e responder a sua alucinação estava ciente de que se começasse a fazer aquilo diriam que ela estava em choque, o que não deixava de ser verdade.

 

— Ofensas nenhuma! Mas, desta vez quem meteu ela em confusão foi você ao esconder sobre o Lado Sombrio. Bom, ela e todos nós, pois eu não existiria se seu ex-marido não tivesse ido embora e nenhum dos demais estaria aqui. - Comentou Dove.

 

Um silêncio se fez na sala. Silêncio que nenhum deles poderia quebrar, afinal o palco estava armado e agora era uma questão familiar entre Wanda, Mirian e Dove.

 

— Você é a filha do… -

 

— Você sabia? - Mirian gritou batendo com a mão na mesa e encarando a mãe.

 

— Não levante a voz para sua mãe. - Wanda disse com muita calma. Mãe e filha se encararam com os olhos por alguns instantes. - Querida, acha mesmo que devemos conversar sobre isso com tantas pessoas? -

 

— Por que não? - Disse Mirian. - Todos vão ficar sabendo no final e isso me economiza muito tempo. - Mirian percebeu o olhar reprovador da mãe e suspirou acalmando-se. - O Lado Sombrio logo vai atacar de novo, talvez eu precise deles para sobreviver, ou para salvar o Mauricio. -

 

— Estou começado a me reconhecer. - A alucinação disse animada.

 

— Sorte seu irmão não estar em casa. - A mãe ficou calada por alguns instantes. - Bem… pelo visto você já sabe mais do que eu gostaria. Neste caso, obrigado por estarem com eles nisto. - Ela pareceu sincera e temerosa do que iria fazer. - É um prazer conhecer você. Você lembra sua mãe. -

 

Mirian piscou aturdida. Talvez a primeira reação diferente que ela tinha depois da postura séria que ela havia adotado.

 

— Sou Dove. - A loira também parecia muito surpresa. - Você conhecia minha mãe? -

 

Wanda acenou com a cabeça, fechando os olhos e parecendo tentar organizar as ideias. Lembranças difíceis.

 

— É impossível falar de meu ex-marido, sem falar da minha época de Coordenadora e o Lado Sombrio. -

 

Ela pareceu duvidar que realmente falaria sobre aquilo, mas parecia que todos ali estavam envolvidos naquilo. E por mais que Aries não estivesse, ela não sabia disso e ele iria se meter de qualquer forma quando as coisas ficassem perigosas.

 

— Eu era uma coordenadora mediana e tinha uma rival, Alma. Tínhamos o mesmo nível, cada qual em seu estilo. Empatávamos com frequência. Um dia conheci meu marido e sua melhor amiga, dois treinadores em jornada que acabaram por me acompanhar até um concurso que perdi. Antes de irem embora eles me disseram que eu precisava subir de nível, não em técnica, mas no que eu acreditava que significasse ser a Coordenação Pokémon. -

 

Mirian escutava atentamente o que a mãe estava contando. Não conhecia esse pedaço, ela nunca contara destes dois viajantes.

 

— Eu pensei muito sobre e compreendi aquilo como me expressar livremente. Eu não subi um ou dois níveis, passei quatro ou cinco níveis. Passei a vencer todo concurso que entrava, Alma não conseguia nem passar perto de me vencer. E então, atraí tanta atenção que ganhei um convite para o Concurso de Sucessão. - Wanda sorriu naquele momento, ela adorava se lembrar que fora reconhecida pelos Top coordenadores da época. - Eu fui bem. Mas, fiquei surpresa quando descobri que Alma tinha conseguido um convite também e havia subido o nível, mas em técnica ela tinha evoluído. Conseguia dizer exatamente o tipo de combinação que as pessoas usavam para fazer seus melhores lances e com isso desmontar cada ação deles ou pior, copiar cada ação. Ainda assim, não estava no mesmo nível dos outros competidores. Vencia por um ou dois pontos, por decisão do juri ou porque o seu adversário de alguma forma não podia mais competir. -

 

Todos conheciam Alma, mesmo aquele que não era do mundo da coordenação conhecia a Top Coordenadora e sua habilidade de dizer como eram feitas quase todas as apresentações, apenas de olhar.

 

— Eu subi o nível, ela evoluiu a técnica. Na hora de nossa disputa, nível vencia técnica. Ela sabia o que eu estava fazendo, mas não conseguia impedir de eu fazer o que eu sabia, pois não havia algo preparado. Eu só fazia algo que parece belo, gostoso e divertido. -

 

— Você improvisava? - Laris interrompeu-a.

 

— Eu me expressava! O que eu estava sentindo na hora era o que ditava o ritmo da minha apresentação e não tinha como Alma ou outra pessoa impedir de meus sentimentos serem postos no palco. - Wanda continuou. - Mas, de repente comecei a ser penalizada, ela começou a me alcançar e ficou a um terço de me alcançar. Revidei com meu melhor e a plateia enlouqueceu e um ou outro juiz tentaram me penalizar, por sabe-se lá porque, mas os demais não deixaram. -

 

Wanda suspirou.

 

— Sabemos senhora Miller. - Disse Laris. - O pokémon de Alma atacou-a você e não seu pokémon. Juízes consideraram acidente, peritos disseram acidente, quase todas as câmeras pareciam não conseguir achar os ângulos reais. Alma foi penalizada, mas não desclassificada. Você foi considerada incapaz de continuar e então decidiram dar as vezes Alma. -

 

— O show tinha que continuar. - Wanda estava com lágrima nos olhos, mas parecia agradecida de não ter tido que contar aquela parte. - Antes de eu deixar o evento, ainda numa maca, Kelly Kornox foi até mim, disse-me palavras animadoras e ao mesmo tempo de reflexão que só mais tarde eu entenderia que ela dizia que eu estava em perigo. Mas, ela havia me dado uma de suas famosas Fitas da Vida de presente, naquele momento, eu ignoraria qualquer aviso dela. Semanas para me recuperar. Meu marido veio me visitar e ficou comigo por quase toda a recuperação, desistindo de participar da liga daquele ano. Fez uma jornada comigo algum tempo depois e então descobrimos que eu ainda estava doente. Eu fiquei arrasada, ele tentou me animar e briguei com ele mandando-o ir embora que eu também iria. Ele pegou seu caminho e eu o meu. Uma hora depois eu estava dentro de um ônibus, a noite, indo para casa. De repente todas as pessoas levantaram-se, apontaram armas para mim. Eu estava cercada por pessoas encapuzadas, armas e pokémon. -

 

— Quando foi que coordenação pokémon se tornou tão divertida? - Aries saltou sem querer, levanto um solavanco de Laris que o encarou não acreditando no que ele havia dito. - O que? Isso tudo não é coordenação. -

 

— Não é mesmo Aries. - Wanda disse. - Se pisar no palco de novo, vai sofrer mais do que já está sofrendo agora. -

 

Mirian sentiu um frio na espinha ao escutar aquilo. Não era para menos que a mãe só assistia as coisas pela televisão e evitava ao máximo ir assistir as apresentações pessoalmente. Sua alucinação estava calada olhando-a como se esperasse algo dela.

 

— De repente o ônibus deu uma freada brusca. Algo havia entrado na frente do ônibus e então todos fingiram dormir rapidamente e meu ex entrou no ônibus pedindo desculpas por interromper a viagem de todos e me pediu em casamento. - Wanda sorriu. - Ele me salvou e nem sabia. -

 

Allan estava calado escutando aquilo tudo. Cansado ele se lembrava de como Dove lhe contou tudo sobre seus planos de matar muito mais pessoas para se vingar e que havia decidido acompanhá-la para tentar persuadi-la. O que ela poderia fazer?

 

— Passou bastante tempo, nunca cheguei a contar sobre o Lado Sombrio para meu marido e nunca voltei nem perto de um palco. Para todos, a ideia de voltar aos palcos era o mesmo que reviver o pseudoacidente e assim ninguém questionava-me, deixando-me assistir meus vídeos em paz. - Wanda riu. - Eu tinha medo, mas continuava amando a coordenação, ao menos a verdadeira. Eu aprendi a identificar quando havia Lado Sombrio envolvido ou não. - Ela pausou percebendo que muito havia de ser falado ainda. - Eu estava grávida de Mirian, meu filho mais velho estava na escola e havia um festival para acontecer na escola. Cada um receberia um pokémon para poder brincar de treinador ou coordenador. Meu marido sugeriu na escola que eu fosse jurada, eu não queria, mas meu filho ficou tão animado que acabei indo. - Ela pareceu rir. - Era uma escola, crianças brincando de coordenação, quem levaria isso a sério? - Um suspiro. - Foi divertido ser jurada. Algo que nunca havia feito e confesso, eu teria curtido ter sido jurada de verdade. Mas, voltamos para nossa casa e nos deparamos com a presença de duas pessoas sentadas em nossa sala. Armas apontadas, capuzes cobrindo suas faces, pokémon surgiram de todos os cantos. Meu filho recebeu ondas hipnóticas de imediato e fiquei questionando-me se eles faziam aquilo por terem alguma decência ou só para não terem alguém chorando. Mas, aquilo não importava, porque meu marido começou a ser surrado, por quase uma hora inteira. -

 

Wanda parou por alguns instantes. Ela nunca mudou de casa e por isso tinha a impressão de que ela estava revivendo o que acontecera ali na sala de sua casa.

 

— Nenhum de nós sabia exatamente o que eles queriam. Como só focavam nele e nada diziam, por alguns instantes eu achei que fosse algo do passado dele. Mas, quando finalmente se cansaram eles disseram: Avisamos. Por hoje vamos deixar só com ele, no próximo os seus pequenos serão os próximos. - Wanda parecia desolada ao contar. - Foi um mês para meu marido se recuperar e ele não me perguntou o que era e para todos disse que havíamos sido roubados. Ele até sumiu com algumas coisas de casa para manter a história. -

 

— Eu não acredito que o Lado Sombrio seja tão perigoso assim. - Laris parecia assustada. - Acho que é por isso que quem sabe nunca fala nada. -

 

— Quando meu marido se recuperou ele simplesmente me acordou de madrugada e me perguntou quem era aquelas pessoas. Eu expliquei tudo o que eu sabia do Lado Sombrio e ele apenas me olhou e saiu da cama indo ao banheiro. Quando voltou estava arrumado e me perguntou se em algum momento eu contaria isso a ele ou esperaria que a vida de nossa família novamente fosse ameaçada. - Wanda encarou Mirian. - Naquela noite seu pai foi embora e nunca mais voltou. Eu não soube de nada sobre ele até hoje. Seu irmão até tentou encontrá-lo, por isso se meteu em tanta confusão, mas nunca conseguiu nem pistas. -

 

Mirian ficou calada pensando em tudo aquilo. Olhou para sua alucinação que apenas sacudia a cabeça convidativa.

 

— Então… Como sabe que Dove é filha do meu pai? Como sabe quem é a mãe dela? - Mirian entendia que deveria pedir desculpas a sua mãe pelo grito de inicio, mas não conseguiu. -

 

— Ela é idêntica a melhor amiga com quem ele viajava quando me conheceu. - Disse Wanda. - Ela o amava, mas como ele havia ido atrás de mim, sempre achei que ela tivesse se declarado e sido rejeitada. -

 

— Assim que saiu de casa procurou minha mãe e contou tudo a ela. - Dove viu que era a vez dela falar. - A ideia era ir atrás do Lado Sombrio e garantir a segurança de vocês, mas quando pegaram o primeiro deles… Não conseguiram matá-lo. Ocorreu um combinado, ele nunca mais voltava para Wanda, nem para sua vida de treinador e todos eram deixados em paz desde Wanda honrasse o aviso de ficar longe dos palcos. - Dove pareceu tentar se lembrar. - Acho que foi poucas semanas depois, dos dois se recuperando que ela se declarou para ele e acabaram com o tempo ficando juntos. Eu nasci e o mundo seguiu calmo até o maldito dia em que Mirian saiu de casa para ser coordenadora. Neste dia eu já estava enfrentando o peso da justiça devido a um mal entendido com Beta, aquela nutricionista biba. -

 

— Não fale assim dela. - Mirian grito rapidamente.

 

Dove olhou durante alguns instantes como se esperasse algo mais além de gritos e como nada veio resolveu voltar a falar.

 

— Enfrentávamos cada vez mais dificuldades nas audiências até que um dia meu pai e minha ficaram loucos dentro do fórum. Achei que fosse porque eu estava sendo condenada, mas quem me dera. - Dove suspirou. - Eles me contaram rapidamente toda a história e disseram que tomasse cuidado com qualquer um que parecesse suspeito. - Ela riu. - Fui parar na pior prisão possível e então ouvi falar em Mirian Miller. Eu achava que era piada ou armadilha, mas quando vi você, deslocada e aparentemente injustiçada, entendi que você era realmente a outra filha de meu pai. -

 

Dove aproveitou a cara de espanto de alguns e ponderou se deveria contar ou não para Wanda sobre a parte das violências sexuais e sua saga de vingança. Olhou para Mirian por alguns instantes, mas ela parecia estar um pouco perdida em seus pensamentos ou talvez olhando um fantasma na cadeira vazia a sua frente. Sentiu um leve tocar em sua perna e percebeu que Allan tentava lhe dizer que aquilo não precisava ser dito. De fato a Gaiola das Loucas era um a situação sombria diferente do Lado Sombrio.

 

— Quando saí da cadeia descobri que meus pais haviam sofrido um acidente onde ela morreu e ele estava no hospital a beira da morte. - Dove cerrou os punhos tentando evitar as lágrimas. Wanda conseguira por muito pouco não chorar, ela tinha que conseguir também. - Demorei para conseguiu vê-lo inconsciente, principalmente porque percebi que ele era vigiado. Mas, quando vi percebi que aliança dele estava no dedo errado. A retirei para colocar no dedo certo e vi que tinha uma inscrição nela que me levou a um vídeo de despedida deles. Eles contaram com calma toda a história e falaram que já haviam ido atrás deles uma vez e que iriam de novo agora que Mirian estava nos torneios. Junto com o vídeo tudo o que eles sabiam do Lado Sombrio estava ali e o nome de alguns membros. - Dove pareceu escolher as próximas palavras. - Ele te amou e se afastou para te proteger e proteger a toda a família. E lamenta não ter sido forte para cruzar a linha que poderia garantir a segurança permanente de todos. -

 

Allan abaixou a cabeça naquele momento. Não era difícil entender que a linha que o pai de Dove e Mirian não conseguia cruzar era matar e ela decidira fazer o que o pai não teve coragem.

 

— Era madrugada ainda. Maurício dormiu aqui em casa pois estávamos vendo um concurso importante. Seu primeiro concurso. - Wanda voltou a falar surpreendendo Mirian. - Então eles entraram chutando a porta. O Lado Sombrio não estava feliz por sua estreia. Me apavorei, mas quando me dei conta, Maurício havia desaparecido. Ele pareceu entender tudo e se escondeu, acho que melhor do que qualquer um pois a pessoa vasculhou a casa, pois juravam que eu estava com mais alguém e nada encontrou. Após algumas horas de interrogatório onde buscavam ter certeza que eu não havia revelado nada a você, eles se foram e Maurício reapareceu e fui obrigada a contar tudo, já que ele já havia escutado tudo. -

 

— Então aquele dia que liguei cedo você estava daquele jeito por causa da invasão? - Mirian assustou-se lembrando-se do dia que ligou para casa, feliz pela nota perfeita, mas acabou encontrando uma mãe nada feliz. -Então… desde aquele dia… -

 

Mirian ficou sem palavras. Não sabia oque fazer ou o que dizer.

 

— O Lado Sombrio saiu lá de casa dizendo que iria apenas observar. No final, nenhum deles acreditavam que você iria era uma ameaça após perder na fase de batalhas e ter sua pokémon inutilizada. No entanto, Maurício saiu aqui de casa para fazer o mundo tremer. - Wanda balançou a cabeça. - Quando saiu de casa eu não estava acreditando que fosse levar a sério ou jeito a julgar pelo seu histórico com os pokémon. Mas, então você fez o que ninguém esperava, no seu segundo concurso virou sensação. Eles foram atrás de você e quando desapareceu Mauricio se preparou para resolver ele mesmo o problema. -

 

Todos ficaram calados durante algum tempo. A história estava contada e tudo de ruim que acontecia com Mirian e seus familiares parecia ser culpa ou consequência do Lado Sombrio. Agora havia dois gênios decididos a pôr fim ao Lado Sombrio por vingança enquanto Mirian ainda não sabia o que fazer.

 

— A senhora está segura? - Perguntou Allan.

 

Wanda deu uma negativa com a cabeça. Basicamente não ligaram Dark Mau aos Millers por talvez Maurício ter escondido muito de seu passado e declarado que Mirian era uma pessoa morta.

 

— Vou pensar em algo senhora Miller. - Disse Dove.

 

— Agora eu entendi! - Aries disse de repente. - Finalmente faz sentido porque você é assim com os pokémon. - Aries apontou para Mirian sorrindo. - Confesso que me sinto até burrinho agora. Seu contexto era sua mãe adoentada pelos pokémon, seu pai te abandona pelos pokémon e seu irmão te abandona pelos pokémon e quase causou a morte de vocês. Se somar que seu melhor amigo era zoado por causa dos pokémon confesso que até eu me sentiria assim. -

 

— Finalmente alguém se tocou! - Disse a alucinação vendo a cara de Mirian.— Vai deixar ele falar ou vai falar antes? Vamos! Nós sabemos como isso acaba! Diga para todos antes que alguém diga. -

 

Mirian de repente tacou um copo de suco na alucinação que simplesmente chocou-se contra a parede, bem próximo de Aries.

 

— Achei que tivéssemos superado nossa fase de tentarmos nos matar! - Gritou Aries.

 

— Não gosto de pokémon! Nunca gostei e tinha que ficar fingindo para todo mundo que eu só não tinha interesse! - Mirian berrou de repente, mas não para Aries, para sua alucinação. - Não é só minha visão é simplesmente o motivo de tudo de ruim que aconteceu na minha vida e na vida de outras pessoas. Odeio eles pelo que fizeram com minha família e não tem nada de errado nisso! -

 

Mirian viu alucinação sorrir e desaparecer enquanto todos ficavam calados diante a revelação. E de repente para Aries e Laris tudo fazia muito sentido. Ela não gostava de pokémon então não tinha a menor vontade de aprender, não os percebia nos ambientes ou ligava para o que eles estavam fazendo. Os poucos momentos em que eles pareciam importar na vida dela era quando eles eram o meio para algo importante.

 

— Eu e seu irmão nunca deixamos nossos pokémon em casa porque você não gostava deles, quando pequena chorava e chorava como se tivesse medo. Quando conseguiu andar, corria atrás deles para bater neles.- Wanda riu. - Os pokémon ficavam malucos porque não sabiam o que fazer. -

 

— Isso não importa. - Disse Mirian a meia voz se levantando. - Mãe, vou precisar de um tempo para pensar nisso tudo, mas acho que você deveria ir para Cerulian, mostre sua Fita da vida Original para Misty que ela vai te dar abrigo para as sequências que virão a seguir. -

 

— O que virá a seguir? -

 

Foi uníssono. Wanda, Laris e Allan tinham a mesma pergunta e o mesmo tom preocupado. Mas, Aries também disse a frase, em um tom mais animado e já imaginando os tipos de problemas que estavam para surgir.

Apenas Dove nada disse, observou Mirian sair da sala sem nada responder. Talvez, ainda não tivesse a resposta para dar para aquelas pessoas.

 

— Senhora Miller, talvez você deve-se desligar e fazer as malas. - Ela parou por alguns instantes enquanto se levantava. - Imagino que a conversa foi dura demais para você, acho que vai precisar ficar sozinha um pouco. -

 

Wanda já tinha seus olhos marejadas e apenas desligou seu videofone desfazendo a conexão. O grupo ali respirou fundo e preparou-se para levantar-se, mas Dove fez um gesto com as mãos para que eles esperassem.

 

— Ainda devemos ter algum tempo de uso da sala e acho que Allan pode por vocês a par de tudo que eu fiz. - Comentou Dove. - Ao que parece, vão me seguir para uma cruzada inesperada, ou talvez a Mirian. Precisarão das informações que tenho em qualquer hipótese. - Comentou Dove que logo após deixou a sala.

 

<><><><>

 

— O por do sol das portas do Centros Pokémon são sempre esquisitos assim? -

 

Mirian estava sentada no chão, com as costas apoiadas na parede externa do Centro Pokémon. Observava o final do dia de forma distraída, mas escutou o comentário de Dove que se aproximou e sentou-se ao lado dela.

Ainda assim ela não respondeu nada. Celadon era uma cidade bonita e mesmo sem o entardecer, ainda poderia fornecer algo belo a se apreciar. Ainda assim, precisava concordar que o por do sol de perto do centro pokémon nunca parecia interessante.

 

— Achei que xingaria, gritaria, correria ou me atacaria. - Disse Dove. - Afinal, matei seus amigos que me mandaram para aquele inferno. -

 

Mirian não respondeu nada. Ficou quietinha ali no seu lugar, como se ninguém estivesse falando com ela ou perto. A loira se calou por algum tempo, curtindo a estranha paisagem até que percebeu Mirian olhando para ela.

 

— Loira dos olhos azuis. Cara de anjo. Pele rosada e Jeito de menininha. - Mirian disse observando-a.

 

— Esta sou eu. - Disse Dove sorrindo.

 

— Se eu pudesse repetiria exatamente as palavras do Blue, aquele carinha que estava caidinho por você e como presente, você matou a irmã dele. - Mirian disse calmamente. - Pelo que entendi, somos irmãs. E minha vontade sempre foi ter uma irmã que não curtisse os pokémon e pudéssemos falar de várias coisas. Ainda que meia irmã, eu apreciaria ter alguém para falar do meu pai, ainda mais sabendo que ele não nos abandonou como sempre achei. Mas, você matou meus amigos, a irmã do meu amigo. Já me sentia mal quando eu me sentia culpada, mas agora eu tenho parte com isso! Agora Blue não tem mais irmã e eu tenho uma, que é motivo dele não ter mais irmã. -

 

Dove não disse nada, ou ao menos concordou com a cabeça. Não confraternizariam como irmã e por ela, jamais os Millers saberiam da existência dela. Mas, na visão de Allan, os Millers mereciam saber o que aconteceu com o homem que eles acreditavam tê-los abandonado.

 

— Quando foi a última vez que comeu? - Questionou Dove. - Não tocou no lanche na sala de reunião e lembro que Erika comentou que talvez pudesse ser falta de alimento o seu desmaio e não só o emocional. -

 

Mirian apenas permaneceu a olhá-la. Tão doce e prestativa quanto era na prisão e ainda assim uma sociopata que matara seus amigos. Sua irmã que estava em busca de uma vingança pelas coisas que fizeram a sua família e ainda assim, uma assassina pronta para matar de novo. Era impossível para Mirian entender o que realmente se passava na cabeça de Dove naquele momento, mas de uma certa forma, ela também não sabia o que se passava na sua naquele momento.

 

— Como conto para meus pokémon que os odeio? - Questionou Mirian do nada.


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Notas finais do capítulo

Quem já sabia que Mirian odiava os pokémon levanta a mão! hauhaua

Certo! Vamos esperar para vê-la interagindo com seus únicos dois pokémons agora que ela caiu na real.



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